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Unknown
junho 05, 2014
Capítulo 8
Embora Harry só pudesse ver partes das imensas paredes douradas que cercavam o campo, ele podia afirmar que caberiam dentro dele, com folga, umas dez catedrais.
— Tem capacidade para cem mil pessoas — disse o Sr. Weasley, vendo o ar de assombro no rosto do garoto. — Uma força-tarefa do Ministério, com quinhentas pessoas, trabalhou o ano inteiro. Há Feitiços Antitrouxas em cada centímetro. Todas as vezes que, neste ano, os trouxas se aproximavam da área, eles de repente se lembravam de compromissos urgentes e precisavam sair correndo... Deus os abençoe — acrescentou ele carinhosamente, se encaminhando para o portão mais próximo, que já estava cercado por um enxame de bruxos e bruxas aos gritos.
— Lugares de primeira! — exclamou a bruxa do Ministério ao portão, quando verificou as entradas deles. — Camarote de honra! Suba direto, Arthur, o mais alto possível.
As escadas de acesso ao estádio estavam forradas com carpetes púrpura berrante. Eles subiram com o resto da multidão, que aos poucos foi se dispersando pelas portas à direita e à esquerda que levavam às arquibancadas. O grupo do Sr. Weasley continuou subindo e finalmente chegou ao alto da escada, onde havia um pequeno camarote, armado no ponto mais alto do estádio e situado exatamente entre as duas balizas de ouro. Umas vinte cadeiras douradas e púrpura tinham sido distribuídas em duas filas, e Harry, ao entrar na primeira com os Weasley, deparou com uma cena que ele jamais imaginara ver.
Cem mil bruxos e bruxas iam ocupando os lugares que se erguiam em vários níveis em torno do longo campo oval. Tudo estava banhado por uma misteriosa claridade dourada que parecia se irradiar do próprio estádio. Ali do alto, o campo parecia feito de veludo. De cada lado havia três aros de gol, a quinze metros de altura, do lado oposto ao que estavam, quase ao nível dos olhos de Harry, havia um gigantesco quadro-negro. Palavras douradas corriam pelo quadro sem parar como se uma gigantesca mão invisível as escrevesse e em seguida as apagasse, observando melhor, Harry viu que o quadro projetava anúncios no campo.
“Bluebottle: uma vassoura para toda a família — segura, confiável, equipada com alarme antiroubo... Removedor Mágico Multi uso da Sra. Skower. Sem dor nem cor!... Trapo Belo Moda Mágica — Londres, Paris, Hogsmeade...”
Harry desgrudou os olhos do quadro e espiou por cima do ombro para ver quem mais dividia o camarote com eles. Por ora estava vazio, exceto por uma criaturinha sentada na antepenúltima cadeira na fila logo atrás. A criatura, cujas pernas eram tão curtas que ficavam esticadas para frente sem poder dobrar, usava uma toalha de chá drapejada, presa como uma toga, e tinha o rosto escondido nas mãos. Contudo, aquelas compridas orelhas de morcego eram estranhamente familiares...
— Dobby? — perguntou Harry incrédulo.
A criaturinha levantou a cabeça e entreabriu os dedos, deixando aparecer enormes olhos castanhos e um nariz do tamanho exato de um tomate. Não era Dobby, mas era, sem a menor dúvida, um elfo doméstico, como fora o amigo de Harry, Dobby. O garoto o libertara dos antigos donos, a família Malfoy.
— O senhor me chamou de Dobby? — guinchou o elfo cheio de curiosidade, por entre os dedos. Sua voz era ainda mais aguda que a de Dobby, um fiapinho trêmulo de guincho, e Harry suspeitou, embora isso fosse muito difícil dizer no caso de elfos domésticos, que este talvez fosse do sexo feminino. Rony e Hermione se viraram nas cadeiras para olhar. Embora tivessem ouvido Harry falar muito de Dobby, nunca haviam chegado a conhecê-lo. Até o Sr. Weasley se virou para trás interessado.
— Desculpe — disse Harry —, achei que você era alguém que eu conhecia.
— Mas eu também conheço Dobby, meu senhor! — guinchou o elfo. Escondia o rosto como se a luz o cegasse, embora o camarote de honra não fosse muito bem iluminado. — Meu nome é Winky, meu senhor, e o senhor... — seus grandes olhos castanho-escuros se arregalaram tanto que pareceram pratinhos de pão ao pousarem na cicatriz de Harry — o senhor com certeza é Harry Potter!
— É, sou.
— Ora, Dobby fala do senhor o tempo todo, meu senhor — disse ela baixando um tantinho as mãos e parecendo assombrada.
— Como vai ele? — perguntou Harry. — Está gostando da liberdade?
— Ah, meu senhor — disse Winky, sacudindo a cabeça —, ah, meu senhor, sem querer lhe faltar ao respeito, meu senhor, mas não tenho muita certeza se o senhor fez um favor a Dobby, meu senhor, quando deu a liberdade a ele.
