Posted by : Unknown junho 06, 2014

Capítulo 13


Parecia o fim da amizade entre Rony e Hermione. Estavam tão zangados um com o outro que Harry não conseguia ver como poderiam, um dia, fazer as pazes.
Rony estava enfurecido porque Hermione nunca levara a sério as tentativas de Bichento para devorar Perebas, não se dera o trabalho de vigiá-lo de perto e continuava fingindo que o gato era inocente, sugerindo que Rony procurasse Perebas embaixo das camas dos garotos. Por sua vez, Hermione insistia ferozmente que Rony não tinha provas de que Bichento devorara Perebas, que os pêlos talvez estivessem no dormitório desde o Natal, e que o garoto alimentara preconceitos contra o gato desde que Bichento aterrissara na cabeça dele na Animais Mágicos.
Pessoalmente, Harry tinha certeza de que Bichento comera Perebas, e quando tentou mostrar a Hermione que todas as evidências apontavam nessa direção, a garota zangara-se com ele também.
— Tudo bem, fique do lado do Rony, eu sabia que você ia fazer isso! — disse ela com voz aguda. — Primeiro a Firebolt, agora Perebas, tudo é minha culpa, não é? Então me deixe em paz, Harry tenho muito trabalho a fazer.
Rony estava realmente sofrendo muito com a perda do rato.
— Vamos, Rony, você vivia dizendo que Perebas era chato — disse Fred para consolá-lo. — E seu rato estava doente havia séculos, estava definhando. Provavelmente foi melhor para ele morrer depressa, de uma engolida, provavelmente nem sofreu.
— Fred! — exclamou Gina, indignada.
— Ele só fazia comer e dormir, Rony, você mesmo dizia — argumentou Jorge.
— Ele mordeu Goyle para nos defender uma vez! — disse Rony, infeliz. — Lembra, Harry?
— É, é verdade — confirmou o amigo.
— Foi o ponto alto da vida dele — disse Fred, incapaz de manter a cara séria. — Que a cicatriz no dedo de Goyle seja uma homenagem eterna a memória de Perebas. Ah, sai dessa, Rony, vai até Hogsmeade e compra um rato novo. Que adianta ficar se lamentando?
Numa última tentativa de animar Rony, Harry o convenceu a ir ao último treino do time da Grifinória, antes da partida com Corvinal, para poder dar uma volta na Firebolt quando terminassem. Isto pareceu, por um momento, desviar os pensamentos de Rony em Perebas ("Grande! Posso tentar fazer uns gols montado na vassoura?"), e os dois saíram para o campo de Quadribol juntos.
Madame Hooch, que continuava a supervisionar os treinos da Grifinória para vigiar Harry, ficou tão impressionada com a Firebolt quanto todo mundo que a vira.
A professora pegou a vassoura antes da decolagem e expôs aos jogadores sua opinião profissional.
— Olhem só o equilíbrio deste modelo! Se a série Nimbus tem algum defeito, é uma ligeira queda para a cauda, observa-se que depois de alguns anos isto se transforma num arrasto. Atualizaram o cabo também, mais fino do que as Cleansweeps, lembra as antigas Silver Arrows, uma pena que tenham parado de fabricá-las. Foi nelas que aprendi a voar, e também eram excelentes vassouras...
E a professora continuou nessa disposição por algum tempo até que Olívio a interrompeu:
— Hum... Madame Hooch? Será que a senhora podia devolver a vassoura a Harry? Temos que treinar...
— Ah, certo... Tome aqui, Potter — disse ela. — Vou me sentar ali adiante com Weasley...
Ela e Rony deixaram o campo e foram se sentar na arquibancada, e o time da Grifinória se agrupou em torno de Olívio para ouvir as últimas instruções para o jogo do dia seguinte.
— Harry, acabei de descobrir quem vai jogar como apanhador na Corvinal. É a Cho Chang: uma garota do quarto ano e muito boa... Para ser sincero eu tinha esperanças de que ela não tivesse voltado à forma, ela teve alguns problemas com contusões... — Olívio fez cara feia para assinalar seu desagrado pela plena recuperação de Cho Chang, depois continuou: — Por outro lado ela monta uma Comet 260, que vai parecer uma piada ao lado da Firebolt. — Olívio lançou um olhar de fervorosa admiração à vassoura de Harry, depois disse: — Muito bem, pessoal, vamos...
