Posted by : Unknown junho 05, 2014


Capítulo 19



A perspectiva de conversar cara a cara com Sirius foi só o que sustentou Harry nos quinze dias seguintes, o único ponto luminoso em um horizonte que nunca lhe parecera mais escuro. O choque de se ver no papel de campeão da escola agora já diminuira um pouquinho, e o medo do que o aguardava estava começando a penetrar fundo em sua mente. A primeira tarefa se aproximava, o garoto tinha a sensação de que ela estava de tocaia logo ali, como um monstro aterrorizante, barrando o seu avanço. Nunca se sentira tão nervoso, ultrapassava muito qualquer sentimento que tinha experimentado antes de uma partida de Quadribol, até mesmo a última contra a Sonserina, que decidira quem ganharia a Taça de Quadribol.
Harry estava achando difícil pensar no futuro, sentia que a sua vida inteira o conduzira à primeira tarefa e nela terminaria...
Assim sendo, não via como Sirius ia fazê-lo se sentir melhor com relação à realização de uma tarefa mágica difícil e perigosa, diante de centenas de pessoas, mas a simples visão de um rosto amigo já seria alguma coisa neste momento.
Harry respondeu a Sirius, dizendo que estaria ao pé da lareira da sala comunal à hora que o padrinho sugerira, e que ele e Hermione tinham passado muito tempo revendo planos para obrigar os retardatários a abandonar a sala na noite em questão. Na pior das hipóteses, iam detonar um pacote de bombas de bosta, mas esperavam não ter recorrer a isso — Filch os esfolaria vivos.
Entrementes, a vida se tornou ainda pior para Harry dentro dos limites do castelo, pois Rita Skeeter publicara seu artigo sobre o Torneio Tribruxo, que afinal não fora tanto uma notícia sobre o torneio, mas uma versão da vida de Harry extremamente pitoresca.
Quase toda a primeira página fora ocupada por uma foto de Harry; o artigo (que continuava nas páginas dois, seis e sete) só falava no garoto, os nomes dos campeões da Beauxbatons e Durmstrang (errados) tinham sido espremidos na última linha do artigo, e Cedrico sequer fora mencionado.
O artigo saíra havia dez dias e Harry ainda era assaltado por uma ardência de náusea e vergonha no estômago todas as vezes que pensava nele. Rita Skeeter pusera em sua boca uma porção de coisas que ele sequer lembrava ter dito na vida, muito menos no armário de vassouras.

"Acho que herdo a minha força dos meus pais, sei que eles teriam muito orgulho de mim se me vissem agora... é às vezes à noite ainda choro a perda deles, não tenho vergonha de admitir... Que nada me acontecerá de mal durante o torneio, porque eles estarão me protegendo...”

Mas Rita fizera mais do que transformar os "hums" dele em frases longas e piegas, entrevistara outras pessoas para saber o que pensavam dele.

"Harry finalmente encontrou carinho em Hogwarts. Seu amigo íntimo, Colin Creevey diz que o garoto raramente é visto sem companhia de Hermione Granger, uma linda menina nascida trouxa que, como Harry, é uma das primeiras alunas da escola”.

Do momento em que o artigo apareceu, Harry teve que aturar colegas — principalmente os da Sonserina — que o citavam, caçoando, quando ele passava.
— Quer um lencinho, Potter, caso comece a chorar na aula de Transformação?
— Desde quando você é um dos primeiros alunos da escola, Potter? Ou será que a escola é uma escola que você e o Longbottom fundaram?
— Ei... Harry!
— É, verdade, sim — Harry viu-se gritando, ao se virar no corredor, já cheio. — Morri de chorar pela morte da minha mamãezinha, e estou indo chorar um pouco mais...
— Não... Foi só que... Você deixou cair a pena.
Era Cho. Harry sentiu o rosto corar.
— Ah... Certo... Desculpe — murmurou recebendo a pena.
— Hum... Boa sorte na terça-feira — disse a garota. — Espero sinceramente que você se dê bem.
O que fez Harry se sentir extremamente idiota.
Hermione também ganhara sua quota de aborrecimentos, mas ainda não começara a berrar com gente inocente, de fato, Harry enchia-se de admiração pela maneira com que a amiga estava enfrentando a situação.
— Linda? Ela?— gritara Pansy Parkinson com a voz esganiçada, a primeira vez que encontrou Hermione, depois que o artigo da Rita Skeeter fora publicado. — Qual foi o padrão de beleza, um esquilo?
— Não liga — disse Hermione com dignidade, erguendo a cabeça no ar e passando pelas garotas da Sonserina que zombavam, como se não as ouvisse. — Simplesmente não liga, Harry.
Mas Harry não conseguia se desligar. Rony não falara com ele desde o dia do recado sobre as detenções de Snape. Harry alimentara uma certa esperança de que fizessem as pazes durante as duas horas em que foram forçados a preparar conservas de miolos de ratos na masmorra, mas isto fora no dia em que o artigo de Rita Skeeter aparecera, o que parecia confirmar a crença de Rony de que Harry estava realmente gostando de toda aquela atenção.
