Posted by : Unknown junho 04, 2014

Capítulo 9




Tudo parecia desfocado, devagar. Harry e Hermione pularam e sacaram suas varinhas. Muitas pessoas acabavam de notar que alguma coisa estranha tinha acontecido. Alguns ainda olhavam para o gato prateado enquanto ele sumia. O silêncio espalhou-se em ondas frias ao redor do lugar onde o patrono apareceu. Então alguém gritou.
Harry e Hermione seguiram a multidão em pânico. Convidados corriam em todas as direções, alguns estavam desaparatando, os feitiços de proteção ao redor da Toca tinham sumido.
— Rony! — Hermione gritou. — Rony, onde você está?
Enquanto eles passavam pela pista de dança, Harry viu figuras mascaradas e vestidas com capa aparecendo na multidão, então ele viu Lupin e Tonks, suas varinhas erguidas, e escutou os dois gritarem, “Protego!”, um choro ecoou por todos os lados.
— Rony! Rony! — Hermione gritava, meio soluçando, enquanto ela e Harry eram empurrados pelos convidados aterrorizados. Harry levantou sua mão para ter certeza de que eles não seriam separados enquanto os traços de luz passavam pelas suas cabeças; se eram feitiços protetores ou alguma coisa mais sinistra, ele não sabia.
E então Rony estava lá. Ele agarrou o braço livre de Hermione e Harry a sentiu girar; visão e som se extinguiram enquanto a escuridão o pressionava. Tudo que ele podia sentir era a mão de Hermione enquanto era espremido através do tempo e do espaço para longe da Toca, para longe dos recém-chegados comensais, para longe, talvez, de Voldemort em pessoa.
— Onde estamos? — disse a voz de Rony.
Harry abriu os olhos. Por um momento, ele pensou que não tinha saído do casamento, eles ainda pareciam cercados de gente.
— Estrada da Corte Tottenham — afirmou Hermione. — Ande, apenas ande. Nós precisamos encontrar um lugar pra vocês trocarem de roupa.
Harry fez como ela pediu. Eles meio que andaram, meio que correram pela rua escura, deserta, cheia de coisas reveladoras e lojas fechadas, as estrelas reluzindo acima deles. Um ônibus de dois andares passou fazendo barulho e um grupo de freqüentadores de bar os observou enquanto eles passavam. Harry e Rony ainda vestiam ternos.
— Hermione, não temos nada pra vestir — Rony disse para ela, enquanto uma adolescente dava risadinhas abafadas para Rony.
— Por que eu não trouxe minha Capa de Invisibilidade? — disse Harry culpando a si mesmo por sua estupidez. — Todo o ano passado eu a carreguei e...
— Tudo bem, eu peguei a capa e roupas para vocês dois — disse Hermione. — Apenas tente agir naturalmente até que... Aqui vai dar certo.
Ela os levou até uma rua paralela e depois para dentro do abrigo de um beco escuro.
— Quando você diz que está carregando a capa, as roupas... — disse Harry, franzindo as sobrancelhas para ela, que estava carregando nada mais que sua pequena bolsa de mão onde agora estava mexendo.
— Sim, estão aqui — disse Hermione, e para a surpresa de Harry e Rony, ela tirou uma calça jeans, uma camiseta, algumas meias marrons e finalmente a capa prateada.
— Mas como é que...?
— Feitiço de extensão indetectável — disse Hermione. — Arriscado, mas eu acho que fiz tudo certo. De qualquer modo, eu consegui colocar tudo que precisávamos aqui. — Ela deu uma chacoalhada na bolsa de aspecto frágil que ecoou como se levasse uma carga de vários objetos pesados. — Nossa! Deve ser os livros — ela disse olhando dentro da bolsa. — E eu tinha separado por assunto... Ah, bem... Harry, é melhor você pegar sua Capa de Invisibilidade. Rony, troque-se logo.
— Quando você fez tudo isso?
— Eu te disse na Toca, eu tinha todo o essencial ensacado há dias. Caso a gente precisasse fazer uma saída rápida, sabe? Eu guardei suas coisas essa manhã, Harry, depois de você ter se trocado, e coloquei tudo aqui. Eu tive um pressentimento...
— Você é maravilhosa, com certeza — disse Rony dando a ela suas roupas enxovalhadas.
— Obrigada – disse Hermione dando um pequeno sorriso enquanto colocava as roupas na bolsa.