Então, finalmente, Harry montou na Firebolt, e deu impulso para levantar vôo.
Foi melhor do que ele jamais sonhara. A Firebolt virava ao menor toque; parecia obedecer a seus pensamentos em vez de suas mãos; ela atravessou o campo a tal velocidade que o estádio se transformou em um borrão verde e cinza;
Harry mudou de direção tão instantaneamente que Alicia Spinnet soltou um grito, e no instante seguinte ele entrou em um mergulho absolutamente controlado, raspando o gramado com as pontas dos pés antes de tornar a subir nove, doze, quinze metros no ar.
— Harry, vou soltar o pomo! — gritou Olívio.
O garoto virou a vassoura e apostou corrida com um balaço em direção às balizas; venceu-o com facilidade, viu o pomo disparar das costas de Olívio e em dez segundos já o tinha seguro na mão.
O time aplaudiu enlouquecido. Harry tornou a soltar o pomo, deu-lhe um minuto de dianteira e disparou atrás dele, desviando-se dos outros jogadores; depois, localizou-o próximo ao joelho de Katie Bell, fez uma volta em torno da garota e apanhou o pomo mais uma vez.
Foi o melhor treino que ele já fizera; os jogadores, inspirados pela presença da Firebolt na equipe, realizavam movimentos impecáveis, e, no momento em que voltaram ao chão, Olívio não teve uma única crítica a fazer, o que, como Jorge Weasley enfatizou, era a primeiríssima vez que acontecia.
— Não vejo o que é que vai nos deter amanhã! — disse Olívio. — A não ser que... Harry, você resolveu o seu problema com o dementador, não resolveu?
— Resolvi — disse Harry pensando no seu débil Patrono e desejando que ele fosse mais forte.
— Os dementadores não vão aparecer outra vez, Olívio. Dumbledore explodiria — disse Fred, confiante.
— Bem, esperemos que não — disse Olívio. — Em todo o caso... Bom trabalho, pessoal. Vamos voltar para a Torre... Dormir cedo...
— Eu vou ficar mais um pouco; Rony quer dar uma volta na Firebolt — avisou Harry a Olívio, e, enquanto os outros jogadores se dirigiam aos vestiários, Harry foi ao encontro de Rony, que saltou a barreira que separava o campo das arquibancadas com o mesmo fim. Madame Hooch adormecera onde estava.
— Manda ver — disse Harry, entregando ao amigo a Firebolt.
Rony, uma expressão de êxtase no rosto, montou na vassoura e disparou pela crescente escuridão, enquanto Harry andava em volta do campo, observando-o. Já anoitecera quando Madame Hooch acordou assustada, ralhou com os garotos por não a terem acordado e insistiu que voltassem ao castelo.
Harry pôs a Firebolt no ombro, e ele e Rony saíram do estádio sombrio, discutindo o desempenho suavíssimo da vassoura, sua fenomenal aceleração e suas curvas precisas. Estavam na metade do trajeto para o castelo quando Harry, olhando para a esquerda, viu uma coisa que fez seu coração dar uma cambalhota no peito — um par de olhos que luziam na escuridão.
Harry paralisou, o coração martelando as costelas.
— Que foi? — perguntou Rony.
Harry apontou. Rony puxou a varinha e murmurou:
— Lumus!
Um raio de luz se projetou pelo gramado, bateu no pé de uma árvore e iluminou seus ramos; lá, agachado entre as folhas que brotavam, estava Bichento.
— Dá o fora daqui! — bradou Rony curvando-se para apanhar uma pedra caída no chão, mas antes que pudesse fazer mais alguma coisa, Bichento havia desaparecido com um único movimento do longo rabo amarelo-avermelhado.
— Está vendo? — exclamou Rony, furioso, largando a pedra no chão. — Ela continua deixando o gato andar por onde quer, provavelmente comendo uns dois passarinhos como guarnição para acompanhar o Perebas...
