Posted by : Unknown junho 04, 2014

Capítulo 18


— Umbridge anda lendo suas cartas, Harry. Não há outra explicação.
— Você acha que Umbridge atacou Edwiges? — perguntou ele, indignado.
— Tenho quase certeza — disse Hermione, séria. — Cuidado, o seu sapo está fugindo.
Harry apontou a varinha para o sapo que estava saltando, esperançoso, em direção à outra ponta da mesa:
— Accio! — e o bicho voou acabrunhado para a mão dele.
Feitiços era uma das melhores aulas para se bater um papinho particular; em geral, havia tanto movimento e atividade que o perigo de ser ouvido era mínimo. Hoje, com a sala cheia de sapos a coaxar e corvos a crocitar, além de um aguaceiro que bateu com força nas vidraças da sala, a conversa de Harry, Rony e Hermione, aos cochichos, sobre o quase sucesso de Umbridge em agarrar Sirius, passou despercebida.
— Ando suspeitando desde que Filch acusou você de ter encomendado Bombas de Bosta, porque achei aquilo uma mentira muito idiota — murmurou Hermione. — Quero dizer, uma vez que sua carta fosse lida, teria ficado muito claro que você não estava encomendando nada, então estava limpo: seria uma piada meio sem graça, não acha não? Então pensei: e se alguém quisesse apenas uma desculpa para ler suas cartas? Bom, então teria sido uma saída perfeita para a Umbridge fazer isso — dava a dica a Filch, deixava-o fazer o trabalho sujo de confiscar a carta, então, ou arranjava um jeito de roubar a carta dele ou exigia vê-la — acho que Filch não teria feito objeção. Quando foi que ele levantou a voz para defender o direito de um estudante? Harry, você está esganando seu sapo.
Harry olhou para baixo; estava de fato apertando o sapo com tanta força que os olhos do bicho saltavam das órbitas; ele o repôs imediatamente na mesa.
— Ontem à noite foi por um triz — disse Hermione. — Fico imaginando se a Umbridge sabe como chegou perto. Silencio!
O sapo em que ela estava praticando o Feitiço Silenciador ficou mudo no meio de uma coaxada, e lhe lançou um olhar de censura.
— Se ela tivesse apanhado o Snuffles...
Harry terminou a frase pela amiga.
—... Ele provavelmente estaria de volta a Azkaban hoje pela manhã. — E acenou a varinha sem realmente se concentrar; seu sapo inchou como um balão verde, e emitiu um silvo agudo.
— Silencio! — ordenou Hermione apontando depressa sua varinha para o sapo de Harry, que se esvaziou silenciosamente diante dos olhos deles. — Bom, ele não devia tentar de novo, é só isso. Só não sei é como vamos avisá-lo. Não podemos lhe mandar uma coruja.
— Acho que ele não se arriscaria outra vez — comentou Rony. — Sirius não é burro, sabe que ela quase o pegou. Silencio!
O enorme e feio corvo diante dele soltou um crocito debochado.
— Silencio! SILENCIO!
O corvo crocitou ainda mais alto.
— É o modo como você está usando sua varinha — disse Hermione, observando Rony criticamente. — Você não quer fazer um aceno, é mais uma estocada.
— Os corvos são mais difíceis do que os sapos — retrucou Rony, irritado.
— Ótimo, vamos trocar — disse Hermione, apanhando o corvo de Rony e substituindo-o pelo próprio sapo gordo. — Silencio! — O corvo continuou a abrir e fechar o bico afiado, mas não emitiu som algum.
— Muito bem, Srta. Granger! — exclamou a voz fraquinha do Prof. Flitwick, sobressaltando Harry, Rony e Hermione. — Agora, deixe-me ver o senhor experimentar, Sr. Weasley
— Que...? Ah... sim, senhor — disse Rony, muito atrapalhado. — Hum... Silencio!
Ele deu uma estocada tão forte no sapo que o espetou no olho: o sapo deu um crocito ensurdecedor e saltou fora da mesa.
Ninguém se surpreendeu que Harry e Rony tivessem recebido ordem de praticar o Feitiço Silenciador como dever de casa.
Os alunos tiveram permissão para continuar no interior da escola durante o intervalo, por força do temporal que desabava lá fora. Eles encontraram um lugar para sentar em uma sala barulhenta e cheia no primeiro andar, onde Pirraça flutuava, como se sonhasse, próximo ao lustre, soprando, a intervalos, uma pelota de tinta na cabeça de alguém. Nem bem haviam sentado quando Angelina apareceu, tentando passar pelos grupos de estudantes que conversavam, para se aproximar deles.
— Conseguimos a permissão! — anunciou. — Para reorganizar a equipe de quadribol!
— Ótimo! — disseram Rony e Harry juntos.
— Não é? — disse Angelina radiante. — Fui à McGonagall e acho que ela deve ter apelado para o Dumbledore. Em todo o caso, a Umbridge teve de ceder. Ah! Então, quero vocês no campo às sete horas hoje à noite, está bem? Precisamos recuperar o tempo perdido. Vocês têm consciência de que faltam só três semanas para o nosso primeiro jogo?
Angelina se afastou, se espremendo entre os colegas, escapou por um triz de uma pelota de tinta de Pirraça, que acabou atingindo um calouro próximo, e desapareceu de vista.
O sorriso de Rony esmoreceu um pouco ao espiar pela janela, que agora estava opaca tal o volume de chuva que caía.
— Espero que a chuva passe. Que é que você tem, Hermione?
Ela também estava olhando para a janela, mas não parecia que realmente a visse. Seus olhos estavam desfocados e havia rugas em sua testa.
— Estava só pensando... — respondeu, enrugando a testa para a janela lavada de chuva.
