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Unknown
junho 04, 2014
Capítulo 15
— Mas você consegue fazer um Patrono perfeito! — protestou Rony, assim que Harry voltou, de mãos vazias, sem fôlego e disse a palavra "Dementadores".
— Eu não pude... conjurar nenhum. — ofegou ele, apertando uma parte do estômago. — Não daria certo!
A expressão deles de consternação e desapontamento fez Harry se sentir envergonhado. Parecia um pesadelo ver à distância os dementadores deslizando pela névoa e perceber, com o frio paralisante em seus pulmões e com um grito distante em seus ouvidos, que ele não seria incapaz de se proteger. Isso fez com que Harry usasse toda sua força de vontade para sair de onde estava e correr, deixando os dementadores deslizarem por entre os Trouxas, que não podiam vê-los, mas certamente podiam sentir o desespero que eles causavam aonde quer que passavam.
— Então... nós ainda não temos o que comer!
— Cala a boca, Rony — interrompeu Hermione. — Harry, o que aconteceu? Por que você acha que não conseguiria conjurar um Patrono? Você o conjurou perfeitamente ontem!
— Eu não sei.
Ele se largou em uma das velhas poltronas na barraca de Perkins, se sentindo mais humilhado agora. Ele temia que alguma coisa estivesse errada com ele. Ontem parecia ter sido muito tempo atrás. Hoje ele parecia ter treze anos de novo, o único que desmaiou no Expresso Hogwarts. Rony chutou a perna de uma cadeira.
— O quê? — ele rosnou para Hermione.
— Eu estou morrendo de fome! Tudo que eu comi, desde que sangrei quase até à morte, foi um punhado de cogumelos!
—Vai lá e luta com os dementadores do seu modo, então! — disse Harry, aflito.
— Eu iria, mas meu braço está numa tipóia, caso você não tenha notado.
— Que conveniente!
— E o que você acha que eu deveria...
— Claro! — gritou Hermione, batendo as mãos na testa e calando os dois. — Harry me dê o medalhão. Anda! — disse ela impaciente, estalando seus dedos na frente dele, esperando que ele reagisse. — A Horcrux, Harry, você ainda a está usando!
Ela estendeu as mãos e Harry ergueu a corrente dourada sobre sua cabeça. No momento em que o medalhão desfez o contato com a sua pele, ele se sentiu surpreendentemente livre e leve. Ele não havia percebido o quanto estava nervoso ou que havia algo pressionando seu estômago, até a hora as sensações se foram.
— Está melhor? — Perguntou Hermione
— Sim... muito melhor!
— Harry! — ela disse, agachando-se na frente dele, usando um tipo de voz que ele associou com quem visita doentes — Você não acha que estava possuído, acha?
— O quê? Não! — disse na defensiva. — Eu lembro de tudo que fizemos enquanto eu o estava usando. Eu saberia se estivesse possuído, não? Gina me disse que houve vezes em que ela não se lembrava de nada.
— Hum... — Hermione disse, olhando para o pesado medalhão dourado. — Bom... talvez nós não devêssemos usá-lo. Devemos guardar na cabana.
— Não devemos deixar esta Horcrux por aí. — Harry declarou firmemente. — Se nós a perdermos, se ela for roubada...
— Tudo bem, tudo bem. — disse Hermione. Ela colocou-a em volta do próprio pescoço e escondeu dentro de sua camisa. — Mas, nós revezaremos o uso, ninguém ficará com ele por muito tempo.
— Ótimo! — disse Rony irritado. — E agora que já resolvemos isso, podemos buscar comida?
— Certo... mas iremos para algum outro lugar para consegui-la. — disse Hermione com um rápido olhar para Harry. — Não há razão para ficar onde sabemos que Dementadores estão aparecendo.
No fim eles passaram a noite num terreno acidentado, que pertenciam a um fazendeiro solitário, onde conseguiram ovos e pães.
— Isso não é roubar, é? — perguntou Hermione numa voz transtornada, enquanto eles devoravam ovos mexidos com torrada. — Não se você deixar dinheiro debaixo da gaiola das galinhas, né?
Rony virou os olhos e disse, com suas bochechas inchadas. — Ão se eocupe uito, He-ione. Elaxe!
E de fato, era muito mais fácil relaxar enquanto eles estavam confortavelmente bem alimentados. A discussão sobre os dementadores foi substituída por uma noite de risadas, e Harry se sentiu alegre, até mesmo esperançoso, enquanto começava a primeira das três rondas noturnas.
Era a primeira vez percebia que estômagos cheios significam bom humor, e um vazio, disputa e melancolia. Harry estava surpreso com isso, pois ele passou por fases de fome com os Dursley. Hermione se chateava nas noites em que não comiam nada, a não ser frutos e biscoito seco. O humor dela ficava um pouco pior do que o normal e o silêncio, obstinado. Rony, entretanto, acostumado com três refeições ao dia, cortesia de sua mãe ou dos elfos-domésticos de Hogwarts, tornou-se irracional e irascível quanto à fome. Quando a falta de comida coincidia com a sua vez de usar a Horcrux, ele tornava-se absolutamente desagradável.
— Então, pra onde agora? — era seu constante refrão. Ele parecia não ter nenhuma idéia própria, mas esperava Harry e Hermione vir com planos enquanto se sentava a meditava sobre o pequeno estoque de comida. Harry e Hermione espontaneamente gastavam horas tentando decidir onde eles poderiam encontrar os outros Horcruxes e como destruir a que eles já tinham. As conversas tornaram-se gradativamente repetitivas, pois eles não tinham nenhuma informação nova.
