Posted by : Unknown junho 04, 2014

Capítulo 19


— Então, no geral, não foi um dos melhores aniversários do Rony, não é? — comentou Fred.
Era noite; a ala hospitalar estava silenciosa, as cortinas fechadas, as luzes acesas. A cama de Rony era a única ocupada. Harry, Hermione e Gina estavam sentados à sua volta; tinham passado o dia inteiro esperando do lado de fora das portas duplas, tentando espiar lá para dentro, sempre que alguém entrava ou saía. Madame Pomfrey só os deixara entrar às oito horas da noite. Fred e Jorge tinham chegado dez minutos depois.
— Não foi bem assim que imaginamos entregar nosso presente — disse Jorge, sério, deixando um grande embrulho na mesa-de-cabeceira de Rony e se sentando ao lado de Gina.
— É, quando imaginamos a cena, ele estava consciente — confirmou Fred.
— Estávamos em Hogsmeade, esperando para fazer uma surpresa a ele — falou Jorge.
— Vocês estavam em Hogsmeade? — admirou-se Gina, erguendo a cabeça.
— Estivemos pensando em comprar a Zonkos — respondeu Fred triste. — Uma filial em Hogsmeade, sabe, mas não vai nos adiantar nada, se vocês não tiverem mais permissão de sair nos fins de semana e comprar os nossos artigos... mas deixa isso para lá.
Ele puxou uma cadeira ao lado de Harry e contemplou o rosto pálido de Rony.
— Como foi exatamente que isso aconteceu, Harry?
O garoto tornou a contar a história que tinha a impressão de já ter repetido cem vezes a Dumbledore, a McGonagall, a Madame Pomfrey, a Hermione e a Gina.
— ...então enfiei o bezoar na boca de Rony e a respiração dele melhorou um pouco, Slughorn correu para buscar ajuda, McGonagall e Madame Pomfrey apareceram e o trouxeram aqui para cima. Acham que vai se curar. Madame Pomfrey diz que terá de ficar aqui mais ou menos uma semana... tomando Essência de Arruda.
— Caramba, foi sorte você ter se lembrado do bezoar — disse Jorge em voz baixa.
— Sorte que tivesse um na sala — respondeu Harry, que gelava só de pensar no que teria acontecido se não tivesse conseguido obter a pedrinha.
Hermione deu uma fungada quase inaudível. Tinha estado excepcionalmente quieta o dia todo. Tendo se precipitado, lívida, ao encontro de Harry, à porta da ala hospitalar, e exigido saber o que acontecera, ela praticamente não participara da discussão obsessiva entre Harry e Gina sobre o modo como Rony fora envenenado; meramente se postara ao lado deles, com os dentes cerrados e uma expressão de medo até que, finalmente, receberam autorização para vê-lo.
— Mamãe e papai sabem? — perguntou Fred a Gina.
— Eles já viram o Rony, chegaram há uma hora; estão no escritório de Dumbledore, agora, mas vão voltar logo...
Houve uma pausa durante a qual todos ficaram observando Rony, adormecido, resmungar um pouco.
— Então o veneno estava na garrafa? — perguntou Jorge em voz baixa.
— Estava — respondeu Harry imediatamente; não conseguia pensar em nada mais, e a oportunidade de retomar a discussão o deixava feliz. — Slughorn serviu o hidromel...
— Ele poderia ter posto alguma coisa na taça de Rony sem você ver?
— Provavelmente, mas por que Slughorn iria querer envenenar Rony?
— Não faço a menor idéia — respondeu Fred, enrugando a testa. — Você acha que ele poderia ter trocado as taças por engano? Querendo envenenar você?
— Por que Slughorn iria querer envenenar Harry? — indagou Gina.
— Não sei — replicou Fred —, mas deve haver muita gente que gostaria de envenenar Harry, não? “O Eleito” e tudo o mais?
— Então você acha que Slughorn é um Comensal da Morte? — perguntou Gina.
— Tudo é possível — respondeu Fred sombriamente.
— Ele poderia estar dominado pela Maldição Imperius — sugeriu Jorge.
— Ou poderia ser inocente — tornou Gina. — O veneno poderia estar na garrafa, caso em que provavelmente era destinado ao próprio Slughorn.
— Quem iria querer matar Slughorn?
— Dumbledore acha que Voldemort queria o apoio de Slughorn — disse Harry. — O professor esteve escondido durante um ano antes de vir para Hogwarts. E... — ele pensou na lembrança que Dumbledore ainda não conseguira extrair dele — ... e talvez Voldemort queira tirar Slughorn do caminho, talvez ache que ele pode ser valioso para Dumbledore.
— Mas você disse que Slughorn tinha pensado em dar a garrafa a Dumbledore no Natal — Gina lembrou a Harry. — Então o envenenador poderia muito bem estar atrás do Dumbledore.
— Então o envenenador não conhecia Slughorn muito bem — falou Hermione pela primeira vez em horas, com voz de quem pegara um forte resfriado. — Qualquer um que conhecesse Slughorn saberia que havia grande probabilidade do professor guardar uma coisa gostosa daquela para si mesmo.
— Her-mi-o-ne — crocitou Rony inesperadamente.
