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Unknown
junho 04, 2014
Capítulo 4
— Aqui não, garoto! — disse Moody com aspereza. — Espere até chegarmos lá dentro! — E, puxando o pedaço de pergaminho da mão de Harry, ateou fogo nele com a ponta da varinha. Enquanto a mensagem se crispava em chamas e flutuava lentamente até o chão, Harry tornou a examinar as casas. Estavam parados diante do número onze; ele olhou para a esquerda e viu o número dez; para a direita, no entanto, o número era treze.
— Mas onde...?
— Pense no que você acabou de ler — disse Lupin em voz baixa. Harry pensou e, mal chegara à menção do número doze da praça, uma porta escalavrada se materializou entre os números onze e treze, e a ela se seguiram paredes sujas e janelas opacas de fuligem. Era como se uma casa extra tivesse se inflado, empurrando as suas vizinhas para os lados. Harry boquiabriu-se. A música no número onze continuava a tocar com força. Aparentemente, os trouxas que estavam ali dentro não haviam percebido nada.
— Vamos, Harry — rosnou Moody, empurrando-o pelas costas.
O garoto subiu os degraus de pedra gastos, olhando fixamente para a porta que acabara de aparecer. A tinta preta estava desbotada e cheia de arranhões.
A maçaneta de prata tinha a forma de uma serpente enroscada. Não havia buraco de fechadura nem caixa de correio.
Lupin puxou a varinha e deu uma batida na porta. Harry ouviu uma sucessão de ruídos metálicos que lembravam correntes retinindo. A porta abriu rangendo.
— Entre depressa, Harry — cochichou Lupin —, mas não se afaste nem toque em nada.
O garoto cruzou a soleira da porta e mergulhou na escuridão quase absoluta do hall. Sentiu o cheiro adocicado de decomposição, poeira e umidade; o local dava a impressão de ser um prédio condenado. Ele espiou por cima do ombro e viu os outros se enfileirarem às suas costas, Lupin e Tonks trazendo o malão e a gaiola de Edwiges.
Moody estava parado no último degrau, devolvendo as bolas de luz que o desiluminador roubara dos lampiões; elas voaram de volta às lâmpadas e a praça brilhou momentaneamente com uma claridade laranja, antes de Moody entrar coxeando na casa e fechar a porta da frente, de modo que a escuridão no hall se tornou completa.
— Agora...
Ele bateu a varinha com força na cabeça de Harry; o garoto desta vez teve a sensação de que uma coisa quente escorria por sua coluna e percebeu que o
Feitiço da Desilusão se desmanchara.
— Agora fiquem quietos, todos, enquanto providencio um pouco de luz aqui — sussurrou Moody.
Os murmúrios dos outros estavam dando a Harry uma estranha sensação de agouro; era como se tivessem acabado de entrar na casa de um moribundo. Ele ouviu um assobio suave e em seguida candeeiros antiquados, a gás, ganharam vida ao longo das paredes, lançando uma luz tênue e bruxuleante sobre o papel descascado e o tapete puído de um corredor longo e sombrio, em cujo teto refulgia um lustre coberto de teias de aranha e, nas paredes, quadros tortos e escurecidos pelo tempo. Harry ouviu uma coisa correr pelo rodapé. O lustre e os castiçais sobre uma mesa desengonçada ali perto tinham a forma de serpentes.
Ouviram-se passos apressados e a mãe de Rony, a Sra. Weasley, surgiu por uma porta ao fundo do corredor. Exibia um grande sorriso de boas-vindas ao vir ao encontro deles, embora Harry reparasse que estava mais magra e pálida do que da última vez que a vira.
— Ah, Harry, que bom ver você! — sussurrou ela, puxando-o para um abraço de partir costelas antes de afastá-lo e examiná-lo com um olhar crítico.
— Você está parecendo meio doente; está precisando de boa alimentação, mas acho que terá de esperar um pouco pelo jantar.
Ela se voltou para o bando de bruxos atrás de Harry e cochichou pressurosa:
— Ele acabou de chegar, a reunião começou.
Os bruxos demonstraram interesse e excitação e foram passando por Harry em direção à porta pela qual a Sra. Weasley acabara de sair. O garoto fez menção de acompanhar Lupin, mas ela o deteve.
— Não, Harry, a reunião é só para membros da Ordem. Rony e Hermione estão lá em cima, você pode esperar com eles até a reunião terminar, depois jantaremos. E fale baixo no corredor — acrescentou ela apressada.
— Por quê?
— Não quero despertar ninguém.
— Que é que a senhora...
— Eu explico depois, agora tenho de correr. Preciso participar da reunião... só vou lhe mostrar onde vai dormir.