Harry não comentou nada. Inspirou profundamente sentindo o alívio invadi-lo; por um momento tivera certeza de que aqueles olhos pertenciam ao Sinistro. Os dois garotos retomaram, mais uma vez, a caminhada para o castelo. Um pouco envergonhado pelo momento de pânico, Harry não comentou nada com Rony, nem olhou mais para a esquerda nem para a direita até chegarem ao bem iluminado saguão de entrada.
Harry desceu para tomar café na manhã seguinte com os outros garotos do dormitório, todos os quais pareciam achar que a Firebolt merecia uma espécie de guarda de honra. Quando Harry entrou no Salão Principal, as cabeças se voltaram para a vassoura, e houve muitos comentários excitados. Harry viu, com enorme satisfação, que todo o time da Sonserina fazia cara de assombro.
— Você viu a cara dele? — perguntou Rony com vontade de rir, virando-se para olhar Malfoy. — Ele nem consegue acreditar! Genial!
Olívio, também, usufruía da glória que a Firebolt refletia.
— Ponha ela aqui, Harry — sugeriu o capitão, ajeitando a vassoura no meio da mesa e girando-a cuidadosamente de modo a deixar a marca visível. Os alunos das mesas da Corvinal e da Lufa-Lufa não demoraram a ir olhá-la de perto. Cedrico Diggory se aproximou para cumprimentar Harry por ter adquirido uma substituta tão esplêndida para sua Nimbus e a namorada de Percy, Penelope Clearwater, da Corvinal, chegou a perguntar se podia segurar a Firebolt.
— Ora, ora, Penelope, nada de sabotagem! — disse Percy cordialmente, enquanto ela mirava a Firebolt.
— Penelope e eu fizemos uma aposta — contou ele ao time. — Dez galeões no vencedor da partida!
A garota tornou a pousar a vassoura, agradeceu a Harry e voltou à sua mesa.
— Harry, não deixe de ganhar — recomendou Percy num sussurro urgente. — Eu não tenho dez galeões. Estou indo, Penny! — E correu para comer uma torrada com a garota.
— Tem certeza que você sabe montar nessa vassoura, Potter? — disse uma voz arrastada e fria.
Draco Malfoy chegara para dar uma espiada, seguido de perto por Crabbe e Goyle.
— Acho que sim — disse Harry, descontraído.
— Tem muitas características especiais, não é? — disse Malfoy, os olhos brilhando de malícia. — Pena que não venha com um pára-quedas, para o caso de você chegar muito perto de um dementador.
Crabbe e Goyle deram risadinhas.
— Pena que você não possa acrescentar braços na sua, Draco — retrucou Harry. — Assim ela poderia apanhar o pomo para você.
Os jogadores da Grifínória deram grandes gargalhadas. Os olhos claros de Draco se estreitaram e ele se afastou. Os dois garotos observaram Draco se reunir aos demais jogadores da Sonserina, que juntaram as cabeças, sem dúvida para perguntar a ele se a vassoura de Harry era realmente uma Firebolt.
As quinze para as onze, o time da Grifinória saiu em direção ao vestiário. O tempo não poderia estar mais diferente do que o do dia da partida com Lufa-Lufa.
Fazia um dia claro e frio com uma levíssima brisa; desta vez não haveria problemas de visibilidade e Harry, embora nervoso, estava começando a sentir a excitação que somente uma partida de Quadribol era capaz de produzir. Eles ouviram o resto da escola entrando, mais além, no estádio. Harry despiu as vestes negras da escola, tirou a varinha do bolso e enfiou-a na camiseta que ia usar por baixo do uniforme de Quadribol. Só esperava que não fosse preciso usá-la. De repente lhe ocorreu uma dúvida: Se o Profº. Lupin estaria no meio da multidão, assistindo à partida.
— Vocês sabem o que temos de fazer — disse Olívio quando o time se preparava para deixar o vestiário. — Se perdermos esta partida, estaremos fora do campeonato. Vocês só têm que voar como fizeram no treino de ontem, e vamos nos dar bem!
Os jogadores saíram do vestiário para o campo debaixo de tumultuosos aplausos. O time da Corvinal, vestido de azul, já estava parado no meio do campo. A apanhadora, Cho Chang, era a única menina da equipe. Era mais baixa do que Harry quase uma cabeça, e, por mais nervoso que estivesse, ele não pôde deixar de reparar que era uma garota muito bonita. Cho sorriu para ele quando os times ficaram frente a frente, atrás dos capitães, e o garoto sentiu uma ligeira pulsação na região do baixo ventre que ele achou que não tinha relação alguma com o seu nervosismo.