Todos se calaram, observando-o ansiosos, mas, depois de resmungar palavras incompreensíveis por um momento, ele simplesmente começou a roncar.
As portas da enfermaria se escancararam, sobressaltando a todos: Hagrid entrou e se encaminhou para o grupo, sua cabeleira salpicada de chuva, o casaco de pêlo de urso ondulando aos seus passos, um arco na mão, deixando no chão um rastro de pegadas lamacentas do tamanho de bóias.
— Passei o dia todo na Floresta! — ofegou. — Aragogue piorou, estive lendo para ele... só me levantei para jantar agora há pouco, e a professora Sprout me contou o que aconteceu ao Rony. Como é que ele está?
— Nada mal — respondeu Harry. — Dizem que vai ficar bom.
— Somente seis visitas de cada vez! — avisou Madame Pomfrey, saindo depressa de sua sala.
— Com o Hagrid são seis — salientou Jorge.
— Ah... é... — concordou Madame Pomfrey, que, pelo jeito, contara Hagrid como várias pessoas, diante de sua corpulência. Para disfarçar seu embaraço, ela correu a limpar as pegadas com a varinha.
— Não acredito — disse Hagrid rouco, sacudindo a cabeça peluda enquanto olhava para Rony. — Simplesmente não acredito... olha só ele deitado aí... quem iria querer fazer mal a ele, eh?
— É justamente o que estamos discutindo — disse Harry. — Não sabemos.
— Será que alguém poderia estar com raiva da equipe de quadribol da Grifinória? — perguntou Hagrid ansioso. — Primeiro a Katie, agora o Rony...
— Não consigo ver ninguém tentando liquidar uma equipe de quadribol — comentou Jorge.
— Wood teria acabado com os jogadores da Sonserina se não tivesse de pagar pelo crime — respondeu Fred, querendo ser justo.
— Bem, acho que o motivo não é o quadribol, mas acho que há uma ligação entre os ataques — disse Hermione, baixinho.
— Como é que você chegou a essa conclusão? — perguntou Fred.
— Bem, primeiro, os dois casos deviam ter sido fatais, mas não foram, embora tenha sido por pura sorte. Por outro lado, nem o veneno nem o colar parecem ter atingido a pessoa que deviam matar. É claro — acrescentou ela pensativa — que de certa forma isto torna o mandante dos atentados ainda mais perigoso, porque parece que não se importa com o número de pessoas que liquida até realmente chegar à sua vítima.
Antes que alguém pudesse reagir a essa afirmação agourenta, as portas tornaram a se abrir, e o casal Weasley entrou apressado na enfermaria. Em sua última visita, tinham apenas se assegurado de que Rony se recuperaria totalmente: agora a Sra. Weasley agarrou Harry e lhe deu um abraço apertado.
— Dumbledore nos contou como você salvou Rony com o bezoar — soluçou a bruxa. — Ah, Harry, que podemos dizer? Você salvou Gina... salvou Arthur... agora salvou Rony...
— Não precisa... eu não... — murmurou Harry sem jeito.
— Parece que metade da nossa família lhe deve a vida, agora que paro para pensar — falou o Sr. Weasley com a voz embargada. — Bem, só o que posso dizer é que foi um dia de sorte para os Weasley quando Rony resolveu sentar no seu compartimento no Expresso de Hogwarts, Harry.
O garoto não soube o que responder e quase se alegrou quando Madame Pomfrey tornou a ralhar com eles porque só podiam permanecer seis visitas em torno da cama de Rony; ele e Hermione se levantaram na mesma hora para sair e Hagrid decidiu acompanhá-los, deixando Rony com a família.
— É terrível — resmungou Hagrid, quando os três caminhavam pelo corredor em direção à escadaria de mármore. — Todas essas novidades na segurança e os garotos continuam a ser atingidos... Dumbledore está morto de preocupação... ele não fala muito, mas dá para sentir...
— Ele não tem nenhuma idéia, Hagrid? — perguntou Hermione desesperada.
— Acho que tem centenas de idéias, um cérebro como o dele — disse Hagrid lealmente. — Mas não sabe quem mandou aquele colar nem quem envenenou o vinho, ou eles já teriam sido pegos, não acha? O que me preocupa — continuou ele baixando a voz e espiando por cima do ombro (Harry, por precaução, verificou se Pirraça estaria no teto) — é quanto tempo Hogwarts pode continuar aberta se os garotos não param de ser atacados. É a Câmara Secreta outra vez, não é mesmo? Vai haver pânico, muitos pais vão tirar os filhos da escola e, quando a gente der pela coisa, o conselho diretor...
Hagrid se calou enquanto o fantasma de uma mulher de longos cabelos passava serenamente por eles, então retomou o que dizia num sussurro rouco:
— ...o conselho diretor vai começar a falar em nos fechar para sempre.
— Com certeza que não — contestou Hermione, preocupada.
— Temos que ver o ponto de vista deles — replicou Hagrid pesaroso. — Quero dizer, sempre foi meio arriscado mandar um garoto para Hogwarts, não acham? A gente espera que haja acidentes, não é, centenas de bruxos de menor idade trancados juntos, mas tentativa de homicídio é outra coisa. Não admira que Dumbledore esteja aborrecido com o Sn...