Levando o dedo aos lábios, ela o conduziu pé ante pé ao longo da parede coberta por altas cortinas comidas por traças, atrás das quais Harry supôs que houvesse outra porta, e, depois de contornar um enorme porta-guarda-chuvas que parecia ter sido feito com perna de trasgo, eles começaram a subir uma escada escura em que havia cabeças encolhidas e montadas sobre placas na parede lateral. Um exame mais atento revelou ao garoto que as cabeças pertenciam a elfos domésticos. Todos tinham o mesmo narigão.
O espanto de Harry crescia a cada passo. Que é que eles estavam fazendo em uma casa que parecia pertencer ao mais tenebroso bruxo das trevas?
— Sra. Weasley, por quê...?
— Rony e Hermione lhe explicarão tudo, querido, eu realmente tenho de correr — explicou a Sra. Weasley distraída. — Chegamos... — tinham alcançado o segundo patamar —, a sua é a porta da direita. Chamo você quando terminar.
E tornou a descer as escadas, apressada.
Harry atravessou o patamar encardido, girou a maçaneta em forma de cabeça de serpente e abriu a porta.
Deu uma breve olhada no quarto sombrio de teto alto em que havia duas camas; então ouviu um alvoroço seguido de um grito mais alto, e sua visão foi completamente obscurecida por uma grande quantidade de cabelos muito espessos. Hermione se atirara sobre ele em um grande abraço que quase o derrubou no chão, ao mesmo tempo que a minúscula coruja de Rony,
Pichitinho, voava excitada, descrevendo círculos contínuos por suas cabeças.
— HARRY! Rony, ele está aqui, Harry está aqui! Não ouvimos você chegar!
Ah, como é que você vai? Está bom? Ficou furioso com a gente? Aposto que ficou, eu sei, as nossas cartas não serviam para nada — mas a gente não podia contar nada. Dumbledore nos fez jurar que não contaríamos, ah, temos tanta coisa para lhe contar e você tem coisas para nos contar: os dementadores!
Quando soubemos — e aquela audiência no Ministério — é um absurdo, procurei tudo nos livros, eles não podem expulsar você, simplesmente não podem, tem uma cláusula no Decreto de Restrição à Prática de Magia por
Menores prevendo situações em que há risco de vida...
— Deixa ele respirar, Mione — disse Rony, fechando a porta às costas do amigo. Ele parecia ter crescido vários centímetros durante o mês de separação, tornara-se mais alto e mais desengonçado do que nunca, embora o nariz comprido, os cabelos ruivos e as sardas continuassem iguais.
Ainda sorridente, Hermione soltou Harry, mas, antes que pudesse falar, ouviu-se um farfalhar suave e alguma coisa branca saiu voando do alto do armário escuro e pousou gentilmente no ombro de Harry.
— Edwiges!
A coruja muito branca abriu e fechou o bico e mordiscou com carinho a orelha de Harry, enquanto ele acariciava suas penas.
— Ela esteve muito nervosa — contou Rony. — Quase matou a gente de tanta bicada quando trouxe suas últimas cartas. Vê só...
E mostrou a Harry o dedo indicador direito com um corte quase cicatrizado, mas visivelmente profundo.
— Ahhhhh. Desculpe pelo corte, mas eu queria respostas, entende...
— E nós queríamos dar, cara — respondeu Rony. — Hermione estava uma fera, não parava de dizer que você ia fazer uma burrice se ficasse sozinho, sem saída e sem notícias, mas Dumbledore nos fez...
—... jurar que não contariam — completou Harry. — É, a Mione já me disse isso.
A pequena chama que se acendera em seu peito ao ver os dois maiores amigos se apagou, e uma coisa gelada inundou a boca do seu estômago. De repente — depois de ansiar o mês inteiro para ver os dois — ele sentiu que preferia que Rony e Hermione o deixassem sozinho.
Houve um silêncio tenso em que Harry acariciou Edwiges mecanicamente, sem olhar para os amigos.
— Pelo visto ele pensou que era melhor — disse Hermione ofegante. — Dumbledore, quero dizer.
— Certo — respondeu Harry. Reparou que as mãos da amiga, também, tinham marcas do bico de Edwiges, e descobriu que não sentia a menor pena.
— Acho que ele pensou que você estava mais seguro com os trouxas — começou Rony.
— Ah, é? — retrucou Harry, erguendo as sobrancelhas. — Algum de vocês foi atacado por dementadores este verão?
— Bem, não... mas foi por isso que ele mandou gente da Ordem da Fênix seguir você o tempo todo...
Harry sentiu um enorme choque como se tivesse pulado um degrau, sem querer, na descida de uma escada. Então todo o mundo sabia que ele estava sendo seguido, menos ele.
— Não deu muito certo, não foi? — disse Harry, fazendo o possível para manter a voz neutra. — No final, tive de me virar sozinho, não foi?
— Ele estava muito zangado — justificou Hermione, num tom de assombro. — Dumbledore. Nós o vimos. Quando descobriu que Mundungo tinha saído antes de terminar o turno de serviço. Dava até medo.