— Por favor, Harry! Coloque a capa!
Harry jogou sua Capa de Invisibilidade nos ombros e sobre a cabeça, sumindo de vista. Ele tinha acabado de se dar conta do que tinha acontecido.
— Os outros... Todo mundo no casamento...
— Nós não podemos nos preocupar com isso agora – sussurrou Hermione. – É atrás de você que eles estão, Harry, e nós colocaremos todo mundo em mais perigo se voltarmos.
— Ela está certa – disse Rony, que sabia que Harry estava a ponto de discutir mesmo que não pudessem ver seu rosto. – A maioria dos membros da Ordem estava lá... Eles tomam conta de todo mundo.
Harry fez que sim com a cabeça, lembrou que eles não podiam vê-lo e disse: “É.” Mas pensou em Gina e o medo queimou feito ácido em seu estômago.
— Vamos. Eu acho que nós devemos ir – disse Hermione.
Eles voltaram para a rua e depois novamente para a avenida principal.
— Só por curiosidade, por que Estrada da Corte de Tottenham? – Rony perguntou a Hermione.
— Não tenho idéia, simplesmente apareceu na minha cabeça, mas eu tenho certeza de que estamos mais salvos aqui do que no mundo bruxo, eles não esperam nos encontrar aqui.
— Verdade – disse Rony olhando ao redor. – Mas você não se sente um tanto exposta?
— Onde mais? Perguntou Hermione encolhendo-se enquanto os homens do outro lado da rua começaram a uivar que nem lobos. — Nós não vamos conseguir quartos no Caldeirão Furado, vamos? E Largo Grimmauld está fora de questão porque Snape pode entrar lá. Eu acho que podemos tentar minha casa, apesar de haver uma chance de os Comensais irem lá checar. Ai, eu queria que eles calassem a boca!
— Tudo bem, gracinha? – o mais bêbado dos homens na outra calçada gritava. – Gostaria de tomar um drinque? Anime-se e venha tomar um gole!
— Vamos sentar em algum lugar! – Hermione disse rispidamente enquanto Rony abria a boca para gritar de volta:
— Olha, deve servir, aqui!
Era um pequeno e sujo café 24 horas. Uma luz cor de graxa pairava em todas as mesas de fórmica, mas pelo menos estava vazio. Harry sentou primeiro em uma cabine e Rony sentou-se do seu lado, de frente para Hermione que estava de costas para a entrada e não gostava nada disso. Ela olhava sobre o ombro tão freqüentemente que parecia ter um tique nervoso. Harry não gostava de ficar parado, andar dava a sensação de que eles tinham uma dianteira. Por detrás da capa, ele podia sentir os últimos vestígios da poção Polissuco desaparecer, suas mãos retornando ao tamanho e forma normais. Ele tirou seus óculos do bolso e os colocou de novo.
Depois de um ou dois minutos, Rony disse:
— Sabe? Nós não estamos longe do Caldeirão Furado, é ali na Charing Cross.
— Rony, não podemos! – afirmou Hermione de uma vez.
— Não pra ficar lá, mas pra saber o que está acontecendo!
— Nós sabemos o que está acontecendo! Voldemort tomou o Ministério da Magia, o que mais precisamos saber?!
— Tá bom, tudo bem, era só uma idéia!
Eles caíram em um silêncio incômodo. A garçonete que mascava chicletes passou e Hermione pediu dois cappuccinos: como Harry estava invisível, ia parecer estranho pedir um para ele. Um par de trabalhadores entrou no café e se espremeu na outra cabine. Hermione baixou a voz para um suspiro.
— Eu digo que devemos achar um lugar calmo para desaparatar e ir para o campo. Quando estivermos lá, mandamos uma mensagem para a Ordem.
— Você pode fazer aquela coisa do patrono falante? – perguntou Rony.
— Eu tenho praticado e acho que sim – disse Hermione.
— Bem, contanto que eles não se metam em encrenca, apesar de que já devem estar presos nesse momento. Deus, isso é revoltante – Rony acrescentou depois de dar um gole no seu café ralo e espumoso. A garçonete ouviu; lançou a Rony um olhar de desprezo enquanto passava para pegar os pedidos dos outros fregueses. O maior dos dois homens, que era loiro e enorme, acenava para que ela fosse embora na hora que Harry olhou. Ela o encarou irritada.
— Vamos indo então, eu não quero mais beber essa porcaria – disse Rony. – Hermione, você tem dinheiro trouxa para pagar isso?