Como Dumbledore havia dito a Harry que acreditava que Voldemort tinha escondido as Horcruxes em lugares importantes para ele, eles ficam repassando, numa ladainha deprimente, os locais onde sabiam que Voldemort tinha vivido ou visitado. O orfanato onde ele nasceu e cresceu; Hogwarts, onde ele foi educado; Borgin e Burke’s, onde tinha trabalhado quando deixou a escola e a Albânia, onde passou seus anos de exílio. Esses lugares eram a base de suas especulações.
— Vamos à Albânia! Não levará mais do que uma tarde para procurar no país todo — disse Rony, sarcasticamente.
— Não pode haver nada lá. Ele fez suas cinco Horcruxes antes de ir para o exílio, e Dumbledore tem certeza que a cobra é o sexto. — disse Hermione. — Nós sabemos que ela não está na Albânia, geralmente ela está com Vol...
— Eu não pedi para você parar de dizer isso?
— Certo. A cobra geralmente está com Você-Sabe-Quem. Feliz?
— Nem um pouco.
— Não consigo vê-lo escondendo algo na Borgin e Burke's — disse Harry, que fez essa mesma observação várias vezes antes, mas a repetiu só para quebrar o silêncio desagradável.
— Borgin e Burke’s é especialista em artefatos das trevas, eles certamente reconheceriam uma Horcrux.
Rony bocejou agressivamente.
Reprimindo um forte impulso de atirar algo nele, Harry entrou no assunto:
— Eu ainda acho que ele escondeu algo em Hogwarts.
Hermione suspirou.
— Mas Dumbledore a teria encontrado, Harry!
Harry repetiu o argumento que guardava a favor de sua teoria.
— Dumbledore disse para mim que nem ele conhecia todos os segredos de Hogwarts. Eu estou dizendo, se há um lugar onde Vol...
— Oi...
— Você-Sabe-Quem, então! — Harry gritou, perdendo a paciência. — Se há um lugar que é realmente importante para Você-Sabe-Quem, é Hogwarts!
— Ah... qual é! — zombou Rony — A escola dele?
— Sim... a escola dele! Que foi seu primeiro lar, o lugar que fez ele se sentir especial. Significava tudo para ele, e mesmo depois que partiu...
— É sobre o Você-Sabe-Quem que estamos falando, certo? Não sobre você? — perguntou Rony. Ele estava arrancando o medalhão do pescoço; Harry ficou tentado a agarrar a corrente e enforcá-lo.
— Você nos disse que Você-Sabe-Quem pediu a Dumbledore um cargo antes dele desaparecer. — disse Hermione.
— Isso mesmo — disse Harry!
— E Dumbledore achou que ele só queria voltar para tentar encontrar algo, provavelmente a relíquia de outro Fundador, para fazer outra Horcrux?
— Sim. — disse Harry.
— Mas ele não conseguiu o emprego, conseguiu? — Hermione disse — Então, ele nunca teve a chance de encontrar outra relíquia e escondê-la na escola!
— Certo, então. — Harry disse, derrotado. — Esqueçam Hogwarts.
Sem qualquer outro caminho, eles viajaram por Londres, se escondendo debaixo da Capa da Invisibilidade, procurando pelo orfanato onde Voldemort cresceu. Hermione entrou furtivamente numa biblioteca e descobriu em seus registros que o lugar em questão fora demolido anos atrás. Eles visitaram os terrenos e encontraram apenas prédios de escritório.
— Poderíamos tentar escavar as fundações!? — disse Hermione.
— Ele não esconderia uma Horcrux aqui. — Harry disse. Ele sabia disso há muito tempo. O orfanato era o lugar de onde Voldemort estava determinado a fugir. Ele nunca esconderia parte de sua alma ali. Dumbledore mostrou a Harry que Voldemort via grandeza ou misticismo em seus esconderijos; esta esquina cinza e sombria de Londres, como você pode imaginar, estava longe de um lugar como Hogwarts ou o Ministério ou uma construção como Gringotes, o banco dos bruxos, com suas portas douradas e chão de mármore.
Mesmo sem idéia alguma, eles continuaram a andar pelo interior, montando a barraca, cada noite, em diferentes lugares, só por segurança. Toda manhã eles conferiam se tinham removido todas as pistas da presença deles, e então iam procurar outro local isolado e solitário, viajando por Aparatação entre as florestas, pelas sombras de penhascos, por pântanos, por montanhas com picos cobertos, e uma vez, por uma áspera e protegida enseada. A cada doze horas ou mais, eles revezavam a Horcrux entre eles. Parecia que eles jogavam algum perverso e lento jogo de dança-das-cadeiras, onde eles temiam que a música parasse, pois a recompensa seriam doze horas de crescente de ansiedade e medo.
A cicatriz de Harry começou a arder. Algo que agora acontecia sempre, ele notou, quando estava usando a Horcrux. Às vezes ele não conseguia parar de reagir à dor.
— O quê? O que você viu? — perguntava Rony, quando ele notava Harry gemer.
— Um rosto — murmurava Harry, toda vez. — O mesmo rosto. O ladrão que o roubou de Gregorovitch.
E Rony se virava, sem fazer esforço para esconder seu desapontamento.