— Em Siri... Snuffles? — perguntou Harry.
— Não... não é bem nele... — disse Hermione lentamente. — Estou mais me questionando... Suponho que a gente esteja fazendo a coisa certa... acho... não está?
Harry e Rony se entreolharam.
— Bom, isso esclarece tudo — disse Rony. — Teria sido muito chato se você não tivesse se explicado com clareza.
Hermione olhou para Rony como se acabasse de perceber que ele estava presente.
— Eu estava pensando — disse com a voz mais forte agora – se estamos fazendo a coisa certa, criando esse grupo de Defesa Contra as Artes das Trevas.
— Hermione, a idéia foi sua, para começar! — lembrou Rony, indignado.
— Eu sei — disse ela, torcendo os dedos. — Mas depois de falar com Snuffles...
— Mas ele é completamente a favor — retorquiu Harry.
— Eu sei — disse Hermione, voltando a contemplar a janela. — Foi isso que me fez pensar que talvez não seja uma boa idéia...
Pirraça flutuava por cima deles de barriga para baixo, a pelota preparada; automaticamente, os três ergueram as mochilas para proteger a cabeça até ele passar.
— Vamos entender bem isso — disse Harry aborrecido, quando re puseram as mochilas no chão. — Sirius concorda conosco, então você acha que não devemos prosseguir?
Hermione pareceu tensa e bastante infeliz. Olhando para as próprias mãos, disse:
— Sinceramente, você confia no julgamento dele?
— Confio! — respondeu Harry na mesma hora. — Ele sempre nos deu ótimos conselhos!
Uma pelota de tinta passou voando pelos três e atingiu Katie Bell em cheio na orelha. Hermione observou Katie se levantar depressa e começar a atirar coisas em Pirraça; passou-se algum tempo até Hermione recomeçar a falar, e parecia estar escolhendo as palavras com muito cuidado.
— Você não acha que ele ficou... assim meio... irresponsável... desde que ficou preso no largo Grimmauld? Você não acha que ele está... assim meio que... vivendo através da gente?
— Que é que você quer dizer com "vivendo através da gente"? — retorquiu
— Quero dizer... bom, acho que ele adoraria estar formando sociedades secretas de Defesa bem embaixo do nariz de alguém do Ministério... acho que está realmente frustrado com o pouco que pode fazer onde está... então acho que está meio que... nos instigando.
Rony parecia absolutamente perplexo.
— Sirius tem razão, você fala igualzinho à minha mãe.
Hermione mordeu o lábio e não respondeu. A sineta tocou na hora em que Pirraça mergulhou sobre Katie e despejou um tinteiro cheio na cabeça dela. O tempo não melhorou até o fim do dia, de modo que às sete horas, àquela noite, quando Harry e Rony desceram para o treino no campo de quadribol, ficaram encharcados em poucos minutos, seus pés escorregavam na grama empapada. O céu estava um cinzento escuro e tempestuoso, e foi um alívio receber o calor e a luz dos vestiários, mesmo sabendo que a trégua seria apenas temporária. Já encontraram Fred e Jorge debatendo se deveriam usar um dos seus próprios doces Mata-Aula para fugir ao treino.
—... mas aposto como ela saberia o que fizemos — disse Fred pelo canto da boca. — Se ao menos eu não tivesse oferecido uma Vomitilha a ela ontem.
— Poderíamos tentar o Febricolate — murmurou Jorge —, ninguém viu ainda...
— Funciona? — indagou Rony esperançoso, quando as marteladas da chuva no telhado se intensificaram e o vento uivou ao redor do prédio.
— Bom, funciona — disse Fred —, sua temperatura subiria na hora.
— Mas você também ganharia uns enormes furúnculos cheios de pus — explicou Jorge —, e ainda não descobrimos como nos livrar deles.
— Não estou vendo nenhum furúnculo — disse Rony olhando bem para os gêmeos.
— Não, bem, você não veria — disse Fred sinistramente —, eles não saem em lugares que a gente normalmente expõe ao público.
— Mas montar em uma vassoura literalmente pela o...
— Muito bem, escutem todos — disse Angelina em voz alta, saindo da sala do capitão. — Sei que o tempo não está ideal, mas há uma possibilidade de precisarmos jogar contra a Sonserina em condições muito parecidas, então é uma boa idéia descobrir como vamos enfrentá-los. Harry, você não fez alguma coisa com os seus óculos para eles não embaçarem na chuva quando jogamos contra a Lufa-Lufa naquele temporal?
— Foi a Hermione que fez — disse Harry. Ele puxou a varinha, deu um toque nos óculos e ordenou: — Impervius!
— Acho que devíamos experimentar isso — disse Angelina. — Se ao menos pudéssemos deixar a chuva fora do rosto, melhoraria realmente a nossa visibilidade, então todos juntos: Impervius! O.k. Vamos!
Todos guardaram as varinhas no bolso interno das vestes, puseram a vassoura ao ombro e seguiram Angelina para fora dos vestiários.
Eles chapinharam pela lama cada vez mais funda até o meio do campo; a visibilidade continuava muito ruim mesmo com o Feitiço para Impermeabilizar; a claridade ia desaparecendo depressa, e verdadeiras cortinas de chuva varriam os terrenos da escola.
— Muito bem, quando eu apitar – gritou Angelina.
Harry deu impulso do chão, espalhando lama em todas as direções, e disparou para o alto, com o vento a desviá-lo ligeiramente do rumo. Ele não fazia idéia de como ia ver o pomo com aquele tempo; já estava tendo bastante dificuldade em ver o único balaço com que estavam praticando; com apenas um minuto de treino, a bola quase o desmontou e ele precisou usar o Giro da Preguiça para evitá-la. Infelizmente Angelina não viu. Na verdade, ela não parecia capaz de ver nada; nenhum deles tinha a menor idéia do que o outro estava fazendo. O vento aumentava; mesmo àquela distância, Harry podia ouvir o ruído da chuva castigando a superfície do lago.
