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Unknown
junho 06, 2014
Capítulo 4
"Ponha a camisa para dentro, seu desleixado!" O vampiro no sótão uivava e derrubava canos, sempre que sentia que a casa estava ficando demasiado quieta, e as pequenas explosões que vinham do quarto de Fred e Jorge eram consideradas perfeitamente normais.
Porém, o que Harry achou mais fora do comum na vida em casa de Rony não foi o espelho falante nem o vampiro baterista: mas o fato de que todos pareciam gostar dele.
A Sra. Weasley se preocupava com o estado das meias dele e tentava forçá-lo a repetir a comida três vezes por refeição. O Sr. Weasley gostava que Harry se sentasse ao lado dele, na mesa do jantar, para poder bombardeá-lo com perguntas sobre a vida com os trouxas, pedindo-lhe para explicar como funcionavam coisas como as tomadas e o correio postal.
— Fascinante! — exclamou, quando Harry lhe contou como se usava o telefone. — Engenhoso, verdade, quantas maneiras os trouxas encontraram de viver sem o auxílio da magia.
Harry recebeu notícias de Hogwarts, numa bela manhã, cerca de uma semana depois de chegar à Toca. Ele e Rony desceram para tomar café e encontraram o Sr. e a Sra. Weasley e Gina já sentados à mesa da cozinha. No instante em que viu Harry, Gina sem querer derrubou a tigela de mingau no chão fazendo um estardalhaço. A garota parecia muito propensa a derrubar coisas sempre que Harry entrava. Ela mergulhou debaixo da mesa para apanhar a tigela e reapareceu com o rosto rubro como um sol poente.
Harry fingindo não notar, sentou-se e aceitou a torrada que a Sra. Weasley lhe oferecia.
— Cartas da escola — disse o Sr. Weasley, passando a Harry e Rony envelopes idênticos de pergaminho amarelado, endereçados com tinta verde. — Dumbledore já sabe que você está aqui, Harry, ele não perde um detalhe, aquele homem. Vocês dois também receberam — acrescentou ele, quando Fred e Jorge entraram descontraídos, ainda de pijamas.
Durante alguns minutos fez-se silêncio enquanto todos liam as cartas. A de Harry mandava-o tomar o Expresso de Hogwarts como sempre na estação de King’s Cross, no dia 1º de setembro. Trazia também uma lista dos novos livros que ia precisar para o próximo ano letivo.
MATERIAL PARA OS ALUNOS DA SEGUNDA SÉRIE:
• O Livro Padrão de feitiços, 2ª série de Miranda Goshawk.
• Como dominar um espírito agourento de Gilderoy Lockhart.
• Como se divertir com vampiros de Gilderoy Lockhart.
• Férias com bruxas malvadas de Gilderoy Lockhart.
• Viagens com trasgos de Gilderoy Lockhart.
• Excursões com vampiros de Gilderoy Lockhart.
• Passeios com lobisomens de Gilderoy Lockhart.
• Um ano com o Ieti de Gilderoy Lockhart.
Fred, que terminara de ler a lista, deu uma espiada na de Harry.
— Mandaram você comprar todos os livros de Lockhart também! — admirou-se. — O novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas deve ser fã dele, aposto que é uma bruxa.
Ao dizer isto, o olhar de Fred cruzou com o de sua mãe e ele rapidamente voltou a atenção para a sua geléia.
— Esse material não vai sair barato — comentou Jorge, lançando um olhar rápido aos pais. — Os livros de Lockhart são bem carinhos...
— Daremos um jeito — disse a Sra. Weasley, embora tivesse a expressão preocupada. — Espero poder comprar a maioria do material de Gina de segunda mão.
— Ah, você vai entrar para Hogwarts este ano? — perguntou Harry a Gina.
Ela confirmou com a cabeça, corando até a raiz dos cabelos flamejantes e enfiou o cotovelo na manteigueira. Felizmente ninguém viu exceto Harry porque, naquele momento, o irmão mais velho de Rony, Percy, entrou na cozinha. Já estava vestido, o distintivo de monitor em Hogwarts preso no suéter sem mangas.
— Dia — disse Percy animado. — Lindo dia.
Sentou-se na única cadeira desocupada, mas quase imediatamente levantou-se de um salto, erguendo do assento um espanador de penas cinzentas que parecia estar na muda — pelo menos foi isso que Harry pensou que fosse, até ver que a coisa respirava.
— Erroll — exclamou Rony, recolhendo a coruja inerte da mão de Percy e extraindo uma carta que ela trazia presa sob a asa. — Finalmente chegou a resposta de Hermione. Escrevi a ela avisando que íamos tentar salvar você dos Dursley.
Ele levou Errol até um poleiro na porta dos fundos e tentou fazê-lo encarrapitar-se, mas a coruja tornou a desmontar, por isso Rony a deitou na tábua de escorrer, resmungando "Patético". Em seguida ele abriu a carta de Mione e leu-a em voz alta.
“Queridos Rony e Harry, se estiver aí.