Hermione estava furiosa com os dois, ia de um para outro, tentando forçá-los a se falarem, mas Harry permanecia inflexível, só voltaria a falar com Rony se o amigo admitisse que ele não pusera o nome no Cálice de Fogo, e pedisse desculpas por tê-lo chamado de mentiroso.
— Não fui eu que comecei — disse Harry teimosamente. — O problema é dele.
— Você sente falta dele! — tornou Hermione impaciente. — E eu sei que ele sente falta de você...
— Sinto falta dele? Eu não sinto falta dele...
Mas isto era uma mentira deslavada. Harry gostava muito de Hermione, mas ela não era o mesmo que Rony. Havia muito menos risos e muito mais visitas à biblioteca quando Hermione era sua melhor amiga. Harry ainda não conseguira dominar osFeitiços Convocatórios, parecia ter desenvolvido uma espécie de bloqueio com relação a eles, e Hermione insistia que aprender a teoria ajudaria.
Conseqüentemente, passavam mais tempo lendo livros durante a hora do almoço. Vítor Krum passava um tempão na biblioteca, também, e Harry ficava imaginando o que é que ele andava fazendo. Estaria estudando ou procurando coisas que o ajudassem na primeira tarefa?
Hermione muitas vezes se queixava de Krum estar ali — não que ele jamais os incomodasse, mas porque aparecia sempre um grupo de garotas dando risadinhas bobas para espioná-lo atrás das estantes, e Hermione achava que aquele barulho a distraía.
— Ele nem ao menos é bonito! — murmurava ela aborrecida, mirando de cara amarrada o perfil adunco de Krum. — Elas só gostam dele porque é famoso! Não olhariam duas vezes se ele não fosse capaz de fazer aquele tal de Fingimento Wonky...
— Finta de Wronski — corrigiu Harry entre dentes. Sem contar que o garoto gostava que dissessem corretamente os termos do Quadribol, sentia uma pontada só de imaginar a expressão de Rony se ele pudesse ouvir Hermione falando de Fingimentos Wonky.
É uma coisa estranha, mas quando se está com medo de alguma coisa, e se daria tudo para retardar o tempo, ele tem o mau hábito de correr. Os dias que faltavam para a primeira tarefa pareciam passar como se alguém tivesse ajustado os relógios para trabalharem em velocidade dobrada. A sensação de pânico mal controlado que Harry tinha acompanhava-o para onde fosse, sempre presente como os comentários depreciativos sobre o artigo do Profeta Diário.
No sábado que antecedeu a primeira tarefa, todos os estudantes do terceiro ano, e acima, tiveram permissão para visitar o povoado de Hogsmeade. Hermione disse a Harry que lhe faria bem sair um pouco do castelo e o garoto não precisou de muita persuasão.
— Mas e o Rony? Você não quer ir com ele?
— Ah... Bem... — Hermione ficou ligeiramente vermelha. — Pensei que a gente podia se encontrar com ele no Três Vassouras...
— Não — disse Harry em tom definitivo.
— Ah, Harry, isso é tão bobo...
— Eu vou, mas não quero me encontrar com o Rony, e vou usar a minha Capa da Invisibilidade.
— Ah, tudo bem, então... — retorquiu Hermione —, mas odeio falar com você naquela capa, nunca sei se estou olhando para você ou não.
Então Harry vestiu a Capa da Invisibilidade no dormitório e tornou a descer e, juntos, ele e a amiga seguiram para Hogsmeade.
— Harry se sentiu maravilhosamente livre sob a capa, observou os estudantes que passavam por eles na entrada do povoado, a maioria usando distintivos “Apóie CEDRICO DIGGORY”, mas, para variar, ninguém atirou piadas horríveis para ele nem citou aquele artigo idiota.
— As pessoas não param de olhar para mim agora — reclamou Hermione, ao saírem mais tarde da Dedosdemel, comendo uma grande quantidade de bombons recheados de creme. — Acham que estou falando sozinha.
— Então não mexa tanto os lábios.
— Ah vai, por favor, tira um pouco a sua capa. Ninguém vai incomodar você aqui.
— Ah, é? Então olha para trás.
Rita Skeeter e seu amigo fotógrafo acabavam de sair do bar Três Vassouras. Conversavam em voz baixa e passaram por Hermione sem olhar para a garota. Harry se encostou à parede da Dedosdemel para evitar que Rita Skeeter batesse nele com a bolsa de crocodilo. Quando os dois se afastaram, Harry comentou:
— Ela está hospedada no povoado. Aposto como vai assistir à primeira tarefa.
Ao dizer isso, seu estômago foi inundado por uma onda de pânico derretido. Mas não disse nada, ele e Hermione não tinham discutido muito o que o aguardava na primeira tarefa; tinha a sensação de que a amiga não queria pensar no assunto.
— Ela já foi embora — disse Hermione olhando através de Harry em direção à rua principal. — Por que não vamos tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras? Está um pouco frio, não está? Você não precisa falar com o Rony! — acrescentou com irritação, interpretando corretamente o silêncio dele.