Angelina manteve o treino por quase uma hora antes de se declarar derrotada. Levou a equipe, molhada e desolada, de volta aos vestiários, insistindo que o treino não fora um desperdício de tempo, embora sem convicção na voz. Fred e Jorge estavam com um ar particularmente chateado; os dois tinham as pernas arqueadas e faziam caretas a cada movimento. Harry os ouvia reclamar, em voz baixa, enquanto enxugava o cabelo.
— Acho que alguns dos meus se romperam — disse Fred com a voz cava.
— Os meus não — disse Jorge, fazendo uma careta. — Estão latejando pra caramba... parece que incharam.
— AI! — gritou Harry.
Ele comprimiu o rosto com a toalha, seus olhos contraídos de dor. Sentira a cicatriz na testa queimar intensa e dolorosamente, como não sentia havia semanas.
— Que foi? — perguntaram várias vozes.
Harry saiu de trás da toalha; viu o vestiário borrado porque não estava usando óculos, mas, ainda assim, percebia que os rostos de todos se voltavam para ele.
— Nada — murmurou —, enfiei o dedo no olho, foi só.
Mas lançou a Rony um olhar expressivo e os dois se deixaram ficar para trás, quando os companheiros de equipe saíram, um a um, bem agasalhados em suas capas, os chapéus enterrados na cabeça para cobrir as orelhas.
— Que aconteceu? — perguntou Rony, no momento em que Alicia desapareceu pela porta. — Foi a cicatriz?
Harry concordou com a cabeça.
— Mas... — Apavorado, Rony foi até a janela e olhou para a chuva lá fora — ele... ele não pode estar perto da gente agora, pode?
— Não — murmurou Harry, afundando em um banco e esfregando a testa. — Provavelmente está a quilômetros de distância. Doeu porque ele está com raiva.
Harry não pretendera dizer aquilo, e, aos seus ouvidos, as palavras pareceram ter sido pronunciadas por um estranho — contudo, percebeu imediatamente que eram verdadeiras. Ele não sabia como sabia, mas o fato é que sabia; Voldemort, onde quer que estivesse, o que quer que estivesse fazendo, estava enfurecido.
— Você viu? — perguntou Rony, horrorizado. — Você teve uma visão, ou coisa parecida?
Harry ficou muito quieto, olhando para os pés, deixando sua mente e sua lembrança relaxarem depois da dor.
Um emaranhado confuso de formas, um clamor de vozes...
— Ele quer ver alguma coisa concluída, mas isto não está acontecendo na velocidade que ele quer.
Novamente, surpreendeu-se ao ouvir as palavras saindo-lhe da boca, mas tinha plena certeza de que eram verdadeiras.
— Mas... como é que você sabe? — perguntou Rony.
Harry sacudiu a cabeça e cobriu os olhos com as mãos, comprimindo-os com as palmas. Explodiram estrelinhas. Sentiu Rony se sentar no banco ao lado dele e percebeu que o amigo o observava.
— Foi isso que aconteceu da outra vez? — perguntou Rony num sussurro. — Quando sua cicatriz doeu na sala da Umbridge? Você-Sabe-Quem estava zangado?
Harry sacudiu a cabeça.
— Que foi então?
Harry relembrou. Estava olhando para a cara da Umbridge... sua cicatriz doera... sentira aquela coisa esquisita no estômago... uma sensação estranha e saltitante... uma sensação de felicidade... mas, naturalmente, ele não a reconhecera pelo que era, pois se sentira, até aquele momento, muito infeliz...
— Da última vez foi porque ele estava satisfeito. Realmente satisfeito. Pensou que... ia acontecer uma coisa boa. E na véspera de voltarmos para Hogwarts...
— Harry lembrou do momento em que sua cicatriz doera barbaramente, no quarto que dividia com Rony, no largo Grimmauld... — ele estava furioso... Ele se virou para Rony, que o olhava boquiaberto.
— Você podia substituir Trelawney, cara — disse o amigo assombrado.
— Não estou fazendo profecias.
— Não, você sabe o que você está fazendo? — perguntou Rony, ao mesmo tempo temeroso e impressionado. — Harry, você está lendo a mente de Você-Sabe-Quem!
— Não — disse Harry, sacudindo a cabeça. — É mais o que ele está sentindo, suponho. Estou recebendo imagens dos sentimentos dele. Dumbledore falou que uma coisa assim estava acontecendo no ano passado. Disse que quando Voldemort se aproximava de mim, ou quando sentia ódio, eu sabia. Bom, agora eu estou sentindo quando ele se alegra também...
Houve uma pausa. O vento e a chuva açoitavam o prédio.
— Você tem de contar isso para alguém — disse Rony.
— Contei ao Sirius da última vez.
— Bom, então conte desta vez!
— Não posso, posso? — disse Harry deprimido. — Umbridge está vigiando as corujas e as lareiras, lembra?
— Bom, então ao Dumbledore.
— Acabei de dizer que ele já sabe — respondeu Harry com rispidez, levantando-se, apanhando a capa no cabide e se embrulhando nela. — Não adianta falar outra vez.
Rony fechou a própria capa, observando Harry, pensativo.
— Dumbledore ia gostar de saber.
Harry sacudiu os ombros.
— Anda logo... ainda temos de praticar o Feitiço Silenciador.