Espero que tudo tenha corrido bem, que Harry esteja bem e que você não tenha feito nada ilegal para tirá-lo de lá, Rony, porque isso criará problemas para o Harry também. Tenho estado realmente preocupada e, se Harry estiver bem, por favor, mande me dizer logo, mas talvez seja melhor usar outra coruja, porque acho que mais uma entrega talvez mate essa.
Estou muito ocupada, estudando, é claro...”
— Como é que pode! — exclamou Rony horrorizado. — Estamos de férias!
“E vamos a Londres na próxima quarta-feira comprar os livros novos. Porque não nos encontramos no Beco Diagonal?
Mande notícias do que está acontecendo, assim que puder. Afetuosamente, Mione”.
— Bom, isso se encaixa perfeitamente. Podemos ir comprar todo o material de vocês, também — disse a Sra. Weasley, começando a tirar a mesa. — Que é que vocês estão planejando fazer hoje?
Harry, Rony, Fred e Jorge estavam pensando em subir o morro até um pequeno prado que pertencia aos Weasley. Era cercado de árvores que bloqueavam a visão da cidadezinha embaixo, o que significava que podiam praticar Quadribol lá, desde que não voassem muito alto. Não podiam usar bolas de Quadribol de verdade, pois seria difícil explicar se escapulissem e sobrevoassem a cidade; em vez disso, atiravam maçãs uns para os outros. Revezaram-se para montar a Nimbus 2000 de Harry, que era, sem nenhum favor, a melhor vassoura; a velha Shooting Star de Rony muitas vezes perdia na corrida para as borboletas que apareciam.
Cinco minutos depois os garotos estavam subindo o morro, as vassouras nos ombros.
Tinham perguntado a Percy se queria acompanhá-los, mas ele respondera que estava ocupado. Harry até ali só tinha visto Percy às refeições; ele passava o resto do tempo trancado no quarto.
— Gostaria de saber o que ele está aprontando — disse Fred, franzindo a testa. — Está tão mudado. O resultado das provas dele chegou um dia antes de você; doze N.O.M.s e ele nem cantou vitória.
— Níveis Ordinários em Magia — explicou Jorge, vendo o olhar intrigado de Harry. — Gui recebeu doze também. Se não nos cuidarmos vamos ter outro monitor-chefe na família. Acho que não iríamos suportar a vergonha.
Gui era o filho mais velho dos Weasley. Ele e o irmão logo abaixo, Carlinhos, já tinham terminado Hogwarts. Harry nunca vira nenhum dos dois, mas sabia que Carlinhos estava na Romênia estudando dragões e Gui, no Egito, trabalhando no banco dos bruxos, o Gringotes.
— Não sei como mamãe e papai vão poder comprar todo o nosso material escolar este ano — disse Jorge depois de algum tempo. — Cinco conjuntos de livros do Lockhart! E Gina precisa de vestes, uma varinha e todo o resto...
Harry não disse nada. Sentiu-se um pouco constrangido. Guardado no cofre subterrâneo do Banco de Gringotes, em Londres, havia uma pequena fortuna que seus pais lhe haviam deixado. Naturalmente, era somente no mundo dos bruxos que ele tinha dinheiro; não se podia usar galeões, sicles e nuques em lojas de trouxas. Ele nunca mencionara aos Dursley sua conta no Banco de Gringotes, pois achava que o horror que eles tinham à magia não se estenderia a um montão de ouro.
A Sra. Weasley acordou-os bem cedo na quarta-feira seguinte. Depois de comerem rapidamente uma dúzia de sanduíches de bacon cada um, eles vestiram os casacos e a Sra. Weasley apanhou um vaso de flor no console da cozinha e espiou dentro dele.
— Estamos com o estoque baixo, Arthur — suspirou. — Teremos que comprar mais hoje...
— Ah, muito bem, hóspedes primeiro! Pode começar, Harry querido!
E ela lhe ofereceu o vaso de flor.
Harry olhou para os Weasley, que o observavam.
— Q-que é que eu tenho que fazer? — gaguejou.
— Ele nunca viajou com Pó de Flu — disse Rony de repente. — Desculpe Harry, eu me esqueci.
— Nunca? — admirou-se o Sr. Weasley. — Mas como foi que você chegou ao Beco Diagonal para comprar seu material escolar no ano passado?
— Fui de metrô...
— Verdade? — exclamou o Sr. Weasley animado. — Havia escapadas rolantes? Como é que...
— Agora não, Arthur — disse a Sra. Weasley. — O Pó de Flu é muito mais rápido, querido, mas meu Deus, se você nunca o usou antes...
— Ele vai conseguir, mamãe — disse Fred. — Harry observe a gente primeiro.
Fred apanhou uma pitada de pó brilhante no vaso de flor, foi até a lareira e atirou o pó no fogo.
Com um rugido, as chamas ficaram verde-esmeralda e mais altas do que Fred, que entrou nelas e gritou "Beco Diagonal!” e desapareceu.