— Por quê? — perguntou Harry, espantado. — Que é que ele tem?
— A liberdade está subindo à cabeça dele — disse Winky tristemente. — Idéias acima da condição social dele, meu senhor. Não consegue outro emprego, meu senhor.
— Por que não?
Winky baixou a voz uma oitava e sussurrou:
— Ele está exigindo pagamento pelo trabalho que faz, meu senhor.
— Pagamento? — exclamou Harry sem entender. — Ora... por que ele não deveria receber pagamento?
Winky pareceu horrorizada com a idéia e fechou os dedos um tantinho, de modo que seu rosto tornou a ficar invisível.
— Elfos domésticos não recebem pagamento, meu senhor! — disse ela num guincho abafado. — Não, não, não. Eu digo ao Dobby, eu digo, procure uma boa família e tome juízo, Dobby. Ele anda fazendo todo tipo de feitiço avançado, meu senhor, o que não fica bem para um elfo doméstico. Você fica aprontando por aí, Dobby, eu digo, e daqui a pouco eu vou saber que você teve que comparecer no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, como um duende desclassificado.
— Bem, já estava na hora de ele se divertir um pouco — falou Harry.
— Elfos domésticos não nasceram para se divertir, Harry Potter — disse Winky com firmeza, por trás das mãos. — Elfos domésticos fazem o que são mandados fazer. Eu não estou gostando nem um pouco da altura, Harry Potter... — ela olhou para a borda do camarote e engoliu em seco —... Mas meu dono me mandou para o camarote de honra e eu obedeço, meu senhor.
— Por que é que ele mandou você aqui, se sabe que você não gosta de alturas? — perguntou Harry franzindo a testa.
— Meu dono... Meu dono quer que eu guarde um lugar para ele, Harry Potter, ele está muito ocupado — disse Winky, inclinando a cabeça para a cadeira vazia ao lado. — Winky está querendo voltar para a barraca do dono, Harry Potter, mas Winky é bem mandada, Winky é um bom elfo doméstico.
Ela lançou outro olhar assustado à borda do camarote e tornou a esconder completamente os olhos. Harry se virou para os outros.
— Então isso é um elfo doméstico? — murmurou Rony. — Esquisitos, não são?
— Dobby era ainda mais esquisito — disse Harry, com veemência.
Rony tirou o onióculo e começou a testá-lo, observando a multidão embaixo, do lado oposto do estádio.
— Irado! — disse ele, girando o botão lateral para fazer a imagem voltar. –Consigo ver aquele velhote lá embaixo meter o dedo no nariz outra vez... Mais uma vez... E mais outra...
Entrementes, Hermione estava lendo superficialmente o programa que tinha borda e capa de veludo.
— Vai haver um desfile com as mascotes dos times antes da partida — leu ela em voz alta.
— Ah, a isso sempre vale a pena assistir — disse o Sr. Weasley. — Os times nacionais trazem criaturas da terra natal, sabem, para fazer farol.
O camarote foi-se enchendo gradualmente em volta deles durante a meia hora seguinte. O Sr. Weasley não parava de apertar a mão de bruxos, obviamente muito importantes. Percy levantou-se de um salto tantas vezes que até parecia que estava tentando sentar em cima de um porco-espinho. Quando Cornélio Fudge, Ministro da Magia, chegou, Percy fez uma reverência tão exagerada que seus óculos caíram e se partiram. Muito encabulado, ele os consertou com a varinha e dali em diante permaneceu sentado, lançando olhares invejosos a Harry, a quem o ministro cumprimentara como um velho amigo. Os dois já se conheciam e Fudge apertou a mão de Harry paternalmente, perguntou como ele estava e apresentou-o aos bruxos de um lado e de outro.
— Harry Potter, sabe — disse ele em voz alta ao ministro búlgaro, que usava esplêndidas vestes de veludo preto, enfeitadas com ouro, e aparentemente não entendia uma única palavra de inglês. — Harry Potter... Ah, vamos, o senhor sabe quem é... O menino que sobreviveu ao ataque de Você-Sabe-Quem... Tenho certeza de que o senhor sabe quem é...
O bruxo búlgaro, de repente, viu a cicatriz de Harry e começou a algaraviar em voz alta e excitada, apontando para a marca.
— Sabia que íamos acabar chegando lá — disse Fudge, esgotado, a Harry. — Não sou grande coisa para línguas, preciso de Bartô Crouch nesses encontros. Ah, vejo que o elfo doméstico está guardando o lugar dele... Bem pensado, esses búlgaros danados têm tentado arrancar da gente os melhores lugares... Ah, ai vem Lúcio!
Harry, Rony e Hermione se viraram depressa. Avançando vagarosamente pela segunda fila, em direção a três lugares ainda vazios, bem atrás do Sr. Weasley, vinham ninguém menos que os antigos donos de Dobby — Lúcio Malfoy, seu filho Draco e uma mulher que Harry supôs que fosse a mãe do garoto.