Eles voltaram apressados pelo terreno escuro, escorregando e tropeçando nos gramados lamacentos, em silêncio. Harry não parava de pensar. Que é que Voldemort queria que fosse feito e que não estavam fazendo com suficiente rapidez?
"... ele tem outros planos... planos que pode executar realmente na surdina... coisas que pode obter furtivamente... como uma arma. Algo que ele não possuía da última vez."
Harry não pensava nessas palavras havia semanas; estivera por demais absorto no que acontecia em Hogwarts, por demais ocupado nas batalhas com a Umbridge, na injustiça de toda a interferência do Ministério... mas agora elas voltavam à sua lembrança e o faziam pensar... A cólera de Voldemort faria sentido se ele não estivesse mais perto de pôr as mãos na arma, qualquer que fosse. Será que a Ordem o frustrara, o impedira de obtê-la? Onde a guardavam? Na posse de quem estaria agora?
— Mimbulus mimbletonia — disse a voz de Rony, e Harry voltou à realidade bem em tempo de passar pelo buraco do retrato.
Pelo visto, Hermione fora se deitar cedo, deixando Bichento enroscado em uma poltrona próxima e uma variedade de gorros para elfos, feitos em malha com bolinhas em relevo, sobre a mesa junto à lareira. Harry ficou contente que a amiga não estivesse ali, pois não estava com muita vontade de discutir a dor na cicatriz e de ouvi-la insistir, também, que ele devia procurar o Dumbledore.
Rony não parava de lhe lançar olhares ansiosos, mas Harry apanhou os livros de Feitiços e se aplicou em terminar o trabalho, embora, como só estivesse fingindo se concentrar, quando Rony anunciou que ia dormir, ele ainda não escrevera muita coisa.
A meia-noite chegou e se foi enquanto Harry lia e relia o trecho sobre os usos da cocleária, ligústica e do botão-de-prata, sem entender uma única palavra.

Estas plantas são mais eficazes para inflamar o cérebro e, portanto, muito usadas em Poções para Confundir e Estontear, quando o bruxo deseja produzir quentura na cabeça e inquietação...

... Hermione disse que Sirius estava se tornando irresponsável, confinado no largo Grimmauld...
... mais eficazes para inflamar o cérebro e, portanto, muito usadas...
... o Profeta Diário acharia que seu cérebro estava inflamado se descobrisse que ele sabia o que Voldemort estava pensando...
... portanto, muito usadas em Poções para Confundir e Estontear...
... a palavra era mesmo confundir; por que ele sabia o que Voldemort estava sentindo? Que ligação esquisita era essa entre os dois, que Dumbledore nunca fora capaz de explicar satisfatoriamente?
... quando o bruxo deseja...
... como Harry gostaria de dormir...
... deseja produzir quentura na cabeça e inquietação...
... estava quente e confortável na poltrona diante da lareira, a chuva que continuava a bater com força nas vidraças, Bichento ronronava, e as chamas estalavam...
O livro escorregou das mãos frouxas de Harry e caiu com um baque surdo no tapete da lareira. A cabeça do garoto rolou para o lado... Ele estava mais uma vez andando por um corredor sem janelas, seus passos ecoavam no silêncio. À medida que a porta no fim do corredor ia parecendo maior, seu coração foi batendo mais forte de excitação... se ele ao menos pudesse abri-la... passar para o outro lado...
Esticou a mão... as pontas dos dedos estavam apenas a centímetros...
— Harry Potter, meu senhor!
Ele acordou sobressaltado. As velas todas haviam se apagado na sala comunal, mas alguma coisa se movia ali perto.
— Quem está aí? — indagou Harry, sentando-se reto na cadeira. O fogo quase se extinguira, a sala estava muito escura.
— Dobby trouxe sua coruja, meu senhor! — disse uma voz esganiçada.
— Dobby? — perguntou Harry, com a voz engrolada, tentando enxergar, no escuro da sala, a origem da voz.
Dobby, o elfo doméstico, estava parado junto à mesa em que Hermione deixara meia dúzia dos gorros de tricô. Suas enormes orelhas pontudas espetavam para fora do que pareceu a Harry a coleção de gorros que Hermione tricotara até ali; ele usava uns sobre os outros, de modo que sua cabeça parecia ter alongado mais de meio metro, e, bem no topo do último, vinha Edwiges, piando com serenidade e obviamente curada.
— Dobby se ofereceu para devolver a coruja de Harry Potter — disse o elfo, com sua voz fina e uma expressão de inegável adoração no rosto. — A Proª Grubbly-Plank diz que está completamente curada, meu senhor. — Ele fez uma reverência tão profunda que seu nariz fino como um lápis roçou a superfície puída do tapete da lareira, e Edwiges, soltando um pio indignado, voou para o braço da poltrona de Harry.
— Obrigado, Dobby! — disse Harry, acariciando a cabeça de Edwiges e piscando com força, procurando se livrar da imagem da porta em seu sonho... fora muito vívido. Voltando sua atenção para Dobby, ele reparou que o elfo também estava usando vários cachecóis e incontáveis pares de meia, de modo que seus pés pareciam demasiado grandes para o seu corpo.
— Hum... você tem recolhido todas as roupas que Hermione deixa na sala?
— Ah, não, meu senhor — disse Dobby feliz. — Dobby tem levado algumas para Winky também, meu senhor.
— Sei, como vai a Winky?
As orelhas do elfo baixaram ligeiramente.
— Winky continua bebendo muito, meu senhor — disse ele triste, seus enormes olhos verdes, grandes feito bolas de tênis, baixos. — Ela continua a não ligar para roupas, Harry Potter. Os outros elfos domésticos também não.
