Posted by : Unknown junho 06, 2014

Capítulo 14


Quirrell, no entanto, deve ter sido muito mais corajoso do que eles pensaram. Nas semanas seguintes ele pareceu estar ficando mais pálido e mais magro, mas não parecia ter cedido.
Todas as vezes que os meninos passavam pelo corredor do terceiro andar, Harry, Rony e Hermione encostavam as orelhas na porta para verificar se Fofo continuava a rosnar lá dentro. Snape levava a vida no seu habitual mau humor, o que com certeza significava que a Pedra continuava a salvo. Sempre que Harry passava por Quirrell nesses últimos dias dava-lhe um sorriso como a encorajá-lo, e Rony começara a censurar as pessoas que riam da gagueira de Quirrell.
Hermione, no entanto, tinha mais no que pensar do que na Pedra Filosofal Começara a programar suas revisões e a marcar em cores suas anotações de aula para classificá-las. Harry e Rony não teriam se importado com isso, mas ela não parava de chateá-los para fazerem o mesmo.
— Hermione, os exames estão a séculos de distância.
— Dez semanas — retorquiu Hermione. — Não são séculos, é como um segundo para Nicolau Flamel.
— Mas nós não temos seiscentos anos — lembrou-lhe Rony. Em todo o caso, o que é que você está revisando se já sabe tudo?
— Que é que estou revisando? Vocês ficaram malucos? Vocês já perceberam que precisamos passar nesses exames para chegar ao segundo ano? Eles são muito importantes, eu deveria ter começado a estudar a um mês, não sei o que deu em mim...
Infelizmente, os professores pareciam estar pensando da mesma maneira que Hermione. Passaram tantos deveres de casa que as férias da Páscoa não foram tão divertidas quanto as de Natal. Ficou difícil se descontrair com Hermione ao lado, recitando os doze usos do sangue de dragão ou praticando movimentos com a varinha. Aos gemidos e bocejos, Harry e Rony passaram a maior parte do tempo livre com ela, na biblioteca, tentando dar conta de todos os deveres extras.
— Eu nunca vou me lembrar disso — desabafou Rony uma tarde, largando a pena de escrever na mesa e olhando desejoso pela janela da biblioteca. Era na realidade o primeiro dia bonito que tinham em meses. O céu estava claro, azul-miosótis e havia uma expectativa de verão no ar.
Harry, que estava procurando o verbete "Ditamno" no livro de Cem ervas e fungos mágicos, não levantou os olhos até a hora em que ouviu Rony exclamar:
— Rúbeo! Que é que você está fazendo na biblioteca?
Hagrid veio arrastando os pés, escondendo alguma coisa às costas. Parecia muito deslocado com o seu casaco de pêlo de toupeira.
— Só olhando — disse numa voz insegura que imediatamente despertou o interesse deles. — E o que é que vocês estão armando? — Ele pareceu repentinamente desconfiado. — Não continuam procurando o Nicolau Flamel, continuam?
— Ah, já descobrimos quem ele é há séculos — disse Rony para impressionar. — E você sabe o que é que aquele cachorro está guardando, é a Pedra Filo...
— Chhhhi! — Hagrid olhou à sua volta depressa para ver se alguém estava escutando. — Não saiam gritando isso por ai, que foi que deu em vocês?
— Mas, tem umas coisinhas que queríamos perguntar a você. — disse Harry — sobre as outras coisas que estão protegendo a Pedra além do Fofo...
— CHHHHHI! — fez Hagrid de novo. — Escutem, venham me ver mais tarde, não estou prometendo que vou lhes dizer nada, vejam bem, mas não saiam dando com a língua nos dentes por ai, estudantes não devem saber disso. Vão achar que fui eu que contei a vocês...
— Vemos você mais tarde, então — concordou Harry.
Hagrid saiu arrastando os pés.
— Que é que ele estava escondendo às costas? — perguntou Hermione pensativa.