— Muito bem, fico satisfeito que ele tenha saído — respondeu Harry com frieza. — Se não tivesse, eu não precisaria usar a magia e Dumbledore provavelmente teria me largado na rua dos Alfeneiros o verão todo.
— Você não está... não está preocupado com a audiência do Ministério da
Magia? — perguntou Hermione baixinho.
— Não — mentiu Harry em tom de desafio. E afastou-se deles olhando para os lados, com Edwiges aninhada satisfeita em seu ombro, mas este quarto não ia melhorar seu humor. Era escuro e úmido. Uma tira lisa de lona em uma moldura enfeitada era a única coisa que interrompia a nudez das paredes descascadas, e, ao passar pelo objeto, Harry pensou ter ouvido alguém, que estava escondido, dar uma risadinha.
— Então por que é que Dumbledore estava tão ansioso para me deixar no escuro? — perguntou Harry, ainda tentando parecer displicente. — Vocês... se deram o trabalho de perguntar?
Ele ergueu os olhos em tempo de ver a expressão do olhar que os dois trocaram e que o fez perceber que estava reagindo exatamente do jeito que os amigos temiam. O que não melhorou em nada o seu mau humor.
— Dissemos a Dumbledore que queríamos informar você do que estava acontecendo — disse Rony. — Dissemos, cara. Mas ele anda realmente ocupado, só o vimos duas vezes desde que viemos para cá e sempre com pressa, só nos fez jurar que não contaríamos nada que tivesse importância quando lhe escrevêssemos, disse que as corujas poderiam ser interceptadas.
— Ainda assim, ele poderia me manter informado, se quisesse – disse Harry, impaciente. — Vocês não vão me dizer que ele não conhece outros meios de mandar mensagens sem corujas.
Hermione olhou para Rony e disse:
— Pensei nisso também. Mas ele não queria que você soubesse de nada.
— Vai ver ele acha que não mereço confiança — disse Harry, observando o rosto dos amigos.
— Não seja burro — disse Rony, parecendo muito desapontado.
— Ou que não sei cuidar de mim mesmo.
— Claro que não pensa isso! — disse Hermione, ansiosa.
— Então como é que eu tenho de ficar na casa dos Dursley, enquanto vocês dois vêm participar de tudo que está acontecendo aqui? — perguntou Harry, as palavras cascateando num atropelo, a voz se elevando a cada palavra. — Como é que permitem a vocês dois saberem de tudo que está acontecendo?
— Não sabemos! — interrompeu-o Rony. — Mamãe não deixa a gente se aproximar das reuniões, diz que somos muito crianças...
Mas antes que percebesse, Harry estava gritando.
— ENTÃO VOCÊS NÃO TÊM PARTICIPADO DAS REUNIÕES, GRANDE COISA! ESTIVERAM AQUI O TEMPO TODO, NÃO FOI? ESTIVERAM JUNTOS O TEMPO TODO! AGORA, EU, FIQUEI ENCALHADO NA RUA DOS ALFENEIROS O MÊS INTEIRO! E JÁ RESOLVI MUITO MAIS DO QUE VOCÊS JAMAIS CONSEGUIRAM E DUMBLEDORE SABE DISSO — QUEM SALVOU A PEDRA FILOSOFAL? QUEM SE LIVROU DO RIDDLE? QUEM SALVOU A PELE DE VOCÊS DOS DEMENTADORES?
Cada pensamento amargurado e cheio de rancor que Harry tivera no último mês foi saindo de dentro dele: sua frustração com a falta de notícias, a mágoa de que todos tinham estado juntos sem ele, sua fúria por estar sendo seguido e ninguém lhe informar — todos os sentimentos de que sentia uma certa vergonha extravasaram. Edwiges assustou-se com a gritaria e tornou a voar para cima do armário; Pichitinho, alarmado, soltou vários pios e voou ainda mais depressa ao redor das cabeças dos garotos.
— QUEM FOI QUE TEVE DE PASSAR POR DRAGÕES E ESFINGES E OUTRAS COISAS REPUGNANTES NO ANO PASSA DO? QUEM VIU ELE VOLTAR? QUEM TEVE DE ESCAPAR DELE? EU!
Rony ficou parado ali, com o queixo meio caído, visivelmente chocado, e sem saber o que responder, enquanto Hermione parecia à beira das lágrimas.
— MAS POR QUE EU DEVERIA SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO? POR QUE ALGUÉM SE DARIA O TRABALHO DE ME DIZER O QUE ANDOU ACONTECENDO?
— Harry, nós queríamos lhe dizer, nós realmente queríamos – começou Hermione.
— NÃO PODEM TER QUERIDO TANTO ASSIM, PODEM, OU TERIAM ME MANDADO UMA CORUJA, MAS DUMBLEDORE FEZ VOCÊS JURAREM...