O Três Vassouras estava lotado, principalmente com alunos de Hogwarts que aproveitavam a tarde livre, mas também com uma variedade de gente mágica que Harry raramente via em outro lugar. Ele imaginava que sendo Hogsmeade o único povoado inteiramente mágico da Grã-Bretanha constituía uma espécie de refúgio para gente como as bruxas, que não gostavam tanto de se disfarçar quanto os bruxos.
Era difícil caminhar entre muita gente com a Capa da Invisibilidade, pois se pisasse em alguém sem querer, poderia provocar perguntas embaraçosas. Harry dirigiu-se com cautela a uma mesa vazia a um canto e Hermione foi comprar as bebidas. Quando atravessava o bar, Harry viu Rony sentado com Fred, Jorge e Lino Jordan. Resistindo ao impulso de dar um bom tranco na cabeça de Rony, ele finalmente chegou à mesa escolhida e se sentou. Hermione não demorou a se juntar a ele e lhe passou a cerveja por baixo da capa.
— Pareço uma idiota sentada aqui sozinha — resmungou ela. — Por sorte trouxe alguma coisa para fazer.
E a garota puxou um caderno em que andava mantendo um registro dos participantes do F.A.L.E.
Harry viu os nomes dele e de Rony no alto de uma pequena lista. Parecia que fora há muito tempo que tinham se sentado para fazer aquelas predições, juntos, e Hermione aparecera e os nomeara secretário e tesoureiro.
— Sabe, talvez eu deva tentar fazer alguns habitantes do povoado participarem do F.A.L.E. — disse Hermione pensativa, dando uma olhada no bar.
— É, certo. — Harry tomou um gole da cerveja amanteigada embaixo da capa. — Hermione quando é que você vai desistir dessa história de F.A.L.E.?
— Quando os elfos domésticos tiverem salários decentes e condições de trabalho! — sibilou ela em resposta. — Sabe, eu estou começando a achar que chegou a hora de partir para uma mais direta. Como será que a gente chega à cozinha da escola?
— Não faço idéia, pergunte ao Fred e ao Jorge — disse Harry.
Hermione mergulhou num silêncio pensativo, enquanto Harry bebia a cerveja amanteigada, observando as pessoas no bar. Todas pareciam animadas e descontraídas.
Ernesto MacMillan e Ana Abbott trocavam figurinhas dos Sapos de Chocolate em uma mesa próxima, os dois usando os distintivos “Apóie CEDRICO DIGGORY” nas capas. Perto da porta, Harry viu Cho e um grande grupo das colegas da Corvinal. Mas ela não usava o distintivo... isto o animou um pouquinho... O que ele não daria para ser uma daquelas pessoas que riam e conversavam, sem nenhuma preocupação no mundo exceto o dever de casa!
Imaginou como estaria se sentindo ali se o seu nome não tivesse sido escolhido peloCálice de Fogo. Primeiro não estaria usando a Capa da Invisibilidade, segundo, Rony estaria sentado com ele. Os três provavelmente estariam felizes imaginando que tarefa mortalmente perigosa os campeões das escolas iriam enfrentar na terça-feira. Ele estaria realmente ansioso para chegar a hora de assistir ao que quer que fosse... Torcendo por Cedrico com todos os outros, sentado são e salvo no alto das arquibancadas...
Harry ficou imaginando como estariam se sentindo os outros campeões.
Todas as vezes que via Cedrico ultimamente, o garoto estava cercado de admiradores e parecia nervoso, mas excitado. De vez em quando Harry via Fleur Delacour de relance nos corredores, tinha a mesma aparência de sempre, arrogante e imperturbável.
E Krum simplesmente ficava sentado na biblioteca, examinando livros.
Harry pensou em Sirius, e o nó apertado e tenso em seu peito pareceu afrouxar um pouquinho. Estaria falando com o padrinho em pouco mais de doze horas, pois aquela era a noite em que iam se encontrar na sala comunal — presumindo que nada saísse errado, como tudo o mais ultimamente...
— Olha, é Hagrid! — disse Hermione.
As costas da enorme cabeça peluda de Hagrid — graças a Deus ele abandonara o novo penteado — sobressaía na aglomeração. Harry se perguntou por que não o teria visto logo, já que seu amigo era tão grande, mas se levantando cautelosamente, viu que Hagrid estivera curvado, conversando com o Professor Moody. Tinha o costumeiro canecão diante dele, mas Moody bebia da garrafa de bolso. Madame Rosmerta, a bonita dona do bar, não parecia estar gostando muito disso; olhava enviesado para Moody enquanto recolhia os copos das mesas ao redor dos dois homens. Talvez achasse que aquilo era um insulto ao seu quentão, mas Harry sabia a explicação. Moody contara à turma na última aula de Defesa contra as Artes das Trevas que ele sempre preferia preparar sua comida e bebida, pois era muito fácil para bruxos das trevas envenenarem um copo momentaneamente descuidado.
Enquanto Harry observava, viu Hagrid e Moody se levantarem para sair. Ele acenou, depois se lembrou de que o amigo não podia vê-lo. Moody, porém, parou, seu olho mágico virado para o canto em que Harry estava. Ele deu um tapinha no meio das costas de Hagrid (não conseguindo alcançar seu ombro), murmurou alguma coisa e, em seguida, os dois tornaram a atravessar o bar em direção à mesa de Harry e Hermione.