— Acham que tinha alguma coisa a ver com a Pedra?
— Vou ver em que seção ele estava — prontificou-se Rony, que já estava farto de trabalhar. Voltou um minuto depois com uma braçada de livros e largou-os em cima da mesa.
— Dragões — cochichou — Rúbeo estava procurando coisas sobre dragões! Olhem só estes: Espécies de dragões da Grã-Bretanha e da Irlanda, Do ovo ao inferno, guia do guardador de dragões.
— Rúbeo sempre quis um dragão, ele me disse isso da primeira vez em que nos vimos — comentou Harry.
— Mas é contra as nossas leis — argumentou Rony. — Criar dragões foi proibido pela Convenção dos Bruxos de 1709, todo o mundo sabe disso. É difícil evitar que os trouxas reparem em nós se criarmos dragões no quintal. Em todo o caso, não se pode domesticar dragões, é perigoso. Vocês deviam ver as queimaduras que Carlinhos recebeu de dragões selvagens na Romênia.
— Mas não tem dragões selvagens na Grã-Bretanha? — perguntou Harry.
— Claro que tem — respondeu Rony — Os dragões verdes galeses e os negros das ilhas Hébridas. O Ministério da Magia tem um bocado de trabalho para mantê-los em segredo, posso lhe garantir. O nosso povo vive enfeitiçando trouxas que os viram, para fazê-los esquecer.
— Então o que será que Rúbeo anda armando? — perguntou Hermione.
Quando eles bateram á porta da cabana do guarda-caça uma hora mais tarde, ficaram surpresos de ver que todas as cortinas estavam fechadas. Hagrid perguntou "Quem é?"antes de deixá-los entrar e em seguida fechou depressa a porta assim que eles entraram.
Estava um calor sufocante no interior da cabana. E embora fosse um dia bem quente havia um fogaréu na lareira. Hagrid preparou chá para os meninos e lhes ofereceu sanduíches de carne de arminho, que eles recusaram.
— Então, vocês queriam me perguntar uma coisa?
— Queríamos — disse Harry. Não havia sentido em perder tempo com rodeios. — Estivemos pensando se você poderia nos dizer o que mais está protegendo a Pedra Filosofal além de Fofo.
Hagrid amarrou a cara.
— Claro que não posso dizer. Primeiro, eu mesmo não sei. Segundo vocês já sabem demais, de modo que eu não diria a vocês se soubesse. Aquela Pedra está aqui por uma boa razão. Quase foi roubada de Gringotes. Suponho que vocês já chegaram a essa conclusão. Fico até espantado que saibam da existência de Fofo.
— Ah, vamos Rúbeo, talvez você não queira nos dizer, mas você sabe tudo o que acontece por aqui — disse Hermione num tom caloroso e lisonjeiro. A barba de Hagrid mexeu e eles perceberam que estava sorrindo. — Só estávamos querendo saber realmente quem fez o feitiço de proteção — continuou Hermione. — Estávamos querendo saber em quem Dumbledore teria confiado o suficiente para ajudá-lo, além de você.
O peito de Rúbeo se estufou ao ouvir essas palavras. Harry e Rony se abriram em sorrisos para Hermione.
— Bom, acho que não poderia fazer mal contar isso... Vamos ver... Ele pediu Fofo emprestado a mim... Depois alguns professores fizeram os feitiços... A Professora Sprout.. O Professor Flitwick... A Professora Minerva... — ele foi contando nos dedos — o Professor Quirrell... E o próprio Dumbledore também fez alguma coisa, é claro. Um momento esqueci alguém. Ah, sim, o Professor Snape.
— Snape?
— É, vocês não continuam insistindo naquela idéia, ou continuam? Olhem, Snape ajudou a proteger a Pedra, não está prestes a roubá-la.