Nenhum deles quer mais limpar a Torre da Grifinória, não com os gorros e meias escondidos por toda parte, acham isso insultante, meu senhor. Dobby limpa tudo sozinho, meu senhor, mas Dobby não se importa, porque sempre tem esperança de encontrar Harry Potter e, hoje à noite, meu senhor, ele realizou este desejo! — Dobby tornou a mergulhar até o chão em nova reverência.
— Mas Harry Potter não parece feliz — disse o elfo, se erguendo e olhando timidamente para o garoto. — Dobby o ouviu resmungar durante o sono. Harry Potter estava tendo pesadelos?
— Não eram realmente pesadelos — disse Harry, bocejando e esfregando os olhos. —Já tive sonhos piores.
O elfo examinou Harry com seus grandes globos. Então disse muito sério, baixando as orelhas:
— Dobby gostaria de poder ajudar Harry Potter, porque Harry Potter libertou Dobby e Dobby é muito, mas muito mais feliz agora.
Harry sorriu.
— Você não pode me ajudar, Dobby, mas obrigado pelo oferecimento. Harry se inclinou e apanhou o livro de feitiços. Teria de tentar concluir o trabalho no dia seguinte. Ao fechar o livro, a luz das chamas iluminou as finas cicatrizes nas costas de sua mão — o resultado de suas detenções com a Umbridge...
— Espere um instante, tem uma coisa que você pode fazer por mim, Dobby — disse lentamente.
O elfo olhou ao redor, radiante.
— Diz, Harry Potter, meu senhor!
— Preciso encontrar um lugar onde vinte e oito pessoas possam praticar Defesa Contra as Artes das Trevas sem serem descobertas por nenhum dos professores. Principalmente — Harry apertou o livro que segurava de modo que as cicatrizes brilharam brancas como pérolas —, a Profª Umbridge.
Ele esperou que o sorriso do elfo fosse desaparecer, suas orelhas caírem; esperou que Dobby dissesse que era impossível, ou então que tentaria encontrar, mas não tinha grandes esperanças. O que não esperava é que o elfo fosse dar um saltinho, abanar alegremente as orelhas e bater palmas.
— Dobby conhece o lugar perfeito, meu senhor! — disse satisfeito. — Dobby ouviu os outros elfos falarem quando chegou a Hogwarts. Nós o conhecemos com o nome de Sala Vem e Vai, meu senhor, ou então a Sala Precisa.
— Por quê? — perguntou Harry, curioso.
— Porque é uma sala em que a pessoa só pode entrar — disse Dobby sério — quando tem real necessidade dela. Às vezes existe, às vezes não, mas quando aparece está sempre equipada para atender à necessidade de quem a procura. Dobby já a usou, meu senhor — disse o elfo, baixando a voz com cara de culpa
—, quando Winky estava muito bêbada; ele a escondeu na Sala Precisa e encontrou lá antídotos para cerveja amanteigada, e uma boa cama para elfos, onde deitou Winky até ela curar a bebedeira... e Dobby sabe que o Sr. Filch encontrou lá materiais de limpeza de reserva quando acabou os que tinha, meu senhor, e...
— E se você realmente precisasse de um banheiro — perguntou Harry de repente, lembrando-se de um comentário que Dumbledore fizera no Baile de Inverno no Natal anterior —, a sala se encheria de penicos?
— Dobby imagina que sim, meu senhor — disse ele, concordando vigorosamente com a cabeça. — É uma sala fantástica, meu senhor.
— Quantas pessoas sabem que ela existe? — tornou a perguntar Harry, sentando-se mais reto na poltrona.
— Muito poucas, meu senhor. A maioria tropeça nela quando precisa, mas muitas vezes nunca a encontra outra vez, porque não sabe que ela está sempre lá, esperando ser necessária, meu senhor.
— Parece genial — exclamou Harry, com o coração disparando. — Parece perfeita, Dobby. Quando você pode me mostrar onde fica?
— Quando quiser, Harry Potter, meu senhor — disse Dobby, parecendo encantado com o entusiasmo de Harry. — Podemos ir agora, se quiser.
Por um instante o garoto se sentiu tentado a acompanhar Dobby. Já ia se levantando, pensando em correr ao dormitório para apanhar a Capa da Invisibilidade quando uma voz que já ouvira antes, muito parecida com a de Hermione, cochichou em seu ouvido: irresponsável. Era, afinal, muito tarde, e ele estava exausto.
— Hoje não, Dobby — disse Harry relutante, tornando a se sentar. — Isto é realmente importante... Não quero estragar a oportunidade, vai precisar de planejamento. Escute, você pode me dizer exatamente onde fica essa tal Sala Precisa e como se chega lá?

As vestes dos garotos se enfunavam e giravam em torno do corpo enquanto eles chapinhavam pela horta inundada, a caminho da aula de Herbologia, onde mal se conseguia ouvir o que a Profª Sprout dizia, tal a chuva que batia no teto da estufa, com a força do granizo. A aula da tarde de Trato das Criaturas Mágicas ia ser transferida dos terrenos varridos pela tempestade para uma sala livre no andar térreo, e, para intenso alívio dos garotos, Angelina procurara a equipe na hora do almoço para avisar que cancelara o treino de quadribol.
— Que bom — disse Harry baixinho, ao ouvir a notícia —, porque encontramos um lugar para o nosso primeiro encontro de Defesa. Hoje à noite, oito horas, sétimo andar, em frente àquela tapeçaria do Barnabás, o Amalucado, sendo abatido a cacetadas pelos trasgos. Você pode avisar a Katie e a Alicia?
Ela pareceu ligeiramente surpresa, mas prometeu avisar as outras. Harry, esfomeado, voltou a atenção para o seu purê com salsichas. Quando ergueu os olhos para tomar um gole de suco de abóbora, viu Hermione observando-o.
