- Back to Home »
- Harry Potter e as Relíquias da Morte »
- O conto do monstro
Posted by :
Unknown
junho 04, 2014
Capítulo 10
Ele olhou para o teto sombrio, o candelabro cheio de teias de aranha. Há menos de vinte horas, ele estava de pé à luz do sol na entrada da marquese, esperando os convidados do casamento. Parecia uma vida longa e distante. O que ia acontecer agora? Ele deitou no chão e pensou nas horcruxes, na assustadora e complexa missão que Dumbledore lhe deixou... Dumbledore...
A tristeza que o tinha possuído desde a morte de Dumbledore era sentida diferente agora. As acusações que ele tinha ouvido de Muriel no casamento pareciam ter se aninhado em seu cérebro como algo doente, que infectava suas lembranças do bruxo que ele tinha idolatrado. Dumbledore poderia ter deixado tais coisas acontecerem? Ele tinha sido como Duda, contente em assistir negligência e abuso desde que não o afetassem? Ele poderia ter virado as costas para uma irmã que estava sendo aprisionada e escondida?
Harry pensou em Godric’s Hollow, nos túmulos que Dumbledore nunca tinha mencionado, ele pensou nos objetos misteriosos deixados sem explicação no testamento de Dumbledore, e o ressentimento preencheu a escuridão. Por que Dumbledore não lhe contara? Por que não lhe explicara? Dumbledore de fato se importara com Harry de alguma forma? Ou Harry fora nada mais que uma ferramenta a ser polida e afiada, mas não confiado e nunca confidenciado?
Harry não poderia ficar deitado ali com nada além de pensamentos amargos como companhia. Desesperado por alguma coisa para fazer, por distração, ele deslizou para fora de seu saco de dormir, pegou sua varinha e arrastou-se para fora da sala. Na escadaria ele sussurou “Lumos” e começou a subir os degraus com a luz da varinha.
No segundo piso estava o quarto no qual ele e Ron tinham dormido na última vez que eles estiveram aqui, ele deu uma espiada dentro dele. O guarda-roupa permanecia aberto e as roupas de cama tinham sido rasgadas. Harry se lembrou da perna de trasgo no andar de baixo. Alguém tinha revistado a casa desde que a Ordem tinha partido. Snape? Ou talvez Mundungo, que tinha surrupiado muita coisa da casa antes e depois de Sirius ter morrido? As contemplações de Harry vaguearam para o retrato que algumas vezes continha Fineus Nigellus Black, o tataravô de Sirius, mas estava vazio, mostrando nada além de um espaço de pano de fundo sujo. Fineus Nigellus estava evidentemente passando a noite no escritório da diretoria em Hogwarts.
Harry continuou a subir as escadas até alcançar a parte superior onde haviam somente duas portas. A que encarava Harry sustentava uma placa em que se lia Sirius. Harry nunca tinha entrado no quarto de seu padrinho antes. Ele abriu a porta, segurando sua varinha para iluminar do modo mais amplo possível. O quarto era espaçoso e outrora devia ter sido elegante. Havia uma cama grande com uma cabeceira de madeira entalhada, uma janela alta obscurecida por longas cortinas aveludadas e um candelabro densamente coberto de poeira ainda com tocos de vela descansando em seus encaixes, cera sólida suspendia como gotas congeladas. Uma fina película de poeira cobria os quadros nas paredes e a cabeceira da cama, uma teia de uma aranha esticada entre o candelabro e o topo de um guarda-roupa grande e quando Harry se moveu mais para dentro da sala, ele ouviu uma uma corrida de ratos perturbados.
O Sirius adolescente tinha colado nas paredes tantos pôsteres e fotos que pouco da seda cinza-prateado da parede era visível. Harry não poderia só supor que os pais de Sirius foram incapazes de remover o Feitiço Adesivo Permanente que os mantinha na parede porque ele tinha certeza que eles não teriam apreciado o gosto de seu filho mais velho de decoração. Sirius parecia por muito tempo ter mudado seus hábitos para irritar seus pais. Haviam sete banners grandes, de vermelho e ouro desbotado só para sublinhar sua diferença de todo o resto da família sonserina. Havia muitas fotos de motocicletas de trouxas e também (Harry teve que admirar a coragem de Sirius) diversos pôsteres de moças trouxas de biquíni. Harry poderia dizer que elas eram trouxas porque ficavam bem imóveis dentro de suas fotos, sorrisos desbotados e olhos vidrados congelados no papel. Estava em contraste com a única fotografia bruxa na parede que era uma imagem de quatro alunos de Hogwarts parados de braços cruzados, rindo para a câmera.
Com um sobressalto de agrado, Harry reconheceu seu pai, seus cabelos pretos e desajeitados para trás como os de Harry e ele também usava óculos. Ao lado dele estava Sirius, descuidadamente bonito, seu rosto um pouquinho arrogante tão mais jovem e mais feliz do que Harry já o vira vivo. À direita de Sirius estava Pettigrew, mais do que uma cabeça mais curta, rechonchudo e olhos aquosos, molhados de prazer por sua inclusão na mais legal das gangues, com os rebeldes muito admirados que Tiago e Sirius tinham sido. À esquerda de Tiago estava Lupin, até então de aparência um pouco desgastada, mas ele tinha o mesmo ar de surpresa satisfeita em se encontrar incluído ou era simplesmente porque Harry sabia como tudo tinha acontecido, que ele via essas coisas na foto? Ele tentou pegá-la da parede, era dele agora, afinal de contas, Sirius tinha lhe deixado tudo, mas a foto não se movia. Sirius não tinha tirado nenhuma chance de prevenir seus parentes de redecorarem seu quarto.