— Tudo bem, Hermione? — disse Hagrid em voz alta.
— Olá — respondeu a garota sorrindo.
Moody contornou a mesa mancando e se abaixou, Harry pensou que ele estava lendo o caderno do F.A.L.E., até ele murmurar:
— Bela capa, Potter.
Harry encarou-o espantado. O pedaço que faltava do nariz de Moody era particularmente visível à curta distância. Moody sorriu.
— O seu olho... Quero dizer, o senhor pode...?
— Claro, ele vê através de Capas da Invisibilidade — disse Moody baixinho. — E, às vezes, isso me tem sido útil, pode acreditar.
Hagrid estava sorrindo para Harry, também. Este sabia que o amigo não podia vê-lo, mas Moody obviamente dissera a Hagrid que o garoto estava ali.
Hagrid se abaixou sob o pretexto de ler o caderno do F.A. L.E. também, e disse num sussurro tão baixo que somente Harry pôde ouvir.
— Harry, me encontre hoje à meia-noite na minha cabana. Use a capa.
Erguendo-se, falou em voz alta:
— Que bom ver você, Hermione — piscou e saiu. Moody acompanhou-o.
— Por que será que ele quer que eu vá encontrá-lo à meia-noite? — perguntou Harry muito surpreso.
— Ele quer? — disse Hermione, parecendo espantada. — Que será que ele está aprontando? Não sei se você deve ir, Harry... — Ela espiou para os lados nervosamente e sibilou: — Talvez você se atrase para ver Sirius.
Era verdade que descer pelos jardins à meia-noite até a casa de Hagrid significava voltar em cima da hora para o encontro com Sirius, Hermione sugeriu que ele mandasse Edwiges a Hagrid para dizer que não podia ir — sempre supondo que a coruja consentisse em levar o bilhete, é claro —, Harry, porém, achou melhor ir ver rapidamente o que o amigo queria. Estava muito curioso com o que poderia ser, Hagrid nunca pedira a Harry para visitá-lo tão tarde da noite.
Às onze e meia daquela noite, Harry, que fingira ir se deitar mais cedo, jogou a Capa da Invisibilidade por cima do corpo e saiu sorrateiramente pela sala comunal. Ainda havia muitos colegas lá.
Os irmãos Creevey tinham conseguido pôr as mãos em uma pilha de distintivos “Apóie CEDRICO DIGGORY” e estavam tentando enfeitiçá-los para fazê-los dizer, ao invés, “Apóie HARRY POTTER”. Até ali, porém, só tinham conseguido fazer os distintivos enguiçarem em “POTTER FEDE”. Harry passou por eles em direção ao buraco do retrato e esperou um minuto mais ou menos, de olho no relógio. Depois, Hermione abriu a Mulher Gorda pelo lado de fora conforme tinham planejado. Ele passou pela amiga murmurando "Obrigado!", e saiu pelo castelo.
Os jardins estavam muito escuros. Harry desceu os gramados em direção às luzes que brilhavam na cabana de Hagrid. O interior da enorme carruagem da Beauxbatons também estava aceso, Harry podia ouvir Madame Maxime falando lá dentro, quando bateu na porta de Hagrid.
— É você aí, Harry? — sussurrou Hagrid, abrindo a porta e espiando para os lados.
— Sou — disse Harry, entrando na cabana e tirando a capa de cima da cabeça. — Que é que está havendo?
— Tenho uma coisa para lhe mostrar.
Havia um ar de enorme excitação em Hagrid. Ele usava uma flor que lembrava uma alcachofra exagerada na botoeira. Parecia que tinha abandonado o uso da graxa de eixo, mas certamente tentara pentear os cabelos — dava para Harry ver os dentes partidos do pente presos neles.
— Que é que você vai me mostrar? — disse Harry cauteloso, se perguntando se osexplosivins teriam posto ovos ou se Hagrid teria conseguido comprar outro enorme cão de três cabeças de algum estranho no bar.
— Venha comigo, fique quieto e coberto com a capa — disse Hagrid. — Não vamos levar Canino, ele não vai gostar...
— Olhe, Hagrid, não posso demorar... Tenho que estar de volta no castelo porque à uma hora...
Mas Hagrid não estava ouvindo, estava abrindo a porta da cabana e saindo.
Harry correu para acompanhá-lo, mas descobriu, para sua grande surpresa, que Hagrid o levava para a carruagem da Beauxbatons.
— Hagrid que...?
— Psiu! — disse ele ao bater três vezes na porta com varinhas de ouro cruzadas.
Madame Maxime abriu-a. Usava um xale de seda envolvendo os ombros maciços. Ela sorriu quando viu Hagrid.
— Ah, Agrrid... Já está na horta?
— Bom suar — disse Hagrid, sorrindo para ela e estendendo a mão para ajudá-la a descer os degraus dourados. Madame Maxime fechou a porta, Hagrid lhe ofereceu o braço, e os dois saíram contornando o picadeiro que guardava os gigantescos cavalos alados de Madame Maxime, e Harry totalmente perplexo, correu para acompanhá-los. Será que Hagrid queria lhe mostrar Madame Maxime? Poderia vê-la quando quisesse... Ela não era exatamente uma pessoa que passasse despercebida... Mas parecia que Madame Maxime ia ter a mesma surpresa que Harry porque, passado algum tempo, ela disse em tom de brincadeira:
— Aonde é que você está me levando, Agrid?