Hagrid parou de repente, e uma expressão de culpa que os garotos conheciam tão bem tornou-se visível acima da emaranhada barba negra.
— Quê? — perguntou Harry depressa. — Dumbledore está aborrecido com o Snape?
— Eu nunca disse isso — protestou Hagrid, embora sua expressão de pânico não pudesse ser maior confirmação. — Olhem como é tarde, já é quase meia-noite, preciso...
— Hagrid, por que Dumbledore está aborrecido com Snape? — perguntou Harry em voz alta.
— Chiii! — disse Hagrid, parecendo ao mesmo tempo nervoso e zangado. — Não grite essas coisas, Harry, você quer que eu perca o meu emprego? Não que eu ache que você se importaria, não é, agora que desistiu de estudar Trato das...
— Não tente me fazer sentir culpado, não vai funcionar! — exclamou Harry energicamente. — Que foi que Snape fez?
— Não sei, Harry, eu não devia nem ter ouvido! Ah... bem, eu ia saindo da Floresta uma noite dessas e ouvi os dois conversando... bem, discutindo. Não quis chamar atenção para a minha pessoa, então meio que me escondi e tentei não ouvir, mas foi uma... bem uma discussão inflamada, e foi difícil não ouvir.
— E aí? — insistiu Harry, enquanto o amigo arrastava os enormes pés pouco à vontade.
— Bem... eu só ouvi Snape dizer que o Dumbledore contava com muita coisa e talvez ele... Snape... não quisesse continuar a...
— O quê?
— Não sei, Harry, pareceu que o Snape estava se sentindo sobrecarregado, foi só... em todo caso, Dumbledore disse, sem rodeios, que ele tinha concordado em fazer alguma coisa e que era assunto encerrado. Foi bastante firme com ele. E então ele falou algo sobre Snape fazer investigações na Casa dele, na Sonserina. Bem, não vejo nada estranho nisso! — Hagrid apressou-se a acrescentar, enquanto Harry e Hermione trocavam olhares muito significativos. — Todos os diretores de Casas receberam ordem de investigar o caso do colar...
— É, mas Dumbledore não andou brigando com os outros, não é? — replicou Harry.
— Olhe — Hagrid torceu o arco nas mãos sem jeito; ouviu-se um forte estalo de madeira e o arco se partiu em dois —, eu sei o que você pensa do Snape, Harry, e não quero que entenda nessa história mais do que tem para entender.
— Cuidado — avisou Hermione bruscamente.
Eles se viraram em tempo de ver a sombra de Argo Filch se avultar na parede às suas costas antes que o homem, corcunda, de queixo trêmulo, aparecesse no canto do corredor.
— Oho! — exclamou num chiado. — Fora da cama tão tarde, isto vai significar detenção!
— Não vai, não, Filch — disse Hagrid secamente. — Eles estão comigo, não é mesmo?
— E que diferença faz isso? — perguntou Filch desaforado.
— Pombas, sou professor, não é mesmo, seu aborto fofoqueiro! — retrucou Hagrid, irritando-se.
Ouviu-se um sibilo agressivo à medida que Filch inchava de fúria; Madame Nor-r-ra apareceu, sem ninguém perceber, e se enroscou, sinuosa, nos tornozelos magros do dono.
— Vão andando — disse Hagrid pelo canto da boca.
Harry não precisou ouvir a segunda vez; ele e Hermione saíram ligeiros, ouvindo os ecos da altercação de Hagrid e Filch às suas costas enquanto corriam. Passaram por Pirraça antes de virarem para a Torre da Grifinória, mas o poltergeist voava feliz em direção à fonte da gritaria, rindo e cantarolando:

Quando tem conflito e quando tem barulho, Chamem o Pirraça, ele dobra a confusão!

A Mulher Gorda estava tirando um cochilo e não gostou de ser acordada, mas girou, resmungando, para permitir que os garotos entrassem na sala comunal, felizmente vazia e tranqüila. Pelo visto, as pessoas ainda não sabiam o que acontecera a Rony; Harry sentiu um grande alívio, já fora suficientemente interrogado aquele dia. Hermione lhe deu boa-noite e foi para o dormitório das garotas. Harry, porém, ficou na sala, e se sentou junto à lareira, contemplando as brasas que iam se apagando.
Então Dumbledore discutira com Snape. Apesar de tudo que dissera a Harry, apesar de insistir que confiava inteiramente em Snape, perdera a paciência com ele... achava que Snape não se empenhara o suficiente para investigar os alunos da Sonserina... ou, talvez, investigar um único aluno: Malfoy?
Será que Dumbledore não queria que Harry fizesse uma tolice, resolvesse agir por conta própria, por isso fingira que não havia fundamento nas suspeitas do garoto? Era plausível. Podia até ser que Dumbledore quisesse evitar que Harry se desviasse de suas aulas ou de obter aquela lembrança de Slughorn. Talvez Dumbledore não achasse direito confiar suas suspeitas sobre professores a adolescentes de dezesseis anos...
— Aí está você, Potter!
