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- Capítulo três O jogo do brejo de Queerditch
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Unknown
junho 11, 2014
Terça-feira. Quente. Aqueles marginais da outra margem do brejo andaram aprontando outra vez. Às voltas com aquele jogo idiota montados em vassouras. Uma bola enorme de couro veio parar na minha horta de repolhos. Azarei o homem que veio buscá-la. Quero ver ele voar ajoelhado de trás para a frente,
porção peludo.
Terça-feira. Chuvoso. Entrei no brejo para colher urtigas. Os idiotas com as vassouras jogavam outra vez. Têm uma bola nova que atiram uns para os outros e tentam acertar em troncos de cada lado do brejo. Uma brincadeira inútil.
Terça-feira. Ventoso. Gwenog veio tomar chá de urtigas, depois me convidou para passear. Acabamos assistindo àqueles retardados jogarem o tal jogo do brejo. O bruxo grandalhão escocês que mora no alto do morro estava lá. Agora jogam com duas pedras pesadas que voam pelo ar e tentam derrubá-los das
vassouras. Infelizmente isso não aconteceu enquanto eu estava assistindo. Gwenog me contou que, muitas vezes, até ela participa desse jogo. Voltei para casa chateada.
Estes excertos nos revelam muito mais do que Trude Keddle poderia ter imaginado, além do fato de que ela só conhecia um dia da semana. Em primeiro lugar, a bola que caiu em sua horta de repolhos era feita de couro, como a moderna goles - com certeza era difícil atirar com precisão a vesicula cheia de ar usada em outros jogos com vassouras da época, particularmente em dias ventosos. Em segundo lugar, Trude nos informa que os homens "tentavam acertar a bola nos troncos de cada lado do brejo" - ao que parece uma forma primitiva de marcar gols. Em terceiro lugar, ela nos permite formar uma vaga idéia dos precursores dos balaços. É interessantíssimo que estivesse presente o tal "bruxo escocês grandalhão". Teria sido um jogador de Rachacrânio? Seria idéia dele enfeitiçar pedras pesadas para fazê-las voar ameaçadoramente pelo campo, inspirada nos pedregulhos usados no jogo de sua terra natal?
Não encontramos outras menções do esporte praticado no brejo de Queerditch até um século mais tarde quando o bruxo Goodwin Kneen tomou a pena para escrever ao seu primo norueguês, Olavo. Kneen vivia em Yorkshire, o que comprova a disseminação do esporte por toda a Grã-Bretanha nos cem anos que decorreram desde que Trude Keddle o assistia. A carta de Kneen encontra-se nos arquivos do Ministério da Magia norueguês.
Caro Olavo,
Como vai você? Eu estou bem, embora Gunhilda ande com uma cataporazinha de dragão.
Participamos de uma animada partida de jogo do brejo na noite de sábado, ainda que a coitada da Gunhilda não estivesse se sentindo em condições de jogar como pegadora e precisássemos substituí-la por Radulfo, o ferreiro. O time de Ilkley jogou bem ainda que não fosse páreo para nós, porque andamos praticando o mês inteiro e marcamos quarenta e dois gols. Radulfo levou um pedraço na testa porque o velho Ugga não foi bastante rápido com a maça. Os novos barris para marcação de gols funcionaram bem. Três na ponta de cada estaca, doados pela Oona da estalagem. Ela nos serviu quentão de graça a noite inteira porque ganhamos a partida. Gunhilda ficou meio aborrecida
porque voltei para casa tão tarde. Fui obrigado a me desviar de umas azarações bem ruinzinhas que ela me lançou, mas agora já recuperei meus dedos.
Estou despachando esta carta pela melhor coruja que tenho, na esperança de que ela chegue aí.
Seu primo,
Goodwin
Por esta carta podemos avaliar como o jogo havia progredido em um século. A mulher de Goodwin devia ter jogado de "pegadora" - provavelmente o nome antigo para artilheira. O "pedraço" (sem dúvida o balaço) que atingiu Radulfo, o ferreiro, deveria ter sido rebatido por Ugga, que obviamente estava jogando como batedor, pois usava um bastão. Os gols já não eram troncos, mas barris no alto de estacas. No entanto, continuava a faltar um elemento essencial ao jogo: o pomo de ouro. O acréscimo da quarta bola do quadribol só foi ocorrer em meados do século XIII e de maneira curiosa.