— Você vai gostar — disse Hagrid rouco. — Vale a pena ver, confie em mim. Só que não pode sair por aí contando que eu lhe mostrei, certo? Não era para ninguém saber.
— Claro que não — disse Madame Maxime, batendo as longas pestanas negras.
E eles continuavam a caminhar, Harry cada vez mais irritado enquanto corria no encalço dos dois, consultando o relógio de quando em quando. Hagrid tinha algum plano biruta em mente, que talvez o fizesse perder o encontro com Sirius. Se não chegassem depressa aonde iam, ele ia dar meia-volta e rumar direto para o castelo, deixando Hagrid aproveitar o passeio ao luar com Madame Maxime...
Mas então — quando tinham se distanciado tanto ao longo da perímetro da Floresta que o castelo e o lago desapareceram de vista — Harry ouviu alguma coisa. Havia homens gritando adiante... Depois ouviram um rugido ensurdecedor, de rachar os tímpanos...
Hagrid fez Madame Maxime dar a volta a um arvoredo e parou. Harry correu a se juntar aos dois — por uma fração de segundo achou que estava vendo fogueiras e homens que corriam em torno delas —, então seu queixo caiu.
Dragões.
Quatro dragões adultos, enormes, de aspecto feroz empinavam-se nas patas traseiras, dentro de um cercado feito com grossa pranchas de madeira, rugindo e bufando — torrentes de fogo erguiam quinze metros para o céu escuro de suas bocas abertas cheias de dentes, no alto de pescoços esticados. Havia um azul prateado com chifres longos e pontiagudos, que rosnava para os bruxos no chão e tentava mordê-los, outro de escamas lisas e verdes, que se contorcia e batia as patas com toda a força, um vermelho, com uma estranha franja de belas pontas de ouro ao redor do focinho, que soprava para o ar nuvens de fogo em forma de cogumelo, e um último negro e gigantesco, mais parecido com um lagarto do que os demais, que era o mais próximo.
No mínimo uns trinta bruxos, sete ou oito para cada dragão, tentavam controlá-los, puxando correntes presas a grossas tiras de couro em volta dos pescoços e das pernas dos bichos. Hipnotizado, Harry olhou bem para o alto e viu os olhos do dragão negro, com pupilas verticais como as de um gato, arregalados de medo ou de fúria, não saberia dizer qual... Fazia um barulho terrível, um uivo penetrante...
— Fique aí, Hagrid! — berrou um bruxo junto à cerca, puxando com força a corrente que segurava. — Eles podem cuspir fogo a uma distância de seis metros, sabe! Já vi este Rabo-Córneo chegar a doze!
— Ele não é lindo? — perguntou Hagrid baixinho.
— Não adianta! — berrou outro bruxo. — Feitiço Estuporante quando eu contar três!
Harry viu cada um dos guardadores de dragões puxar a varinha.
— Estupefaça! — gritaram eles em uníssono, e os feitiços dispararam pela escuridão como foguetes chamejantes, explodindo em chuvas de estrelas sobre os couros escamosos dos dragões...
Harry observou o mais próximo deles balançar nas pernas traseiras, as mandíbulas se escancararam em um súbito uivo silencioso, as narinas subitamente se apagaram, embora ainda fumegassem — depois, muito lentamente, o bicho caiu —, várias toneladas de dragão negro, musculoso, coberto de escamas, desabaram no chão com um baque que, Harry poderia jurar, fizera as árvores atrás dele estremecerem.
Os guardadores de dragões baixaram as varinhas e avançaram até os bichos caídos, cada um destes do tamanho de um morro. Os bruxos se apressaram a esticar as correntes e a prendê-las firmemente em estacas de ferro, que eles enterraram bem fundo no chão, com suas varinhas.
— Quer dar uma olhada de perto? — Hagrid perguntou excitado à Madame Maxime.
Os dois se aproximaram da cerca e Harry os acompanhou. O bruxo que alertara Hagrid para não se aproximar se virou e Harry viu quem era, Carlinhos Weasley.
— Tudo bem, Hagrid? — ofegou ele, aproximando-se para falar. — Devem estar OK agora, demos a eles uma poção para dormir durante a viagem, achei que seria melhor acordarem quando estivesse escuro e tranqüilo, mas, como você viu, eles não ficaram felizes, não ficaram nada felizes...
— Que raças você tem aqui, Carlinhos? — perguntou Hagrid, examinando o dragão mais próximo, o negro, com uma atitude próxima à reverência. Os olhos do bicho ainda estavam ligeiramente abertos.
Harry pôde ver um risco amarelo e brilhante sob a pálpebra enrugada e escura.
— É um Rabo-Córneo húngaro — informou Carlinhos. — Tem um Verde-Galês comum lá adiante, o menor deles, um Focinho Curto sueco, aquele cinzento azulado e o Meteoro-Chinês, aquele outro vermelho.