— Que foi? — perguntou guturalmente.
— Bom... é que nem sempre os planos de Dobby são seguros. Não está lembrado quando ele fez você perder todos os ossos do braço?
— Essa sala não é só uma idéia maluca do Dobby; Dumbledore a conhece também, me falou nela no Baile de Inverno.
A expressão de Hermione se desanuviou.
— Dumbledore lhe falou da sala?
— De passagem.
— Ah, bom, então, tudo bem — disse imediatamente, sem fazer mais objeções.
Acompanhados por Rony, eles gastaram a maior parte do dia procurando as pessoas que tinham assinado a lista no Cabeça de Javali, para avisar onde se encontrariam àquela noite. Para um certo desapontamento de Harry, foi Gina quem conseguiu encontrar Cho Chang e a amiga primeiro; mas, até o fim do jantar, o garoto estava confiante de que a notícia fora passada a cada um dos vinte e cinco colegas que haviam aparecido no Cabeça de Javali.
Às sete e meia, Harry, Rony e Hermione deixaram a sala comunal da Grifinória, Harry segurando um certo pergaminho antigo. Os quintanistas tinham permissão para circular nos corredores até às nove horas, mas os três não paravam de olhar para o lado, nervosos, ao se dirigir ao sétimo andar.
— Güenta aí — pediu Harry, desdobrando o pergaminho no alto da última escada, batendo nele com a varinha e murmurando: — Juro solenemente não fazer nada de bom.
Apareceu um mapa de Hogwarts na superfície do pergaminho em branco. Minúsculos pontos negros se moviam nele identificados por nomes, mostrando onde estavam as várias pessoas.
— Filch está no segundo andar — disse Harry segurando o mapa perto dos olhos —, e Madame Nora, no quarto andar.
— E a Umbridge? — perguntou Hermione ansiosa.
— Na sala dela — respondeu, apontando para o mapa. — O.k., vamos.
Os três saíram apressados pelo corredor, até o local que Dobby descrevera, um trecho de parede lisa defronte à enorme tapeçaria retratando a insensata tentativa de Barnabás, o Amalucado, ensinar bale aos trasgos.
— O.k. — disse Harry em voz baixa, enquanto um trasgo roído de traças fazia uma pausa no gesto contínuo de dar cacetadas na futura professora de balé para observá-los —, Dobby disse para passar por este trecho de parede três vezes, nos concentrando muito no que precisamos.
Os garotos assim fizeram, girando nos calcanhares ao chegar à janela pouco adiante da parede vazia, e seguindo até o vaso do tamanho de um homem na outra extremidade. Rony apertou os olhos e se concentrou; Hermione murmurou alguma coisa; os punhos de Harry estavam fechados quando fixou o olhar em frente.
Precisamos de um lugar para aprender a lutar... pensou ele. Dê-nos um lugar para praticar... um lugar em que não possam nos encontrar...
— Harry! — exclamou Hermione com vivacidade, ao retornarem depois da terceira passagem.
Uma porta muito lustrosa aparecera na parede. Rony ficou olhando um tanto desconfiado. Harry estendeu a mão, segurou a maçaneta de latão, abriu a porta e foi o primeiro a entrar em uma sala espaçosa, iluminada com archotes bruxuleantes como os que iluminavam as masmorras oito andares abaixo.
As paredes estavam cobertas de estantes e, em lugar de cadeiras, havia grandes almofadas de seda no chão. Um conjunto de prateleiras no fundo da sala continha uma série de instrumentos como Bisbilhoscópios, Sensores de Segredos e um grande Espelho-de-Inimigos rachado, que Harry tinha certeza de ter visto pendurado, no ano anterior, na sala do falso Moody.
— Elas vão ser ótimas quando estivermos praticando Estuporamento — comentou Rony entusiasmado, batendo em uma das almofadas com o pé.
— E olhem só esses livros! — exclamou Hermione excitada, passando um dedo pelas lombadas de grandes tomos encadernados em couro. Compêndio de feitiços comuns e seus contrafeitiços... :Vencendo as artes das trevas pela astúcia... Feitiços autodefensivos... uau... — Ela olhou para Harry, o rosto radiante, e ele viu que a presença de centenas de livros finalmente convencera Hermione de que o que estavam fazendo era certo. — Harry, que maravilha, aqui tem tudo de que precisamos!
E, sem perder tempo, ela puxou Azarações para os azarados da prateleira, sentou-se na almofada mais próxima e começou a ler.
Ouviram, então, uma leve batida na porta. Harry olhou para os lados. Gina, Neville, Lilá, Parvati e Dino haviam chegado.
— Opa — exclamou Dino, correndo os olhos pela sala, impressionado. — Que lugar é esse?
Harry começou a explicar, mas, antes que terminasse, chegava mais gente, e ele precisava recomeçar a história. Quando finalmente deu oito horas, todas as almofadas estavam ocupadas. Harry foi até a porta e experimentou a chave que havia na fechadura; ela girou com um ruído convincente e todos se calaram, de olhos nele. Hermione marcou cuidadosamente a página de Azarações para os azarados, e pôs o livro de lado.
— Bom — disse Harry, ligeiramente nervoso. — Esta foi a sala que encontramos para as aulas práticas e vocês... hum... obviamente a acharam boa.
— É fantástica! — exclamou Cho, e várias pessoas murmuraram em concordância.
— É estranho — disse Fred, examinando-a com a testa enrugada. — Uma vez nos escondemos do Filch aqui, lembra, Jorge? Mas era só um armário de vassouras.
— Ei, Harry, que é isso? — perguntou Dino do fundo da sala, indicando os Bisbilhoscópios e o Espelho-de-Inimigos.