— Fez mesmo...
— DURANTE QUATRO SEMANAS EU FIQUEI ENTALADO NA RUA DOS ALFENEIROS, PESCANDO JORNAIS NAS LIXEIRAS PARA TENTAR DESCOBRIR O QUE ESTAVA ACONTECENDO...
— Nós queríamos...
— SUPONHO QUE VOCÊS TÊM SE DIVERTIDO PARA VALER, NÃO TÊM, ESCONDIDOS AQUI JUNTOS...
— Não, sinceramente...
— Harry, nós realmente sentimos muito! — disse Hermione desesperada, seus olhos agora cintilantes de lágrimas. — Você tem absoluta razão, Harry... se fosse comigo eu ficaria furiosa!
Harry amarrou a cara para os dois, ainda respirando fundo, depois tornou a dar as costas aos amigos e a andar para lá e para cá. Edwiges piou tristemente de cima do armário. Houve uma longa pausa, interrompida apenas pelo rangido fúnebre das tábuas do soalho sob os pés do garoto.
— Que lugar é esse afinal? — perguntou de repente a Rony e Hermione.
— A sede da Ordem da Fênix — respondeu Rony na hora.
— Alguém vai se dar o trabalho de me dizer o que essa Ordem...?
— É uma sociedade secreta — disse Hermione depressa. — Dumbledore é o responsável, fundou a Ordem. São as pessoas que lutaram contra Você-Sabe-Quem da última vez.
— Quem faz parte dela? — perguntou Harry, parando de repente com as mãos nos bolsos.
— Bastante gente...
— Já conhecemos umas vinte — disse Rony — mas achamos que tem mais.
Harry olhou zangado para os amigos.
— Então? — indagou, olhando de um para outro.
— Hum — disse Rony. — Então o quê?
— Voldemort!— falou Harry furioso, e os dois contraíram as feições. — Que está acontecendo? Que é que ele está armando? Onde é que está? Que é que estamos fazendo para impedir?
— Já falamos, a Ordem não deixa a gente assistir às reuniões — respondeu
Hermione, nervosa. — Por isso não sabemos os detalhes... mas temos uma idéia geral — acrescentou depressa, vendo a expressão no rosto de Harry.
— Fred e Jorge inventaram Orelhas Extensíveis, entende — contou Rony. —
Realmente úteis.
— Extensíveis...?
— Orelhas, é. Só que tivemos de parar de usá-las nos últimos dias porque mamãe descobriu e ficou danada. Fred e Jorge tiveram de esconder o estoque para impedir mamãe de jogar tudo no lixo. Mas usamos bastante as orelhas antes de ela perceber o que estava rolando. Sabemos que tem gente da Ordem seguindo Comensais da Morte conhecidos, marcando eles, sabe...
— Outros estão trabalhando para recrutar mais gente para a Ordem... — acrescentou Hermione.
— E outros tantos estão montando guarda a alguém ou alguma coisa — disse Rony. — Estão sempre falando em serviço de guarda.
— Não poderia ter sido a mim, poderia? — perguntou Harry sarcasticamente.
— Ah, é — exclamou Rony fazendo cara de quem começava a compreender. Harry deu uma risadinha desdenhosa. E recomeçou a dar voltas no quarto, olhando para todo lado menos para Rony e Hermione.
— Então, que é que vocês dois têm feito se não podem assistir às reuniões?
Vocês disseram que estiveram ocupados.
— Estivemos — respondeu Hermione depressa. — Estivemos descontaminando a casa, passou um tempão vazia e muita coisa estranha proliferando por aqui. Conseguimos limpar a cozinha, a maioria dos quartos e acho que vamos cuidar da sala de visitas ama... ARRE!
Com dois fortes craques, Fred e Jorge, os irmãos mais velhos de Rony, se materializaram no meio do quarto. Pichitinho piou ainda mais baratinado do que nunca e disparou para se juntar a Edwiges em cima do armário.
— Parem com isso! — disse Hermione sem entusiasmo aos gêmeos, que eram tão intensamente ruivos quanto Rony, embora mais fortes e um pouco mais baixos.
— Olá, Harry — saudou-o Jorge, sorridente. — Pensamos ter ouvido sua voz suave.
— Não queremos que reprima sua raiva, Harry, bote tudo para fora — disse Fred, também sorrindo. — Vai ver tem alguém a cem quilômetros de distância que ainda não te ouviu.
— Então vocês dois passaram nos testes de aparatação? — perguntou Harry mal-humorado.
— Com louvor — respondeu Fred, que estava segurando alguma coisa que parecia um pedaço muito comprido de barbante cor de carne.
— Vocês teriam levado só uns trinta segundos para descer pelas escadas — disse Rony.