Harry sabia que Rony e Hermione estavam pensando o mesmo que ele. Se Snape fora chamado para proteger a Pedra, devia ter sido fácil descobrir como os outros professores a tinham protegido. Ele provavelmente sabia de tudo, exceto, ao que parecia, o feitiço que Quirrell fizera e de que jeito passar por Fofo.
— Você é o único que sabe como passar pelo Fofo, não é, Rúbeo? — Harry perguntou, ansioso. — E você não diria a ninguém, não é? Nem mesmo a um dos professores?
— Ninguém sabe a não ser eu e Dumbledore — disse Hagrid orgulhoso.
— Bom, isso já é alguma coisa — murmurou Harry para os outros. — Rúbeo, podemos abrir uma janela? Estou assando.
— Não pode, desculpe Harry — disse Hagrid. Harry notou que ele olhava para o fogo. Harry olhou também.
— Rúbeo, o que é isso?
Mas ele já sabia o que era. Bem no meio do fogo, debaixo da chaleira, havia um enorme ovo negro.
— Ah — respondeu Hagrid, mexendo, nervoso, na barba. — É... Ah...
— Onde foi que você arranjou isso, Rúbeo? — perguntou Rony, abaixando-se para o fogo para olhar o ovo mais de perto. — Isso deve ter-lhe custado uma fortuna.
— Ganhei. A noite passada. Eu estava na vila tomando uns tragos e entrei num joguinho de cartas com um estranho. Acho que ele ficou bem contente de se livrar do ovo, para ser sincero.
— Mas o que é que você vai fazer com ele, quando chocar? — perguntou Hermione.
— Bom, andei lendo um pouco — disse Hagrid, tirando um grande livro de baixo do travesseiro. — Apanhei este na biblioteca:
A criação de dragões como prazer e fonte de renda. É meio desatualizado, é claro, mas está tudo aqui. Mantenha o ovo no fogo porque as mães sopram fogo em cima deles, sabe, e quando chocar dê-lhe um balde de conhaque misturado com sangue de galinha a cada meia hora. E vejam aqui: como reconhecer os diferentes ovos, e este aqui é um dragão norueguês. São raros esses.
Ele parecia muito satisfeito consigo mesmo, mas Hermione não.
— Rúbeo, você mora numa cabana de madeira — lembrou-lhe.
Mas Hagrid nem escutou. Estava cantarolando alegremente enquanto atiçava o fogo.
Então agora tinham mais uma coisa com que se preocupar: o que poderia acontecer a Hagrid se alguém descobrisse que estava escondendo um dragão ilegal em sua cabana.
— Como será ter uma vida tranqüila — suspirou Rony, pois noite após noite eles lutavam para dar conta de todos aqueles deveres de casa suplementares que estavam recebendo. Hermione agora começava a programar as revisões de Harry e Rony também.
Estava deixando os dois malucos.
Então, certo dia ao café da manhã, Edwiges trouxe outro bilhete de Hagrid para Harry. Ele escrevera apenas duas palavras.
“Está furando”.
Rony queria faltar à Herbologia e ir direto à cabana. Hermione nem quis ouvir falar nisso.
— Hermione, quantas vezes na vida vamos ver um dragão saindo do ovo?
— Temos aulas, vamos nos meter em confusão, e isso não vai ser nada comparado à situação de Rúbeo quando descobrirem o que ele anda fazendo.
— Cala a boca! — cochichou Harry.
Malfoy estava a apenas alguns passos e parou instantaneamente para ouvir. Quanto teria ouvido? Harry não gostou nem um pouco da expressão que viu na cara de Malfoy.
Rony e Hermione discutiram todo o tempo a caminho da aula de Herbologia e, no final, Hermione concordou em dar uma corrida à casa de Hagrid com os dois no intervalo da manhã.
Quando a sineta tocou no castelo anunciando o fim da aula, os três largaram as colheres de jardineiro e atravessaram a propriedade correndo em direção à orla da floresta. Hagrid cumprimentou-os parecendo vermelho e excitado.