Harry Potter e Draco Malfoy eram inimigos desde a primeira viagem de trem para Hogwarts. Um garoto de rosto fino e cabelos muito louros, Draco se parecia muito com o pai. A mãe também era loura, alta e magra, e até seria bonita se não carregasse no rosto uma expressão que sugeria que estava sentindo um mau cheiro bem debaixo do nariz.
— Ah, Fudge — disse o Sr. Malfoy, estendendo a mão para o Ministro da Magia, ao chegar mais próximo. — Como vai? Acho que você não conhece minha mulher, Narcisa? Nem o nosso filho, Draco?
— Como estão, como estão? — disse Fudge, sorrindo e se curvando para a Sra. Malfoy. — E me permitam apresentar a vocês o Sr. Oblansk ("Obalonsk, senhor"), bem, o Ministro da Magia da Bulgária, e de qualquer modo ele não consegue entender nenhuma palavra do que estou dizendo, portanto não faz diferença. E vejamos quem mais, você conhece Arthur Weasley, imagino?
Foi um momento tenso. O Sr. Weasley e o Sr. Malfoy se entreolharam e Harry se lembrou nitidamente da última vez que haviam se encontrado; fora na livraria Floreios e Borrões, e os dois tinham partido para uma briga.
Os olhos do Sr. Malfoy, frios e cinzentos, examinaram o Sr. Weasley e depois a fila em que ele estava.
— Meu Deus, Arthur — disse ele baixinho. — Que foi que você precisou vender para comprar lugares no camarote de honra? Com certeza sua casa não teria rendido tudo isso, não?
Fudge que não estava prestando atenção, comentou:
— Lúcio acabou de fazer uma generosa contribuição para o Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos. Está aqui como meu convidado.
— Que... Que bom — disse o Sr. Weasley com um sorriso muito forçado.
Os olhos do Sr. Malfoy se voltaram para Hermione, que corou de leve, mas retribuiu o seu olhar com determinação. Harry sabia exatamente o que estava fazendo os lábios do Sr. Malfoy se crisparem. Os Malfoy se orgulhavam de ter o sangue puro, em outras palavras, consideravam qualquer pessoa que descendesse de trouxas, como Hermione, gente de segunda classe. No entanto, sob o olhar do Ministro da Magia, o Sr. Malfoy não se atrevia a dizer nada. Acenou a cabeça com desdém para o Sr. Weasley e continuou a avançar em direção aos lugares vazios. Draco lançou a Harry, Rony e Hermione um olhar de desprezo, depois se sentou entre a mãe e o pai.
— Babacas nojentos — murmurou Rony, quando ele, Harry e Hermione tornaram a se virar para o campo. No momento, seguinte, Ludo Bagman adentrou o camarote de honra.
— Todos prontos? — perguntou ele, o rosto redondo e excitado brilhando como um queijo holandês.
— Ministro, podemos começar?
— Quando você quiser, Ludo — disse Fudge descontraído.
Ludo puxou a varinha, apontou-a para a própria garganta, disse "Sonorus!” e então, sobrepondo-se à zoeira que agora enchia o estádio lotado falou; sua voz reboou, ecoando em cada canto das arquibancadas:
— Senhoras e senhores... bem-vindos! Bem-vindos à final da quadricentésima vigésima segunda Copa Mundial de Quadribol!
Os espectadores gritaram e bateram palmas. Milhares de bandeiras se agitaram, somando seus desafinados hinos nacionais à barulheira geral. O grande quadro-negro defronte apagou a mensagem (Feijõezinhos de todos os sabores Beto Botts — um risco cada dentada!) e passou a informar:
BULGÁRIA: ZERO
IRLANDA: ZERO
— E agora, sem mais demora, vamos apresentar... Os mascotes do time búlgaro!
O lado direito das arquibancadas, que era uma massa compacta e vermelha, berrou manifestando sua aprovação.
— Que será que eles trouxeram? — comentou o Sr. Weasley curvando-se para frente na cadeira. — Ah-ha! — Ele de repente tirou os óculos e limpou-os depressa nas vestes. —Veela!
— Que são Veela?
Mas cem Veela deslizaram pelo campo e a pergunta de Harry ficou respondida. Veelaeram mulheres... As mulheres mais belas que Harry já vira... Só que não eram — não podiam ser humanas.
Isto deixou Harry intrigado por alguns momentos, tentando adivinhar o que poderiam ser exatamente, que é que faria a pele dela refulgir como o luar ou os cabelos louro-prateados se abrirem em leque para trás sem haver vento... Mas então a música começou tocar e Harry parou de se preocupar se elas seriam ou não humanas. Na realidade, parou de se preocupar com tudo.
As Veela começaram a dançar e a cabeça de Harry ficou completa e bem-aventuradamente vazia. Tudo que importava no mundo era continuar a assistir àsVeela, porque se elas parassem de dançar coisas terríveis iriam acontecer...