— Tempo é galeão, maninho — disse Fred. — Em todo o caso, Harry, você está interferindo com a recepção. Orelhas Extensíveis — acrescentou em resposta às sobrancelhas erguidas de Harry, e mostrou o barbante, deixando agora visível que o objeto se alongava em direção ao patamar. — Estamos tentando ouvir o que estão falando lá embaixo.
— Você vai precisar ter cuidado — disse Rony, olhando para a Orelha. — Se mamãe tornar a ver mais uma dessas...
— Vale o risco, é uma reunião importante — justificou Fred.
A porta se abriu e apareceu uma longa juba de cabelos ruivos.
— Ah, olá, Harry! — cumprimentou animada a irmã mais nova de Rony, Gina. — Pensei que tivesse ouvido sua voz.
Virando-se para Fred e Jorge, informou:
— Pode esquecer as Orelhas, ela lançou um Feitiço da Imperturbabilidade na porta da cozinha.
— Como é que você sabe? — indagou Jorge, desapontado.
— Tonks me ensinou como descobrir. A gente atira uma coisa contra a porta e se a coisa não bate é porque a porta foi "imperturbada". Atirei umas bombas de bosta do alto da escada e elas simplesmente voaram de volta, então não tem como as Orelhas Extensíveis entrarem por baixo.
Fred soltou um suspiro profundo.
— Que pena. Eu realmente gostaria de descobrir o que é que o Snape está fazendo.
— Snape! — exclamou Harry imediatamente. — Ele está aqui?
— Tá — confirmou Jorge, fechando cuidadosamente a porta e se sentando em uma das camas; Fred e Gina o acompanharam. — Fazendo um relatório. Ultrasecreto.
— Babaca — disse Fred, só por dizer.
— Ele agora está do nosso lado — disse Hermione, desaprovando o amigo. Rony riu.
— Mas vai continuar sendo babaca. O jeito com que olha para a gente quando nos encontra.
— Gui também não gosta dele — disse Gina, como se isso decidisse a questão.
Harry não tinha muita certeza se sua raiva havia diminuído; mas sua sede de informações começou a suplantar o impulso de continuar gritando. Largou-se na cama em frente aos outros.
— Gui está aqui? — perguntou. — Pensei que estivesse trabalhando no Egito.
— Ele se candidatou a uma função burocrática para poder voltar para casa e trabalhar na Ordem — disse Fred. — Diz que sente falta das tumbas — deu uma risadinha —, mas tem suas compensações.
— Como assim?
— Você se lembra da Fleur Delacour? — perguntou Jorge. — Ela arranjou um emprego no Gringotes para aperrfeíçoarr o iinglês...
— E o Gui está dando muitas aulas particulares a ela — caçoou Fred.
— Carlinhos também entrou na Ordem — disse Jorge —, mas continua na Romênia. Dumbledore quer atrair o maior número possível de bruxos estrangeiros, por isso Carlinhos está tentando fazer contatos nos dias de folga.
— O Percy não podia fazer isso? — perguntou Harry. Na última notícia que recebera, o terceiro irmão Weasley estava trabalhando no Departamento de Cooperação Internacional em Magia, no Ministério da Magia.
Ao ouvirem as palavras de Harry, os Weasley e Hermione trocaram olhares carregados de significação.
— Diga o que quiser, mas não mencione o Percy na frente da mamãe e do papai — disse Rony com a voz tensa.
— Por que não?
— Porque todas as vezes que ouvem o nome dele, papai quebra o que estiver segurando e mamãe começa a chorar — explicou Fred.
— Tem sido horrível — comentou Gina com tristeza.
— Acho que podemos passar sem ele — disse Jorge, com uma expressão de ameaça nada característica.
— Que aconteceu? — perguntou Harry.
— Percy e papai brigaram — contou Fred. — Nunca vi papai brigar com alguém daquele jeito. Em geral é mamãe que berra.
— Foi na primeira semana de férias quando terminou o trimestre — disse Rony. — íamos entrar para a Ordem. Percy chegou e contou que tinha sido promovido.
— Você tá brincando — admirou-se Harry.
Embora soubesse muito bem que ele era extremamente ambicioso, Harry tinha a impressão de que Percy não fizera grande sucesso em seu primeiro emprego no Ministério da Magia. Cometera o grande deslize de não perceber que o chefe estava sendo controlado por Lord Voldemort (não que o Ministério tivesse acreditado — todos pensaram que o Sr. Crouch enlouquecera).
— Pois é, todos ficamos surpresos — continuou Jorge —, Percy tinha se metido em grandes confusões por causa de Crouch, houve até um inquérito e tudo. A conclusão foi que Percy devia ter percebido que Crouch não estava batendo bem e informado ao seu superior. Mas você conhece Percy, Crouch o tinha deixado na chefia, e ele não ia reclamar.
— Então como foi que ganhou a promoção?