Harry olhou por volta do chão. O céu estava ficando mais claro. Um raio de luz revelava algumas quantias de papel, livros e objetos pequenos espalhados sobre o tapete. Evidentemente o quarto de Sirius tinha sido mexido também, embora seu conteúdo parecesse ter sido julgado na maior parte, senão completamente, sem valor. Alguns livros tinham sido sacudidos rudemente o suficiente para se separar das capas e páginas diferentes que sujavam o chão.
Harry se curvou, pegou alguns pedaços de papel e os examinou. Ele reconheceu um como a parte de uma velha edição de A História da Magia, de Batilda Bagshot, e outro como pertence de uma manual de manutenção de uma motocicleta. O terceiro estava escrito à mão e amarrotado. Ele o alisou.
Querido Almofadinhas,
Muito obrigado, muito obrigado pelo presente de aniversário do Harry! Foi o favorito dele até agora. Um ano de idade e já plana numa vassoura de brinquedo, ele parecia tão satisfeito consigo mesmo. Estou incluindo uma foto para que você possa ver. Você sabe que ela só levanta a aproximadamente dois pés de alturas do chão, mas ele quase matou o gato e quebrou um vaso horrível que Petúnia me enviou de Natal (sem reclamações aqui). É claro que Tiago achou que foi tão engraçado, diz que ele vai ser um grande jogador de quadribol, mas nós tivemos que tirar do caminho todos os ornamentos e ter certeza que não vamos tirar o olho dele quando ele começar.
Nós tivemos um chá de aniversário muito discreto, só nós e a velha Batilda que sempre foi um doce conosco e que adora Harry. Sentimos muito por você não poder vir, mas a Ordem tem que vir primeiro e Harry não é velho suficiente para saber que é aniversário dele de qualquer forma! Tiago está ficando um pouquinho frustrado trancado aqui, ele tenta não mostrar isso, mas eu posso dizer — também Dumbledore ainda está com a Capa de Invisibilidade dele — então sem chance de pequenas excursões. Se você pudesse visitá-lo, isto o animaria tanto. Rabicho esteve aqui no fim de semana passado. Achei que ele parecia desanimado, mas isso foi provavelmente depois dos McKinnons, eu chorei a noite inteira quando eu soube.
Batilda nos visita quase todos os dias, ela é uma criatura fascinante com as histórias mais incríveis sobre Dumbledore. Não tenho certeza se ele ficaria contente se soubesse! Eu não sei em quanto acreditar na verdade, porque parece incrível que Dumbledore...
As extremidades de Harry pareceram ter se anestesiado. Ele ficou bem parado, segurando o milagroso papel em seus dedos inertes enquanto dentro dele um tipo de erupção quieta enviava trovejantes alegria e tristeza em medidas iguais pelas suas veias. Inclinando-se para a cama, ele se sentou. Leu a carta novamente, mas não pôde captar mais nenhum significado que ele tinha conseguido na primeira vez, e foi reduzido a encarar a própria caligrafia. Ela fazia os "g" da mesma maneira que ele. Ele procurou na carta por cada um deles, e em cada um sentiu uma pequena onda amigável vislumbrada por trás de um véu. A carta era um tesouro incrível, prova de que Lilian Potter tinha vivido, realmente vivido, que sua mão quente tinha uma vez se movido por este pergaminho, traçando tinta dentro dessas letras, dessas palavras, palavras a respeito dele, Harry, seu filho.
Impacientemente removendo a umidade de seus olhos, ele releu a carta, desta vez se concentrando no significado. Era como ouvir uma voz meio lembrada.
Eles tinham um gato... talvez ele tivesse perecido, como seus pais em Godric's Hollow... ou então fugiu quando não havia mais ninguém para alimentá-lo... Sirius tinha comprado para ele sua primeira vassoura... seus pais tinham conhecido Batilda Bagshot; Dumbledore os tinha apresentado? Dumbledore ainda está com a Capa de Invisibilidade dele... tinha algo engraçado aí...
Harry parou, ponderando as palavras de sua mãe. Por que Dumbledore tinha tomado a Capa da Invisibilidade de Tiago? Harry lembrava claramente seu diretor contando-lhe anos atrás: “Eu não preciso de uma capa para ficar invisível”. Talvez algum membro menos talentoso da Ordem tivesse precisado da ajuda dela e Dumbledore tinha agido como um transportador? Harry continuou...
Rabicho esteve aqui... Pettigrew, o traidor, tinha parecido “desanimado”, mesmo? Ele estava ciente de que estava vendo Tiago e Lilian pela última vez?
E finalmente Batilda de novo, que contou histórias incríveis sobre Dumbledore. Parece incrível que Dumbledore...
Que Dumbledore o que? Mas haviam vários números de coisas que pareceriam incríveis sobre Dumbledore; que ele tinha uma vez recebido notas ótimas em um exame de Transfiguração, por exemplo, ou tinha feito feitiços em um bode como Aberforth...
Harry levantou-se e analisou o chão. Talvez o resto da carta estivesse aqui em algum lugar. Ele agarrou papéis, tratando-os com entusiasmo, com menos consideração que o primeiro pesquisador, puxou as gavetas, sacudiu livros, subiu em uma cadeira para passar a mão no topo do guarda-roupa, e engatinhou para olhar embaixo da cama e da poltrona.