— Detectores de bruxaria das trevas — disse Harry passando entre as almofadas para se aproximar. — Basicamente eles mostram quando bruxos das trevas ou inimigos estão por perto, mas você não pode confiar neles totalmente porque podem ser enganados...
Ele mirou por instantes o Espelho-de-Inimigos rachado; havia vultos escuros se movendo, embora não desse para reconhecer nenhum. Deu, então, as costas ao espelho.
— Bom, estive pensando no tipo de coisa que devíamos fazer primeiro e... hum... — Ele reparou que havia uma mão erguida. — Que foi Hermione?
— Acho que devemos eleger um líder — disse ela.
— Harry é o líder — disse Cho, olhando para Hermione como se ela tivesse enlouquecido.
O estômago de Harry deu uma cambalhota para trás.
— É, mas acho que devíamos votar isso como deve ser — respondeu Hermione sem se perturbar. — Torna a coisa formal e dá a ele autoridade. Então: todos acham que Harry deve ser o nosso líder?
Todos ergueram as mãos, até mesmo Zacarias Smith, embora o fizesse de má vontade.
— Hum... certo, obrigado — disse Harry, que sentia o rosto arder. — E... que foi Hermione?
— Acho também que devemos ter um nome — disse ela, animada, a mão ainda no ar. — Incentivaria o espírito de equipe e a união, que é que vocês acham?
— Será que podemos ser a Liga Anti-Umbridge? — perguntou Angelina esperançosa.
— Ou o Grupo Ministério da Magia Só Tem Retardados? — sugeriu Fred.
— Eu estive pensando — disse Hermione franzindo a testa para Fred — mais em um nome que não anunciasse a todo o mundo o que pretendemos fazer, de modo que a gente possa se referir ao grupo fora das reuniões sem correr perigo.
— A Associação de Defesa? — arriscou Cho. — A AD, para que ninguém saiba do que estamos falando?
— É, a AD é bom — concordou Gina. — Só que devia significar a Armada de Dumbledore, porque o maior medo do Ministério é uma força armada de Dumbledore.
Ouviram-se vários murmúrios de agrado e gargalhadas à sugestão.
— Todos a favor da AD? — perguntou Hermione com um ar autoritário, ajoelhando-se na almofada para contar. — Há uma maioria a favor... moção aprovada!
Ela prendeu o pergaminho com as assinaturas de todos na parede e escreveu em cima, em letras garrafais:

ARMADA DE DUMBLEDORE

— Certo — disse Harry, quando voltou a se sentar —, vamos começar a praticar então? Eu estive pensando, devíamos começar pelo Expelliarmus, sabem, o Feitiço para Desarmar. Sei que é bem básico, mas eu o achei realmente útil...
— Ah, corta essa — disse Zacarias, virando os olhos para o alto e cruzando os braços. — Não acho que o Expelliarmus vá nos ajudar a enfrentar Você-Sabe-Quem, vocês acham?
— Usei-o contra ele — disse Harry calmamente. — Salvou minha vida em junho.
Zacarias boquiabriu-se feito bobo. O resto da sala ficou muito silencioso.
— Mas, se você acha que não está à sua altura, pode se retirar.
O garoto não se mexeu. Nem os demais.
— O.k. — disse Harry, a boca um pouco mais seca do que o normal ao sentir todos os olhares nele. — Acho que todos deviam se dividir em pares para praticar.
Era uma sensação estranha estar dando ordens, mas não tão estranha quanto vê-las obedecidas. Todos se levantaram na mesma hora e se dividiram. Previsivelmente, Neville acabou sem par.
— Você pode praticar comigo — disse-lhe Harry. — Certo... então quando eu contar três, então... um, dois, três...
A sala se encheu repentinamente de gritos de "Expelliarmus!". Varinhas voaram em todas as direções; os feitiços sem pontaria atingiram livros e prateleiras, mandando-os pelos ares. Harry era por demais rápido para Neville, cuja varinha saiu rodopiando de sua mão, bateu no teto em meio a uma chuva de faíscas e caiu com estrépito em cima de uma prateleira, de onde Harry a recuperou com um Feitiço Convocatório. Olhando à volta, ele achou que agira bem sugerindo que praticassem primeiro os feitiços básicos; havia muito feitiço malfeito; vários colegas não estavam conseguindo desarmar os oponentes, meramente os faziam pular para trás ou fazer caretas quando os feitiços passavam por cima de suas cabeças.
— Expelliarmus! — exclamou Neville, e Harry, apanhado de surpresa, sentiu sua varinha voar da mão.
— CONSEGUI! — gritou Neville, cheio de alegria. — Eu nunca tinha feito isso antes... CONSEGUI!
— Boa! — disse Harry, encorajando-o em lugar de lembrar que, em um duelo verdadeiro, seu oponente provavelmente não estaria olhando na direção oposta com a varinha pendurada ao lado do corpo. — Escute, Neville, você pode revezar com o Rony e a Hermione por alguns minutos, para eu poder andar pela sala e ver como os outros estão se virando?
Harry foi para o meio da sala. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo com Zacarias Smith. Toda vez que ele abria a boca para desarmar Antônio Goldstein, a varinha voava de sua mão, mas Antônio não parecia estar emitindo som algum. Harry não precisou olhar muito longe para solucionar o mistério; Fred e Jorge estavam a vários passos do garoto e se revezavam apontando as varinhas para as costas de Zacarias.
— Desculpe, Harry — apressou-se Jorge a dizer, quando seus olhos se encontraram. — Não pudemos resistir.