— Wood, Davies, apertem-se as mãos — disse Madame Hooch, eficiente, e Olívio apertou a mão do capitão de Corvinal. — Montem nas vassouras... Quando eu apitar... Três, dois, um...
Harry deu o impulso para subir, e a Firebolt voou mais alto e mais veloz do que qualquer outra vassoura; ele sobrevoou o estádio e começou a espiar para todos os lados à procura do pomo, prestando atenção aos comentários que estavam sendo irradiados pelo amigo dos gêmeos Weasley, Lino Jordan.
— Foi dado início à partida, e a grande novidade é a Firebolt que Harry Potter está montando pelo time da Grifinória. Segundo a Qual Vassoura, a Firebolt será a montaria escolhida pelos times nacionais para o Campeonato Mundial deste ano...
— Jordan, você se importa de nos dizer o que está acontecendo no campo? — interrompeu-o a voz da Profª. McGonagall.
— Certo, professora, eu só estava situando os ouvintes... A Firebolt, aliás, tem um freio automático e...
— Jordan!
— Ok, Ok, Grifinória tem a posse da goles, Katie Bell da Grifinória está voando em direção à baliza...
Harry passou veloz por Katie, à procura de um reflexo dourado, e reparou que Cho Chang o seguia muito de perto. Não havia dúvida de que a garota era um excelente piloto — não parava de cortar sua frente, forçando-o a mudar de direção.
— Mostre a ela sua aceleração, Harry! — berrou Fred ao passar disparado em perseguição de um balaço que seguia na direção de Alicia.
Harry impulsionou a Firebolt quando contornaram as balizas da Corvinal, e Cho ficou para trás. No momento exato em que Katie conseguia marcar o primeiro gol da partida e o lado do campo da Grifinória enlouquecia de entusiasmo, Harry viu... O pomo estava perto do chão, esvoaçando próximo à barreira.
Harry mergulhou; Cho percebeu o seu movimento e disparou atrás dele. O garoto foi aumentando a velocidade, tomado de excitação; os mergulhos eram sua especialidade, estava a três metros...
Então um balaço, arremessado por um dos batedores de Corvinal, saiu a roda, Harry nem viu de onde; ele mudou de rumo, evitando o petardo por um dedo, e, naqueles segundos cruciais, o pomo sumiu.
Houve um grande "ooooooh" de desapontamento da torcida de Grifinória, mas muitos aplausos de Corvinal para o seu batedor. Jorge Weasley deu vazão ao que sentia lançando um segundo balaço diretamente contra o autor do arremesso, que, por sua vez, foi forçado a dar uma cambalhota em pleno ar para evitar a colisão.
— Grifinória lidera por oitenta pontos a zero, e olhe só o desempenho daquela Firebolt! Potter agora está realmente mostrando o que ela é capaz de fazer, vejam como muda de direção — a Comet de Chang simplesmente não é páreo para ela, o balanceamento preciso da Firebolt é visível nesses longos...
— JORDAN! VOCÊ ESTÁ GANHANDO PARA ANUNCIAR A FIREBOLT? VOLTE A IRRADIAR O JOGO!
Corvinal começou a jogar na retranca; já tinha marcado três gols, o que deixava Grifinória apenas cinqüenta pontos à frente e se Cho apanhasse o pomo antes deles, Corvinal ganharia a partida.
Harry reduziu a altitude, evitando por um triz um artilheiro de Corvinal, e esquadrinhou nervosamente o campo, um lampejo de ouro, um adejar de asinhas, o pomo estava circulando a baliza de Grifinória...
Harry acelerou, os olhos fixos no pontinho dourado à frente, mas nesse instante, Cho apareceu de repente, bloqueando sua visão...
— HARRY, ISSO NÃO É HORA PARA CAVALHEIRISMOS! — berrou Olívio quando o garoto deu uma guinada para evitar a colisão. — SE FOR PRECISO, DERRUBE-A DA VASSOURA!