— Sim, eu peguei todo meu dinheiro guardado antes de ir à Toca. Eu aposto que todos os trocados estão aí no fundo – apontou Hermione pegando sua bolsa frisada.
Os dois homens fizeram movimentos idênticos e Harry imitou sem nem ter consciência do que fazia. Os três sacaram suas varinhas. Rony, que percebeu segundos depois o que acontecia, pulou na mesa e puxou Hermione para baixo de sua cadeira. A força dos feitiços dos Comensais foi tanta que espatifou o teto no lugar onde a cabeça de Rony estava segundos antes, enquanto Harry, ainda invisível, gritava: “Estupefaça!”
O grande e loiro Comensal da Morte foi atingido no rosto por um raio de luz. Ele caiu de lado, inconsciente. Seu companheiro, sem poder ver quem lançou o feitiço, lançou outro em Rony. Cordas pretas voaram da ponta de sua varinha e ataram Rony dos pés a cabeça – a garçonete correu para a porta. Harry lançou outro feitiço estuporante no Comensal com o rosto retorcido que tinha atado Rony, mas o feitiço errou, bateu em uma parede e voltou na garçonete que caiu em frente à porta.
– Expulso! – gritou o comensal e a mesa em frente a Harry explodiu. A força da explosão o mandou para a parede e ele sentiu sua varinha voar enquanto a capa saía de seu corpo.
— Petrificus Totalus! – gritou Hermione fora de visão e o Comensal caiu como uma estátua com um estalido alto na bagunça de louça quebrada, mesas e café. Hermione rastejou debaixo do banco sacudindo o cabelo para tirar os cacos e tremendo.
— D-diffindo! – ela disse apontando a varinha para Rony, que gritou de dor quando ela abriu um buraco no seu jeans, deixando um corte profundo na pele. – Desculpe-me Rony, minhas mãos estão tremendo! Diffindo!
As cordas apertadas caíram. Rony levantou sacudindo seus braços para voltar a senti-los. Harry pegou de volta sua varinha e andou por sobre os escombros até onde o grande comensal estava esparramado entre as cadeiras.
— Eu devia tê-lo reconhecido, ele estava lá na noite que Dumbledore morreu — ele disse. Ele virou o comensal mais escuro com seu pé, os olhos do homem estavam se movendo rapidamente entre Harry, Rony e Hermione.
— Este é Dolohov — disse Rony. — Eu o reconheci pelos pôsteres de procurado. Eu acho que o grande é Thorfinn Rowle.
— Não importa como eles se chamam! — disse Hermione um pouco histérica. — Como eles descobriram a gente? O que nós vamos fazer?
De algum modo, o pânico na voz dela clareou a mente de Harry.
— Tranque a porta – ele disse pra ela. – E ,Rony, desligue as luzes.
Ele olhava abaixo para o Dolohov paralisado e pensava rápido enquanto a fechadura fazia um click e Rony usava o Apagueiro para pôr o café na escuridão. Harry podia ouvir os homens que antes tinham gritado para Hermione fazer a mesma coisa com outra garota em algum lugar distante.
— O que nós vamos fazer com eles? – Rony falou baixinho para Harry em meio à escuridão, então disse ainda mais rápido: – Matá-los? Eles iam nos matar. Fizeram uma boa tentativa agora. – Hermione deu um passo pra trás e Harry balançou a cabeça.
— Nós temos apenas que apagar suas memórias – disse Harry. – É melhor desse jeito, nós tiramos eles de cena. Se nós os matarmos, vai ficar óbvio que estivemos aqui.
– Você é quem manda – disse Rony soando profundamente aliviado. – Mas eu nunca fiz um feitiço de memória.
— Nem eu — disse Hermione. — Mas eu sei a teoria. — Ela respirou calma e brevemente e então apontou a varinha para a testa de Dolohov e disse: — Obliviate!
Na mesma hora os olhos de Dolohov ficaram fora de foco.
— Brilhante! – disse Harry batendo nas costas da garota. – Cuida do outro e da garçonete enquanto eu e Rony limpamos o lugar...
— Limpar? – disse Rony olhando para o café quase destruído. – Por quê?
— Você não acha que eles vão imaginar o que aconteceu caso acordem e encontrem um lugar que parece ter sido bombardeado?
— Ah, é... Verdade.
Rony demorou um momento antes de tirar a varinha do seu bolso.