Harry sabia que Rony estava esperançoso de ouvir notícias de sua família ou do resto da Ordem da Fênix, mas, apesar de tudo, ele, Harry, não era uma antena de televisão. Ele somente podia ver o que Voldemort estava pensando naquela hora, não ajustar seu canal para o que desejava ver. Aparentemente Voldemort ficava relembrando o jovem desconhecido, com a felicidade estampada no rosto, cujo nome e paradeiro, Harry tinha certeza, Voldemort conhecia tanto quanto ele. Como a cicatriz de Harry continuava a queimar e o feliz garoto de cabelo amarelo continuava entrando em suas lembranças, ele aprendeu a reprimir qualquer sinal de dor ou desconforto, para que os outros dois não mostrassem impaciência à menção do ladrão. Ele não podia culpá-los por completo, quando estavam procurando, tão desesperadamente por uma pista das Horcruxes.
Como os dias se prolongaram em semanas, Harry começou a suspeitar que Rony e Hermione estivessem tendo conversas sem, e sobre, ele. Várias vezes eles paravam de falar rapidamente quando Harry entrava na barraca, e duas vezes ele os viu acidentalmente, encolhidos a uma pequena distância, cabeças juntas e falando rápido. Ambas as vezes eles ficaram em silêncio quando percebiam que Harry se aproximava se apressaram em parecer ocupados, pegando gravetos ou água.
Harry não conseguia parar de pensar que os amigos só concordaram em vir em sua jornada, que agora parecia sinuosa e sem sentido, pois pensaram que ele tinha algum plano secreto que eles só saberiam durante o percurso.
Rony não estava fazendo nenhum esforço para esconder seu mau humor, e Harry começou a temer que Hermione também estivesse desapontada com sua fraca liderança. No desespero, ele tentava pensar na localização das Horcruxes, mas na única coisa que lhe ocorria era Hogwarts, e nenhum deles pensava o mesmo. Enfim ele parou de sugerir isso.
O outono chegou ao interior quando estavam exatamente nele; agora eles estavam armando a barraca sob o chão coberto de folhas caídas. Uma neblina natural juntou-se à dos dementadores: vento e chuva somaram-se aos seus problemas. O fato de que Hermione estava ficando cada vez melhor para identificar cogumelos comestíveis não compensava, no entanto, a isolação contínua, a carência da companhia de outras pessoas ou sua total ignorância do que estava ocorrendo lá fora, na guerra contra Voldemort.
— Minha mãe pode fazer aparecer comida do ar. — falou Rony numa noite, quando estavam sentados na barraca perto de um rio em Wales.
Ele cutucou tristemente um pedaço de peixe queimado em seu prato. Harry olhou rápida e automaticamente para o pescoço de Rony e viu, como se já soubesse, a corrente dourada da Horcrux, brilhando. Ele segurou o impulso de dar uma dura em Rony, cuja atitude poderia, ele sabia, melhorar quando chegasse a hora de tirá-lo.
— Sua mãe não pode conjurar comida do ar — disse Hermione. — Ninguém pode. Comida é a primeira das cinco Principais Exceções na Lei de Transfiguração de Gamp.
— Oh... você fala Inglês, não? — Rony disse, prendendo um pedaço de osso de peixe entre seus dentes.
— É impossível fazer boa comida do nada! Você pode convocá-la se souber onde ela está e transformá-la, você pode aumentar a quantidade se você já tiver um pouco, mas...
— Bom, você não precisa se dar ao trabalho de aumentar isso. Está nojento!
— Harry pegou o peixe e eu fiz o melhor que pude! Eu notei que sou sempre eu que acabo escolhendo nossa comida , porque eu sou uma garota, suponho!
— Não, é porque você é a melhor em magia! — Rony respondeu. Hermione se levantou e pedaços de peixe assado caíram de seu prato.
— Você pode cozinhar amanhã, Rony! Você pode encontrar os ingredientes e tentar um feitiço para fazer algo que valha a pena comer e eu estarei sentada aqui, olhando tudo e me queixando. Você verá como...
— Calem a boca! — disse Harry, ficando em pé e fazendo sinal com as mãos. — Fica quieta agora!
Hermione se sentiu ultrajada.
— Como você pode ficar do lado dele, ele nunca faz a comida...
— Hermione, fica quieta! Estou ouvindo algo!
Ele estava se esforçando para ouvir, as mãos ainda levantadas, acenando para ninguém falar. Então, além do barulho e movimento do rio no escuro, ele ouviu as vozes de novo, e olhou em volta, para o Bisbilhoscópio, que continuava parado.
— Você lançou o feitiço Abaffiato sobre nós, certo? — cochicou para Hermione.
— Lancei todos! — ela cochichou de volta. — Abaffiato, Anti-Trouxas e Feitiços da Desilusão, todos eles. Eles não podem nos ver ou nos ouvir, onde quer que estejam.
Sons de pés pesados se arrastando, somado ao som de pedras e galhos sendo pisoteados, deu-lhes a impressão de que muitas pessoas estavam descendo pela encosta do bosque, onde a barraca estava armada. Eles sacaram as varinhas, esperando. O encantamento que lançaram sobre eles parecia ser o suficiente, naquela escuridão, para escondê-los da vista de trouxas, bruxos e bruxas normais. Se fossem Comensais de Morte, talvez a defesa deles fosse testada, pela primeira vez, contra Magia Negra.
As vozes se tornaram mais altas, mas não mais inteligíveis quando o grupo de homens alcançou a barragem. Harry calculou que os donos das vozes estavam a uns vinte metros de distância, mas a cascata do rio tornava impossível tal certeza. Hermione abriu a bolsa e começou a procurar algo. Depois de um momento ela tirou três Orelhas Extensíveis e deu uma para Harry e outra para Rony, colocando, rapidamente, uma ponta nas orelhas e a outra ponta a passaram pela entrada da barraca.