Harry se virou e avistou Cho; a garota estava sorrindo.
O pomo sumira outra vez. Ele apontou a vassoura para o alto e logo chegou a sessenta metros sobre o campo. Pelo canto do olho, ele viu Cho seguindo-o... Ela resolvera marcá-lo em vez de procurar o pomo sozinha. Muito bem, então... Se queria segui-lo, teria que arcar com as conseqüências...
Harry mergulhou outra vez, e Cho, pensando que ele avistara o pomo, tentou acompanhá-lo; ele desfez o mergulho abruptamente; Cho continuou a descida veloz; ele subiu mais uma vez, como uma bala, e então viu-o, pela terceira vez, o pomo cintilava muito acima do campo, do lado da Corvinal.
Harry acelerou; a muitos metros abaixo Cho fez o mesmo.
Ele foi reduzindo a distância, se aproximando mais do pomo a cada segundo... Então...
— Oh! — gritou Cho, apontando.
Distraído, Harry olhou para baixo.
Três dementadores, três dementadores altos, negros, lá embaixo, olhavam para ele.
Harry nem parou para pensar. Enfiou a mão pelo decote de suas vestes, sacou a varinha e berrou:
— Expecto patronum!
Uma coisa branco-prateada, uma coisa enorme, irrompeu de sua varinha. Ele percebeu que apontara diretamente para os dementadores, mas não parou para ver o efeito; sua mente continuava milagrosamente clara, ele olhou para a frente estava quase lá.
Estendeu a mão que ainda segurava a varinha e conseguiu fechar os dedos sobre o pequeno pomo que se debatia.
Soou o apito de Madame Hooch. Harry se virou no ar e viu seis borrões vermelhos voando em sua direção; no momento seguinte, o time o abraçava com tanta força que ele quase foi arrancado da vassoura. Ouvia-se lá embaixo os brados da torcida da Grifinória em meio aos espectadores.
— Aí, garoto! — Olívio não parava de berrar. Alicia, Angelina e Katie, todas, tinham beijado Harry; Fred o abraçara com tanta força que ele achou que sua cabeça ia saltar do corpo. Em completa desordem, o time conseguiu voltar ao campo. Harry desmontou a vassoura, levantou a cabeça e viu um bando de torcedores da Grifinória saltar para dentro do campo, Rony à frente. Antes que desse por si, fora engolfado pela turma que gritava aplaudindo-o.
— Sim! — gritava Rony, puxando com força o braço de Harry e erguendo-o no ar. — Sim! Sim!
— Grande partida, Harry! — disse Percy, feliz. — Dez galeões para mim! Preciso procurar Penelope, com licença...
— Parabéns, Harry! — bradou Simas Finnigan.
— Brilhante! — berrou Hagrid por cima das cabeças dos alunos da Grifinória que acorriam.
— Foi um Patrono impressionante — disse uma voz no ouvido de Harry.
Harry se virou e viu o Profº. Lupin, que parecia ao mesmo tempo abalado e satisfeito.
— Os dementadores não me afetaram nada! — exclamou Harry excitado, — Eu não senti nada!
— Foi porque eles... Hum... Não eram dementadores — explicou o professor. — Venha ver...
Ele desvencilhou Harry da aglomeração até poderem ver a lateral do campo.
— Você deu um grande susto no Sr. Malfoy — disse Lupin.
Harry arregalou os olhos. Amontoados no chão estavam Malfoy, Crabbe, Goyle e Marcos Flint, o capitão do time da Sonserína, lutando para se despir das vestes negras e longas com capuzes. Pelo jeito Malfoy estivera em pé nos ombros de Goyle. Parada ao lado deles, com uma expressão de fúria no rosto, estava a Profª. Minerva.
— Um truque indigno! — bradava ela. — Uma tentativa baixa e covarde de sabotar o apanhador de Grifinória! Detenção para todos e menos cinqüenta pontos para Sonserina! Vou falar com o Profº. Dumbledore, não se iludam! Ah, aí vem ele agora!
Se alguma coisa podia selar a vitória de Grifinória, era isso.
Rony, que pelejara para chegar até Harry, se dobrava de tanto rir, ao contemplar Malfoy tentando sair da veste, a cabeça de Goyle ainda presa lá dentro.