— Você precisa falar bem claro, querido — disse a Sra. Weasley a Harry quando Jorge mergulhou a mão no vaso. — E se certifique se está saindo na grade certa...
— Na o quê certa? — perguntou Harry nervoso enquanto as chamas rugiam e arrebatavam Jorge de vista.
— Bem, há um número enorme de lareiras de bruxos para você escolher, sabe, mas se você falar com clareza...
— Ele vai acertar, Molly, não se preocupe — disse o Sr. Weasley, servindo-se de Pó de Flu, também.
— Mas, querido, se ele se perder, como é que iríamos explicar à tia e ao tio dele?
— Eles não se importariam — tranqüilizou-a Harry. — Duda ia achar que teria sido uma piada genial se eu me perdesse dentro de uma lareira, não se preocupe.
— Bem... Está bem... Você vai depois de Arthur — disse a Sra. Weasley. — Agora, quando entrar no fogo, diga aonde vai...
— E mantenha os cotovelos colados ao corpo — aconselhou.
— E os olhos fechados — recomendou a Sra. Weasley. — A fuligem...
— Não se mexa — disse Rony. — Ou pode acabar caindo na lareira errada... Mas cuidado para não entrar em pânico e sair antes da hora. Espere até ver Fred e Jorge. Harry, fazendo força para guardar tudo isso na cabeça, apanhou uma pitada de Pó de Flu e avançou até a beira do fogo. Inspirou profundamente, lançou o pó nas chamas e entrou; o fogo lhe lembrou uma brisa morna; ele abriu a boca e imediatamente engoliu um monte de cinzas quentes.
— B-be-co Diagonal — tossiu.
A sensação de estar sendo sugado por um enorme ralo. Ele parecia estar girando muito rápido.
O rugido em seus ouvidos era ensurdecedor.. E tentou manter os olhos abertos, mas o rodopio das chamas verdes lhe dera enjôo... Uma coisa dura bateu no seu cotovelo e ele o prendeu com firmeza junto ao corpo, sempre girando... Agora a sensação era de mãos geladas esbofeteando seu rosto... Apertando os olhos por trás dos óculos ele viu uma sucessão de lareiras indistintas e relances de aposentos além...
Os sanduíches de bacon reviravam em sua barriga... Ele tornou a fechar os olhos desejando que aquilo parasse e então... Caiu de cara no chão, em cima de uma pedra fria e sentiu a ponta dos óculos se partir.
Tonto e machucado, coberto de fuligem, ele se levantou desajeitado, segurando os óculos partidos na frente dos olhos. Estava totalmente sozinho, mas onde estava ele não fazia idéia.
Só sabia dizer que estava de pé numa lareira de pedra, em um lugar que parecia ser uma loja de bruxo grande e mal-iluminada — mas nada que havia ali tinha a menor probabilidade de aparecer numa lista de material escolar de Hogwarts.
Um mostruário próximo continha uma mão murcha em cima de uma almofada, um baralho manchado de sangue e um olho de vidro arregalado. Máscaras diabólicas o espiavam das paredes, uma variedade de ossos humanos jazia sobre o balcão e instrumentos pontiagudos e enferrujados pendiam do teto, e o que era pior, a rua estreita e escura que Harry via pela vitrine empoeirada da loja decididamente não era Beco Diagonal.
Quanto mais cedo saísse dali melhor. Com o nariz ainda doendo por causa da batida na lareira, Harry se encaminhou depressa e silenciosamente para a porta, mas antes que cobrisse metade da distância, duas pessoas apareceram do outro lado da vitrine — e uma delas era a última pessoa que Harry queria encontrar estando perdido, coberto de fuligem, com os óculos partidos: Draco Malfoy.
Harry olhou depressa a toda volta e viu um grande armário preto à esquerda; correu para ele e se fechou dentro, deixando apenas uma frestinha na porta para espiar. Segundos depois, uma sineta tocou e Malfoy entrou na loja.
O homem que entrou atrás dele só podia ser o pai. Tinha a mesma cara fina e pontuda e olhos idênticos, frios e cinzentos.
O Sr. Malfoy andou pela loja examinando descansadamente os objetos expostos e tocou uma campainha em cima do balcão antes de se virar para o filho e dizer:
— Não toque em nada, Draco.
Malfoy, que esticara a mão para o olho de vidro, retrucou:
— Pensei que você ia me comprar um presente.
— Eu disse que ia lhe comprar uma vassoura de corrida — disse o pai tamborilando no balcão.
— De que me serve uma vassoura se não faço parte do time da casa? — respondeu Malfoy, com a cara amarrada. — Harry Potter ganhou uma Nimbus 2000 no ano passado. Permissão especial de Dumbledore para ele poder jogar pela Grifinória. Ele nem é tão bom assim, só que é famoso... Famoso por ter uma cicatriz idiota na testa...
Malfoy se abaixou para examinar uma prateleira cheia de crânios.
— Todo mundo acha que ele é tão sabido, o maravilhoso Potter com sua cicatriz e sua vassoura...