— É exatamente o que nos perguntamos — disse Rony, que parecia muito ansioso para sustentar uma conversa normal, agora que Harry parara de gritar. — Percy voltou para casa realmente satisfeito com ele mesmo — ainda mais satisfeito do que o normal, se é que dá para imaginar — e disse ao papai que tinham lhe oferecido um cargo no gabinete do próprio Fudge. Um cargo realmente bom para alguém que tinha terminado Hogwarts fazia só um ano: assistente júnior do ministro. Acho que esperava que papai ficasse impressionado.
— Só que papai não ficou — disse Fred sério.
— Por que não? — indagou Harry.
— Bom, parece que Fudge tinha percorrido o Ministério enfurecido para se certificar de que os funcionários não tivessem contato com Dumbledore — disse Jorge.
— No Ministério, o nome de Dumbledore virou lixo, ultimamente, entende — esclareceu Fred. — Todos pensam que ele está só criando problemas quando diz que Você-Sabe-Quem voltou.
— Papai falou que Fudge deixou muito claro que qualquer um que estivesse mancomunado com Dumbledore podia desocupar a escrivaninha — disse
Jorge.
— O problema é que Fudge suspeita de papai, sabe que é amigo de Dumbledore, e sempre achou papai meio excêntrico por causa da obsessão que ele tem pelos trouxas.
— Mas que é que isso tem a ver com o Percy? — perguntou Harry, confuso.
— Vou chegar lá. Papai desconfia que Fudge só quer Percy no gabinete, porque quer usar o mano para espionar a família... e Dumbledore. Harry soltou um assobio.
— Aposto como Percy adorou. Rony deu uma risada meio rouca.
— Ele perdeu completamente a cabeça. Disse... bem, uma porção de coisas horríveis. Disse que está enfrentando a péssima reputação do papai desde que entrou no Ministério e que papai não tem ambição e que é por isso que sempre fomos, sabe, sempre tivemos pouco dinheiro, quero dizer...
— Quê? — disse Harry, incrédulo, ao mesmo tempo que Gina bufava feito um gato enraivecido.
— Eu sei — disse Rony em voz baixa. — E ficou pior. Disse que papai era um idiota de andar com Dumbledore, que Dumbledore ia se meter em uma baita encrenca e papai ia cair junto, e que ele, Percy, sabia a quem devia ser leal, e era ao Ministério. E se mamãe e papai iam trair o Ministério, iria se empenhar para que todo o mundo soubesse que ele não pertencia mais à nossa família. E fez as malas na mesma noite e foi embora. Agora está morando aqui em Londres.
Harry soltou um palavrão baixinho. Dos irmãos de Rony, Percy era o que ele menos gostava, mas nunca imaginara que pudesse dizer essas coisas ao Sr. Weasley.
— Mamãe está danada da vida — disse Rony. — Sabe, chora, essas coisas. Veio a Londres para tentar falar com Percy, mas ele bateu a porta na cara dela. Não sei como ele faz quando encontra papai no trabalho: acho que finge que não vê.
— Mas Percy deve saber que Voldemort voltou — disse Harry lentamente. — Ele não é burro, deve saber que sua mãe e seu pai não arriscariam tudo sem provas.
— E, bom, o seu nome também entrou na briga — disse Rony, lançando a Harry um olhar furtivo. — Percy disse que a única prova que havia era a sua palavra e... não sei... ele achava que não era suficiente.
— Percy leva o Profeta Diário a sério — comentou Hermione, mordaz, com o que os outros concordaram.
— Do que é que vocês estão falando? — perguntou Harry, passando os olhos por todos. Eles o observavam cautelosos.
— Você não tem recebido o Profeta Diário? — perguntou Hermione nervosa.
— Tenho.
— Você não tem lido todas as notícias? — perguntou Hermione ainda mais ansiosa.
— Não da primeira à última página — respondeu Harry na defensiva. — Se houvesse alguma notícia sobre Voldemort sairia em manchete, não?
Os amigos se contraíram ao ouvir o nome. Hermione continuou depressa:
— Você precisaria ler da primeira à última página para perceber, mas eles, bom, eles mencionam seu nome algumas vezes por semana.
— Mas eu não vi...
— Se andou lendo só a primeira página, não iria ver — disse Hermione, sacudindo a cabeça. — Não estou falando de notícia grande. Eles incluem seu nome aqui e ali, como se você fosse a piada da vez.
— Como as...?
— Na verdade é bem maldoso — disse Hermione procurando manter a voz calma. — Estão usando só o material que a Rita publicou.
— Mas ela não está mais escrevendo para o Profeta, está?
— Ah, não, ela tem cumprido a promessa que fez: não que tivesse outra opção
— acrescentou Hermione satisfeita. — Mas lançou as bases para o que estão tentando fazer agora.
— E que é o quê? — perguntou Harry, impaciente.