Em segundos, Harry ouviu uma voz de homem, cansada.
— Deve ter salmões aqui, ou você acha que é muito cedo para a estação? Accio Salmão!
Houve vários esguichos de água e o som de peixe batendo contra carne. Alguns resmungaram apreciativos. Harry pressionou para mais fundo as Orelhas Extensíveis. Além do murmúrio do rio, ele pode ouvir mais vozes, mas elas não estavam falando inglês ou qualquer língua humana que ele já tivesse ouvido. Era uma língua grosseira e sem melodia, uma série de tons fortes, guturais, e pareciam ser dois falantes, um com a voz levemente baixa e mais lenta que o do outro. Uma fogueira brilhou, viva, do lado de fora da barraca, sombras eram projetadas na lona. O cheiro delicioso de salmão cozido seguia para dentro da barraca. Então veio o barulho de talheres nos pratos e o primeiro homem falou novamente.
— Aqui, Grampo, Gornope.
— Duendes! — Hermione murmurou para Harry, que acenou com a cabeça.
— Obrigado. — disse o duende em inglês.
— Então, vocês três estão na estrada há muito tempo? — perguntou uma nova, suave e agradável voz que, para Harry, parecia familiar e que pertencia a alguém com um rosto redondo e alegre.
— Seis, sete semanas... não me lembro. — disse o homem cansado. — Conheci Grampo nos primeiros dois dias e juntei forças com Gornope não muito tempo depois. É bom ter companhia.
Houve uma pausa enquanto as facas raspavam os pratos e as canecas eram colocadas no chão.
— O que fez você partir, Ted? — continuou o homem.
— Eu sabia que eles estavam vindo atrás de mim — respondeu o Ted, o homem de voz suave; e Harry rapidamente soube quem ele era: o pai de Tonks.
— Ouvi que Comensais da Morte estavam na área na semana passada e eu decidi que era melhor correr. Recusei-me a ser registrado como um Trouxa no começo, entende, e então eu sabia que era só uma questão de tempo, eu sabia que no fim, teria que partir. Minha esposa está bem, ela é puro-sangue. E então eu encontrei o Dino aqui, o quê... uns dias atrás, não foi, filho?
— Sim... — disse outra voz, e Harry, Ron e Hermione se olharam, em silêncio, mas excitados, pois claramente reconheceram a voz de Dino Thomas, companheiro deles da Grifinória.
— Nascido Trouxa? — perguntou o primeiro homem.
— Não tenho certeza. — disse Dino. — Meu pai largou minha mãe quando eu era criança e eu não tenho provas de que ele era um bruxo.
Fez-se um breve silêncio, interrompido pelo som de mastigação; e Ted falou de novo.
— Eu devo dizer, Dirk, que eu estou surpreso de fugir com você. Satisfeito, mas surpreso. Disseram que você tinha sido capturado.
— E fui — disse Dirk. — Eu estava a meio caminho de Azkaban quando eu fiz minha fuga. Estuporei Dawlish e quebrei sua vassoura. Foi mais fácil do que você pensa. Eu não sei se ele estava bem. Parecia ter sido Confundido. Eu gostaria de apertar as mãos do bruxo que fez isso, pois, provavelmente, salvou minha vida.
Houve outra pausa com o fogo crepitando e o rio correndo, e Ted disse:
— E onde vocês se instalaram? Eu tinha a impressão que os duendes estavam todos com Você-Sabe-Quem.
— Você teve uma impressão errada. — disse o duende com a voz mais alta. — Nós não temos lado. Está é uma guerra de bruxos.
— Então, por que vocês estão se escondendo?
— Eu achei prudente — disse o duende com a voz grave. — Tendo recusado, o que eu considero uma requisição impertinente, eu vi que minha segurança pessoal estava em risco.
— O que eles lhe pediram para fazer? — perguntou Ted.
— Serviços que abalam a dignidade da minha raça — respondeu o duende. A voz mais rouca e menos humana quando ele disse isso. — Eu não sou um elfo-doméstico.
— E você, Grampo?
— Razões semelhantes... — disse o duende numa voz alta. — Gringotes não está mais sobre o controle do nosso povo. Eu não reconheço um bruxo como mestre.
Ele disse algo em Gorgolês e Gornope riu.
— Qual é a piada? — perguntou Dino.
— Ele disse que há coisas que os bruxos também não reconhecem. — repetiu Dirk. Houve uma pausa pequena.
— Eu não entendi. — disse Dino.
— Realizei uma pequena vingança antes de partir — disse Grampo em inglês.
— Bom homem... duende, quero dizer. — corrigiu rapidamente Ted. — Você não trancou um Comensal da Morte num dos velhos cofres de segurança, eu suponho?
— Mesmo se tivesse, a espada não o ajudaria em nada em sua tentativa de fuga. — respondeu Grampo. Gornope riu de novo e até Dirk deu uma risadinha seca.
— Dino e eu ainda achamos que falta alguma coisa. — disse Ted.
— O Severo Snape também, embora ele não saiba... — disse Grampo, e os duendes urraram numa risada maliciosa. Na barraca, Harry respirava profundamente, cheio de excitação; ele e Hermione olharam-se fixamente, ouvindo o máximo que podiam.
— Não ouviu nada sobre isso, Ted? — perguntou Dirk. — Sobre os garotos que tentaram roubar a espada de Gryffindor do escritório do Snape, em Hogwarts?