— Você já me contou isso no mínimo dez vezes — disse o Sr. Malfoy, com um olhar de censura para o filho. — E gostaria de lembrar-lhe que não é, prudente, demonstrar que não gosta de Harry Potter, não quando a maioria do nosso povo acha que ele é o herói que fez o Lord das Trevas desaparecer... Ah, Sr. Borgin.
Um homem curvado aparecera atrás do balcão, alisando os cabelos untados de óleo para afastá-los do rosto.
— Sr. Malfoy, que prazer revê-lo — disse o Sr. Borgin untuoso como os seus cabelos. — Encantado, e o jovem Malfoy, também, encantado. Em que posso servi-los? Preciso lhes mostrar, chegou hoje, e a um preço muito módico...
— Não vou comprar nada hoje, Sr. Borgin, vou vender — disse o Sr. Malfoy.
— Vender? — O sorriso se embaçou levemente no rosto do Borgin.
— O senhor ouviu falar, é claro, que o Ministério está fazendo mais blitz — disse o Sr. Malfoy, puxando um rolo de pergaminho do bolso interno do casaco e desenrolando-o para Sr. Borgin ler. — Tenho em casa uns, ah, objetos que podem me causar embaraços, se o Ministério aparecesse...
O Sr. Borgin encaixou um pincenê na ponta do nariz e percorreu a lista.
— O Ministério certamente não ousaria incomodá-lo, não é, meu senhor?
O Sr. Malfoy crispou os lábios.
— Até agora não me visitaram. O nome Malfoy ainda impõe um certo respeito, mas o Ministério está ficando cada vez mais intrometido. Há boatos de uma nova lei de proteção aos trouxas: com certeza aquele bobalhão pulguento, apreciador de trouxas, Arthur Weasley está por trás disso...
Harry sentiu uma onda escaldante de raiva.
—... E como vê, alguns desses venenos poderiam fazer parecer...
— Compreendo, meu senhor, naturalmente — disse o Sr. Borgin. — Deixe-me ver...
— Pode me dar aquilo? — interrompeu Draco, apontando para a mão murcha sobre a almofada.
— Ah, a Mão da Glória! — disse o Sr. Borgin, abandonando a lista de Malfoy e correndo para perto de Draco. — Ponha-lhe uma vela e ela dá luz apenas a quem a segura! A melhor amiga dos ladrões e saqueadores! O seu filho tem ótimo gosto, meu senhor.
— Espero que o meu filho venha a ser mais do que um ladrão ou um saqueador, Borgin — disse o Sr. Malfoy com frieza, ao que o Sr. Borgin respondeu depressa:
— Sem ofensa, meu senhor, não tive intenção de ofender...
— Mas, se as notas dele não melhorarem — disse o Sr. Malfoy com maior frieza ainda —, pode ser que ele realmente só tenha talento para isto.
— Não é minha culpa — retrucou Draco. — Todos os professores têm alunos preferidos, aquela Hermione Granger...
— Pensei que você sentiria vergonha se uma menina que nem pertence a família de bruxos passasse a sua frente em todos os exames — comentou com rispidez o Sr. Malfoy.
— Ha! — exclamou Harry baixinho, satisfeito de ver Draco com cara de quem está ao mesmo tempo envergonhado e aborrecido.
— É a mesma coisa em toda parte — disse o Sr. Borgin, com sua voz untuosa. — Ter sangue de bruxo conta cada vez menos em toda parte...
— Não para mim — respondeu o Sr. Malfoy, com as narinas tremendo.
— Não, meu senhor, nem para mim — disse o Sr. Borgin, fazendo uma grande reverência.
— Neste caso, talvez possamos voltar à minha lista — disse o Sr. Malfoy rispidamente. — Estou com um pouco de pressa, Borgin, tenho negócios importantes a tratar hoje em outro lugar.
Os dois começaram a barganhar. Harry observou nervoso que Draco se aproximava cada vez mais do lugar em que ele estava escondido, examinando os objetos à venda. Draco parou para examinar um grande rolo de corda de enforcar e para ler, rindo, o cartão colocado em um magnífico colar de opalas.
Cuidado:
Não toque. Amaldiçoado.
— Tirou a vida de dezenove donos trouxas até hoje.
Draco se virou e notou o armário bem em frente.
Adiantou-se... Esticou a mão para o puxador e...
— Fechado — disse o Sr. Malfoy ao balcão. — Vamos, Draco! Harry enxugou a testa na manga ao ver Draco se afastar — Bom dia para o senhor, Sr. Borgin. Aguardo-o amanhã em casa para apanhar a mercadoria.
No instante em que a porta se fechou, o Sr. Borgin abandonou seus modos untuosos.
— Bom dia para o senhor, Senhor Malfoy, e, se as histórias que correm forem verdadeiras, o senhor não me vendeu metade do que tem escondido em sua casa... E, continuando a resmungar ameaçador, o Sr. Borgin desapareceu no quarto dos fundos.