Harry andou em volta dos pares, tentando corrigir os que estavam realizando mal o feitiço. Gina fazia dupla com Miguel Corner; estava se saindo muito bem, enquanto o namorado ou era muito ruim ou não estava querendo enfeitiçá-la. Ernesto Macmillan acenava desnecessariamente com a varinha, dando ao parceiro tempo para se pôr em guarda; os irmãos Creevey agiam com entusiasmo, mas sem pontaria, e eram os principais responsáveis pelos livros que saltavam das prateleiras ao redor; Luna Lovegood era igualmente instável, por vezes fazia a varinha de Justino Finch-Fletchley sair rodopiando da mão, mas, em outras, fazia apenas os cabelos dele ficarem em pé.
— O.k., parar! — gritou Harry. — Parar! PARAR!
Preciso de um apito, pensou, e imediatamente localizou um em cima da fileira de livros mais próxima. Apanhou-o e apitou com força. Todos baixaram as varinhas.
— Não foi nada mau — disse Harry —, mas decididamente há margem para melhorar. — Zacarias amarrou a cara para ele. — Vamos experimentar outra vez.
Ele tornou a circular pela sala, parando aqui e ali para fazer sugestões.
Lentamente, o desempenho geral melhorou. Harry evitou se aproximar de Cho e da amiga por algum tempo, mas, depois de dar duas voltas pelos outros pares da sala, sentiu que não podia continuar a ignorá-las.
— Ah, não — exclamou Cho um tanto alterada quando ele se aproximou. —Expelliarmious! Eu... quero dizer Expellimellius!, ah, desculpe, Marieta!
A manga da amiga de cabelos crespos pegara fogo; Marieta apagou-o com a própria varinha e amarrou a cara para Harry, como se tivesse sido culpa dele.
— Você me deixou nervosa, eu estava fazendo tudo direito antes! — disse Cho a Harry, se lastimando.
— Foi bastante bom — mentiu Harry, mas, quando a garota ergueu as sobrancelhas, ele acrescentou. — Bom, não, foi uma droga, mas eu sei que você sabe fazer direito, estive observando de longe.
Ela riu. A amiga Marieta olhou para os dois meio azeda e virou as costas.
— Não ligue para ela — murmurou Cho. — Na realidade, não queria estar aqui, mas eu a obriguei a vir. Os pais dela a proibiram de fazer qualquer coisa que possa aborrecer a Umbridge. Você entende... a mãe dela trabalha para o Ministério.
— E os seus pais? — perguntou Harry.
— Bom, eles me proibiram de desagradar a Umbridge, também — disse Cho, aprumando o corpo com orgulho. — Mas se eles acham que não vou combater Você-Sabe-Quem, depois do que aconteceu com o Cedrico...
Ela se calou, parecendo um tanto confusa, e seguiu-se um silêncio constrangido entre os dois; a varinha de Terêncio passou zunindo pela orelha de Harry e atingiu com força o nariz de Alicia.
— Bom, meu pai dá muito apoio a qualquer ação antiministério! — disse Luna, com orgulho, atrás de Harry; evidentemente estivera escutando a conversa, enquanto Justino tentava se desembaraçar das vestes que cobriam sua cabeça.
— Ele está sempre dizendo que acreditaria em qualquer coisa sobre Fudge; quero dizer, o número de duendes que Fudge mandou assassinar! E é claro que ele usa o Departamento de Mistérios para desenvolver venenos terríveis, que secretamente dá a qualquer um que discorde dele. E depois tem o Umgubular Slashkilter...
— Não pergunte — murmurou Harry para Cho quando ela abriu a boca, parecendo intrigada. A garota riu.
— Ei, Harry — chamou Hermione do outro extremo da sala —, você viu que horas são?
Ele olhou para o relógio e se assustou ao ver que já eram nove e dez, o que significava que precisavam voltar às suas salas comunais imediatamente ou se arriscar a ser punidos por Filch por estar fora da área permitida. Ele apitou; todos pararam de gritar "Expelliarmus!", e o último par de varinhas bateu no chão.
— Bom, foi bastante bom — disse Harry —, mas passamos da hora, é melhor pararmos por aqui. Mesma hora, mesmo lugar, na semana que vem?
— Antes! — pediu Dino, ansioso, e muitos concordaram com a cabeça.
Angelina, porém, apressou-se a dizer.
— A temporada de quadribol já vai começar, as equipes também precisam treinar!
— Digamos, na próxima quarta à noite, então — sugeriu Harry —, aí podemos decidir se queremos mais reuniões. Vamos, é melhor ir andando.
Ele puxou o Mapa do Maroto e examinou-o, cuidadosamente, procurando sinal de professores no sétimo andar. Deixou, então, os colegas saírem em grupos de três e quatro, observando os pontinhos, ansiosamente, a ver se voltavam em segurança aos seus dormitórios: os da Lufa-Lufa no corredor do porão que também levava às cozinhas; os da Corvinal na torre do lado oeste do castelo; e os da Grifinória no corredor do retrato da Mulher Gorda.
— Foi realmente bom, realmente bom, Harry — disse Hermione, quando finalmente restaram apenas ela, ele e Rony.
— É, foi mesmo! — disse Rony entusiasmado, quando passaram pela porta e a viram se confundir com a pedra às costas deles. — Você me viu desarmando a Hermione, Harry?
— Só uma vez — disse Hermione mordida. — Peguei você muito mais vezes do que você me pegou...
— Eu não peguei você só uma vez, foram pelo menos três...
— Bom, se você está contando a vez em que tropeçou nos pés e derrubou a varinha da minha mão...
Eles discutiram todo o caminho de volta à sala comunal, mas Harry não estava ouvindo. Tinha um olho no Mapa do Maroto, e pensava também em Cho dizendo que ele a deixava nervosa.

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