— Está quase furando. — Conduziu-os para dentro.
O ovo estava em cima da mesa. Tinha fundas rachaduras.
Alguma coisa se mexia dentro dele, fazia um barulhinho engraçado.
Todos puxaram as cadeiras para junto da mesa e observaram com a respiração presa.
De repente ouviram um som arranhado e o ovo se abriu. O dragão-bebê caiu molemente em cima da mesa. Não era exatamente bonito, Harry achou que parecia um guarda-chuva preto amassado. As asas espinhosas eram enormes em contraste como corpo preto e magro, tinha um focinho longo com narinas largas, tocos de chifres e olhos esbugalhados cor de laranja.
Espirrou. Voaram fagulhas do seu focinho.
— Ele não é lindo? — murmurou Hagrid. Esticou a mão para afagar a cabeça do dragão. O bicho tentou morder seus dedos, deixando à mostra presas pontiagudas.
— Deus o abençoe, olhe, ele conhece a mamãe! — exclamou Hagrid.
— Rúbeo — perguntou Hermione —, exatamente com que rapidez um dragão norueguês cresce?
Hagrid ia responder quando a cor subitamente desapareceu do seu rosto, ele deu um salto e correu à janela.
— Que foi?
— Alguém estava espiando pela fresta nas cortinas, um garoto estava correndo de volta para a escola.
Harry se precipitou para a porta e espiou para fora. Mesmo a distância não havia como se enganar.
Malfoy vira o dragão.
Alguma coisa no sorriso que rondou a cara de Malfoy durante a semana seguinte deixou Harry, Rony e Hermione muito nervosos. Passaram a maior parte do tempo livre na cabana sombria de Hagrid, tentando argumentar com ele.
— Deixe o dragão ir embora — insistia Harry — Solte ele.
— Não posso — disse Hagrid. — Ele é muito pequeno. Morreria.
Eles olharam para o dragão. Aumentara três vezes de comprimento em uma semana. A fumaça não parava de sair de suas narinas. Hagrid não estava cumprindo suas tarefas de guarda-caça porque o dragão o mantinha muito ocupado. Havia garrafas vazias de conhaque e penas de galinha por todo o chão.
— Decidi chamá-lo de Norberto — anunciou Hagrid, olhando para o dragão com olhos sonhadores. — Ele realmente sabe quem eu sou, olhem. Norberto! Norberto! Onde está a mamãe?
— Ele pirou — cochichou Rony na orelha de Harry.
— Rúbeo — disse Harry em voz alta —, dê mais quinze dias e Norberto vai ficar do tamanho de sua casa. Malfoy pode procurar Dumbledore a qualquer momento.
Hagrid mordeu o lábio.
— Eu... Eu sei que não vou poder ficar com ele para sempre, mas também não posso largá-lo assim, não posso.
Harry de repente virou-se para Rony.
— Carlinhos — falou.
— Você também — respondeu Rony. — Eu sou Rony, está lembrado?
— Não, Carlinhos... Seu irmão, Carlinhos. Na Romênia. Estudando dragões. Poderíamos mandar Norberto para ele. Carlinhos pode cuidar dele e depois devolvê-lo à floresta!
— Brilhante! — exclamou Rony. — Que é que você acha Rúbeo?
E no fim, Hagrid concordou que podiam mandar uma coruja a Carlinhos para consultá-lo.
A semana seguinte se arrastou. A noite de quarta-feira encontrou Hermione e Harry sentados sozinhos na sala comunal, muito depois de todos terem ido se deitar. O relógio na parede acabara de bater meia-noite quando o buraco do retrato se abriu de repente. Rony se materializou ao tirar a capa da invisibilidade de Harry. Estivera na cabana de Hagrid, ajudando a alimentar Norberto, agora comendo caixotes de ratos mortos.