Finalmente, deitado de bruços no chão, ele identificou o que parecia um pedaço rasgado de papel debaixo da cômoda. Quando ele o puxou, provou ser a maior parte da fotografia que Lilian tinha descrito em sua carta. Um bebê de cabelos pretos estava entrando e saindo da foto em uma vassoura muito pequena, gargalhando estrondosamente, e um par de pernas que deve ter pertencido a Tiago perseguindo-o. Harry enfiou a fotografia dentro de seu bolso com a carta de Lilian e continuou a procurar a segunda folha.
Após outros quinze minutos, contudo, ele foi forçado a concluir que o resto da carta de sua mãe tinha se extraviado. Tinha sido extraviado durante os dezesseis anos que tinham se passado desde quando fora escrita? Ou tinha sido levado por quem quer que tivesse procurado no quarto? Harry leu a primeira folha de novo, desta vez procurando pistas para o que poderia ter sido a segunda valiosa folha. Sua vassoura de brinquedo dificilmente poderia ser considerada interessante para os comensais da morte... a única coisa potencialmente útil que ele poderia ver nela era a informação possível sobre Dumbledore. Parece incrível que Dumbledore o quê?
— Harry? Harry? Harry!
— Eu estou aqui! — Ele chamou. — O que aconteceu?
Houve um ruído de passos do lado de fora da porta e Hermione entrou bruscamente.
— Nós acordamos e não soubemos onde você estava! — Ela disse sem ar. Ela se virou e gritou por cima de seus ombros. — Rony, eu o encontrei!
A voz irritada de Rony ecoou de longe de diversos andares abaixo:
— Bom! Diga a ele por mim que ele é um imbecil!
— Harry, não desapareça assim, por favor, estávamos aterrorizados! Por que você veio aqui de qualquer forma?— Ela observou a sala saqueada. — O que você está fazendo?
— Olhe o que eu acabei de achar!
Ele estendeu a carta de sua mãe. Hermione a pegou e leu enquanto Harry a olhava. Quando ela chegou ao fim da página ela olhou para ele.
— Ah, Harry...
— E há isso também.
Ele lhe passou a fotografia rasgada e Hermione sorriu para o bebê voando para dentro e fora de visão na vassoura de brinquedo.
— Eu estou procurando pelo resto da carta, — Harry disse, — mas não está aqui.
Hermione observou a sala.
— Você fez toda essa bagunça ou um pouco dela estava assim quando você entrou aqui?
— Alguém tinha procurado antes de mim, — disse Harry.
— Foi o que pensei. Todos os quartos que eu espiei no caminho tinham sido revirados. No que eles estavam interessados você acha?
— Informação sobre a Ordem, se foi o Snape.
— Mas você pensaria que ele já teria tudo o que precisava. Quero dizer, ele estava na Ordem, não estava?
— Bem, então — disse Harry, entusiasmado para discutir sua teoria, — e informação sobre Dumbledore? A segunda página do pergaminho, por exemplo. Você sabe que essa Batilda que minha mãe menciona, você sabe quem ela é?
— Quem?
— Batilda Bagshot, a autora de...
— Uma História da Magia, — disse Hermione, olhando interessada. — Então seus pais a conheciam? Ela foi uma historiadora mágica incrível!
— E ela ainda está viva, — disse Harry, — e ela mora em Godric’s Hollow. A tia do Rony, Muriel, estava falando dela no casamento. Ela conhecia a família de Dumbledore também. Seria bem interessante para uma conversa, ela não seria?
Havia um entendimento meio exagerado demais, pro gosto de Harry, no sorriso que Hermione lhe deu. Ele tomou de volta a carta e a fotografia e as enfiou dentro da bolsa pendurada em seu pescoço, para que não tivesse que olhar para ela e se denunciar.
— Eu entendo que você gostaria de conversar com ela sobre sua mãe e seu pai, e Dumbledore também — disse Hermione. — Mas isso não nos ajudaria em nossa busca pelas horcruxes, ajudaria? — Harry não respondeu e ela se apressou: — Harry, eu sei que você realmente quer ir a Godric’s Hollow, mas eu tenho medo. Eu me assustei com como foi tão fácil para aqueles Comensais da Morte nos encontrarem ontem. Isso só me fez sentir mais do que nunca que nós devemos evitar o lugar onde os seus pais estão enterrados, tenho certeza que eles estariam esperando que você o visitasse.
— Não é só isso.— Harry disse, ainda evitando olhar para ela, — Muriel disse coisas sobre Dumbledore no casamento. Eu quero saber a verdade...
Ele contou a Hermione tudo o que Muriel lhe contou. Quando ele tinha terminado, Hermione disse:
— É claro, eu posso ver porque isso tem te preocupado, Harry.
— Eu não estou preocupado,— ele mentiu, — eu só gostaria de saber se é ou não verdade ou...
— Harry, você realmente acha que você vai conseguir a verdade de uma mulher velha maliciosa como Muriel, ou da Rita Skeeter? Como você pode acreditar nelas? Você conhecia Dumbledore!
— Eu achei que eu o conhecia,— ele murmurou.
— Mas você sabe quanta verdade havia em tudo o que Rita escreveu sobre você! Doge está certo, como você pode deixar essas pessoas mancharem suas memórias de Dumbledore?
Ele desviou o olhar, tentando não trair o ressentimento que sentia. Ali estava de novo: escolher o que acreditar. Ele queria a verdade. Por que todo mundo estava tão determinado que ele não deveria obtê-la?