Carlinhos olhou para o lado, Madame Maxime estava caminhando ao longo do cercado, examinando os dragões estuporados.
— Eu não sabia que você ia trazer ela, Hagrid — disse Carlinhos franzindo a testa. — Os campeões não podem saber o que os espera, ela com certeza vai contar à campeã de Beauxbatons, não vai?
— Só achei que ela gostaria de ver os dragões — respondeu Hagrid encolhendo os ombros, ainda contemplando embevecido os dragões.
— Um encontro realmente romântico, Hagrid — comentou Carlinhos balançando a cabeça.
— Quatro... — contou Hagrid — então é um para cada campeão? Que é que eles vão ter de fazer, lutar com eles?
— Só passar por eles, acho. Estaremos por perto se a coisa ficar feia, prontos para lançar Feitiços de Extinção. Pediram dragões em época de nidificação, não sei o porquê... Mas vou lhe dizer uma coisa, eu não invejo o campeão que pegar o Rabo-Córneo. Bicho feroz. A extremidade de trás é tão perigosa quanto a da frente — olha Carlinhos apontou para o rabo do dragão e Harry viu que, em intervalos de uns poucos centímetros, havia chifrinhos compridos cor de bronze. Cinco dos colegas guardadores de Carlinhos cambaleavam até o Rabo-Córneo naquele momento, transportando, juntos, uma ninhada de ovos em um cobertor. Depositaram sua carga, cuidadosamente, do lado do Rabo-Córneo.
Hagrid deixou escapar um gemido de saudade.
— Eu contei todos, Hagrid — disse Carlinhos com severidade. Depois perguntou: — Como vai o Harry?
— Ótimo — respondeu Hagrid. Continuava a admirar os ovos.
— Faço votos de que continue ótimo depois de enfrentar esses bichos — disse Carlinhos muito sério, contemplando o cercado dos dragões. — Não tive coragem de contar à mamãe qual vai ser a primeira tarefa dele, ela já está tendo gatinhos por antecipação... — Carlinhos imitou a voz ansiosa da mãe: — "Como eles puderam deixá-lo entrar nesse torneio, ele é criança demais! Pensei que estivessem todos seguros, pensei que ia haver um limite de idade!" Ela está se acabando de chorar por causa daquele artigo do Profeta Diário. — "Ele ainda chora a perda dos pais! Ah, que Deus o abençoe, eu não sabia!”
Para Harry já era o bastante. Confiando que Hagrid não sentiria falta dele, com os dragões e Madame Maxime para ocupar sua atenção, ele se virou silenciosamente e começou a caminhar de volta ao castelo.
Não sabia se estava ou não contente de ter visto o que o esperava. Talvez assim fosse melhor. O primeiro choque passara agora. Talvez se visse os dragões pela primeira vez na terça-feira, tivesse caído duro diante de toda a escola... Mas quem sabe desmaiaria assim mesmo... Estaria armado com a varinha — que neste momento lhe parecia apenas uma ripinha de madeira — contra um dragão de quinze metros de altura, coberto de escamas e chifres, que cuspia fogo. E precisava passar pelo bicho. Com todo mundo olhando. Como?
Harry se apressou, contornando a orla da floresta, tinha menos de quinze minutos para chegar à lareira e falar com Sirius, e não se lembrava de ter jamais sentido maior vontade de falar com alguém do que naquele momento — quando, sem aviso, bateu em alguma coisa muito sólida.
Harry caiu de costas, os óculos tortos, apertando a capa em torno do corpo.
Uma voz próxima exclamou:
— Ai! Quem está aí?
Harry verificou depressa se a capa o cobria inteiramente e ficou imóvel, olhando espantado para a silhueta do bruxo com quem colidira. Reconheceu a barbicha... Era Karkaroff.
— Quem está aí? — tornou a perguntar Karkaroff, olhando muito desconfiado para os lados, no escuro. Harry continuou imóvel e calado. Passado pouco mais de um minuto, Karkaroff pareceu ter concluído que batera em algum bicho, olhava para baixo da cintura, como se esperasse ver um cachorro.
Depois tornou a procurar, sorrateiramente, a sombra das árvores, e rumou para o local em que se encontravam os dragões.
Muito lenta e cautelosamente, Harry se levantou e continuou seu caminho, o mais rápido que pôde, sem fazer muito barulho, correndo pela escuridão de volta a Hogwarts.
Não tinha a menor dúvida do que Karkaroff ia fazer. Tinha saído escondido do navio para tentar descobrir qual seria a primeira tarefa, Talvez até tivesse visto Hagrid e Madame Maxime rumando para a Floresta juntos — não era nada difícil identificá-los à distância... E agora só o que Karkaroff precisava fazer era seguir o ruído das vozes e ele, tal como Madame Maxime, saberia o que aguardava os campeões. Pelo jeito, o único campeão que ia enfrentar o desconhecido na terça-feira era Cedrico.
Harry alcançou o castelo, passou despercebido pelas portas de entrada e começou a subir os degraus de mármore; estava muito ofegante, mas não se atrevia a diminuir o passo... Tinha menos de cinco minutos para chegar à lareira...