E enquanto as Veela dançavam cada vez mais rapidamente, pensamentos incompletos e delirantes começaram a se formar na mente atordoada de Harry.
Ele queria fazer uma coisa bem impressionante naquele momento. Atirar-se do camarote para o estádio lhe pareceu uma boa idéia... Mas seria suficiente?
— Harry, que é que você está fazendo? — ele ouviu lá longe a voz de Hermione.
A música parou. Harry piscou os olhos. Ele estava em pé, tinha uma das pernas passada por cima da borda do camarote. Ao lado dele, Rony estava paralisado numa posição que dava a impressão de que ia saltar de um trampolim.
Gritos indignados começaram a encher o estádio. A multidão não queria que as Veelase retirassem. Harry concordava, ele iria, claro, torcer pela Bulgária, e se perguntou meio vagamente porque estava usando um grande trevo verde preso ao peito. Entrementes, Rony, distraidamente, despetalava os trevos do chapéu. O Sr. Weasley, sorrindo, curvou-se para Rony e tirou o chapéu das mãos do filho.
— Você vai querer isso depois — disse ele —, depois que a Irlanda disser a que veio.
— Hum? — exclamou Rony fixando, boquiaberto, as Veela, que agora estavam enfileiradas a um lado do campo. Hermione deu um muxoxo alto. Esticou o braço e puxou Harry de volta à cadeira dele.
— Francamente! — exclamou.
— E agora — trovejou Ludo Bagman — por favor, levantem as varinhas bem alto... Para receber os mascotes do time nacional da Irlanda!
No instante seguinte, algo que lembrava um imenso cometa verde e ouro entrou velozmente no estádio. Deu uma volta completa, depois se subdividiu em dois cometas menores, que se projetavam em direção às balizas. De repente, um arco-íris atravessou o céu do campo unindo as duas esferas luminosas.
A multidão fazia "aaaaah" e "ooooh", como se presenciasse um espetáculo de fogos de artifício. Depois o arco-íris foi se dissolvendo e as esferas se aproximaram e se fundiram; tinham formado um grande trevo refulgente, que subiu em direção ao céu e ficou pairando sobre as arquibancadas.
Parecia estar deixando cair uma espécie de chuva dourada...
— Excelente! — berrou Rony, quando o trevo sobrevoou o camarote, fazendo chover pesadas moedas de ouro, que ricocheteavam nas cabeças e cadeiras.
Apertando os olhos para ver melhor o trevo, Harry percebeu que na realidade ele era composto de milhares de homenzinhos barbudos de colete vermelho, cada qual carregando uma minúscula luz ouro-e-verde.
— Leprechauns! — exclamou o Sr. Weasley, fazendo-se ouvir em meio ao tumultuoso aplauso dos espectadores, muitos dos quais continuavam a disputar o ouro e a procurá-lo por todo o lado em volta e embaixo das cadeiras.
— Toma aqui, Harry — gritou Rony feliz, metendo um punhado de moedas de ouro na mão do amigo. — Pelo onióculo! Agora você vai ter que me comprar um presente de Natal, ha!
O maior dos trevos se dissolveu e os Leprechauns, que são duendes irlandeses, foram descendo no lado do campo oposto ao das Veela, e se sentaram de pernas cruzadas para assistir à partida.
— E agora, senhoras e senhores, vamos dar as boas-vindas... ao time nacional de Quadribol da Bulgária! Apresentando, por ordem de entrada... Dimitrov!
Um vulto vermelho montado em uma vassoura, que voava tão veloz que parecia um borrão, disparou pelo campo, vindo de uma entrada lá embaixo, sob o aplauso frenético dos torcedores da Bulgária.
— Ivanova!
Um segundo jogador de vermelho passou zunindo.
— Zografi Levski! Vulchanov! Volkov! Eeeeeeeee... Krum!
— É ele, é ele! — berrou Rony, acompanhando Krum com o onióculo; Harry focalizou rapidamente o dele.
Vítor Krum era magro, moreno, de pele macilenta, com um narigão adunco e sobrancelhas muito espessas e negras. Lembrava uma ave de rapina grande demais. Era difícil acreditar que tivesse apenas dezoito anos.
— E agora vamos saudar... O time nacional de Quadribol da Irlanda! —, berrou Bagman. — Apresentando... Connolly! Ryan! Troy! Mullet! Moran! Quigley! Eeeeeee... Lynch.
Sete borrões entraram velozes no campo; Harry girou um pequeno botão lateral noonióculo e reduziu a velocidade da imagem o suficiente para ler "Firebolt" em cada uma das vassouras, e ver os nomes, bordados em prata, nas costas dos jogadores.
— E conosco, das terras distantes do Egito, o nosso juiz, o famoso bruxo presidente da Associação Internacional de Quadribol, Hassan Mostafa!