— Vamos, Harry! — Disse Jorge procurando se aproximar. — Festa! Sala Comunal da Grifinória, agora!
— Certo — respondeu Harry, sentindo-se mais feliz do que se lembrava de ter se sentido havia muito tempo. Ele e o restante do time abriram caminho, ainda de vestes vermelhas, para fora do estádio e de volta ao castelo.
A sensação era de que já tinham ganhado a Taça de Quadribol; a festa durou o dia inteiro e se prolongou até tarde da noite. Fred e Jorge Weasley desapareceram algumas horas e voltaram com braçadas de garrafinhas de cerveja amanteigada, abóbora espumante e vários sacos de doces da Dedosdemel.
— Como foi que você fez isso?! — gritou Angelina Johnson quando Jorge começou a atirar sapos de menta nos colegas.
— Com uma ajudinha de Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas — murmurou Fred ao ouvido de Harry. Somente uma pessoa não participava da comemoração. Hermione, por incrível que pareça, estava sentada a um canto, tentando ler um enorme livro intitulado Vida Doméstica e Hábitos Sociais dos Trouxas Britânicos. Harry se afastou da mesa em que Fred e Jorge começavam a fazer malabarismos com as garrafinhas de cerveja amanteigada e foi até a amiga.
— Você ao menos foi ao jogo? — perguntou ele.
— Claro que fui — respondeu Hermione numa voz estranhamente aguda, sem levantar a cabeça. — E estou muito contente que a gente tenha ganhado, e acho que você jogou realmente bem, mas tenho que ler isso aqui até segunda-feira.
— Vamos, Mione, venha comer alguma coisa — convidou Harry, enquanto olhava para Rony e se perguntava se ele teria suficiente bom humor para guardar a machadinha de guerra.
— Não posso, Harry. Ainda tenho quatrocentas e vinte e duas páginas para ler — respondeu a garota, agora num tom ligeiramente histórico. — De qualquer modo... — a garota olhou para Rony, também —, ele não quer a minha companhia.
Quanto a isso, não havia o que discutir, porque Rony escolheu aquele momento para dizer em voz alta:
— Se Perebas não tivesse sido devorado, ele poderia ter comido uma mosca de chocolate. Ele gostava tanto...
Hermione caiu no choro. Antes que Harry pudesse dizer alguma coisa, ela meteu o enorme livro embaixo do braço e, ainda soluçando, correu para a escada do dormitório das meninas e desapareceu de vista.
— Será que você não podia dar a ela um tempo? — perguntou Harry a Rony em voz baixa.
— Não — respondeu o garoto com firmeza. — Se ela ao menos mostrasse que lamenta, mas jamais vai admitir que errou, a Hermione. Continua a agir como se Perebas tivesse tirado férias ou qualquer coisa do gênero.
A festa da Grifinória só terminou quando a Profª. Minerva apareceu vestida com o seu robe de tecido escocês e os cabelos presos numa rede, à uma hora da manhã, para insistir que todos fossem se deitar. Harry e Rony subiram as escadas para o dormitório, ainda discutindo a partida. Por fim, exausto, Harry se enfiou na cama, ajeitou o cortinado de sua cama para esconder um raio de luar, se deitou de costas e sentiu que adormecia quase instantaneamente...
Teve um sonho muito estranho. Estava andando por uma floresta, a Firebolt ao ombro, seguindo uma coisa branco-prateada. Ela avançava entre as árvores e Harry só conseguia avistá-la entre a folhagem. Ansioso para alcançá-la, apressou o passo, mas ao fazer isso, a coisa que ele perseguia acelerou também.
Harry começou a correr e, à frente dele, ouviu cascos que ganhavam velocidade. Agora ele estava correndo desabalado e, à frente, ouvia a coisa galopar. Então ele fez uma curva para dentro de uma clareira e...
— AAAAAAAAAAAIIIIIIIIIII! NAAAAAAAAÃO!
Harry acordou subitamente como se alguém o tivesse esbofeteado.
Desorientado na escuridão total agarrou as cortinas ouvia movimentos a sua volta e a voz de Simas Finnigan do outro lado do quarto:
— Que é que está acontecendo?