Harry esperou um pouco, caso ele voltasse, e, em seguida, o mais silenciosamente que pôde, saiu do armário, passou pelos mostruários de vidro e pela porta afora.
Harry olhou para os lados, segurando os óculos partidos. Saíra em uma ruela sombria que parecia totalmente ocupada por lojas que se dedicavam às Artes das Trevas. A que ele acabara de deixar, a Borgin & Burkes, parecia ser a maior, mas em frente havia uma grande coleção de cabeças jívaras na vitrine, e duas portas abaixo, uma enorme gaiola pululava com gigantescas aranhas negras. Dois bruxos mal vestidos o observavam da sombra de um portal, cochichando entre si. Apreensivo, Harry saiu caminhando, tentando segurar os óculos no lugar e esperando, sem muita esperança, conseguir encontrar uma saída daquele lugar.
Uma velha placa de madeira, pendurada acima de uma loja que vendia velas envenenadas, informava que ele se encontrava na Travessa do Tranco. Isto não adiantou muito, pois Harry nunca ouvira falar naquele lugar. Imaginou que talvez não tivesse falado com bastante clareza ao entrar na lareira dos Weasley porque tinha a boca cheia de cinzas. Pensou no que fazer, tentando ficar calmo.
— Não está perdido, está querido? — disse uma voz ao seu ouvido, assustando-o.
Uma bruxa idosa estava ao lado dele, segurando uma bandeja com objetos que se pareciam horrivelmente com unhas humanas. Ela riu dele mostrando dentes cobertos de limo. Harry recuou.
— Estou bem, obrigado — disse. — Só estou...
— HARRY! O que você está fazendo aqui?
O coração de Harry deu um salto. O da bruxa também: as unhas cascatearam por cima dos seus pés e ela começou a xingar ao mesmo tempo que a forma maciça de Hagrid, o guarda-caças de Hogwatts veio se aproximando em grandes passadas, seus olhinhos de besouros negros faiscando por cima da barba arrepiada.
— Hagrid! — exclamou Harry revelando alivio na voz rouca. — Eu me perdi... Pó de Flu...
Hagrid agarrou Harry pela nuca e afastou-o da bruxa, derrubando a bandeja que ela levava. O guincho que ela soltou acompanhou-os durante todo o trajeto pelas ruelas tortuosas até tornarem a ver a luz do sol. Harry divisou a distância um edifício de mármore muito branco que já conhecia: o Banco de Gringotes. Hagrid o levara direto ao Beco Diagonal.
— Você está horrível! — exclamou Hagrid, espanando a fuligem que cobria Harry com tanta força que quase o derrubou numa barrica de bosta de dragão à porta da farmácia. — Se esquivando pela Travessa do Tranco, não sei, não, um lugar suspeito, Harry, não quero que ninguém o veja lá...
— Isso eu percebi — disse Harry, abaixando-se quando Hagrid fez menção de espaná-lo outra vez. — Eu lhe falei, eu me perdi, que é que você estava fazendo lá?
— Eu estava procurando repelente para lesmas carnívoras; rosnou Hagrid. — Elas estão acabando com os repolhos da escola. Você não está sozinho?
— Estou na casa dos Weasley, mas nos separamos – explicou Harry. — Tenho que encontrá-los...
Os dois começaram a descer a rua juntos.
— Por que é que você nunca respondeu às cartas? — perguntou Hagrid a Harry enquanto caminhavam (o garoto tinha que dar três passos para cada passada das enormes botas de Hagrid).
Harry explicou tudo sobre Dobby e os Dursley.
— Trouxas nojentos — rosnou Hagrid. — Se eu tivesse sabido...
— Harry! Harry! Aqui!
Harry ergueu os olhos e viu Hermione Granger parada no alto das escadas brancas de Gringotes. A garota desceu correndo ao encontro deles, os cabelos castanhos e fartos esvoaçando para trás.
— Que aconteceu com os seus óculos? Alô, Hagrid... Ah, que maravilha rever vocês...
— Vai entrar no Gringotes, Harry?
— Assim que eu encontrar os Weasley — respondeu Harry.
— Você não vai ter que esperar muito — disse Hagrid com sorriso.
Harry e Hermione se viraram: correndo pela rua cheia de gente vinham Rony, Fred, Jorge, Percy e o Sr. Weasley.
— Harry — ofegou o Sr. Weasley. — Tivemos esperança de que você só tivesse ultrapassado uma grade de lareira... — Ele enxugou a careca reluzente. — Molly está alucinada... Aí vem ela.
— Onde foi que você saiu? — perguntou Rony.
— Na Travessa do Tranco — informou Hagrid de cara feia.
— Que ótimo!— exclamaram Fred e Jorge juntos.
— Nunca nos deixaram entrar lá — comentou Rony invejoso.
— Ainda bem — rosnou Hagrid.
A Sra. Weasley aproximava-se correndo, a bolsa balançando loucamente em uma das mãos, Gina agarrada à outra.
— Ah, Harry, ah, meu querido, você podia ter ido parar em qualquer lugar...