Um bruxo miúdo e magro, completamente careca, mas com uma bigodeira que rivalizava a do tio Válter, entrou em campo trajando vestes de ouro puro para combinar com o estádio. Um apito de prata saía por baixo dos bigodes e ele sobraçava de um lado uma grande caixa de madeira e, do outro, sua vassoura.
Harry girou o botão de velocidade do seu onióculo para a posição normal, e observou com atenção Mostafa montar a vassoura e abrir a caixa com um pontapé — quatro bolas se projetaram no ar, a goles vermelha, os dois balaços pretos e (Harry o viu por um brevíssimo instante antes que ele desaparecesse de vista) o minúsculo pomo alado de ouro. Com um silvo forte e curto do apito, Mostafa saiu pelos ares acompanhando as bolas.
— COOOOOOOOOoomeçou a partida!—, berrou Bagman. — É Muíler! Troy! Moran! Dimirrov! De volta a Muíler! Troy! Levski! Moran!
Era Quadribol como Harry nunca vira ninguém jogar antes. Ele apertava o onióculo com tanta força contra os olhos que seus óculos estavam começando a cortar a ponta do nariz. A velocidade dos jogadores era incrível — os artilheiros jogavam a bola um para o outro tão depressa que Bagman só tinha tempo de identificá-los.
Harry tornou a girar o botão do lado direito do onióculo para reduzir a velocidade da imagem, apertou o botão "lance a lance" e na mesma hora estava assistindo ao jogo em câmara lenta, enquanto letras púrpuras passavam brilhando pelas lentes do instrumento, e o rugido da multidão martelava seus tímpanos!
“Formação de ataque de Hawkshead” — leu ele enquanto assistia a três artilheiros irlandeses voarem juntos, Troy no meio, um pouco à frente de Mullet e Moran, e investirem contra os búlgaros. “Manobra de Ploy”, leu ele em seguida, quando Troy fingiu que ia subir com a goles, atraindo a artilheira búlgara Ivanova, e deixou cair a bola para Moran. Um dos batedores búlgaros, Volkov rebateu violentamente, com o seu pequeno bastão, um balaço que passava, derrubando-o no caminho de Moran, Moran se abaixou para evitar o balaço e soltou a goles e Levski, que voava mais abaixo, apanhou-a...
— GOL DE TROY! —, berrou Bagman, e o estádio estremeceu com o rugido dos aplausos e vivas. — Dez a zero para a Irlanda.
— Quê? — berrou Harry nervoso, observando o campo com o onióculo. — Mas Levski é que está com a goles!
— Harry, se você não observar em velocidade normal, vai perder todos os lances! — gritou Hermione, que dançava aos pulos, agitando os braços no ar, enquanto Troy dava uma volta no campo para comemorar o gol. Harry espiou depressa por cima doonióculo e viu que os Leprechauns, que assistiam ao jogo na extremidade do campo, tinham novamente levantado vôo e formavam o grande trevo refulgente. Na outra extremidade, as Veela assistiram a essa exibição em silêncio.
Furioso consigo mesmo, Harry girou o botão de volta à velocidade normal quando o jogo recomeçou.
Harry entendia o suficiente de Quadribol para saber que os artilheiros irlandeses eram fantásticos. Deslocavam-se em harmonia, parecendo ler o que ia nas mentes uns dos outros, pela maneira com que se posicionavam, e a roseta no peito de Harry não parava de guinchar o nome deles: "Troy — Mullet — Moran!" Em dez minutos a Irlanda marcou mais duas vezes, elevando sua vantagem para trinta a zero e provocando uma onda de gritos e aplausos dos torcedores de verde.
A partida se tornou ainda mais rápida, porém mais brutal. Volkov e Vulchanov, os batedores búlgaros, atiravam os balaços com bastonadas fortíssimas nos artilheiros irlandeses e estavam começando a impedi-los de executar alguns dos seus melhores movimentos, duas vezes eles foram obrigados a dispersar e então, finalmente, Ivanova conseguiu passar por eles, driblar o goleiro Ryan, e marcar o primeiro gol da Bulgária.
— Dedos nos ouvidos! — berrou o Sr. Weasley, quando as Veela começaram a dançar comemorando o lance. Harry apertou os olhos também, queria manter a atenção no jogo. Passados alguns segundos, arriscou uma espiada no campo. As Veela haviam parado de dançar e a Bulgária recuperara a posse da goles.
— Dimitrov! Levski! Dimitrov! Ivanova... Ah, essa não! —, berrou Bagman.
Cem mil bruxos e bruxas prenderam a respiração quando os dois apanhadores, Krum e Lynch, mergulharam no meio dos artilheiros, tão velozes que pareciam ter pulado sem pára-quedas de um avião.
Harry acompanhou a descida deles com o onióculo, apurando a vista para procurar o pomo...
— Eles vão colidir! — berrou Hermione ao lado de Harry.
Hermione estava parcialmente certa — no último segundo, Vítor Krum se recuperou do mergulho e se afastou em círculos. Lynch, no entanto, bateu no chão com um baque surdo que pôde ser ouvido em todo o estádio. Um enorme gemido subiu dos lugares ocupados pelos irlandeses.