— Asnice! — ofegou ele para a Mulher Gorda, que tirava um cochilo na moldura do quadro que encobria o buraco.
— Se você assim diz — murmurou ela sonolenta, sem abrir os olhos, e o quadro girou para frente para admitir o garoto. Harry entrou. A sala comunal estava deserta e, a julgar pelo fato de que tinha o cheiro de sempre, Hermione não precisara soltar nenhuma bomba de bosta para garantir que ele e Sirius tivessem alguma privacidade.
Harry tirou a Capa da Invisibilidade e se largou em uma poltrona diante da lareira. A sala estava na penumbra e as chamas eram a única fonte de luz.
Próximo, sobre uma mesa, os distintivos “Apóie CEDRICO DIGGORY” que os Creevey tinham tentado melhorar brilhavam à claridade da lareira. Agora diziam “POTTER REALMENTE FEDE”. Harry tornou a voltar sua atenção para chamas e levou um susto.
A cabeça de Sirius flutuava sobre as chamas. Se Harry não tivesse visto o Sr. Diggory fazer exatamente o mesmo na cozinha do Weasley, teria se apavorado. Em vez disso, seu rosto se iluminou com o primeiro sorriso que dava em dias, ele deixou a poltrona, foi se agachar diante da lareira e disse:
— Sirius, como é que você vai indo?
Sirius tinha a aparência diferente da que Harry se lembrava. Da outra vez, quando se despediram, o rosto do padrinho estava magérrimo e fundo, emoldurado por uma juba de cabelos compridos, negros e embaraçados — mas seus cabelos estavam curtos e limpos agora, o rosto mais cheio e ele parecia mais jovem, e mais semelhante à única fotografia que Harry tinha dele, e que fora tirada no casamento dos Potter.
— Eu não sou importante, como vai você? — perguntou Sirius sério.
— Estou... — Por um segundo, Harry tentou dizer "ótimo", mas não conseguiu.
Antes que pudesse se refrear, estava falando mais do que falara em dias, que ninguém acreditava que não tinha se inscrito no torneio voluntariamente, que Rita Skeeter publicara mentiras sobre ele no Profeta Diário, que não podia andar pelos corredores sem caçoarem dele, e que seu amigo Rony não acreditava nele, e tinha ciúmes... “E agora Hagrid acabou de me mostrar qual vai ser a primeira tarefa, e são dragões, Sirius, e estou perdido", terminou ele desesperado.
Sirius observava o garoto com os olhos cheios de preocupação, que ainda conservavam a expressão que Azkaban lhes dera — aquela expressão fantasmagórica e mortiça. Deixara Harry terminar de falar sem interrupção, mas agora disse:
— Dragões a gente pode dar um jeito, Harry, mas falaremos disso em um minuto, não posso me demorar muito aqui... Arrombei uma casa de bruxos para usar a lareira, mas eles podem voltar a qualquer momento. Tem coisas de que preciso alertá-lo.
— Quais? — perguntou Harry, sentindo seu ânimo afundar alguns pontos... Com certeza não poderia haver nada pior do que dragões à espera?
— Karkaroff — disse Sirius. — Harry, ele era um dos Comensais da Morte. Você sabe o que é isso, não sabe?
— Sei, ele... Quê?
— Ele foi apanhado, esteve em Azkaban comigo, mas foi libertado. Aposto o que quiser que foi essa a razão de Dumbledore querer ter um auror em Hogwarts este ano, para ficar de olho nele. Moody foi quem pegou Karkaroff. Foi o primeiro que trancafiou em Azkaban.
— Karkaroff foi libertado? — perguntou o garoto lentamente, seu cérebro parecia estar lutando para absorver mais uma informação chocante. — Por que foi que libertaram ele?
— Ele fez um acordo com o Ministério da Magia — disse Sirius amargurado. — Ele fez uma declaração admitindo que errara e então revelou nomes... E mandou uma porção de outras pessoas para Azkaban em lugar dele... Ele não é muito popular por lá, isso eu posso afirmar. E desde que saiu, pelo que sei, tem ensinado Artes das Trevas a cada estudante que passa pela escola dele. Por isso tenha cuidado com o campeão de Durmstrang também.
— OK — disse Harry devagar. — Mas... Você está dizendo que Karkaroff pôs meu nome no Cálice? Porque se fez isso, ele é realmente um bom ator. Parecia furioso com o acontecido. Queria me impedir de competir.
— Sabemos que ele é um bom ator — respondeu Sirius — porque convenceu o Ministério da Magia a libertá-lo, não é? Agora, tenho acompanhado o Profeta Diário, Harry...
— Você e o resto do mundo — disse o garoto com amargura.
—... E lendo nas entrelinhas do artigo que aquela tal de Skeeter publicou no mês passado, Moody foi atacado na véspera de se apresentar para trabalhar em Hogwarts. É, sei que ela diz que foi mais um alarme falso — acrescentou Sirius depressa, ao ver Harry fazer menção de falar —, mas tenho a impressão de que não foi. Acho que alguém tentou impedi-lo de chegar a Hogwarts. Acho que alguém sabia que seria muito mais difícil agir com ele por perto. E ninguém vai investigar muito. Olho-Tonto andou ouvindo estranhos, vezes demais. Mas isto não significa que tenha se tornado incapaz de identificar a coisa verdadeira. Moody foi o melhor auror que o Ministério já teve.