— Não é à toa que não consigo tirá-la, Hermione. Você empacotou meu jeans velho, está apertado.
— Desculpa – sussurrou Hermione enquanto tirava a garçonete da vista da janela, Harry a escutou dando uma sugestão de onde Rony poderia colocar a sua varinha.
Uma vez que o café tinha voltado a sua condição anterior, eles levantaram os Comensais e os colocaram de novo nas suas cadeiras, arrumando para que ficassem um de frente pro outro.
— Mas como eles nos acharam? – Hermione perguntou olhando de um homem inerte para o outro. – Como eles descobriram onde nos encontrar?
Ela se virou para Harry.
— Você - você acha que ainda tem o Rastro em você, acha Harry?
— Ele não pode ter — disse Rony. – O rastro rompe-se na hora que você faz dezessete, isso é lei dos bruxos, não pode ser colocado em adultos.
— Até onde eu sei – disse Hermione –, mas e se os Comensais acharam um jeito de colocar em um adolescente de dezessete anos?
— Mas Harry não esteve perto de um comensal nas últimas vinte e quatro horas. Quem poderia ter colocado o rastro nele?
Hermione não respondeu. Harry se sentia contaminado, doente: será que foi assim que os comensais tinham achado-lhe?
— Se eu não posso usar magia e vocês também não podem usar quando estão comigo sem denunciar nossa posição... – ele começou.
— Nós não vamos nos separar – disse Hermione com firmeza.
— Nós precisamos de um lugar seguro para nos esconder – disse Rony. – Dê-nos tempo pra pensar nas coisas direito.
— Largo Grimmauld — lembrou Harry.
Os outros dois gemeram.
— Não seja burro, Harry. Snape pode entrar lá!
— O pai do Rony disse que eles colocaram feitiços no lugar contra o Snape e mesmo que eles não funcionem... – ele falou correndo quando Hermione parecia querer discutir – E aí? Eu juro, não tem nada que eu queira mais do que encontrar Snape!
— Mas...
— Hermione, onde mais? É a melhor chance que nós temos. Snape é só um Comensal. Se eu ainda tiver o Rastro, nós teremos montes de Comensais onde quer que a gente vá.
Ela não tinha mais argumentos para usar, mesmo parecendo que se os tivesse, ia adorar usá-los.
Enquanto ela destrancava a porta, Rony acionava o Apagueiro e devolvia a luz ao café. E assim que Harry contou até três, eles reverteram os feitiços nas suas três vítimas, e antes que a garçonete ou algum dos dois Comensais pudessem fazer algo mais do que se espreguiçar, Harry, Rony e Hermione giraram e sumiram na escuridão compressora mais uma vez.
Segundos depois, os pulmões de Harry expandiram-se agradecidos e ele abriu os olhos: agora eles estavam parados no meio de uma pequena e suja rua familiar. Casas grandes e rústicas lhes cercavam por todos os lados. O número doze estava visível para eles porque Dumbledore havia dito-lhes que ela existia, ele era o guardião do segredo. Eles correram para alcançá-lo checando de metro em metro se não estavam sendo seguidos ou observados. Subiram nos degraus de pedra e Harry bateu na porta uma vez com a varinha. Eles ouviram uma série de cliques metálicos e a porta abriu-se com barulho, então entraram correndo pela ante-sala.
Assim que Harry fechou a porta atrás de si, as velhas lamparinas criaram vida jogando uma luz vacilante em toda a extensão do corredor. Era como Harry lembrava: um corrimão comido por traças, as silhuetas das cabeças dos elfos nas paredes jogando estranhas sombras na escadaria. Longas cortinas negras escondiam o retrato da mãe de Sirius. A única coisa fora de lugar era a perna de trasgo, onde se encostavam os guarda-chuvas, que estava caída de lado como se Tonks tivesse derrubado outra vez.
— Eu acho que alguém esteve aqui – Hermione sussurrou, apontando para a perna de trasgo.
— Aquilo pode ter acontecido quando a Ordem foi embora.
— Então onde estão os feitiços que eles colocaram contra Snape? – Harry perguntou.
— Talvez eles só entrem em ação caso Snape apareça – sugeriu Rony.
Eles ainda permaneciam juntos à maçaneta, grudados na porta, com medo de entrar na casa.
— Bem... Não podemos ficar aqui pra sempre – disse Harry dando um passo à frente.
— Severo Snape? – A voz de Olho-Tonto Moody ecoou na escuridão fazendo os três pularem assustados.