— Idiota! — lamentou o Sr. Weasley. — Era uma finta de Krum!
— Tempo! —, berrou Bagman. — Os medibruxos vão entrar em campo para examinar Aidan Lynch!
— Ele está bem, só levou um encontrão! — disse Carlinhos tranqüilizando Gina, que estava pendurada por cima da lateral do camarote, horrorizada. — E isso era, naturalmente, o que Krum pretendera...
Harry apertou depressa os botões de "repetição" e de "lance por lance" no onióculo, girou o botão de velocidade e tornou a levar o onióculo aos olhos.
Ele assistiu a Krum e Lynch mergulharem outra vez em câmara lenta. “Finta de Wronski” — uma manobra perigosa dos apanhadores, leu Harry na legenda púrpura que passou pelas lentes. O garoto viu o rosto de Krum se contorcer, concentrando-se, quando o apanhador se recuperou do mergulho no último instante, ao mesmo tempo que Lynch se estatelava e compreendeu — Krum não vira pomo algum, estava só obrigando Lynch a imitá-lo. O garoto jamais vira alguém voar daquele jeito; Krum nem parecia estar usando uma vassoura, deslocava-se com tanta facilidade pelos ares que parecia solto, sem peso. Harry tornou a ajustar o onióculo na posição normal e focalizou Krum. O jogador voava em círculos bem acima de Lynch, que agora estava sendo reanimado pelos medibruxos com xícaras de poção. Harry focalizou o rosto de Krum ainda mais de perto e viu seus olhos negros correndo para cá e para lá por todo o campo, trinta metros abaixo. Usava o tempo em que Lynch era reanimado para procurar o pomo sem interferência.
Lynch se levantou finalmente, sob ruidosos vivas dos torcedores de verde, montou a Firebolt e deu impulso para o alto. Sua reanimação parecia ter dado à Irlanda novas esperanças. Quando Mostafa tornou a soar o apito, os artilheiros entraram em ação com uma destreza que não se comparava a nada que Harry tivesse visto até então.
Decorridos quinze minutos de velocidade e fúria, a Irlanda acumulara uma vantagem de mais dez gols. Agora liderava por cento e trinta pontos a dez e a partida estava começando a ficar mais desleal.
Quando Mullet disparou em direção às balizas mais uma vez, segurando firmemente a goles embaixo do braço, o goleiro búlgaro, Zograf, correu ao encontro da jogadora. O que aconteceu foi tão rápido que Harry não percebeu, mas subiu um grito de raiva da torcida irlandesa, e o silvo longo e agudo do apito de Mostafa informou que alguém cometera uma falta.
— E Mostafa repreende o goleiro búlgaro pelo jogo bruto, usou os cotovelos! —, informa Bagman aos espectadores que berram. — E... Confirmando, é pênalti a favor da Irlanda. — Os Leprechauns, que haviam levantado vôo, furiosos, como um enxame de marimbondos reluzentes, quando Mullet fora atingida, agora corriam a se juntar formando as palavras "HA! HA! HA!". As Veela, do lado oposto do campo, levantaram-se de um salto, sacudiram os cabelos com raiva e recomeçaram a dançar.
E como se fossem um só, os garotos Weasley e Harry enfiaram os dedos nos ouvidos, mas Hermione, que não se dera a esse trabalho, logo em seguida puxou Harry pelo braço. O garoto se virou para olhá-la, e ela puxou impacientemente os dedos que ele enfiara nos ouvidos.
— Olha o juiz! — disse a garota, rindo.
Harry olhou para o campo. Hassan Mostafa aterrissara bem diante das Veeladançantes, e estava agindo de modo realmente estranho. Flexionava os músculos e alisava os bigodes, muito agitado.
— Ora, isso não é admissível! —, disse Ludo Bagman, embora seu tom de voz fosse o de quem estava achando muita graça. — Alguém aí dê um tapa nesse juiz!
Um medibruxo entrou correndo em campo, os dedos enfiados nos ouvidos, e deu um baita chute nas canelas de Mostafa. O juiz pareceu voltar a si, Harry que observava outra vez o jogo com o onióculo, viu que Mostafa parecia extremamente constrangido e gritava com as Veela, que tinham parado de dançar e pareciam estar se rebelando.
— E a não ser que eu muito me engane, Mostafa está de fato tentando despachar as mascotes do time da Bulgária! —, comentou Bagman. — Aí está uma coisa que nunca vimos antes... Ah, isso é capaz de dar confusão...
E deu: os batedores búlgaros, Volkov e Vulchanov, pousaram ao lado de Mostafa e começaram a discutir furiosamente com o juiz, gesticulando em direção aosLeprechauns, que agora formavam alegremente as palavras "HI! HI HI!".
Mostafa, porém, não se deixou impressionar com a argumentação dos búlgaros, espetou o dedo indicador no ar, dizendo claramente a eles que voltassem ao ar e quando os jogadores se recusaram, ele puxou dois silvos breves no apito.