— Vamos descer para a cozinha? — Hermione sugeriu após uma pausa pequena. — Achar alguma coisa para o café da manhã?
Ele concordou, mas de má vontade, e a seguiu para fora para a escadaria e passou pela segunda porta de saída. Haviam profundas marcas arranhadas na pintura embaixo de uma placa pequena que ele não tinha notado na escuridão. Ele passou no topo das escadas para lê-la. Era uma plaquinha pomposa, organizadamente escrita à mão, o tipo de coisa que Percy Weasley poderia ter prendido na porta de seu quarto.
Não entre sem a expressa permissão de Régulo Arcturus Black
Excitação escorreu por Harry, mas ele não estava imeadiatamente certo do porquê. Ele leu a placa de novo. Hermione já estava em muitos degraus abaixo dele.
— Hermione, — ele disse, e estava surpreso que sua voz estivesse tão calma. — Volte aqui para cima.
— Qual é o problema?
— R.A.B, eu acho que eu o achei.
Houve uma arfada e então Hermione correu de volta para cima.
— Na carta da sua mãe? Mas eu não vi...
Harry negou com a cabeça, apontando para a placa de Régulo. Ela a leu, então agarrou o braço de Harry com tanta força que ele se contraiu.
— O irmão de Sirius? — ela sussurrou.
— Ele era um Comensal da Morte, — disse Harry. — Sirius me falou sobre ele, ele se alistou quando era realmente jovem e depois tentou escapar, então eles o mataram.
— Isso encaixa! — arfou Hermione. — Se ele era um Comensal da Morte ele tinha acesso a Voldemort, e se ele ficou desiludido, então ele teria querido derrubar Voldemort!
Ela soltou Harry, apoiou-se sobre o corrimão e gritou: — Rony! RONY! Suba aqui, rápido!
Rony apareceu, ofegando, um minuto depois, sua varinha pronta em sua mão.
— O que foi? Se for aranhas imensas de novo eu quero tomar café da manhã antes de eu...
Ele franziu as sobrancelhas para a placa na porta de Régulo, para a qual Hermione estava silenciosamente apontando.
— O quê? Esse era o irmão do Sirius, não era? Régulo Arcturus... Régulo... R.A.B! O medalhão, você não supõe que...?
— Vamos descobrir, — disse Harry. Ele empurrou a porta: estava fechada. Hermione apontou sua varinha para a maçaneta e disse: “Alohomora”. Houve um clique e a porta se abriu.
Eles se moveram sobre o limiar, observando o lugar. O quarto de Régulo era levemente menor que o de Sirius, embora tivesse a mesma sensação de anterior grandeza. Visto que Sirius tinha procurado anunciar sua diferença do resto da família, Regulus tinha se esforçado em fazer o oposto. As cores de Slytherin de esmeralda e prata estavam por toda a parte, guarnecendo a cama, as paredes e as janelas. O brasão da família Black estava meticulosamente pintado sobre a cama, junto com seu lema, “TOUJOURS PUR” (Sangue é poder). Embaixo dele havia uma coleção de recortes de jornais amarelados, todos grudados um no outro para fazer uma colagem irregular. Hermione atravessou o quarto para examiná-la.
— São todas sobre Voldemort — ela disse. — Régulo parece ter sido um fã por poucos anos antes de se juntar aos Comensais da Morte...
Um monte de poeira elevou-se da colcha quando ela se sentou para ler os recortes. Harry, entretanto, tinha notado outra fotografia: uma equipe de quadribol de Hogwarts estava sorrindo e acenando na foto. Ele se moveu para mais perto e viu as cobras adornadas em seus peitos: Sonserina. Régulo foi instantaneamente reconhecido como o garoto sentado no meio da fila da frente: ele tinha os mesmos cabelos pretos e o olhar levemente presunçoso de seu irmão, embora ele fosse pequeno, esguio e bem menos bonito que Sirius tinha sido.
— Ele era apanhador, — disse Harry.
— O quê?— disse Hermione vagamente. Ela estava ainda submersa com os recortes de jornais de Voldemort.
— Ele está sentado no meio da fila da frente, que é onde o apanhador... não importa, — disse Harry, percebendo que ninguém estava ouvindo. Rony estava agachado de quatro, procurando embaixo do guarda-roupa. Harry olhou em volta do quarto por esconderijos prováveis e se aproximou da escrivaninha. Contudo, de novo, alguém tinha procurado antes deles. O conteúdo da gaveta tinha sido roubado recentemente, a poeira remexida, mas não havia nada de valor ali: penas velhas, livros escolares desatualiazados que comprovavam a evidência de terem sido tratados rudemente, um tinteiro recente quebrado, seu resíduo pegajoso cobrindo o conteúdo da gaveta.
— Há um modo mais fácil, — disse Hermione, quando Harry limpou seus dedos sujos de tintas em sua calça, ela levantou sua varinha e disse: “Accio medalhão!”
Nada aconteceu. Rony, que estava procurando nas dobras das cortinas desbotadas pareceu se decepcionar.
— É isso, então? Não está aqui?
— Ah, poderia ainda estar aqui, mas sob contra-feitiços, — disse Hermione. — Feitiços para previni-lo de ser convocado magicamente, você sabe.
— Como Voldemort colocou na bacia de pedra na caverna, — disse Harry, lembrando-se de como ele foi incapaz de convocar o medalhão falso.
— Como é que vamos achá-lo então? — Perguntou Ron.
— Nós procuramos manualmente — disse Hermione.