Harry saltou, assustado, empunhando a varinha. Estava certo de que não havia ninguém na sala comunal; não estava preparado para ver um vulto colossal se erguer de repente de uma cadeira distante. Um olhar mais atento mostrou-lhe que era Córmaco McLaggen.
— Estive esperando você voltar — disse McLaggen, ignorando a varinha de Harry. — Devo ter adormecido. Olha, vi quando levaram Weasley para a ala hospitalar hoje cedo. E, pelo jeito, não estará em condições de jogar a partida da semana que vem.
Harry levou uns momentos para compreender o que McLaggen estava dizendo.
— Ah... certo... quadribol — disse, guardando a varinha no cós do jeans e passando a mão, cansado, pelos cabelos. — É... talvez ele não possa jogar.
— Bem, então, eu serei o goleiro, não é?
— É. É, presumo que sim...
Não conseguia pensar em nenhum argumento em contrário; afinal, McLaggen fora, sem dúvida, o segundo melhor nos testes.
— Excelente — disse McLaggen satisfeito. — Então, quando vai ser o treino?
— Quê? Ah... haverá um amanhã à noite.
— Ótimo. Escute aqui, Potter, acho que devíamos ter uma conversa antes. Tenho algumas idéias sobre estratégia que podem lhe ser úteis.
— Certo — concordou Harry sem entusiasmo. — Bem, você me fala amanhã então. Estou muito cansado agora... a gente se vê...
A notícia de que Rony fora envenenado se espalhou rapidamente no dia seguinte, mas não causou a mesma sensação do ataque a Katie. Aparentemente, as pessoas pensaram que poderia ter sido um acidente, e, considerando que ele estava na sala do professor de Poções naquele momento e que recebera logo um antídoto, não acontecera realmente mal algum. De fato, os alunos da Grifinória, de um modo geral, se mostravam bem mais interessados no jogo iminente contra a Lufa-Lufa, porque muitos queriam ver Zacarias Smith, que era o artilheiro da equipe, receber um bom castigo pelos seus comentários durante a partida de abertura da temporada contra a Sonserina.
Harry, no entanto, nunca estivera menos interessado em quadribol; estava se tornando aceleradamente obcecado por Draco Malfoy. Ainda observando o Mapa do Maroto sempre que podia, ele por vezes saía do seu caminho para ir onde Malfoy estivesse, sem, contudo, encontrá-lo fazendo qualquer coisa fora do comum. E continuava a haver aqueles momentos inexplicáveis em que Malfoy simplesmente desaparecia do mapa.
O garoto, porém, não teve muito tempo para refletir sobre o problema era face dos treinos de quadribol, dos deveres e do fato de que ele estava sendo perseguido aonde quer que fosse por Córmaco McLaggen e Lilá Brown.
Ele não conseguia decidir qual era o mais importuno. McLaggen despejava um fluxo constante de insinuações de que seria um goleiro titular melhor para a equipe do que Rony e que agora que Harry o veria jogar regularmente, com certeza, acabaria pensando o mesmo; Córmaco também gostava de criticar os outros jogadores e de fornecer a Harry esquemas detalhados de treinamento, forçando Harry, mais de uma vez, a lembrar-lhe quem era o capitão.
Enquanto isso, Lilá não parava de abordá-lo para falar sobre Rony, o que Harry achava mais estressante do que as preleções de McLaggen sobre quadribol. A princípio, Lilá ficara muito aborrecida que ninguém tivesse pensado em avisá-la de que Rony estava hospitalizado (“quero dizer, eu sou a namorada dele!”), mas, infelizmente, ela resolvera perdoar a Harry este lapso de memória, e estava preferindo manter com ele conversas freqüentes e profundas sobre os sentimentos de Rony, uma experiência extremamente desconfortável que o garoto teria dispensado com prazer.
— Olha, por que você não conversa com Rony sobre tudo isso? — perguntou Harry, depois de um interrogatório particularmente longo de Lilá, que incluiu desde o que Rony dissera sobre suas novas vestes até a opinião de Harry se Rony estaria levando a “sério” o namoro dos dois.
— Bem, eu faria isso, mas ele está sempre dormindo quando vou à enfermaria! — respondeu Lilá impaciente.
— É mesmo? — exclamou Harry, surpreso, pois encontrara Rony completamente acordado todas as vezes em que estivera na ala hospitalar, muito interessado em saber notícias da discussão entre Dumbledore e Snape, e em xingar McLaggen sempre que podia.
— Hermione Granger continua visitando Rony? — quis saber Lilá inesperadamente.
— Acho que sim. Bem, eles são amigos, não é? — respondeu Harry constrangido.
— Amigos, não me faça rir — comentou Lilá com desdém. — Ela deixou de falar com Rony durante semanas quando ele começou a sair comigo! Mas imagino que queira reatar agora que ele se tornou tão interessante...
— Você chama interessante alguém ser envenenado? De qualquer modo... me desculpe, tenho de ir andando... aí vem McLaggen para falar de quadribol — disse Harry, apressado, e se precipitou por uma porta lateral disfarçada de parede sólida e desceu por um atalho que o levaria à aula de Poções onde, felizmente, nem Lilá nem McLaggen poderiam segui-lo.