— Ele me mordeu! — disse ele mostrando a mão, que trazia enrolada em um lenço ensangüentado. — Não vou conseguir segurar a pena de escrever durante uma semana. Vou lhe contar, aquele dragão é o bicho mais horrível que conheci, mas quem ouve Rúbeo falar pensa que ele é um coelhinho fofo. Quando o dragão me mordeu, ele ralhou comigo por tê-lo assustado. E quando sai, estava cantando uma canção de ninar.
Ouviu-se uma batida na janela escura.
— É a Edwiges! — disse Harry, correndo para deixá-la entrar — Deve estar trazendo a resposta de Carlinhos!
Os três juntaram as cabeças para ler o bilhete.

Caro Rony,
Como vai? Obrigado pela carta, terei prazer em cuidar do dragão norueguês, mas não será fácil mandá-lo para mim. Acho que o melhor será mandá-lo por alguns amigos que estão vindo me visitar na próxima semana. O problema é que eles não podem ser vistos carregando um dragão ilegal.
Você poderia levar o dragão para a torre mais alta à meia-noite de sábado? Eles podem se encontrar com você lá e levá-lo enquanto ainda está escuro.
Mande-me uma resposta o mais breve possível.
Afetuosamente,
Carlinhos.

Eles se entreolharam.
— Temos a capa da invisibilidade — disse Harry — Não deve ser muito difícil. Acho que a capa é bastante grande para cobrir dois de nós e o Norberto.
O fato de os outros dois concordarem indicava como a semana fora ruim, Qualquer coisa para se livrarem de Norberto e de Malfoy.
Mas houve um imprevisto. Na manhã seguinte, a mordida do dragão fizera a mão de Rony inchar, ficando duas vezes o seu tamanho normal. Ele não sabia se era seguro procurar Madame Pomfrey, será que ela reconheceria uma mordida de dragão? À tarde, porém, não houve mais jeito. O corte adquirira uma feia cor verde. Dava a impressão de que as presas de Norberto eram venenosas.
Harry e Hermione correram para a ala do hospital no fim do dia e encontraram Rony acamado numa situação horrível.
— Não é só a minha mão — cochichou ele — embora ela pareça que vai cair. Malfoy disse à Madame Pomfrey que queria pedir emprestado um livro meu, para poder vir dar uma boa gargalhada. Ficou ameaçando contar a ela o que realmente me mordera. Eu disse que foi um cachorro, mas acho que ela não está acreditando. Eu não devia ter batido nele no jogo de Quadribol, é por isso que ele está agindo assim.
Harry e Hermione tentaram acalmar Rony.
— Tudo vai terminar à meia-noite de sábado — disse Hermione, mas isso não acalmou Rony nem um pouquinho. Pelo contrário, ele se sentou muito empertigado e desatou a suar.
— Meia-noite de sábado! — disse com a voz rouca — Ah, não... Ah, não... Acabei de me lembrar, a carta de Carlinhos estava no livro que Malfoy levou, ele vai saber que vamos nos livrar de Norberto.
Harry e Hermione não tiveram nem chance de responder. Madame Pomfrey apareceu naquele instante e fez os dois saírem, dizendo que Rony precisava dormir.
— Agora é tarde demais para mudarmos de plano. Não temos mais tempo para mandar outra coruja a Carlinhos e essa pode ser a nossa única oportunidade de nos livrarmos de Norberto. Teremos de arriscar. E temos a capa da invisibilidade, Malfoy não sabe disso.
Eles encontraram Canino, o cão de caçar javalis, sentado do lado de fora da cabana com a cauda enfaixada, quando foram contar a Hagrid, que abriu a janela para falar com eles.
— Não vou deixar vocês entrarem — ofegou. — Norberto está passando uma fase difícil, nada que eu não possa cuidar sozinho.
Quando lhe contaram sobre a carta de Carlinhos, seus olhos se encheram de lágrimas, embora isso talvez fosse porque Norberto acabara de mordê-lo na perna.