Tomando fôlego ela tirou uma grande escova de roupas da bolsa e começou a escovar a fuligem que Hagrid não conseguira espanar. O Sr. Weasley apanhou os óculos de Harry, deu-lhes uma batida com a varinha e os devolveu, como se fossem novos.
— Bom, tenho que ir andando — disse Hagrid, cuja mão era apertada pela Sra. Weasley ("Travessa do Tranco! Se você não o tivesse encontrado, Hagrid!"). — Vejo vocês em Hogwarts! — E o guarda-caças se afastou a passos largos, a cabeça e os ombros mais altos do que os de todo mundo na rua cheia.
— Adivinhem quem eu encontrei na Borgin & Burkes? — perguntou Harry a Rony e a Hermione enquanto subiam as escadas do Gringotes. — Malfoy e o pai dele.
— Lúcio Malfoy comprou alguma coisa? — perguntou o Sr. Weasley sério logo atrás deles.
— Não, ele estava vendendo.
— Então está preocupado — comentou o Sr. Weasley com cruel satisfação. — Ah, eu adoraria pegar Lúcio Malfoy por alguma coisa...
— Tenha cuidado, Arthur — disse a Sra. Weasley com severidade quando eram cumprimentados pelo duende à porta do banco. — Aquela família significa confusão. Não abocanhe mais do que você pode mastigar.
— Então você não acha que sou adversário para o Lúcio Malfoy? — respondeu o Sr. Weasley indignado, mas foi distraído quase no mesmo instante pela visão dos pais de Hermione, que estavam parados nervosos no balcão que ia de uma ponta a outra do saguão de mármore, esperando que Hermione os apresentasse.
— Mas vocês são trouxas! — exclamou o Sr. Weasley encantado. — Precisamos tomar um drinque! Que é que têm aí? Ah, estão trocando dinheiro de trouxas.
— Molly, olhe! — Ele apontou excitado para as notas de dez libras na mão do Sr. Granger.
— Te encontro lá no fundo — disse Rony a Hermione quando os Weasley e Harry foram conduzidos aos cofres subterrâneos por outro duende de Gringotes.
Chegava-se aos cofres a bordo de vagonetes pilotados por duendes, que os manobravam em alta velocidade por trilhos de bitola estreita através dos túneis subterrâneos do banco.
Harry curtiu a viagem vertiginosa até o cofre dos Weasley, mas se sentiu muito mal, muito pior do que se sentira na Travessa do Tranco, quando eles o abriram. Havia uma pequena pilha de sicles de prata lá dentro e apenas um galeão de ouro. A Sra. Weasley tateou pelos cantos antes de varrer tudo para dentro da bolsa. Harry se sentiu ainda pior quando chegaram ao seu cofre. Tentou bloquear a visão do conteúdo enquanto enfiava, apressadamente, mãos cheias de moedas em uma bolsa de couro.
De volta aos degraus de mármore, eles se separaram. Percy murmurou qualquer coisa sobre a necessidade de comprar uma pena nova. Fred e Jorge tinham visto um amigo de Hogwarts, Lino Jordan. A Sra. Weasley e Gina iam a uma loja de vestes de segunda mão. O Sr. Weasley insistia em levar os Granger ao Caldeirão Furado para tomar um drinque.
— Vamos nos encontrar na Floreios e Borrões dentro de uma hora para comprar o material escolar — disse a Sra. Weasley, se afastando com Gina. — E nem pensar em entrar na Travessa do Tranco! — gritou ela para os gêmeos que seguiam na direção oposta.
Harry, Rony e Hermione caminharam pela Rua tortuosa, calçada de pedras. A bolsa de ouro, prata e bronze que retinia alegremente no bolso de Harry estava pedindo para ser gasta, de modo que ele comprou três grandes sorvetes de morango e manteiga de amendoim, que os três lamberam felizes enquanto subiam o beco, examinando as vitrines fascinantes das lojas. Rony admirou, cobiçoso, um conjunto completo de vestes da grife Chudley Cannon, na vitrine da Artigos de Qualidade para Quadribol, até que Hermione puxou os dois para irem comprar tinta e pergaminho na loja ao lado.
Na Gambol & Japes — Jogos de Magia, eles encontraram Fred, Jorge e Lino Jordan, que estavam fazendo um estoque de fogos de artifício. Dr. Filisbuteiro, que disparavam molhados e, não aqueciam, e num brechó cheio de varinhas quebradas, balanças de latão empenadas e velhas capas manchadas de poções, os garotos deram de cara com Percy, profundamente absorto na leitura de um livro muito chato intitulado Monitores-chefes que se tornaram poderosos.
— Um estudo dos monitores-chefes de Hogwarts e suas carreiras — leu Rony alto na quarta capa. — Parece fascinante...
— Dêem o fora — disse Percy com rispidez.
— É claro que ele é muito ambicioso, o Percy já planejou tudo... Quer ser Ministro da Magia... — comentou Rony para Harry e Hermione em voz baixa quando deixaram o irmão sozinho.