— Essa é um idéia boa, — disse Rony, pestanejando, e reiniciou sua examinação das cortinas.
Eles reviraram cada canto do quarto por mais que uma hora, mas foram forçados, finalmente, a concluir que o medalhão não estava lá.
O sol tinha nascido agora; sua luz os ofuscou até mesmo através das janelas sujas.
— Poderia estar em qualquer lugar da casa mesmo assim, — disse Hermione e um tom animado quando eles foram para o andar de baixo. Visto que Harry e Rony tinham ficado mais desencorajados, ela pareceu ter ficado mais determinada. — Caso ele tivesse conseguido destrui-lo ou não, ele iria querer mantê-lo escondido de Voldemort, não iria? Vocês se lembram de todas aquelas coisas terríveis que nós tivemos que nos livrar quando estávamos aqui da última vez? Aquele relógio que atirava faíscas em todos e aquelas roupas velhas que tentaram estrangular Ron; Régulo pode tê-las colocado lá para proteger o esconderijo do medalhão, mesmo assim nós não o percebemos na... na...
Harry e Rony olharam para ela. Ela estava com um pé na escada e outro no ar, com um olhar vago de quem tinha acabado de ser adingido por um feitiço obliviador; seus olhos tinham até saído de foco.
—... naquela vez, — ela terminou em um suspiro.
— Algo errado? — perguntou Rony.
— Havia um medalhão.
— O quê? — Disseram Harry e Ron juntos.
— No armarinho da sala de visitas. Ninguém pôde abrilo. E nós... nós...
Harry sentiu como se um tijolo tivesse escorregado de seu peito para dentro de seu estômago. Ele se lembrou. Ele até tinha segurado o objeto quando eles o circularam, cada um tentando por vez forçá-lo a abrir. Tinha sido jogado dentro de um saco de lixo, junto com a caixa de rapé de pó de fura-frunco e a caixa de música que tinha deixado todo mundo sonolento...
— Monstro afanou um monte de coisas de volta de nós, — disse Harry. Era a única chance, a única esperança deixada para eles, e ele iria agarrá-la até ser forçado a soltar. — Ele tinha um amontoado de objetos em seu armário na cozinha. Venham.
Ele desceu as escadarias correndo pulando dois degraus por vez, os outros dois correndo em sua trilha. Eles fizeram tanto barulho que acordaram o retrato da mãe do Sirius assim que eles passaram pelo hall.
“Imundície, sangues-ruins, escória!” Ela gritou atrás dele assim que eles desembestaram dentro do porão da cozinha e bateram a porta atrás deles. Harry correu toda a extensão do corredor, derrapou em frente da porta do armário do Monstro e a abriu com força. Havia o abrigo de cobertores velhos nos quais o elfo-doméstico tinha outrora dormido, mas eles não estavam mais brilhando com as bugigangas que Monstro tinha salvado. A única coisa que havia era uma cópia antiga de “Nobreza da Natureza: um genealogia bruxa”. Recusando-se em acreditar nos seus olhos, Harry agarrou os cobertores e os sacudiu. Um rato morto caiu e rolou tristemente pelo chão. Rony gemeu quando se atirou na cadeira da cozinha; Hermione fechou os olhos.
— Não acabou ainda, — disse Harry, ele aumentou sua voz e chamou: — Monstro!
Houve um estalo alto e o elfo-doméstico que Harry tinha tão relutantemente herdado de Sirius apareceu do nada na frente da lareira fria e vazia. Diminuto, tamanho meio humano, sua pele pálida caindo em pelancas, pêlos brancos crescidos copiosamente em suas orelhas de morcego. Ele ainda estava vestindo o trapo sujo no qual eles o tinham conhecido antes, e o olhar desdenhoso que ele dirigiu a Harry mostrou que sua atitude para sua mudança de dono tinha alterado não mais então que sua vestimenta.
— Mestre, — resmungou Monstro com sua voz de sapo-boi, e ele fez uma reverência baixa, resmungando para seus joelhos, — de volta na casa da antiga casa de minha senhora com o traidor do sangue Weasley e a sangue-ruim...
— Eu proíbo você de chamar alguém de ‘traidor do sangue’ ou ‘sangue-ruim’, — rosnou Harry. Ele teria achado Monstro, com seu nariz tipo fucinho e olhos irritados, um objeto claramente impossível de ser amado mesmo se o elfo não tivesse traído Sirius para Voldemort.
— Eu tenho uma pergunta pra você.— Disse Harry seu coração batendo mais rápido enquanto olhava pra Monstro. — E eu ordeno que você responda com toda a sinceridade. Entendeu?
— Sim mestre.— Disse Monstro fazendo de novo uma profunda referência. Harry viu seus lábios se moverem sem som, sem dúvida contendo os insultos que ele tinha sido proibido de pronunciar.
— Dois anos atrás, — disse Harry, seu coração agora martelando contra suas costelas, — havia um grande medalhão de ouro na sala de visitas lá em cima. Nós o jogamos fora. Você o roubou de novo?
Houve um momento de silêncio, durante o qual Monstro endireitou-se para olhar Harry direto no rosto. Então disse:
— Sim.
— Onde ele está agora? — Perguntou Harry com alegria assim que Rony e Hermione olharam felizes.
Monstro fechou seus olhos como se ele não pudesse tolerar ver suas reações para sua próxima palavra.
— Perdido.
— Perdido? — Ecoou Harry, uma grande sensação de desespero tomando conta de seu espírito. — O que você quer dizer, está perdido?