— O.k., você sabe que ela escreveu que você estava caindo por aí, se queixando que sua cicatriz estava doendo e tudo o mais?
— Sei — respondeu Harry, que tão cedo não iria esquecer as notícias de Rita Skeeter sobre ele.
— Bom, estão pintando você como uma pessoa fantasiosa e sedenta de atenção, que acha que é um grande herói trágico ou qualquer coisa assim — contou Hermione, muito depressa, como se fosse menos desagradável para o amigo saber desses fatos em menos tempo. — Eles não param de incluir comentários irônicos sobre você. Se aparece uma história mirabolante, escrevem mais ou menos assim: "Uma história digna de Harry Potter", e se alguém tem um acidente estranho ou coisa parecida dizem: "Vamos fazer votos para que ele não fique com uma cicatriz na testa ou vão nos pedir para venerá-lo"...
— Eu não quero que ninguém me venere... — começou Harry indignado.
— Eu sei que não — disse Hermione depressa, parecendo assustada. — Eu sei, Harry. Mas você percebe o que eles estão fazendo? Querem transformar você em uma pessoa em que ninguém acredita. Fudge está por trás de tudo, aposto o que você quiser. Eles querem que o bruxo da rua pense que você não passa de um garoto burro, que é meio engraçado e conta histórias ridículas porque adora ser famoso e quer continuar sendo.
— Eu não pedi... eu não quis... Voldemort matou meus pais! — protestou Harry, cuspindo as palavras. — Fiquei famoso porque ele assassinou minha família, mas não conseguiu me matar! Quem quer ser famoso por uma coisa dessas? Será que não pensam que eu preferia que nunca...
— Nós sabemos, Harry — disse Gina com sinceridade.
— E, é claro que não publicaram nem uma palavra sobre o ataque dos dementadores a você — acrescentou Hermione. — Alguém mandou abafar o caso. Teria sido uma história e tanto, dementadores escapam ao controle do governo. Nem ao menos noticiaram que você violou o Estatuto Internacional do Sigilo em Magia. Pensamos que noticiariam, porque combinava com a sua imagem de exibicionista idiota. Achamos que estão aguardando você ser expulso, então vão realmente botar pra quebrar, quero dizer, se você for expulso, é óbvio — apressou-se Hermione a acrescentar. — Na realidade, não deverá ser, não se o Ministério respeitar as próprias leis, não há caso contra você.
Estavam de volta à audiência e Harry não queria pensar no assunto. Fez força para mudar outra vez o rumo da conversa, mas foi poupado do esforço pelo ruído de passos que subiam a escada.
— Ah, ah.
Fred deu um puxão na Orelha Extensível; ouviu-se outro estalo forte, e ele e Jorge desapareceram. Segundos depois, a Sra. Weasley apareceu à porta do quarto.
— A reunião terminou, podem descer para jantar agora. Todo o mundo está doido para ver você, Harry. E quem foi que largou todas aquelas Bombas de
Bosta na porta da cozinha?
— O Bichento — respondeu Gina sem corar. — Ele adora brincar com bombas.
— Ah — disse a Sra. Weasley —, pensei que talvez fosse o Monstro, ele está sempre fazendo essas coisas estranhas. Agora não se esqueçam de falar baixo no corredor. Gina, suas mãos estão imundas, que é que você andou fazendo? Por favor, vá lavá-las antes de jantar.
Gina fez careta para os outros e acompanhou a mãe na saída do quarto, deixando Harry sozinho com Rony e Hermione. Os dois o observaram com apreensão, como se receassem que ele fosse recomeçar a gritar agora que todos já tinham ido embora. A visão dos amigos olhando-o tão nervosos fez Harry se sentir um pouco envergonhado.
— Olhem... — murmurou, mas Rony sacudiu a cabeça e Hermione disse baixinho:
— Nós sabíamos que você ia ficar zangado, Harry, não culpamos você, sério, mas você tem de compreender, nós realmente tentamos convencer o Dumbledore...
— É, eu sei — respondeu o garoto, impaciente.
Ele procurou um assunto que não envolvesse o diretor da escola, porque só de pensar em Dumbledore suas entranhas recomeçavam a queimar de raiva.
— Quem é Monstro? — perguntou.
— O elfo doméstico que mora aqui — respondeu Rony. — Doido de pedra. Nunca conheci nenhum igual.
Hermione franziu a testa.
— Ele não é doido de pedra, Rony.
— A ambição da vida dele é ter a cabeça cortada e montada em uma placa como fizeram com a mãe dele — argumentou Rony irritado. — Isso é normal, Mione?
— Bem... bem, ele não tem culpa de ser um pouquinho esquisito. Rony girou os olhos para Harry.
— Hermione ainda não desistiu do FALE.