— Então... Que é que você está me dizendo? — perguntou o garoto hesitante.
— Karkaroff vai tentar me matar? Mas... Por quê?
Sirius hesitou.
— Tenho ouvido coisas muito estranhas — disse pausadamente. — Os Comensais da Morte parecem andar um pouco mais ativos do que o normal ultimamente. Mostraram-se publicamente na Copa Mundial de Quadribol, não foi? Alguém projetou a Marca Negra no céu... E, além disso, você ouviu falar na bruxa do Ministério da Magia que está desaparecida?
— Berta Jorkins?
— Exatamente... Ela desapareceu na Albânia, e sem dúvida foi lá que diziam ter visto Voldemort pela última vez... E ela saberia que ia haver um Torneio Tribruxo, não é?
— É, mas... Não é muito provável que ela tivesse dado de cara com Voldemort, ou é?
— Ouça, eu conheci Berta Jorkins — disse Sirius sério. — Esteve em Hogwarts no meu tempo, alguns anos mais adiantada do que seu pai e eu. E era uma idiota. Muito bisbilhoteira, mas completamente desmiolada. Não é uma boa combinação, Harry. Eu diria que ela poderia ser facilmente atraída para uma arapuca.
— Então... Então Voldemort poderia ter descoberto tudo sobre o torneio? É isso que você quer dizer? Você acha que Karkaroff poderia estar aqui por ordem dele?
— Não sei — disse Sirius lentamente. — Não sei... Karkaroff não me parece o tipo que voltaria para Voldemort a não ser que soubesse que o lorde teria poder suficiente para protegê-lo. Mas quem pos o seu nome no Cálice de Fogo fez isso de caso pensado, e não posso deixar de achar que o torneio seria uma boa ocasião para atacar você e fazer parecer que foi um acidente.
— Até onde posso ver, parece um plano muito bom — disse Harry desolado. — Só precisam sentar–se e esperar que os dragões façam o serviço por eles.
— Certo... Esses dragões — disse Sirius, falando agora muito rapidamente. — Tem um jeito, Harry. Não ceda à tentação de usar um Feitiço Estuporante, os dragões são fortes, e têm demasiado poder mágico para serem nocauteados por um único feitiço. É preciso meia dúzia de bruxos para dominar um dragão...
— É, eu sei, acabei de ver — disse Harry.
— Mas você pode dar conta sozinho — disse Sirius. — Tem um jeito e só precisa de um feitiço simples. Basta...
Mas Harry ergueu a mão para silenciá-lo, seu coração disparara subitamente como se quisesse explodir. Ouvira passos que desciam a escada circular às costas dele.
— Vá! — sibilou Sirius. — Vá! Tem alguém chegando!
Harry levantou-se depressa, escondendo as chamas com o corpo — se alguém visse o rosto de Sirius entre as paredes de Hogwarts, faria um estardalhaço dos diabos — o Ministério seria chamado, ele, Harry, seria interrogado sobre o paradeiro de Sirius...
O garoto ouviu um estalido nas chamas atrás dele e soube que Sirius se fora — observou a escada circular —, quem teria resolvido dar um passeio a uma hora da manhã e impedira Sirius de lhe dizer como passar por um dragão?
Era Rony. Vestido com seu pijama marrom estampado de plumas, ele parou de chofre ao ver Harry do lado oposto da sala e olhou para os lados.
— Com quem você estava falando? — perguntou.
— E isso é da sua conta? — rosnou Harry. — Que é que você está fazendo aqui embaixo a essa hora da noite?
— Fiquei imaginando onde você... — E parou, encolhendo os ombros. — Nada, vou voltar para a cama.
— Achou que poderia vir bisbilhotar, não foi? — gritou Harry. Ele sabia que Rony sequer fazia idéia do que encontraria, sabia que não fizera de propósito, mas não estava ligando, naquele momento ele odiou tudo em Rony, até o pedaço de tornozelo que aparecia por baixo das calças do pijama.
— Sinto muito — disse Rony, ficando vermelho de raiva. — Eu devia ter percebido que você não queria ser perturbado. Vou deixar você continuar praticando em paz para a próxima entrevista.
Harry apanhou um dos distintivos ‘POTTER REALMENTE FEDE” da mesa e atirou-o com toda a força para o outro lado da sala. O distintivo acertou Rony na testa e ele cambaleou.
— Toma — disse Harry. — Uma coisa para você usar na terça-feira. Quem sabe você até arranja uma cicatriz agora, se tiver sorte... É o que você quer, não é?
E atravessou a sala, decidido, em direção à escada, de certa forma esperou que Rony o detivesse, teria até gostado que ele lhe tivesse dado um soco, mas ele ficou parado ali naquele pijama demasiado pequeno e Harry, tendo subido a escada furioso, ficou deitado na cama sem dormir, por muito tempo, mas não ouviu Rony vir se deitar.

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