O elfo tremeu. Ele oscilou.
— Monstro, — disse Harry impetuosamente, — eu ordeno que você...
— Mundungo Fletcher, — resmungou o elfo, seus olhos ainda fechados bem apertados. — Mundungo Fletcher roubou tudo; os quadros das senhoritas Bela e Ciça, as luvas de minha senhora, a Ordem de Merlim Primeira Classe, os cálices com o brasão da família Black, e... e...
Monstro estava arfando por ar. Seu peito oco estava subindo e descendo rapidamente, então seus olhos se arregalaram e ele pronunciou um grito de gelar o sangue.
—... e o medalhão, o medalhão do Mestre Régulo. Monstro portou-se mal, Monstro falhou com as ordens dele!
Harry reagiu instintivamente. Quando Monstro se arremessou para a pá na lareira, ele se lançou contra o elfo, achatando-o. Os gritos de Hermione se misturaram com os de Monstro, mas Harry gritou mais alto que os dois:
— Monstro, eu ordeno que você permaneça imóvel!
Ele sentiu o elfo congelar e o soltou. Monstro ficou esticado no chão de pedra fria, lágrimas brotando de seus olhos envergados.
— Harry, faça-o cessar! — Hermione sussurrou.
— Então ele pode se espancar com a pá? — Bufou Harry ajoelhando-se ao lado do elfo. — Eu acho que não. Certo. Monstro, eu quero a verdade: como você sabe que Mundungo Fletcher roubou o medalhão?
— Monstro o viu! — Arfou o elfo assim que lágrimas se derramaram em seu focinho e dentro de sua boca cheia de dentes acinzentados. — Monstro o viu saindo do armário do Monstro com suas mãos cheias de tesouros do Monstro. Monstro disse ao larápio para que parasse, mas Mundungo Fletcher riu e correu...
— Você chamou o medalhão de ‘medalhão do mestre Régulo’ — disse Harry. — Por quê? De onde ele veio? O que Régulo teve a ver com ele? Monstro, sente-se e conte-me tudo o que você sabe sobre aquele medalhão, e tudo sobre o que Régulo teve a ver com ele!
O elfo se sentou, se enrolou como uma bola, pôs sua cara úmida entre seus joelhos, e começou a se agitar para trás e para frente. Quando ele falou, sua voz estava abafada, mas bem distinguível na cozinha silenciosa e ecoante.
— Mestre Sirius fugiu, problema resolvido, porque ele era um garoto mau e quebrou o coração de minha senhora com seus costumes fora da lei. Mas Mestre Régulo tinha costumes adequados; ele sabia o que era por causa do nome Black e a dignidade de seu sangue puro. Por anos ele falou sobre o Lord das Trevas, que ia tirar os bruxos do sigilo para governar os trouxas e os nascidos trouxas... e quando ele completou dezesseis anos de idade, Mestre Régulo se uniu ao Lord das Trevas. Tão orgulhoso, tão orgulhoso, tão feliz em servir...
— E um dia, um ano depois que ele se uniu, Mestre Régulo desceu até a cozinha para ver Monstro. Mestre Régulo sempre gostou de Monstro. E Mestre Régulo disse... ele disse...
O elfo velho se agitou mais rápido do que nunca.
—... ele disse que o Lord das Trevas exigia um elfo.
— Voldemort precisava de um elfo? — Harry repetiu, olhando ao redor para Ron e Hermione, que apenas olharam tão confusos quanto ele.
— Ah, sim — gemeu Monstro. — E Mestre Régulo tinha voluntariado Monstro. Era uma honra, disse Mestre Régulo, uma honra para ele e para Monstro, que deveria se certificar em fazer qualquer coisa que o Lord das Trevas o ordenasse fazer... e depois voltar para casa.
Monstro se agitou ainda mais rápido, sua respiração vindo em soluços.
— Então Monstro foi com o Lord das Trevas. O Lord das Trevas não contou a Monstro o que ele deveria fazer, mas levou Monstro consigo para uma caverna perto do mar. E além da caverna havia uma gruta, e na gruta havia um grande lago negro...
Os pêlos na nuca de Harry se arrepiaram. A voz resmungante de Monstro pareceu chegar até ele através da água escura. Ele viu o que tinha acontecido tão claramente como se estivesse presente.
—... havia um barco...
É claro que tinha havido um barco; Harry conhecia o barco, fantasmagoricamente verde e pequeno, enfeitiçado para carregar um bruxo e uma vítima em direção à ilha no centro. Isto, então, foi como Voldemort tinha testado as defesas que circulavam a horcrux, emprestando uma criatura descartável, um elfo-doméstico...
— Havia uma b-bacia cheia de poção na ilha. O Lord das Trevas fez Monstro bebê-la...
O elfo tremeu da cabeça aos pés.
— Monstro bebeu, e enquanto ele bebia ele via coisas terríveis...o interior de Monstro queimava... Monstro gritou para que Mestre Régulo o salvasse, ele gritou pela sua Senhora Black , mas o Lord das Trevas apenas ria... ele fez Monstro beber a poção toda... ele deixou cair um medalhão dentro da bacia vazia... ele a encheu com mais poção.
— E depois o Lord das Trevas navegou para longe, deixando Monstro na ilha...
Harry podia ver isso acontecendo. Ele assistia a brancura de Voldemort, rosto ofídico, desaparecendo na escuridão, aqueles olhos vermelhos fixados sem piedade no elfo sovado de quem a morte ocorreria dentro de minutos, quando fosse ele sucumbir à desesperada sede que a poção ardente causaria a sua vítima... mas aqui, a imaginação de Harry não pôde prosseguir adiante, porque ele não podia ver como Monstro tinha escapado.