Harry achou ter ouvido a porta do dormitório bater. Finalmente, encontrando a
abertura das cortinas, puxou-as para um lado com violência e, na mesma hora, Dino Thomas acendeu o abajur. Rony estava sentado na cama, as cortinas rasgadas dos dois lados, uma expressão de absoluto terror no rosto.
— Black! Sirius Black! Com uma faca!
— Que!
— Aqui! Agorinha mesmo! Cortou as cortinas! Me acordou!
— Você tem certeza de que não sonhou, Rony? — perguntou Dino.
— Olha só as cortinas! Estou dizendo, ele esteve aqui!
Todos os garotos saltaram das camas; Harry alcançou a porta do dormitório primeiro que os outros e desceu correndo as escadas.
Portas se abriram às suas costas e vozes cheias de sono chamaram.
— Quem gritou?
— Que é que vocês estão fazendo?
A sala comunal estava iluminada com o brilho das chamas que se extinguiam na lareira, ainda atulhada com os restos da festa. Estava deserta.
— Você tem certeza de que não estava dormindo, Rony?
— Estou dizendo que vi Black!
— Que barulheira é essa?
— A Profª. McGonagall nos mandou para a cama! Algumas garotas tinham descido, vestindo os robes e bocejando. Os garotos também foram reaparecendo.
— Que ótimo, vamos continuar? — perguntou Fred Weasley animado.
— Todos de volta para cima! — falou Percy, que entrou correndo na sala comunal prendendo o distintivo de monitor-chefe no pijama enquanto falava.
— Percy... Sirius Black! — disse Rony com a voz fraca. — No nosso dormitório! Com uma faca! Me acordou!
A sala comunal mergulhou em silêncio.
— Que bobagem! — exclamou Percy parecendo espantado. — Você comeu demais, Rony... Teve um pesadelo...
— Estou lhe dizendo...
— Agora, francamente, já é demais!
A Profª. Minerva estava de volta. Ela bateu o retrato ao entrar na sala comunal e olhou furiosa para todos.
— Estou encantada que Grifinória tenha ganho a partida, mas isto está ficando ridículo! Percy, eu esperava mais de você!
— Com certeza eu não autorizei isso, professora! — defendeu-se Percy, se empertigando, indignado. — Estava justamente dizendo a todos para voltarem para a cama! Meu irmão Rony teve um pesadelo...
— NÃO FOI UM PESADELO! — berrou Rony. — PROFESSORA, EU ACORDEI E SIRIUS BLACK ESTAVA PARADO AO MEU LADO SEGURANDO UMA FACA!
A professora encarou-o.
— Não seja ridículo, Weasley, como seria possível ele passar pelo buraco do retrato?
— Pergunte a ele! — respondeu Rony apontando um dedo trêmulo para o avesso do retrato de Sir Cadogan. — Pergunte se ele viu...
Com um olhar penetrante e desconfiado para Rony, a professora empurrou o retrato e saiu. Todos na sala procuraram escutar prendendo a respiração.
— Sir Cadogan, o senhor acabou de deixar um homem entrar na Torre da Grifinória?
— Certamente, minha boa senhora! — exclamou o cavaleiro.
Fez-se um silêncio de espanto, tanto dentro quanto fora da sala comunal.
— O senhor... O senhor deixou? Mas... E a senha?
— Ele sabia! — respondeu Sir Cadogan com orgulho. — Tinha as senhas da semana inteira, minha senhora! Leu-as em um pedacinho de papel!
A professora tornou a passar pelo buraco do retrato e encarou os alunos atordoados. Estava branca como giz.
— Quem foi — perguntou ela com a voz trêmula —, quem foi a criatura abissalmente tola que anotou as senhas desta semana e as largou por aí?
Fez-se um silêncio absoluto, quebrado por gritinhos quase inaudíveis de terror. Neville Longbottom, tremendo da cabeça às pontas dos chinelos fofos, ergueu a mão no ar.

Leave a Reply

Subscribe to Posts | Subscribe to Comments

- Copyright © Harry Potter e o Portal da Escuridão Eterna - Portal da Escuridão Eterna - Powered by Blogger - Designed by Nathan Lincoln Ponce -