Uma hora depois eles rumaram para a Floreios e Borrões. Não eram de maneira alguma os únicos que se dirigiam à livraria. Ao se aproximarem, viram, para sua surpresa, uma quantidade de gente que se acotovelava à porta da loja, tentando entrar. A razão disso estava anunciada em uma grande faixa estendida nas janelas do primeiro andar.
GILDEROY LOCKHART
Autografa sua autobiografia
“O MEU EU MÁGICO”
Hoje das 12:30h às 16:30h
— Vamos poder conhecê-lo! — gritou Hermione esganiçada. — Quero dizer, ele é o autor de quase toda a nossa lista de livros!
A aglomeração parecia ser formada, em sua maioria, por bruxas mais ou menos da idade da Sra. Weasley. Um bruxo de ar atarantado estava postado à porta, dizendo:
— Calma, por favor, minhas senhoras... Não empurrem, isso... Cuidado com os livros, agora...
Harry, Rony e Hermione espremeram-se para entrar na loja. Uma longa fila serpeava até o fundo da loja, onde Gilderoy Lockhart autografava seus livros. Cada um dos meninos apanhou um exemplar de O Livro Padrão dos Feitiços, 2ª série, e se enfiaram sorrateiros no inicio da fila onde já aguardavam os outros meninos com o Sr. e a Sra. Weasley.
— Ah, chegaram, que bom! — disse a Sra. Weasley. Ela parecia ofegante e não parava de ajeitar os cabelos. — Vamos vê-lo em um minuto...
Aos poucos Gilderoy Lockhart se tornou visível, sentado a uma mesa, cercado de grandes cartazes com o próprio rosto, todos piscando e exibindo dentes ofuscantes de tão brancos.
O verdadeiro Lockhart estava usando vestes azul-miosótis que combinavam à perfeição com os seus olhos; seu chapéu cônico de bruxo se encaixava em um ângulo pimpão sobre os cabelos ondulados.
Um homenzinho irritadiço dançava à sua volta, tirando fotos com uma máquina enorme que soltava baforadas de fumaça púrpura a cada flash enceguecedor.
— Saia do caminho, você ai — rosnou ele para Rony, recuando para se posicionar em um ângulo melhor. — Trabalho para o Profeta Diário.
— Grande coisa — disse Rony, esfregando o pé que o fotógrafo pisara.
Gilderoy ouviu-o. Ergueu os olhos. Viu Rony — e em seguida viu Harry Potter.
Encarou-o. Então se levantou de um salto e decididamente gritou:
— Não pode ser, Harry Potter!
A multidão se dividiu, murmurando agitada; Lockhart adiantou-se, agarrou o braço de Harry e puxou-o para frente. A multidão prorrompeu em aplausos. A cara de Harry estava em fogo quando Lockhart apertou sua mão para o fotógrafo, que batia fotos feito louco, dispersando fumaça sobre os Weasley.
— Dê um belo sorriso, Harry — disse Lockhart por entre os dentes faiscantes. — Juntos, você e eu valemos uma primeira página.
Quando ele finalmente soltou a mão de Harry, o garoto não conseguia sentir os dedos. E tentou se esgueirar para junto dos Weasley, mas Lockhart passou um braço pelos seus ombros e segurou-o com firmeza ao seu lado.
— Minhas senhoras e meus senhores — disse em voz alta, ao mesmo tempo que pedia silêncio com um gesto. — Que momento extraordinário este! O momento perfeito para anunciar uma novidade que estou guardando só para mim há algum tempo!
— Quando o jovem Harry entrou na Floreios e Borrões hoje, só queria apenas comprar a minha autobiografia, com a qual eu terei o prazer de presenteá-lo agora. — A multidão tornou a aplaudir. — Ele não fazia idéia —, continuou Lockhart, dando uma sacudidela em Harry que fez os óculos do menino escorregarem para a ponta do nariz, — que em breve estaria recebendo muito, muito mais do que o meu livro O Meu Eu Mágico. Ele e seus colegas irão receber o meu eu mágico em carne e osso. Sim, senhoras e senhores, tenho o grande prazer de anunciar que, em setembro próximo, irei assumir a função de professor de Defesa contra as Artes das Trevas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts!
A multidão deu vivas e bateu palmas, e Harry se viu presenteado com as obras completas de Gilderoy Lockhart. Cambaleando sob o peso dos livros, ele conseguiu fugir das luzes da ribalta para a periferia do salão, onde Gina estava parada com o seu novo caldeirão.
— Fique com eles — murmurou Harry para a menina, virando os livros no caldeirão.
— Eu vou comprar os meus...
— Aposto que você adorou isso, não foi, Potter? — disse uma voz que Harry não teve problema em reconhecer. Ele endireitou o corpo e se viu cara a cara com Draco Malfoy, que exibia o sorriso de desdém de sempre.
— O Famoso Harry Potter —, continuou Malfoy. — Não consegue nem ir a uma livraria sem parar na primeira página do jornal.