— Não somos Snape! – esganiçou Harry antes de alguma coisa tê-lo atingido como um vento frio passando por ele e enrolando sua língua, fazendo com que fosse impossível falar. Mas antes que ele tivesse a chance de senti-la, sua língua tinha se desenrolado dentro da sua boca.
Os outros dois pareciam ter experimentado a mesma sensação ruim. Rony fazia barulhos com a boca e Hermione gaguejava:
— Isso de-deve s-ser o f-feitiço co-cola l-língua que Olho-Tonto deixou para Snape!
Cuidadosamente, Harry deu outro passo adiante. Alguma coisa moveu-se nas sombras do fim do corredor e, antes que qualquer um deles pudesse dizer alguma coisa, uma figura levantou do carpete, alta, acinzentada e terrível. Hermione gritou e Sra. Black fez o mesmo enquanto suas cortinas se abriam. A figura cinza estava deslizando rápido até eles, mais e mais rápido, seus cabelos compridos e a barba balançando atrás, seu rosto como o de um cadáver, descarnado, com buracos vazios no lugar dos olhos: horrivelmente familiar, terrivelmente alterado, ele levantou um braço apontando pra Harry.
— Não! – Harry gritou e apesar de ter levantado sua varinha nenhum feitiço lhe ocorreu. – Não! Não fomos nós! Não matamos você!
Com a palavra “matamos”, a figura explodiu em uma grande nuvem de poeira: tossindo, seus olhos lacrimejando, Harry olhou ao redor para ver Hermione, agachada no chão com as mãos sobre a cabeça, e Rony, que tremia dos pés a cabeça dando tapinhas em seu ombro e dizendo:
— Tá tudo bem... Ele se foi...
A poeira aglutinou-se ao redor Harry como névoa, capturando a luz azul da lamparina enquanto a Sra. Black continuava a gritar.
— Sangues ruins, sujeira, manchas de vergonha, vergonha da casa dos meus pais!
— CALA A BOCA! – Harry gritou direcionando sua varinha para ela e com um estouro e faíscas vermelhas as cortinas fecharam e ela foi silenciada.
— Aquele... Aquele era... — Hermione choramingou enquanto Rony ajudava—lhe a se levantar.
— É – disse Harry. — Mas não era ele de verdade, era? Apenas alguma coisa para aterrorizar o Snape.
Será que funcionou?, Harry pensou, Ou Snape teria passado pela figura casualmente, do mesmo jeito que matou o verdadeiro Dumbledore? Os nervos ainda tensos, ele levou os outros dois pelo corredor, meio esperando algo aterrorizante aparecer, mas nada se moveu além de um esqueleto de rato no vão do corredor.
— Antes de nós irmos mais longe, acho melhor checar – sussurrou Hermione. E ela levantou a varinha e disse: – Homenum revelio!
Nada aconteceu.
— Bem, você teve um grande choque – disse Rony amavelmente. – O que aquilo devia fazer?
— Ele fez o que deveria fazer! – disse Hermione rispidamente. – Aquilo era um feitiço para revelar presença humana e não tem ninguém aqui a não ser nós!
— E o velho empoeirado – disse Rony olhando para o pedaço de carpete de onde a figura humana emergiu.
— Vamos subir – disse Hermione com um olhar assustado para o chão, e ela seguiu na frente pelas escadas barulhentas até a sala de pintura no primeiro andar.
Hermione agitou sua varinha para ligar as velhas lamparinas e então, tremendo de frio, ela sentou no sofá do quarto de pintura, seus braços apertados com força em volta de si. Rony foi até a janela e afastou as cortinas um pouco.
— Não posso ver ninguém lá fora – ele disse. – Harry, você acha que se ainda tivesse um Rastro em você eles teriam seguido a gente até aqui? Eu sei que eles não podem entrar na casa, mas... O que aconteceu, Harry?
Harry soltou um uivo de dor: sua cicatriz queimou como se alguma coisa passasse através da sua mente como luz na água. Ele viu uma sombra e sentiu uma fúria que não era sua tomando conta do seu corpo, violenta e rápida como um choque elétrico.
— O que você viu? – Rony perguntou avançando para Harry. – Você o viu na minha casa?
— Não, eu só senti raiva. Ele está com muita raiva.
— Mas ele pode estar na Toca – disse Rony alto. – O que mais? Você viu alguma coisa? Ele estava enfeitiçando alguém?