Uma corrente elétrica pareceu atravessar o corpo de Harry, atiçando todos os seus nervos, enquanto ele continuava em pé.
— Não soube de nada — disse Ted. — Não apareceu n’O Profeta, apareceu?
— Dificilmente. — gargalhou Dirk. — Grampo quem me disse. Ele ouviu isso do Gui Weasley, que trabalha no banco. Uma das crianças que tentaram roubar a espada era a irmã mais nova do Gui.
Harry olhou de relance para Hermione e Rony. Ambos estavam agarrados às Orelhas Extensíveis como se estivesse segurando seu único meio de contato.
— Ela e alguns amigos foram ao escritório do Snape e quebraram o vidro onde aparentemente ele guardava a espada. Snape os pegou quando eles estavam tentando escondê-la debaixo da escadaria.
— Ah, Deus os proteja! — disse Ted. — O que eles estavam pensando, que podiam usar a espada contra Você-Sabe-Quem? Ou contra Snape?
— Bem, o que quer que fosse que iam fazer com ela, Snape decidiu que ela não estava segura ali — disse Dirk. — Uns dois dias depois, uma vez que ele tinha que pedir permissão a Você-Sabe-Quem, eu acho, ele a enviou para Londres, para ser guardada em Gringotes.
Os duendes começaram a rir de novo.
— Eu ainda não entendi a piada — disse Ted.
— É falsa!
— A espada de Gryffindor!?
— Ah, sim... é uma cópia! Uma excelente cópia, na verdade, mas foi feita por bruxos. A original foi forjada séculos atrás pelos duendes e tinha certas propriedades que somente as armas feitas pelos duendes possuíam. Aonde quer que a verdadeira espada de Gryffindor esteja, não está num cofre em Gringotes.
— Entendo... — disse Ted. — E eu acredito que você não disse isso ao Comensal da Morte?
— Eu não vi porquê incomodá-los com essas informações. — disse Grampo presunçosamente, e agora Ted e Dino se juntaram nas risadas de Gornope e Dirk.
Dentro da barraca, Harry fechou seus olhos, rezando para que alguém fizesse a pergunta que ele precisava de resposta, e depois de um minuto que pareceu dez, Dino a fez; ele era também (Harry se lembrou, com um solavanco) ex-namorado de Gina.
— O que aconteceu com Gina e os outros? Os que tentaram roubar a espada?
— Ah, eles foram punidos, e cruelmente. — disse Grampo, indiferente.
— Eles estão bem, não estão? — perguntou Ted rapidamente. — Quero dizer, os Weasley não precisam de mais um filho ferido, precisam?
— Não foram ferimentos sérios, pelo que estou sabendo. — disse Grampo.
— Sorte deles. — disse Ted. — Com o passado de Snape, eu suponho que devemos estar gratos por eles estarem vivos.
— Você acredita naquela história, Ted? — Dirk perguntou. — Você acredita que Snape matou Dumbledore?
— Claro que acredito — Ted disse. — Você não vai se sentar aí e me dizer que o Potter tem algo a ver com isso?
— É difícil saber em quem acreditar ultimamente. — murmurou Dirk.
— Eu conheço Harry Potter. — disse Dino. — E eu acredito que ele é o que dizem ser. O Escolhido ou de qualquer coisa que queiram chamá-lo.
— Sim, há muita gente que gostaria de acreditar que ele é, filho. — disse Dirk. — Inclusive eu. Mas, onde ele está? Fugindo por aí, procurando coisas. Você acha que se ele soubesse de algo que não sabemos, ou se tivesse alguma coisa de especial, ele não iria estar lá, lutando, criando resistência, ao invés de se esconder? E você sabe, o Profeta fez uma boa matéria contra ele.
— O Profeta? — zombou Ted. — Você também merece que mintam pra você, se continua lendo aquela porcaria, Dick. Se você quer fatos, leia O Pasquim.
Houve uma explosão de asfixia e ânsia de vômito somado a mais algumas pancadas; pelo som disso tudo, Dirk tinha se engasgado com a espinha de peixe. E por fim, gaguejou:
— O Pasquim? Aquela revista lunática do Xeno Lovegood?
— Não está tão lunática, ultimamente. — disse Ted. — Você deveria dar uma olhada. Xeno está publicando tudo que o Profeta rejeita, e não houve uma só citação sobre Bufadores de Chifres Enrugados no último número. Até onde eles deixarão ele chegar, eu não sei, mas Xeno diz, na capa de cada exemplar, que qualquer bruxo que se opor à Você-Sabe-Quem terá como prioridade número um, ajudar Harry Potter.
— É difícil ajudar um garoto que sumiu da face da terra. — disse Dirk.
— Ouçam, o fato de que eles ainda não o terem capturado é uma façanha. — disse Ted. — Eu aceitaria umas dicas dele com prazer, já que é exatamente isso que estamos tentando fazer, ficarmos livres, não é?
— Sim... bem... você tocou num ponto. — disse Dirk pesadamente. — Com o Ministério e todos os seus informantes procurando por ele, eu acredito que ele já deva ter sido capturado a essa altura. Pense, quem dirá que eles o capturaram e o mataram sem que isso seja publicado?
— Ah, não diga isso, Dirk — murmurou Ted.
Houve uma longa pausa com mais bater de facas e garfos. Quando eles falaram de novo, foi para discutir onde eles iriam dormir — na encosta ou na floresta. Decidindo que as árvores dariam melhor proteção, eles apagaram o fogo, escalaram a encosta, as vozes sumindo enquanto se distanciavam.