— Dois pênaltis a favor da Irlanda! —, gritou Bagman, ao que a torcida búlgara ululou de raiva. — E é melhor Volkov e Vulchanov voltarem a montar as vassouras... É isso aí... E lá vão eles... E Troy toma a goles...
A partida agora atingira um nível de ferocidade que ultrapassava tudo que os garotos já tinham visto. Os batedores dos dois lados jogavam sem piedade: principalmente Volkov e Vulchanov pareciam nem ligar se os seus bastões estavam fazendo contato com balaços ou com gente, quando os giravam violentamente no ar.
Dimitrov disparou um balaço em cima de Moran, que segurava a goles, e quase a derrubou da vassoura.
— Falta!— urraram os torcedores irlandeses em uníssono, todos de pé como uma enorme onda verde.
— Falta! —, ecoou a voz de Ludo Bagman, magicamente ampliada. —Dimitrov esfola Moran, o jogador saiu com intenção de dar um encontrão e tem que ser outro pênalti e aí vem o apito!
Os Leprechauns subiram ao ar mais uma vez e agora formaram uma gigantesca mão que fazia um gesto muito grosseiro para as Veela. Ao verem isso, elas se descontrolaram. Precipitaram-se pelo campo e começaram a atirar algo com o aspecto de bolas de fogo contra os duendes irlandeses. Observando com o onióculo, Harry viu que elas agora não estavam nem remotamente belas. Muito ao contrário, seus rostos começaram a se alongar para formar cabeças de aves com bicos afiados e cruéis e irromperam asas longas e escamosas dos seus ombros...
— E aí está, rapazes — berrou o Sr. Weasley se sobrepondo ao tumulto da multidão embaixo — está aí a razão por que vocês não devem se deixar levar só pelas aparências!
Bruxos do Ministério invadiam o campo para separar as Veela e os Leprechauns, mas sem muito sucesso, entrementes a batalha no campo não era nada comparada a que estava ocorrendo no ar. Harry se virava para cá e para lá, espiando pelo onióculo, pois a goles trocava de mãos com a velocidade de uma bala...
— Levski — Dimirrov — Moran — Troy — Mullet — Ivanova — Moran de novo — Moran — um GOL DE MORAN!
Mas a gritaria da torcida irlandesa mal conseguia abafar os gritos agudos das Veela, os estampidos que agora vinham das varinhas dos funcionários do Ministério e os berros furiosos dos búlgaros. A partida recomeçou imediatamente, agora Levski estava com a posse da goles, agora Dimitrov...
O batedor irlandês Quigley levantou com violência o bastão contra um balaço que passava e arremessou-o com toda a força contra Krum, que não se abaixou com suficiente rapidez. O balaço atingiu-o em cheio no rosto.
Ouviu-se um lamento ensurdecedor da multidão, o nariz de Krum parecia quebrado, saía sangue para todo lado, mas Hassan Mostafa não apitou. Distraíra-se e Harry não podia culpá-lo, uma das Veela atirara uma mão cheia de fogo e incendiara a cauda da vassoura do juiz.
Harry queria que alguém percebesse que Krum estava ferido, embora estivesse torcendo pela Irlanda, Krum era o jogador mais fascinante em campo.
Rony obviamente sentia o mesmo.
— Tempo! Ah, anda, ele não pode jogar assim, olha só para ele...
— Olha o Lynch! — berrou Harry.
O apanhador irlandês repentinamente mergulhara e Harry teve certeza de que aquilo não era uma finta de Wronski, era para valer...
— Ele viu o pomo! — berrou Harry. — Ele viu! Olha lá ele correndo!
Metade da multidão parecia ter compreendido o que estava acontecendo, a torcida irlandesa se levantou como uma grande onda verde, animando o apanhador... Mas Krum voava na esteira dele. Como conseguia enxergar aonde ia, Harry não fazia idéia, gotas de sangue voavam pelo ar à sua passagem, mas ele emparelhava com Lynch agora e os dois disparavam em direção ao chão...
— Eles vão bater! — esganiçou-se Hermione.
— Não vão! — berrou Rony.
— O Lynch vai! — gritou Harry.
E tinha razão — pela segunda vez, Lynch bateu no chão com um tremendo impacto e foi imediatamente pisoteado por uma horda de Veela raivosas.
— O pomo, onde é que está o pomo? — berrou Carlinhos, mais adiante na fila.
— Ele pegou, Krum pegou, terminou o jogo! — gritou Harry.
Krum, as vestes vermelhas tintas com o sangue que escorrera do seu nariz, tornava a levantar vôo suavemente, o punho erguido lá no alto, um brilho de ouro na mão.
O placar piscou por cima da multidão:
BULGÁRIA: CENTO E SESSENTA
IRLANDA: CENTO E SETENTA
Mas os torcedores não pareciam ter percebido o que acontecera. Então, lentamente, como se um grande jumbo começasse a aquecer as turbinas, o rugido da torcida da Irlanda foi se avolumando e explodiu em urros de alegria.