Na manhã do jogo de quadribol contra a Lufa-Lufa, Harry passou na ala hospitalar antes de seguir para o campo. Encontrou Rony muito agitado; Madame Pomfrey não queria deixá-lo ir assistir ao jogo, achando que poderia perturbá-lo demais.
— Então, como é que McLaggen está se saindo? — perguntou nervoso a Harry, aparentemente esquecido de que já fizera a mesma pergunta duas vezes.
— Já lhe disse — respondeu Harry pacientemente —, ele poderia ser um goleiro de primeira linha e, ainda assim, eu não iria querer ele na equipe. Ele não pára de dizer a todo o mundo o que fazer, acha que poderia jogar em qualquer posição melhor do que a gente. Mal posso esperar para me livrar dele. E, por falar em se livrar de pessoas — acrescentou Harry, levantando-se e apanhando sua Firebolt —, quer parar de fingir que está dormindo quando a Lilá vem visitar você? Ela é outra que está me deixando maluco.
— Ah — exclamou Rony, sem graça. — Tudo bem.
— Se você não quer mais namorar, é só dizer a ela.
— É... bem... não é tão fácil, não é? — Rony fez uma pausa. — Hermione vai passar aqui antes do jogo? — acrescentou displicente.
— Não, ela já foi para o campo com a Gina.
— Ah — tornou Rony, parecendo deprimido. — Certo. Bem, boa sorte. Espero que você dê uma surra no McLag... quero dizer, no Smith.
— Vou tentar — disse Harry, levando a vassoura ao ombro. — A gente se vê depois do jogo.
Ele saiu apressado pelos corredores desertos; a escola inteira estava lá fora ou sentada no estádio ou a caminho. Harry foi espiando pelas janelas ao passar, tentando avaliar quanto vento iam enfrentar, quando um barulho mais à frente chamou sua atenção; ele viu Malfoy andando em sua direção em companhia de duas garotas, ambas com ar de contrariedade e raiva.
Malfoy parou imediatamente ao ver Harry, então soltou uma risada curta e seca e continuou a andar.
— Aonde é que você vai? — quis saber Harry.
— É, vou mesmo lhe dizer, Potter, porque é da sua conta — debochou Malfoy. — É melhor você correr, devem estar esperando o “Capitão Eleito”, o “Rapaz que fez Gol”, ou sei lá qual é o nome que lhe dão ultimamente.
Uma das garotas riu, contrafeita. Harry encarou-a. Ela corou. Malfoy passou por Harry, e ela e a amiga o seguiram quase correndo, viraram num canto e desapareceram de vista.
Harry ficou pregado ali, observando-os desaparecer. Isto era de enfurecer; estava em cima da hora para chegar ao estádio em tempo e via Malfoy, rondando pelos corredores enquanto o restante da escola estava ausente: a melhor chance que Harry tivera até o momento para descobrir o que Malfoy andava fazendo. Os segundos silenciosos passaram lentos e Harry continuou onde estava, paralisado, olhando para o lugar onde vira Malfoy desaparecer...
— Aonde é que você andou? — indagou Gina, quando Harry entrou correndo no vestiário. A equipe inteira estava uniformizada e pronta; Coote e Peakes, os batedores, balançavam os bastões nervosamente contra as pernas.
— Encontrei Malfoy — respondeu ele em voz baixa, enquanto enfiava as vestes vermelhas pela cabeça.
— E daí?
— E daí eu queria saber por que ele estava no castelo com duas garotas enquanto todo o mundo está aqui embaixo...
— E isso faz diferença agora?
— Bem, provavelmente não vou descobrir, não é mesmo? — respondeu ele, apanhando a Firebolt e endireitando os óculos. — Andem, vamos!
E sem dizer mais nada, entrou em campo sob vaias e aplausos ensurdecedores. Ventava pouco; as nuvens estavam esgarçadas; a intervalos, deixavam passar lampejos ofuscantes de sol.
— Condições enganosas! — disse McLaggen para estimular a equipe. — Coote, Peakes, vocês terão de voar evitando o sol, para eles não verem vocês se aproximando...
— Eu sou o capitão, McLaggen, pare de dar instruções — exclamou Harry irritado. — Vai logo para junto das balizas!
Quando McLaggen se afastou, Harry se dirigiu a Coote e Peakes.
— Procurem realmente voar evitando o sol — repetiu para os jogadores de má vontade. Harry apertou a mão do capitão da Lufa-Lufa e, quando Madame Hooch apitou, deu impulso e levantou vôo, ganhando uma altitude maior do que o resto da equipe, para sobrevoar os limites do campo à procura do pomo. Se conseguisse agarrá-lo bem cedo, talvez pudesse voltar ao castelo, apanhar o Mapa do Maroto e descobrir o que Malfoy estava fazendo...
“E lá vai Smith da Lufa-Lufa levando a goles”, ecoou uma voz sonhadora pelos terrenos de Hogwarts. “Da última vez, foi ele quem narrou o jogo, é claro, e Gina Weasley colidiu com o pódio, provavelmente de propósito: ou assim me pareceu. Smith foi muito grosseiro nos comentários sobre a Grifinória, imagino que esteja arrependido agora que tem de enfrentar a equipe da Casa... ah, olhem, ele perdeu a posse da goles, Gina roubou-a dele, gosto dela, é muito boa...”