Harry, Rony e Hermione guardaram as Orelhas Extensíveis. Harry, que tinha achado muito difícil a necessidade de ficarem em silêncio enquanto estavam escutando escondidos, se encontrou incapaz de dizer mais do que ‘ Gina– a espada –‘
— Eu sei — disse Hermione, pegando a bolsa e enfiando todo o braço em seu interior. — Aqui... está. — ela disse entre os dentes, puxando algo que estava, evidentemente, no fundo da bolsa. Vagarosamente, a extremidade de um porta-retrato apareceu. Harry foi ajudá-la. Quando eles tiraram o retrato vazio de Fineus Nigellus da bolsa, Hermione pegou sua varinha e apontou-a para tela, pronta para atacar a qualquer momento.
— Se alguém trocou a espada verdadeira pela falsa enquanto estava no escritório de Dumbledore... — ela ofegou, enquanto eles encostavam a pintura na lona da barraca — Fineus Nigellus teria visto, já que fica pendurado ao lado da caixa.
— A menos que ele estivesse dormindo — disse Harry, mas ainda assim segurou a respiração quando Hermione ajoelhou na frente da tela vazia, e com a varinha apontada para o centro dela, limpou a garganta e disse:
— Eh, Fineus? Fineus Nigellus? — nada aconteceu. — Fineus Nigellus? — disse Hermione de novo. — Professor Black? Por favor, podemos conversar? Por favor?
— Por favor sempre ajuda — disse uma voz fria e maliciosa, e Fineus Nigellus deslizou para sua moldura. De pronto, Hermione gritou:
– Obscuro!
Uma venda preta apareceu sobre os olhos de Fineus Nigellus, cobrindo seus olhos negros, fazendo-o bater na moldura e gemer de dor.
— O quê... como ousa... o que você está...?
— Eu sinto muito professor Black... — disse Hermione — mas é só por precaução.
— Tire essa faixa imunda de uma vez! Tire isso, estou mandando! Você está prejudicando uma grande obra de arte! Onde eu estou? O que está acontecendo?
— Não importa onde estamos. — disse Harry, e Fineus Nigellus parou, esquecendo de seus ataques, abandonando suas tentativas de tirar a venda pintada.
— Seria essa a voz do esquivo Sr. Potter?
— Talvez — disse Hermione, sabendo que isso manteria o interesse de Fineus Nigellus. — Nós temos algumas perguntas para lhe fazer... sobre a espada de Gryffindor.
— Ah! — disse Fineus Nigellus, forçando a cabeça contra a tela com esforço para ver algum sinal de Harry. — Sim... aquela garota tola não pensou muito para entrar aqui...
— Olha como fala da minha irmã! — disse Rony, grosseiramente. Fineus Nigellus ergueu sua sobrancelha.
— Quem mais está aqui? — ele perguntou, jogando a cabeça lado-lado. — O seu tom me desagrada! A garota e seus amigos foram tolos ao extremo. Roubar do diretor...
— Eles não estavam roubando — disse Harry. — Aquela espada não é do Snape.
— Ela pertence à escola do Professor Snape. — disse Fineus Nigellus. — Exatamente que direito aquela garota Weasley tinha sobre ela? Ela mereceu sua punição, assim como o idiota do Longbottom e a esquisita da Lovegood!
— Neville não é um idiota e Luna não é esquisita! — disse Hermione.
— Onde eu estou? — repetiu Fineus Nigellus, lutando com a venda de novo. — Onde vocês me trouxeram? Porque vocês me tiraram da casa de meus ancestrais?
— Não importa! Como Snape puniu Gina, Neville e Luna? — Harry perguntou urgentemente.
— Professor Snape os enviou à Floresta Proibida para fazer algum serviço com o imbecil do Hagrid...
— Hagrid não é um imbecil! — disse Hermione estridentemente.
— E Snape deve ter pensado que era uma punição. — disse Harry — mas Gina, Neville e Luna provavelmente deram boas risadas com Hagrid. A Floresta Proibida... com certeza eles já enfrentaram coisas piores que a Floresta Proibida, grande coisa! — Ele se sentiu aliviado, ele tinha imaginado horrores como a Maldição Cruciatus no mínimo.
— O que nós queremos saber realmente, professor Black, é se alguém mais pegou a espada. Talvez eles tenham levado para limpar ou algo assim? — Fineus Nigellus parou de novo sua luta contra a venda e deu uma risadinha.
— Trouxas de nascença...! — ele disse. — As armas forjadas pelos duendes não precisam ser limpas, garota ingênua. A prata dos duendes repele a sujeira mundana, absorve somente o que a fortalece.
— Não chame Hermione de ingênua! — disse Harry
— Eu estou me aborrecendo! — disse Fineus Nigellus. — Talvez esteja na hora de voltar ao escritório do diretor? Ainda com a venda, ele começou a tatear o lado da moldura, tentando achar o caminho até seu quadro em Hogwarts. Harry teve uma inspiração repentina.
— Dumbledore! Você pode nos trazer Dumbledore?
— Perdão? — perguntou Fineus Nigellus.
— O quadro de Dumbledore! Você não pode trazê-lo aqui, para o seu retrato?
Fineus Nigellus virou seu rosto em direção à voz de Harry:
— Evidentemente não são só os Trouxas de nascença, os ignorantes, Potter. Os quadros de Hogwarts podem se comunicar uns com os outros, sim, mas não podem sair do castelo a não ser para visitar uma pintura deles mesmos pendurada em algum outro lugar. Dumbledore não pode vir comigo, e depois do tratamento que eu recebi nas mãos de vocês, eu asseguro que não haverá uma segunda visita.