— VENCE A IRLANDA! —, gritou Bagman, que, como os irlandeses, parecia estar espantado com o inesperado desfecho da partida.
— KRUM CAPTURA O POMO — MAS VENCE A IRLANDA. Deus do céu, acho que nenhum de nós esperava uma coisa dessas!
— Para que foi que ele agarrou o pomo? — berrou Rony, ao mesmo tempo em que continuava a pular, aplaudindo com as mãos no alto. — Ele encerrou a partida quando a Irlanda estava cento e sessenta pontos à frente, o idiota!
— Ele sabia que o time não ia conseguir se recuperar — respondeu Harry aos gritos, tentando se sobrepor à zoeira geral e aplaudindo com estrépito — os artilheiros irlandeses eram bons demais... ele queria encerrar a partida nos termos dele, foi só...
— Ele foi valente, não foi? — comentou Hermione esticando-se à frente para ver Krum pousar e um enxame de medibruxos abrir caminho à força entre os Leprechauns e asVeela que brigavam para chegar ao apanhador. — Ele está pavoroso...
Harry tornou a levar o onióculo aos olhos. Era difícil ver o que estava acontecendo lá embaixo, porque os Leprechauns sobrevoavam o campo, felizes e em grande velocidade, mas ele conseguiu divisar Krum, rodeado por medibruxos.
Parecia mais carrancudo que nunca e se recusava a deixar que o limpassem.
Seus colegas de time o rodeavam, sacudindo a cabeça, arrasados; um pouco adiante, os jogadores irlandeses dançavam felizes sob a chuva de ouro que seus mascotes faziam cair. Bandeiras se agitavam pelo estádio, o hino nacional irlandês tocava altíssimo por todo lado; as Veela revertiam à beleza de sempre, mas pareciam desanimadas e infelizes.
— Pom, prrigamos falentemente — disse uma voz triste atrás de Harry. Ele se virou para olhar; era o Ministro da Magia búlgaro.
— O senhor fala a nossa língua! — exclamou Fudge indignado. — E vem me obrigando a falar por mímica o dia inteiro!
— Pom, foi muito engrraçado — disse o ministro búlgaro, encolhendo os ombros.
— E enquanto o time irlandês dá a volta olímpica, ladeado pelos mascotes, a Taça Mundial de Quadribol está sendo levada para o camarote de honra! — berrou Bagman.
A visão de Harry foi repentinamente ofuscada por uma luz branca, o camarote de honra foi magicamente iluminado para que todos os espectadores nas arquibancadas pudessem ver o seu interior.
Apertando os olhos na direção da porta, ele viu dois bruxos ofegantes entrarem no camarote com uma imensa taça de ouro, que foi entregue a Cornélio Fudge, ainda muito aborrecido por ter passado o dia falando com as mãos à toa.
— Vamos aplaudir com vontade os galantes perdedores, Bulgária! — gritou Bagman.
E pelas escadas entraram os sete jogadores derrotados. A multidão aplaudiu manifestando o seu apreço; Harry viu milhares e milhares de lentes de onióculofaiscarem e lampejarem em sua direção.
Um a um, os búlgaros se acomodaram nas filas de cadeiras do camarote e Bagman chamou-os, nome por nome, para apertarem a mão do seu ministro e depois a de Fudge. Krum, que foi o último da fila, estava com uma aparência medonha. Seus olhos negros se destacavam espetacularmente no rosto ensangüentado. Continuava a segurar o pomo. Harry reparou que ele parecia muito menos coordenado em terra. Andava com os pés meio para fora e seus ombros eram visivelmente caídos. Mas quando o nome de Krum foi anunciado, o estádio inteiro lhe deu uma ovação de rachar os tímpanos.
Depois foi a vez do time irlandês. Aldan Lynch veio amparado por Moran e Connolly; a segunda colisão parecia tê-lo atordoado e seus olhos pareciam estranhamente fora de foco. Mas ele sorriu com alegria quando Troy e Quigley ergueram a Taça no ar e a multidão embaixo fez ouvir sua aprovação. As mãos de Harry estavam insensíveis de tanto aplaudir.
Finalmente, quando o time irlandês deixou o camarote para dar mais uma volta olímpica montado nas vassouras (Aidan Lynch na garupa de Connolly, agarrado à sua cintura e ainda sorrindo abobalhado), Bagman apontou a varinha para a própria garganta e murmurou Quietus.
— Eles vão comentar isso durante anos — disse ele rouco — uma reviravolta realmente inesperada, essa... pena que não pudesse ter durado mais... ah sim... Sim, devo a vocês... Quanto?
Pois Fred e Jorge tinham acabado de saltar por cima de suas cadeiras e estavam parados diante de Ludo Bagman com enormes sorrisos no rosto, as mãos estendidas.