Harry olhou admirado para o pódio do locutor. Decerto, ninguém com o juízo perfeito deixaria Luna Lovegood narrar o jogo! Mas, mesmo ali do alto, não havia como confundir aqueles longos cabelos louro-sujos nem aquele colar de rolhas de cerveja amanteigada... Ao lado de Luna, a professora McGonagall parecia meio constrangida, como se de fato estivesse refletindo sobre tal escolha.
“... mas agora aquele grandalhão da Lufa-Lufa tirou a goles de Gina, não estou conseguindo lembrar o nome dele, é alguma coisa parecida com Bibble... não, Buggins...”
— É Cadwallader! — exclamou a professora McGonagall em voz alta ao lado de Luna. A multidão riu.
Harry correu os olhos ao redor, procurando o pomo; nem sinal. Instantes depois, Cadwallader marcou. McLaggen estivera aos berros, criticando Gina por perder a posse da goles, e, em conseqüência, não vira a grande bola vermelha passar voando por sua orelha direita.
— McLaggen, quer prestar atenção no que você devia estar fazendo e deixar os outros em paz?! — berrou Harry, dando meia-volta para ficar de frente para o seu goleiro.
— Grande exemplo você está dando! — gritou McLaggen em resposta, a cara vermelha de fúria.
“E Harry Potter agora está discutindo com o seu goleiro”, irradiou Luna calmamente, enquanto as torcidas da Lufa-Lufa e da Sonserina, entre os espectadores, aplaudiam e vaiavam. “Acho que isso não vai ajudá-lo a localizar o pomo, mas talvez seja um estratagema bem sacado...”
Xingando enraivecido, Harry tornou a girar e recomeçou a contornar o campo, varrendo o céu à procura de um sinal da bolinha de ouro alada.
Gina e Demelza marcaram cada uma o seu gol, dando à torcida vermelho-e-ouro, lá embaixo, um motivo para se alegrar. Caldwallader tornou a golear, empatando o placar, mas Luna não pareceu notar; narrava como se não tivesse interessada em detalhes mundanos como o marcador, e todo o tempo tentava chamar a atenção da multidão para nuvens de formas curiosas e a possibilidade de Zacarias Smith, que até o momento não conseguira manter a posse da goles por mais de um minuto, estar sofrendo de uma doença chamada “fiascurgia”.
“Setenta a quarenta para Lufa-Lufa!”, anunciou a professora McGonagall ao megafone de Luna.
“Já?”, exclamou Luna distraída. “Ah, vejam! O goleiro da Grifinória arrancou o bastão de um dos batedores.”
Harry se virou no ar. De fato, McLaggen, por razões que só ele sabia, tirara o bastão de Peakes e parecia estar demonstrando como bater um balaço em Cadwallader, que se aproximava.
— Quer devolver o bastão dele e voltar às balizas?! — rugiu Harry voando em direção a McLaggen, exatamente na hora em que ele golpeava com ferocidade um balaço e errava o alvo.
Uma dor nauseante de cegar... um lampejo... gritos distantes... e a sensação de despencar por um longo túnel...
Quando recuperou os sentidos, Harry se viu deitado em uma cama extraordinariamente quente e confortável, olhando para um lampião, no alto, que projetava um círculo de luz dourada no teto escuro. Harry ergueu a cabeça desajeitado. À sua esquerda, estava alguém de sardas e cabelos ruivos que lhe pareceu familiar.
— Que bom que veio me visitar — disse Rony rindo.
Harry piscou os olhos e olhou ao redor. Claro: encontrava-se na ala hospitalar. O céu lá fora estava azul-anil raiado de vermelho. O jogo devia ter acabado havia horas... tal como a esperança de encurralar Malfoy. Sua cabeça parecia estranhamente pesada; ele ergueu a mão e sentiu um turbante compacto de bandagens.
— Que aconteceu?
— Fratura no crânio — respondeu Madame Pomfrey, aproximando-se, enérgica, e obrigando-o a deitar de novo nos travesseiros. — Não precisa se preocupar, emendei tudo na hora, mas vou mantê-lo aqui até amanhã. Você não deve fazer maiores esforços por algumas horas.
— Não quero ficar aqui até amanhã — respondeu Harry, aborrecido, sentando-se e atirando as cobertas para longe. — Quero achar o McLaggen e matar ele.
— Creio que isso se enquadre entre “maiores esforços” — disse Madame Pomfrey, empurrando-o, com firmeza, na cama e erguendo sua varinha ameaçadoramente. — Você vai ficar aqui até que eu lhe dê alta, Potter, ou chamarei o diretor.
A bruxa voltou depressa para a sua sala, e Harry afundou nos travesseiros, espumando.
— Você sabe de quanto perdemos? — perguntou a Rony entre os dentes.
— Bem, sei — respondeu Rony em tom de quem pede desculpas. — O placar final foi trezentos e vinte a sessenta.
— Genial — exclamou Harry com ferocidade. — Realmente genial! Quando eu pegar o McLaggen...