— Não é FALE! — retrucou Hermione indignada. — É Fundo de Apoio à Liberação dos Elfos. E eu não sou a única, Dumbledore também diz que devemos tratar bem o Monstro.
— Sei, sei — disse Rony. — Vamos, estou morto de fome.
Ele foi o primeiro a sair do quarto e alcançar o patamar, mas antes que pudessem descer a escada...
— Calma aí! — sussurrou Rony, esticando um braço para impedir Harry e Hermione de continuarem. — Eles ainda estão no hall, quem sabe a gente consegue ouvir alguma coisa.
Os três espiaram com cautela por cima do balaústre. O corredor sombrio lá embaixo estava apinhado de bruxas e bruxos, inclusive os da guarda de Harry. Cochichavam excitados. Bem no meio do grupo, Harry viu os cabelos escuros e oleosos e o nariz adunco do menos querido dos seus professores em Hogwarts, o Prof. Snape. O garoto estava muito interessado em saber o que Snape estava fazendo na Ordem da Fênix...
Um fio de barbante cor de carne desceu bem diante dos olhos de Harry.
Erguendo a cabeça, ele viu Fred e Jorge no patamar acima, baixando cuidadosamente a Orelha Extensível em direção à aglomeração sombria de bruxos. No instante seguinte, porém, todos começaram a se encaminhar para a porta de entrada e desapareceram de vista.
— Droga — Harry ouviu Fred murmurar, recolhendo a Orelha Extensível.
Os três ouviram a porta de entrada abrir e em seguida fechar.
— Snape não come aqui nunca — informou Rony a Harry em voz baixa. — Graças a Deus. Vamos.
— E não se esqueça de falar em voz baixa no corredor, Harry — cochichou Hermione.
Ao passarem pela fileira de cabeças de elfos domésticos na parede, eles viram Lupin, a Sra. Weasley e Tonks à entrada, lacrando magicamente as muitas fechaduras e trancas da porta depois que os outros saíram.
— Vamos comer na cozinha — sussurrou a Sra. Weasley, indo ao encontro dos garotos ao pé da escada. — Harry, querido, se você atravessar em silêncio o corredor, é aquela porta ali.
TRABUM!
— Tonks! — exclamou a Sra. Weasley exasperada, virando-se para olhar às suas costas.
— Me desculpe! — lamentou Tonks, que caíra estatelada no chão. — É a droga desse porta-guarda-chuvas, é a segunda vez que tropeço nele...
Mas o fim da frase de Tonks foi abafada por um guincho medonho de furar os ouvidos e congelar o sangue.
As cortinas de veludo roídas de traças, pelas quais Harry passara mais cedo,
tinham se aberto, mas não havia porta alguma atrás.
Durante uma fração de segundo, o garoto pensou que estava espiando por uma janela, uma janela em que havia uma velha de touca preta que não parava de berrar como se estivesse sendo torturada — então ele compreendeu que era simplesmente um retrato em tamanho natural, dos mais realistas e dos mais incômodos que já vira na vida.
A velha estava babando, seus olhos giravam nas órbitas, a pele amarelada do rosto esticava-se inteiramente enquanto gritava; e, por toda a extensão do corredor, os demais quadros acordaram e começaram a berrar, também, a tal ponto que Harry chegou a apertar os olhos e tampar os ouvidos para não escutar.
Lupin e a Sra. Weasley correram para tentar fechar a cortina que ocultava a velha, mas não conseguiam e ela guinchava com mais vontade, brandindo as mãos em garras como se quisesse estraçalhar os rostos deles.
— Ralé! Escória! Filhos da sordidez e da maldade! Mestiços, mutantes, monstros, sumam deste lugar! Como se atrevem a macular a casa dos meus antepassados...
Tonks não parava de pedir desculpas, repondo a pesada perna de trasgo na posição original; a Sra. Weasley desistiu das tentativas para fechar as cortinas e corria de uma ponta a outra do corredor com a varinha em punho, lançando um Feitiço Estuporanteem cada quadro; um homem de longos cabelos negros saiu com violência de uma porta defronte a Harry.
— Cale a boca, sua bruxa horrorosa, CALE A BOCA! — berrou ele, agarrando a cortina que a Sra. Weasley abandonara.
A velha empalideceu.
— Vocêêêêêê! — urrou ela, os olhos saltando das órbitas ao ver o homem. —
Traidor do próprio sangue, abominação, vergonha da minha carne!
— Eu — mandei — calar — a — BOCA! — rugiu o homem, e, com um estupendo esforço, ele e Lupin conseguiram fazer as cortinas fecharem. Os guinchos da velha morreram e sobreveio um silêncio ressote.
Um pouco ofegante e afastando dos olhos os longos cabelos negros, o padrinho de Harry, Sirius, voltou-se para olhá-lo.
— Olá, Harry — disse muito sério. — Vejo que acabou de conhecer minha mãe.