— Deixe ele em paz, ele nem queria isso — disse Gina. Era a primeira vez que falava na frente de Harry. E olhava feio para Malfoy.
— Potter, você arranjou uma namorada! — disse Malfoy arrastando as sílabas.
Gina ficou escarlate enquanto Rony e Hermione lutavam para chegar até eles, sobraçando pilhas de livros de Lockhart.
— Ah, é você — exclamou Rony, olhando para Malfoy como se ele fosse uma coisa desagradável, grudada na sola do sapato. — Aposto como ficou surpreso de ver Harry aqui, hein?
— Não tão surpreso como estou de ver você numa loja, Weasley — retrucou Malfoy. — Imagino que seus pais vão passar fome um mês para pagar todas essas compras.
Rony ficou tão vermelho quanto Gina. Largou os livros no caldeirão, também, e partiu para cima de Malfoy, mas Harry e Hermione o agarraram pelo casaco.
— Rony! — chamou o Sr. Weasley, que procurava se aproximar com Fred e Jorge. — Que é que está fazendo? Está muito cheio aqui, vamos para fora.
— Ora, ora, ora, Arthur Weasley.
Era o Sr. Malfoy. Estava parado com a mão no ombro de Draco, com um sorriso de desdém igual ao do filho.
— Lúcio — disse o Sr. Weasley, dando um frio aceno com a cabeça.
— Muito trabalho no Ministério, ouvi dizer — falou o Sr. Malfoy. — Todas aquelas blitz... Espero que estejam lhe pagando hora extra!
Ele meteu a mão no caldeirão de Gina e tirou, do meio dos livros de capa lustrosa de Lockhart, um exemplar muito antigo e surrado de um Guia Sobre Transfiguração Para Principiante.
— É óbvio que não — concluiu o Sr. Malfoy. — Ora veja, de que serve ser uma vergonha de bruxo se nem ao menos lhe pagam bem para isso?
O Sr. Weasley corou com mais intensidade do que Rony e Gina.
— Nós temos idéias muito diferentes do que é ser uma vergonha de bruxo, Malfoy.
— Visivelmente — disse o Sr. Malfoy, seus olhos claros desviando-se para o Sr. e Sra. Granger, que observavam apreensivos. — As pessoas com quem você anda, Weasley... E pensei que sua família já tinha batido no fundo do poço...
Ouviu-se uma pancada metálica quando o caldeirão de Gina saiu voando; o Sr. Weasley se atirara sobre o Sr. Malfoy, derrubando-o contra uma prateleira. Dúzias de livros de soletração despencaram com estrondo em sua cabeça; ouviu-se um grito "Pega ele, papai" — dado por Fred e Jorge; a Sra. Weasley gritava "Não, Arthur, não"; a multidão estourou, recuando e derrubando mais prateleiras.
— Senhores, por favor, por favor! — pedia o assistente, e, depois, mais alto que a algazarra reinante. — Vamos parar com isso, cavalheiros, vamos parar com isso...
Hagrid caminhava em direção aos dois atravessando um mar de livros. Num instante ele separou o Sr. Weasley e o Sr. Malfoy. O Sr. Weasley com o lábio cortado e o Sr. Malfoy fora atingido no olho por uma Enciclopédia dos sapos. Ele ainda segurava o livro velho de Gina sobre transfiguração. Atirou-o nela, os olhos brilhando de malícia.
— Aqui, tome o seu livro, é o melhor que seu pai pode lhe dar...
E, desvencilhando-se da mão de Hagrid, chamou Draco e saíram da loja.
— Você devia ter fingido que ele não existia, Arthur — disse Hagrid, quase erguendo o Sr. Weasley do chão enquanto este endireitava as vestes. — Podre até a alma, a família toda, todo mundo sabe disso. Não vale a pena dar ouvidos a nenhum Malfoy. Sangue ruim, é o que é. Vamos agora, vamos sair daqui.
O assistente parecia querer impedi-los de sair, mas mal chegava à cintura de Hagrid e pareceu pensar duas vezes. Eles subiram apressados a rua, os Granger tremendo de susto e a Sra. Weasley fora de si de fúria.
— Um belo exemplo para os seus filhos... Saindo no tapa em público... Que é que o Gilderoy Lockhart deve ter pensado...
— Ele estava satisfeito — informou Fred. — Você não ouviu o que ele disse quando estávamos saindo? Perguntou àquele cara do Profeta Diário se ele podia incluir a briga na notícia, disse que tudo era publicidade.
Mas foi um grupo mais sereno que voltou à lareira do Caldeirão Furado, de onde Harry, os Weasley e todas as compras iriam retornar à Toca, usando o Pó de Flu. Eles se despediram dos Granger, que iriam atravessar o bar para chegar à rua dos trouxas, do outro lado; o Sr. Weasley começou a perguntar ao casal como funcionavam os pontos de ônibus, mas parou de repente ao ver o olhar da Sra. Weasley.
Harry tirou os óculos e guardou-os bem seguros no bolso antes de se servir do Pó de Flu. Decididamente não era o seu meio de transporte favorito.