Desanimado, Harry viu Fineus redobrar suas tentativas para deixar sua moldura.
— Professor Black!? Você não poderia nos dizer quando foi a última vez que a espada foi tirada de sua caixa? Antes de Gina pegá-la, eu quero dizer? — Fineus bufou impaciente.
— Eu creio que a única vez que eu vi a espada de Gryffindor deixar sua caixa foi quando o Professor Dumbledore usou-a para quebrar um anel.
Hermione procurou o olhar de Harry à sua volta. Nenhum deles se preocupou em dizer mais nada na frente de Fineus Nigellus, que tinha afinal achado a saída.
— Bem... boa noite para vocês. — disse, um pouco mal humorado, e começou a se mover para fora do quadro. Somente a extremidade do seu chapéu podia ser vista quando Harry o chamou com um grito.
— Espere! Você falou alguma coisa ao Snape sobre isso?
Fineus Nigellus tirou sua cabeça vendada para fora da moldura.
— Professor Snape tem coisas mais importantes em sua cabeça do que muitas excentricidades de Alvo Dumbledore. Adeus, Potter!
E com aquilo, ele sumiu completamente, deixando para trás nada mais do que o fundo vazio de seu quadro.
— Harry! — exclamou Hermione
— Eu sei! — gritou o garoto.
Sem conseguir se conter, ele socou o ar, isso era mais do que ele havia esperado. Ele andou para cima e para baixo na barraca, parecia que tinha corrido um quilômetro. Ele não sentia mais fome. Hermione estava guardando o quadro de Fineus Nigellus na bolsa. Quando ela terminou de amarrar o fecho, colocou-a do lado e levantou o rosto resplandecente para Harry.
— A espada pode destruir as Horcruxes! As lâminas dos duendes só absorvem o que as fortalece! Harry, aquela espada está impregnada com o veneno do basilisco!
— E Dumbledore não a entregou a mim porque ele ainda precisava dela! Ele queria usá-la no medalhão...
—... e ele deve ter percebido que não a entregariam a você se a colocasse no testamento...!
—... então ele fez uma cópia...
—... e pôs a falsa na caixa de vidro...
—... e deixou a verdadeira... onde?
Eles se olharam; Harry sentiu que a resposta estava balançando, invisível no ar acima deles, atraentemente perto. Por que Dumbledore não disse a ele? Ou ele de fato tinha dito a Harry, mas Harry não percebeu na hora?
— Pense! — sussurrou Hermione. — Pense! Onde ele a deixaria?
— Não em Hogwarts — disse Harry, retomando sua paciência.
— Em algum lugar na Casa dos Gritos? — sugeriu Hermione.
— A Casa dos Gritos? — disse Harry. — Ninguém vai lá!
— Mas Snape sabe como entrar lá, não seria um pouco arriscado?
— Mas Dumbledore confiava em Snape. — Harry lembrou-a.
— Não o bastante para lhe dizer que ele trocou as espadas — disse Hermione.
— Sim, você está certa. — disse Harry, e se sentiu mais alegre ao pensar que Dumbledore tinha alguma dúvida sobre a sua confiança em Snape. — Então, e se ele escondeu a espada bem longe de Hogsmeade? O que você acha Rony? Rony?
Harry olhou em volta. Por um momento ele pensou que Rony tivesse saído da barraca, mas então ele o viu deitado na sombra do pequeno beliche olhando para o nada.
— Ah... lembrou de mim, foi? — ele disse.
— O quê?
Rony bufou enquanto descia do beliche.
— Vocês dois podem continuar. Não me deixem estragar a diversão.
Perplexo, Harry olhou para Hermione pedindo ajuda, mas ela chacoalhou a cabeça aparentemente como se não pudesse fazer nada.
— Qual é o problema? — perguntou Harry.
— Problema? Não há problema algum. — disse Rony, ainda se recusando a olhar para Harry. — Nada que lhe interesse, afinal.
Houve algumas pancadas na lona sobre a cabeça deles. Começou a chover.
— Bem... você definitivamente tem algum problema. — disse Harry. — Quer falar sobre isso?
Rony girou suas grandes pernas para fora da cama e pulou. Não parecia ser ele mesmo.
— Tudo bem, eu vou lhe dizer. Não espere que eu carregue essa barraca para cima e para baixo só porque há outra maldita coisa que nós devemos encontrar. Coloque isso na lista coisas que você não sabe.
— Eu não sei? — repetiu Harry. — Eu não sei?
Plunk, plunk, plunk. A chuva caía cada vez mais pesada, batendo no colchão de folhas em volta deles e no rio que corria pela escuridão. Encharcando o júbilo de Harry; Rony estava dizendo, Harry temia, exatamente o que ele tinha temido que estivesse pensando.
— Não foi assim que eu pensei em gastar meu tempo, sabe. — disse Rony. — Meu braço está desfigurado, não temos nada para comer e minhas costas ficam congeladas toda noite. Eu esperava, entende, que depois de correr essas semanas todas nós já tivéssemos encontrado alguma coisa.
— Rony — disse Hermione, mas com uma voz tão baixa que Rony parecia fingir não ouvir por causa da chuva forte que caia sobre eles.
— Eu pensei que você sabia em que tinha se metido — disse Harry.
— Sim, eu também pensei que sabia o que estava fazendo.