— Aai! Tudo bem, ele só mordeu minha bota. Está brincando, afinal é um bebezinho.
O bebê bateu com o rabo na parede, fazendo as janelas estremecerem. Harry e Hermione voltaram para o castelo achando que o sábado talvez não chegasse bastante rápido.
Eles teriam sentido pena de Hagrid quando chegou a hora de dizer adeus a Norberto, se não estivessem tão preocupados com o que tinham de fazer. Era uma noite muito escura e anuviada e se atrasaram um pouco para chegar à cabana de Hagrid porque precisaram esperar Pirraça desimpedir o caminho para o saguão de Entrada, onde estivera jogando tênis contra a parede.
Hagrid aprontara Norberto embalando-o num grande caixote.
— Pus muitos ratos e um pouco de conhaque para a viagem — disse Hagrid com a voz abafada. — E embalei junto o ursinho de pelúcia para o caso de ele se sentir solitário.
De dentro do caixote vinha um ruído de pano rasgado que pareceu a Harry ser o dragão arrancando a cabeça do ursinho.
— Até a vista, Norberto! — soluçou Hagrid, quando Harry e Hermione cobriram o caixote com a capa da invisibilidade e entraram debaixo dela. — Mamãe nunca vai esquecer você!
Como foi que conseguiu levar o caixote de volta ao castelo, eles nunca souberam. Aproximava-se a meia-noite e eles subiram com Norberto pela escadaria do saguão de entrada e pelos corredores escuros. Mais uma escada, mais outra, nem mesmo um dos atalhos de Harry facilitou muito o transporte.
— Estamos quase lá! — Harry ofegou quando chegaram ao corredor sob a torre mais alta.
Então um movimento brusco à frente deles quase fez com que deixassem cair o caixote. Esquecendo que já estavam invisíveis, encolheram-se nas sombras, espiando os contornos escuros de duas pessoas que se debatiam a uns três metros. Uma lâmpada se acendeu.
A Professora Minerva, num robe de lã escocesa e rede no cabelo, segurava Malfoy pela orelha.
— Está detido — gritou. — E são vinte pontos a menos para Sonserina. Perambulando no meio da noite, como você se atreve...
— A senhora não compreende, professora, Harry Potter está vindo aí, vem trazendo um dragão.
— Que absurdo! Como você se atreve a contar tais mentiras! Vamos, vou conversar com o Professor Snape sobre você, Malfoy!
A íngreme escada em espiral até o alto da torre pareceu a coisa mais fácil do mundo depois disto. Somente quando saíram para o ar frio da noite foi que se livraram da capa da invisibilidade, felizes de poderem respirar direito outra vez. Hermione dançou uma espécie de jinga escocesa.
— Malfoy vai ficar detido! Eu seria capaz de cantar.
— Não cante — aconselhou Harry.
Rindo de Malfoy, eles esperaram, enquanto Norberto se debatia dentro do caixote. Passados uns dez minutos, quatro vassouras surgiram da escuridão mergulhando em direção à torre.
Os amigos de Carlinhos formavam um grupo animado.
Mostraram a Harry e a Hermione os arreios que tinham trazido de modo a poder suspender Norberto entre eles. Todos ajudaram a prender Norberto muito bem nos arreios e então Harry e Hermione apertaram as mãos de todos e lhes agradeceram muito.
Finamente Norberto estava indo... Indo... E finalmente se foi.
Eles desceram a escada espiral sem fazer barulho, os corações leves como as mãos, agora que Norberto fora tirado delas. Nada de dragão, Malfoy detido, o que poderia estragar essa felicidade?
A resposta à sua pergunta estava esperando ao pé da escada.
Quando chegaram ao corredor, a cara de Filch assombrou-os, emergindo da escuridão.
— Ora, ora, ora — sussurrou —, estamos encrencados.
Tinham deixado a capa da invisibilidade no alto da torre.

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