— Você não quer pegar o McLaggen, ele é do tamanho de um trasgo — argumentou Rony. — Pessoalmente, sou mais a favor de azarar ele com aquele feitiço do Príncipe, na unha do pé. De qualquer modo, quem sabe o resto da equipe já terá cuidado dele quando você sair daqui, ninguém ficou feliz...
Havia uma nota de mal contida alegria na voz de Rony; Harry percebeu que ele estava simplesmente vibrando que McLaggen tivesse metido os pés pelas mãos. Harry ficou ali, contemplando o retalho de luz no teto, sua cabeça recém-emendada não estava exatamente doída, mas parecia sensível sob aquelas bandagens.
— Ouvi a narração da partida daqui — disse Rony, a voz trêmula de riso. — Espero que seja sempre a Luna a comentar daqui para frente... Fiascurgia...
Harry, no entanto, continuava zangado demais para achar muita graça na situação, e pouco depois Rony parou de rir.
— Gina veio fazer uma visita quando você estava inconsciente — disse ele depois de uma longa pausa, e instantaneamente a imaginação de Harry disparou, montando uma cena em que Gina, chorando sobre o seu corpo sem vida, confessava sentir uma forte atração por ele enquanto Rony os abençoava... — Ela acha que você chegou em cima da hora para o jogo. Que aconteceu? Você saiu daqui bem cedo.
— Ah... — começou Harry enquanto a cena implodia em sua mente. — É... bem, vi Malfoy se esgueirando pelo corredor com duas garotas que pareciam não estar querendo a companhia dele, e esta é a segunda vez que ele dá um jeito de não estar no estádio com o resto da escola. E ele também faltou ao último jogo, lembra? — suspirou Harry. — Eu gostaria de ter seguido o Malfoy, já que o jogo foi aquele fiasco...
— Não seja idiota — replicou Rony com rispidez. — Você não podia faltar a um jogo de quadribol só para seguir Malfoy, você é o capitão!
— Quero saber o que ele anda fazendo. E não me diga que isso é coisa da minha imaginação, não depois da conversa que escutei entre ele e o Snape...
— Eu nunca disse que você estava imaginando coisas — protestou Rony, erguendo-se sobre um cotovelo e franzindo a testa para Harry —, mas não existe regra que diga que somente uma pessoa de cada vez pode tramar coisas neste lugar! Você está ficando meio obcecado pelo Malfoy, Harry. Quero dizer, pensar em faltar um jogo só para seguir o cara...
— Quero apanhar Malfoy com a mão na massa! — respondeu Harry frustrado. — Quero dizer, aonde é que ele vai quando desaparece do mapa?
— Não sei... Hogsmeade? — sugeriu Rony, bocejando.
— Nunca o vi andando por nenhuma passagem secreta no mapa. Aliás, achei que todas elas estavam sendo vigiadas agora, não?
— Bem, então, não sei.
Fez-se silêncio entre os dois. Harry ficou olhando para o círculo de luz no alto, refletindo...
Se ao menos ele tivesse o poder de Rufo Scrimgeour, poderia mandar seguir Malfoy, mas infelizmente não tinha uma seção de aurores sob seu comando... ele pensou por um breve instante em montar alguma coisa com a AD, mas, de novo, haveria o problema de darem por falta dos alunos nas aulas; afinal, a maioria deles tinha horários apertados...
Ouviu-se um ronco surdo vindo da cama de Rony. Passado um tempo, Madame Pomfrey saiu de sua sala, desta vez trajando um grosso roupão. Era mais fácil fingir que estava dormindo; Harry virou para o lado e ouviu as cortinas se fecharem quando a bruxa acenou com a varinha. As luzes diminuíram e ela voltou à sua sala; ele ouviu o clique da porta ao fechar, e entendeu que ela se recolhera.
Esta, refletiu Harry no escuro, era a terceira vez que o traziam para a ala hospitalar por conta de um acidente de quadribol. Da última vez, ele caíra da vassoura por causa da presença dos dementadores em torno do campo, e, da vez anterior, perdera todos os ossos do braço pela incompetência incurável do professor Lockhart... fora de longe o seu acidente mais doloroso... ele se lembrou da agonia de restaurar todos os ossos do braço em uma noite, um mal-estar que só fez aumentar com a chegada de um visitante inesperado no meio da...
Harry se sentou de repente, o coração batendo forte, o turbante de bandagens enviesado. Finalmente encontrara a solução: havia uma maneira de seguir Malfoy... como podia ter esquecido, por que não pensara nisso antes?
Mas a questão era: como chamá-lo? Como se fazia isso?
Em voz baixa, hesitante, Harry falou para a noite:
— Monstro?
Ouviu um forte estalo e o ruído de guinchos e pés arrastados encheram a enfermaria. Rony acordou com um ganido.
— Que está...?
Harry apontou a varinha depressa para a porta da sala de Madame Pomfrey e murmurou Abaffiato!, para impedir que ela viesse correndo. Então, ele se arrastou até os pés da cama para ver melhor o que estava acontecendo.