— Monstro precisava de água, ele engatinhou para a borda da ilha e bebeu a do lago negro... e mãos, mãos mortas, saíram da água e dragaram Monstro para baixo da superfície...
— Como você conseguir escapar? — Harry perguntou, e ele não estava surpreso por se ouvir sussurrando.
Monstro levantou sua cabeça feia e olhou Harry com seus grandes e olhos rajados de sangue.
— Mestre Régulo disse a Monstro para voltar — ele disse.
— Eu sei, mas como você escapou dos Inferi?
Monstro não pareceu entender.
— Mestre Régulo disse a Monstro para voltar — ele repetiu.
— Eu sei, mas...
— Bom, é obvio, não é, Harry? — Disse Rony. — Ele desaparatou!
— Mas... você não poderia aparatar dentro e fora daquela caverna, — disse Harry, — senão Dumbledore...
— A magia élfica não é como magia bruxa, é? — Disse Rony. — Digo, eles podem aparatar e desaparatar dentro e fora de Hogwarts, enquanto que nós não podemos.
Houve um silêncio enquanto Harry digeria isso. Como Voldemort pôde ter cometido um erro assim? Mas quando ele pensou nisso, Hermione falou, e sua voz estava fria.
— É claro, Voldemort teria considerado os caminhos dos elfos-domésticos bem mais abaixo de sua consideração... jamais teria ocorrido a ele que eles poderiam ter mágica que ele não tinha.
— A lei mais alta do elfo-doméstico é a ordem de seu mestre, — entonou Monstro. — Foi ordenado a Monstro para voltar para casa, então Monstro voltou para casa...
— Bom, então, você fez o que lhe foi ordenado, não fez? — Disse Hermione bondosamente. — Você não desobedeceu ordens de forma alguma!
Monstro balançou sua cabeça, se agitando tão rápido como nunca.
— Então o que aconteceu quando você voltou? — Harry perguntou. — O que Régulo disse quando você contou a ele o que aconteceu?
— Mestre Régulo ficou muito preocupado, muito preocupado, — coaxou Monstro. — Mestre Régulo disse a Monstro para ficar escondido e não sair da casa. E então, era um pouco tarde... Mestre Régulo veio procurar Monstro em seu armário uma noite, e Mestre Régulo estava estranho, não como ele geralmente era, perturbado de mente, Monstro poderia contar... e ele pediu para Monstro para levá-lo à caverna, a caverna onde Monstro tinha ido com o Lord das Trevas...
E então eles tinham começado. Harry pôde visualizá-los bem claramente, o elfo ancião e o apanhador magro e escuro que se parecia tanto com Sirius... Monstro soube como abrir a entrada oculta para a caverna subterrânea, soube como levantar o barco pequeno; desta vez foi seu amado Régulo que navegou com ele até a ilha com a bacia de poção.
— E ele te fez beber a poção? — Disse Harry, repugnado.
Mas Monstro negou com a cabeça e chorou. A mão de Hermione moveu-se repentinamente para sua boca. Ela pareceu ter entendido alguma coisa.
— M-Mestre Régulo tirou de seu bolso um medalhão como aquele que o Lord das Trevas tinha, — disse Monstro, lágrimas transbordando por cada lado de seu nariz de focinho. — E ele pediu a Monstro para pegá-lo e, quando a bacia estivesse vazia, para trocar os medalhões...
Os soluços de Monstro vieram com grande aspereza agora; Harry teve que se concentrar para entendê-lo.
— E ele ordenou que... Monstro partisse... sem ele. E ele disse a Monstro... para voltar para a casa... e nunca contar para minha senhora... o que ele tinha feito... mas destruir... o primeiro medalhão. E ele bebeu... toda a poção... e Monstro trocou os medalhões... e assistiu... como o Mestre Régulo... foi arrastado para baixo d’ água... e...
— Ah, Monstro! — Lamentou Hermione que estava chorando. Ela ficou de joelhos ao lado do elfo e tentou abraçá-lo. Imediatamente ele ficou de pé, encolhendo-se para longe dela, completa e obviamente repelida.
— A sangue-ruim tocou Monstro, ele não permitirá isso, o que sua senhora diria?
— Eu te disse para não chamá-la de ‘sangue-ruim’! — Rosnou Harry, mas o elfo já estava se castigando. Ele caiu no chão e espancou sua testa no chão.
— Pare ele, pare ele! — Hermione gritou. — Ah, você não vê como é doentio, o modo como eles têm que obedecer?
— Monstro, pare, pare!— Gritou Harry.
— O elfo deitou no chão, ofegando e tremendo, muco verde brilhava em volta de seu focinho, uma contusão já florescia em sua testa pálida onde ele tinha se espancado, seus olhos inchados e inflamados, nadando em lágrimas. Harry jamais tinha visto algo tão patético.
— Então você trouxe o medalhão para casa, — ele disse grosseiramente, porque ele estava eterminado a saber a história completa. — E você tentou destrui-lo?