— Não, eu só senti raiva. Não poderia dizer...
Harry sentia-se invadido, confuso, e Hermione não ajudou quando disse numa voz apavorada:
— Sua cicatriz de novo? Mas o que está acontecendo? Eu achei que essa conexão já tinha se fechado!
— Fechou-se por um tempo — murmurou Harry, sua cicatriz ainda estava dolorida, o que fez com que fosse difícil se concentrar. — Eu... Eu acho que ela se abre de novo quando ele perde o controle. Era assim que costumava acontecer...
— Mas você tem que fechar sua mente! – Hermione falou esganiçada. – Harry, Dumbledore não queria que você usasse essa conexão, ele queria que você a fechasse. É por isso que você aprendia Oclumência! Caso contrário, Voldemort pode plantar falsas imagens na sua mente, lembra?
— Sim, eu me lembro, obrigado – disse Harry com dentes cerrados; ele não precisava que Hermione dissesse-lhe que um dia Voldemort usou essa mesma conexão para levá-lo a uma armadilha, nem que isso resultou na morte de Sirius. Ele desejou não ter dito nada sobre o que viu e sentiu, fez Voldemort parecer mais ameaçador, como se ele estivesse pressionando seu rosto na janela da sala. E a dor na sua cicatriz estava crescendo, ele lutou contra ela: era como resistir à vontade de vomitar.
Ele deu as costas para Rony e Hermione fingindo examinar a velha tapeçaria da família Black na parede. Então Hermione gritou. Harry empunhou sua varinha e virou-se para ver um patrono prateado no meio da sala de pintura parar no chão, na frente deles e se solidificar numa doninha que falou com a voz do pai de Rony:

Família salva, não responda. Nós estamos sendo observados.

O patrono dissolveu-se em nada. Rony deixou escapar um barulho entre um gemido e um soluço e caiu no sofá. Hermione juntou-se a ele agarrando o seu braço.
— Eles estão bem, estão bem! — ela suspirou e Rony meio que riu, meio que a abraçou.
— Harry – ele disse sobre o ombro de Hermione –, eu...
— Não tem problema — disse Harry, fraquejando sob a dor de cabeça. — É sua família, claro que você estava preocupado. Eu também estaria. — Ele pensou em Gina. — Eu estava preocupado.
A dor em sua cicatriz estava chegando ao pico como se ele estivesse de volta ao jardim da Toca. Fracamente, ele ouvia Hermione dizer:
— Eu não quero ficar sozinha. Nós podemos usar os sacos de dormir que eu trouxe e acampar aqui essa noite?
Ele ouviu Rony concordar. Não podia mais brigar. Tinha sucumbido.
— Banheiro — ele murmurou. E saiu da sala o mais rápido que pôde sem correr. Quase não conseguiu: batendo a porta atrás de si com as mãos tremendo, ele se arrastou com a cabeça pesada e caiu no chão. Então, numa explosão de agonia, sentiu toda a raiva que não pertencia a ele e viu uma longa sala iluminada apenas com uma fogueira e o Comensal loiro e gigante no chão, gritando e implorando para uma figura alta na frente dele com a varinha estendida enquanto Harry falava em uma alta, fria e impiedosa voz:
— Mais, Rowle, ou nós devemos terminar isso e dar você de comer para Nagini? Lord Voldemort não sabe se vai perdoá-lo dessa vez... Você me chamou de volta para isso, para dizer que Harry Potter tinha escapado de novo? Draco, dê a Rowle outro gostinho do nosso descontentamento... Faça ou sinta minha ira você mesmo!
Um pergaminho na lareira: as chamas elevaram-se com suas luzes dançando em um rosto aterrorizado, branco, pontudo. Com a sensação de estar emergindo do fundo da água, Harry respirou fundo várias vezes e abriu seus olhos.
Ele estava esparramado no frio e negro chão de mármore, seu nariz estava a alguns centímetros de uma das serpentes prateadas que suportavam a banheira enorme. Ele sentou. O rosto de Draco petrificado de medo parecia queimar dentro dos seus olhos. Harry sentiu-se enjoado com o que viu, com o serviço que Draco agora fazia para Voldemort.
Houve uma batida forte na porta e Harry pulou quando Hermione falou:
— Harry, você quer sua escova de dente? Eu estou com ela aqui.
— É, quero sim — ele disse lutando para manter sua voz casual enquanto levantava pra deixá-la entrar.

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