— Então que parte do acordo não atingiu suas expectativas? — perguntou Harry. A raiva se aproximando em sua defesa. — Você achou que estaríamos num hotel cinco estrelas? Encontrando uma Horcrux todo dia? Achou que voltaria para sua mamãezinha no Natal?
— Nós achávamos que sabíamos o que estávamos fazendo. — gritou Rony, ficando em pé, e as palavras deles pareciam facas contra Harry. — Nós pensávamos que Dumbledore tinha lhe dito o que fazer! Nós pensávamos que você tinha um plano de verdade!
— Rony! — disse Hermione, dessa vez com a voz mais audível sobre a chuva contra a barraca, mas de novo, ele a ignorou.
— Bem... desculpe desapontá-lo. — disse Harry, com voz calma, embora não se sentisse do mesmo modo por dentro. — Fui direto com você no começo e lhe dissetudo o que Dumbledore me disse. Em todo caso, se você não percebeu, nós encontramos uma Horcrux!
— Sim... e estamos tão perto de nos desfazer dela como estamos de encontrar o resto... em outras palavras, não estamos perto de nada!
— Tire o medalhão, Rony! — disse Hermione, com a voz anormalmente alta. — Por favor, tire. Você não estaria falando assim se não estivesse usando ele o dia todo.
— Sim, ele estaria. — disse Harry, que não queria aceitar desculpas para Rony. — Vocês acharam que eu percebi que vocês falam sobre mim pelas minhas costas? Que não percebi que vocês pensam exatamente isso?
— Harry, nós não estávamos...
— Não minta! — Rony gritou para ela. — Você disse isso também! Você disse que estava desapontada, você disse que pensou que ele tinha mais lugares para ir e...
— Eu não disse isso desta forma. Harry, eu não disse! — choramingou.
A chuva estava pingando na barraca, lágrimas escorriam pelo rosto de Hermione, desaparecendo com a alegria de minutos atrás. Tudo se parecia com pequenos fogos de artifício que subiram e desceram, deixando tudo escuro, molhado e frio. A espada de Griffindor estava escondida e eles não sabiam onde. Eles eram três adolescentes numa barraca com um único feito, que era, até o momento, estarem vivos.
— Então, por que ainda estão aqui? — Harry perguntou a Rony.
— Adivinha!? — disse Rony
— Vá para casa, então! — disse Harry.
— Sim... talvez eu vá! — gritou Rony, avançando sobre Harry, que não recuou. — Você não ouviu o que eles disseram sobre minha irmã? Mas você não se importa, não é? É só a Floresta Proibida, Harry “Enfrentei-o-pior” Potter não se importa com o que acontece com ela. Bem... eu me importo, tudo bem, aranhas gigantes e essas porcarias psicológicas...
— Eu só disse que ela estava com os outros, estava com Hagrid.
— Sim, eu entendi, não se preocupe! E o resto da minha família? "Os Weasley não precisam de mais um filho ferido”, você ouviu aquilo?
— Sim... eu...
— Não se importa com o que isso significa, não é?
— Rony! — disse Hermione, forçando caminho entre eles. — Eu não acho que isso significa que alguma coisa aconteceu. Nada que não saibamos. Pense Rony. Gui já está preocupado. Muitas pessoas já devem ter percebido que Jorge não tem uma orelha, e você parecia estar no seu leito de morte quando saímos, tenho certeza que, tudo o que ele quis dizer foi...
— Ah... você tem certeza? Certo então... bem eu não quero aborrecer vocês sobre eles. Tudo bem para vocês dois, não é? Com seus pais a salvos e fora do caminho...
— Meus pais estão mortos! — Harry berrou.
— E os meus podem estar no mesmo caminho! — gritou Ron.
— Então VÁ! — rosnou Harry. — Volte para eles! Finja que está morrendo e a mamãezinha irá alimentá-lo e...
Rony fez um movimento rápido. Harry reagiu, mas antes que a varinha de ambos saísse do bolso, Hermione levantou a sua.
— Protego! — ela gritou, e um campo invisível caiu sobre ela, num lado Harry e do outro Rony. Todos eles foram forçados a voltar uns passos atrás pela força do feitiço, e os garotos olharam um para outro através da barreira transparente como se estivessem se vendo claramente pela primeira vez. Harry sentia uma raiva corrosiva de Rony: algo havia se rompido entre eles.
— Tire a Horcux. — disse Harry.
Rony puxou a corrente por cima de sua cabeça e deixou o medalhão numa cadeira perto e se virou para Hermione.
— O que você está fazendo?
— O que quer dizer?
— Você vai ficar ou o quê?
— Eu... — ela parecia angustiada. — Sim. Sim... vou ficar. Rony, nós dissemos que iríamos com Harry, nós dissemos que o ajud...
— Eu entendi. Você o escolheu.
— Rony, não... por favor... volte, volte!
Estava impedida pelo seu próprio Feitiço Escudo; na hora que ela o conseguiu desfazer ele já havia sumido na noite. Harry ainda permanecia quieto e em silêncio, ouvindo-a soluçando e chamando o nome de Rony entre as árvores. Depois de alguns minutos ela voltou, o cabelo molhado colado no rosto.
– Ele se f-foi! Desaparatou!
Ela se jogou numa cadeira, se encolheu e começou a chorar. Harry se sentiu aturdido. Ele se inclinou para frente, pegou o Horcrux e colocou em volta do pescoço. Tirou o cobertor da cama de Rony e o pôs sobre Hermione. Então subiu na sua cama e ficou olhando para o teto de lona, ouvindo os pingos da chuva.