— Nada que Monstro fez produziu qualquer marca nele, — gemeu o elfo. — Monstro tentou tudo, tudo que ele sabia, mas nada, nada funcionava... muitos feitiços poderosos no invólucro, Monstro tinha certeza que a maneira de destrui-lo era conseguir abri-lo, mas ele nunca se abriria. Monstro se castigou, tentou de novo, se castigou, tentou de novo. Monstro falhou em obedecer ordens, Monstro não pôde destruir o medalhão! E sua senhora estava louca de tristeza, porque Mestre Régulo tinha desaparecido e Monstro não podia contar a ela o que tinha acontecido, não, porque Mestre Régulo o tinha proibido de contar para alguém da família o que aconteceu na c-caverna...
Monstro começou a soluçar tão forte que não haviam mais palavras coerentes. Lágrimas escorerram pelas bochechas de Hermione enquanto ela assistia Monstro, mas ela não se atreveu a tocá-lo de novo. Até mesmo Rony, que não era fã algum de Monstro, parecia preocupado. Harry sentou-se com os braços cruzados e balançou negativamente sua cabeça, tentando clareá-la.
— Eu não compreendo você, Monstro, — ele disse finalmente. — Voldemort tentou te matar, Régulo morreu para matar Voldemort, mas você ainda ficou feliz em trair Sirius para Voldemort? Você ficou feliz por ir até Narcisa e Belatriz, e passar informação para Voldemort através delas...
— Harry, Monstro não pensa assim, — disse Hermione, limpando seus olhos nas costas de sua mão. — Ele é um escravo; elfos-domésticos estão acostumados ao mau, até mesmo tratamento brutal; o que Voldemort fez para Monstro não foi tão distante da maneira comum. O que guerras bruxas significam para um elfo como Monstro? Ele é leal com as pessoas que são bondosas para ele, e a Sra. Black deve ter sido, e Régulo certamente era, então ele os serviu de bom grado e imitou suas crenças. Eu sei o que você vai falar, — ela continuou assim que Harry começou a protestar, — que Régulo mudou de idéia... mas ele não parece ter explicado isso para Monstro, parece? E eu acho que eu sei por quê. A família de Monstro e Regulo estariam todas mais seguras se ele mantivessem a velha linhagem da pureza de sangue. Régulo estava tentando proteger todos eles.
— Sirius...
— Sirius foi horrível para Monstro, Harry, e não me olhe assim, você sabe que é verdade. Monstro ficou sozinho por um tempo tão longo quando Sirius veio para viver aqui, e estava provavelmente desejando um pouquinho de afeição. Tenho certeza que a “Srta Ciça” e a “Srta Bela” foram perfeitamente adoráveis com Monstro quando ele voltou, então ele fez um favor para elas e contou a elas tudo o que elas queriam saber. Eu tenho dito desde o começo que bruxos pagariam por como eles tratam os elfos-domésticos. Bom, Voldemort pagou... e Sirius também.
Harry não tinha resposta. Vendo Monstro soluçando no chão, ele se lembrou do que Dumbledore tinha dito a ele, meras horas após a morte de Sirius: Eu não creio que Sirius alguma vez tenha visto Monstro como um ser com sentimentos tão profundos quanto o dos humanos...
— Monstro, — disse Harry após um tempo, — quando você se sentir pronto para fazer isso, hmm... por favor, sente-se.
Passaram diversos minutos antes de Monstro parar de soluçar e se silenciar. Então ele se empurrou para um posição sentada de novo, esfregando seus nós dos dedos em seus olhos como uma criancinha.
— Monstro, vou pedir para você fazer algo, — disse Harry. Ele olhou de relance para Hermione por assistência. Ele queria dar a ordem bondosamente, mas ao mesmo tempo, ele não podia fingir que não era uma ordem. Entretanto, a mudança em seu tom pareceu ter ganhado sua aprovação. Ela sorriu de maneira encorajante.
— Monstro, eu quero que você, por favor, vá e ache Mundungo Fletcher. Nós precisamos descobrir onde o medalhão do Mestre Regulo está. É realmente importante. Nós queremos terminar o trabalho que Mestre Régulo começou, nós queremos... hmm... assegurar que ele não tenha morrido em vão.
Monstro baixou seus punhos e olhou para Harry.
— Encontrar Mundungo Fletcher? — Ele coaxou.
— E traga-o aqui, para o Largo Grimmauld, — disse Harry. — Você acha que você poderia fazer isso para nós?
Assim que Monstro acenou e ficou de pé, Harry teve uma repentina inspiração. Ele puxou a bolsa de Hagrid e tirou o medalhão substituto no qual Régulo tinha colocado o bilhete para Voldemort.
— Monstro, eu... hmm, gostaria que você tivesse isso, — ele disse, apertando o medalhão na mão do elfo. — Isto pertenceu a Régulo e eu tenho certeza que ele iria querer que você o tivesse como um sinal de gratidão pelo quanto você...
— Se sacrificou por isso, amigo — disse Rony quando o elfo deu uma olhada no medalhão, soltou um uivo de choque e tristeza, e se jogou de volta no chão.
Eles demoraram quase meia hora para acalmar Monstro, que estava tão devastado por ser presenteado com uma relíquia da família Black só sua que seus joelhos estavam fracos demais para ficar em pé propriamente. Quando finalmente ele foi capaz de dar poucos passos, todos eles o acompanharam até seu armário, o assistiram enfiar o medalhão seguramente em seus cobertores sujos, e assegurou-lhe que eles fariam de sua proteção a primeira prioridade deles enquanto ele estivesse fora. Ele então fez duas reverências baixas para Harry e Rony, e até fez um pequeno movimento involuntário na direção de Hermione que pode ter sido uma tentativa para uma saudação respeitosa, antes de desaparatar com o comum e alto craque.