Dois elfos domésticos estavam embolados no chão, no meio da enfermaria, um usava um pulôver castanho-avermelhado que encolhera e vários gorros de lã; o outro, um trapo velho e imundo preso nos quadris como uma tanga. Ouviu-se, então, mais um estalo e Pirraça, o Poltergeist, apareceu sobrevoando os elfos engalfinhados.
— Eu estava assistindo, Potty! — disse indignado a Harry, apontando para os lutadores, e em seguida soltou uma grande gargalhada. — Olhe essas criaturinhas brigando, mordidinha, murrinho...
— Monstro não vai insultar Harry Potter na frente de Dobby, não vai, não, ou Dobby vai fechar a boca dele! — exclamou Dobby com a voz muito aguda.
— Chutinho, arranhãozinho! — exclamou Pirraça, alegre, agora atirando pedaços de giz nos elfos para enraivecê-los. — Torcidinha, cutucadinha!
— Monstro dirá o que quiser sobre o senhor dele, ah, dirá, e que senhor ele tem, um amigo nojento de Sangues-Ruins, ah, o que diria a pobre senhora do Monstro...?
Exatamente o que a senhora de Monstro diria ninguém chegou a saber, porque naquele instante Dobby meteu o punho nodoso na boca de Monstro, fazendo saltar metade dos seus dentes. Harry e Rony pularam de suas camas e separaram os elfos, embora eles continuassem tentando chutar e esmurrar um ao outro, incentivados por Pirraça, que dançava em torno do lampião aos guinchos:
— Enfia os dedos no nariz dele, tira sangue e arranca as orelhinhas dele...
Harry apontou a varinha para Pirraça e disse:
— Travalíngua! — Pirraça levou as mãos à garganta, engoliu em seco e saiu voando da enfermaria, fazendo gestos obscenos, mas sem fala, porque sua língua acabara de grudar no céu da boca.
— Legal esse! — aprovou Rony, erguendo Dobby no ar para impedir que suas pernas agitadas continuassem a atingir o Monstro. — Mais um dos feitiços do Príncipe, não é?
— É — confirmou Harry, torcendo o braço fino de Monstro com uma chave de braço. — Certo: proíbo você de lutar com o Dobby. Dobby, eu sei que não posso lhe dar ordens...
— Dobby é um elfo doméstico livre e pode obedecer a quem ele quiser, e Dobby fará tudo que Harry Potter quiser! — disse o elfo, as lágrimas agora escorrendo pelo seu rosto enrugado e pingando no suéter.
— O.k., então — disse Harry, e ele e Rony soltaram os elfos, que caíram ao chão, mas não continuaram a lutar.
— O Senhor me chamou? — crocitou Monstro, fazendo uma profunda reverência a Harry ao mesmo tempo que seu olhar lhe desejava claramente uma morte dolorosa.
— É, chamei — disse Harry, olhando de relance a porta de Madame Pomfrey para verificar se o Abaffiatocontinuava fazendo efeito; não viu sinal de que ela tivesse ouvido a agitação. — Tenho uma tarefa para você.
— Monstro fará o que o seu senhor mandar — e fez uma curvatura tão profunda que seus lábios quase tocaram os dedos de seus pés nodosos —, porque Monstro não tem opção, mas Monstro sente vergonha de ter um senhor assim, ora se tem...
— Dobby fará a tarefa, Harry Potter! — guinchou Dobby, seus olhos do tamanho de bolas de tênis ainda marejados de lágrimas. — Dobby se sentiria honrado de ajudar Harry Potter!
— Pensando bem, seria melhor que os dois fizessem — disse Harry. — O.k., então... quero que sigam o Draco Malfoy.
Sem dar atenção à expressão de simultânea surpresa e exasperação no rosto de Rony, ele continuou:
— Quero saber aonde ele vai, com quem se encontra e o que faz. Quero que o sigam vinte e quatro horas por dia.
— Sim, Harry Potter! — concordou Dobby imediatamente, seus olhos brilhando de excitação. — E se Dobby errar, Dobby se atirará da torre mais alta, Harry Potter!
— Não precisará fazer nada disso — apressou-se Harry a dizer.
— O senhor quer que eu siga o mais jovem dos Malfoy? — crocitou Monstro. — O senhor quer que eu espione o sobrinho-neto de sangue puro da minha antiga senhora?
— Esse mesmo — disse Harry, prevendo um grande perigo, e decidido a impedi-lo imediatamente: — E você está proibido de avisar a ele, Monstro, ou mostrar a ele o que está fazendo, ou falar com ele, ou escrever mensagens para ele, ou... ou entrar em contato com ele de alguma forma. Entendeu?
Harry pensou perceber que Monstro se esforçava para encontrar uma brecha nas instruções que acabara de receber, e aguardou. Após alguns momentos, e para grande satisfação de Harry, Monstro se curvou e disse com amargurado rancor:
— O senhor pensa em tudo e Monstro tem de obedecer, mas Monstro preferia muito mais ser servo do rapaz Malfoy, ah, isto ele preferia...
— Então está acertado. Quero receber relatórios regularmente, mas verifiquem se estou sozinho quando vierem me procurar. Rony e Hermione são de confiança. E não comentem com ninguém o que estão fazendo. Colem em Malfoy como se fossem adesivos para remover verrugas.

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