Posted by : Unknown junho 06, 2014

Capítulo 22


— Harry! — Hermione estava puxando a manga do garoto, com os olhos no seu próprio relógio. — Temos exatamente dez minutos para voltar à ala hospitalar sem que ninguém nos veja, antes que Dumbledore tranque a porta...
— Ok — disse Harry, parando de contemplar o céu —, vamos... — Os dois saíram pela porta às costas deles e desceram uma escada de pedra circular muito estreita. Quando chegaram embaixo ouviram vozes. Colaram o corpo contra a parede e escutaram. Pareciam as vozes de Fudge e Snape. Os dois caminhavam depressa pelo corredor no qual terminava a escada.
—... Só espero que Dumbledore não crie dificuldades — dizia Snape. — O beijo será executado imediatamente?
— Assim que Macnair voltar com os dementadores. Todo esse caso Black tem sido muitíssimo constrangedor. Nem posso lhe dizer como estou ansioso para informar ao Profeta Diário que finalmente o capturamos... Acho provável que queiram entrevistá-lo, Snape... E quando Harry tiver voltado ao normal, espero que se disponha a contar ao Profeta exatamente como foi que você o salvou...
Harry cerrou os dentes. Viu de relance o sorriso presunçoso de Snape, quando o professor e Fudge passaram pelo lugar em que ele e Hermione estavam escondidos. O eco dos passos dos homens foi se distanciando. Os dois garotos esperaram alguns minutos para ter certeza de que tinham realmente ido embora, então começaram a correr na direção oposta. Desceram uma escada, depois outra, correram por um corredor, então ouviram uma risada escandalosa à frente.
— Pirraça! — murmurou Harry, agarrando o pulso de Hermione. — Aqui!
Eles se precipitaram para dentro de uma sala de aula à esquerda, na hora “H”. Ao que parecia, Pirraça vinha saltitando pelo corredor apregoando bom humor, rindo de se acabar.
— Ah, ele é horrível! — sussurrou Hermione, o ouvido encostado à porta. — Aposto como está nessa excitação toda porque os dementadores vão liquidar Sirius... — Ela tornou a consultar o relógio. — Três minutos, Harry!
Os garotos aguardaram a voz satisfeita de Pirraça sumir ao longe, então abandonaram a sala e desataram a correr.
— Hermione, que é que vai acontecer, se não conseguirmos voltar antes de Dumbledore trancar a porta? — ofegou Harry.
— Nem quero pensar! — gemeu Hermione, verificando novamente o relógio. — Um minuto!
Os dois tinham chegado ao fim do corredor em que ficava a entrada para a ala hospitalar.
— Ok... Estou ouvindo Dumbledore — disse Hermione tensa. — Vamos Harry!
Saíram sorrateiramente pelo corredor. A porta da enfermaria se abriu. Apareceram as costas de Dumbledore.
— Vou trancá-los — os garotos o ouviram dizer. — Faltam cinco minutos para a meia-noite. Srta. Granger, três voltas devem bastar. Boa sorte.
Dumbledore recuou para fora da enfermaria, fechou a porta e puxou a varinha para trancá-la magicamente. Em pânico, Harry e Hermione correram ao seu encontro.
Dumbledore ergueu os olhos e apareceu um largo sorriso sob seus compridos bigodes prateados.
— Então? — perguntou ele baixinho.
— Conseguimos! — disse Harry ofegante. — Sirius já foi, montado em Bicuço...
Dumbledore sorriu radiante para os garotos.
— Muito bem! Acho que... — Ele escutou atentamente para verificar se havia algum ruído no interior da ala hospitalar. — É, acho que vocês também já foram, entrem, vou trancá-los...
Harry e Hermione entraram na enfermaria. Estava vazia exceto por Rony, que continuava deitado imóvel na cama ao fundo. Ao ouvirem o clique da fechadura, Harry e Hermione voltaram às suas camas, e a garota guardou o Vira-Tempo, dentro das vestes. Um instante depois, Madame Pomfrey saiu de sua sala.
— Foi o diretor que eu ouvi saindo? Será que já posso cuidar dos meus pacientes?
A enfermeira estava muito mal-humorada. Harry e Hermione acharam melhor aceitar o chocolate que ela trazia sem resistência.
Madame Pomfrey ficou vigiando para ter certeza de que eles o comessem. Mas Harry mal conseguia engolir. Ele e Hermione estavam esperando, escutavam, os nervos vibrando desafinados...
Então, quando aceitaram o quarto pedaço de chocolate de Madame Pomfrey, eles ouviram ao longe o ronco de fúria que ecoava em algum ponto do andar acima...
— Que foi isso? — perguntou Madame Pomfrey assustada.
Agora ouviam vozes raivosas, que iam se avolumando sem parar. A enfermeira tinha os olhos na porta.
— Francamente, vão acordar todo mundo! Que é que eles acham que estão fazendo?
Harry tentava ouvir o que as vozes diziam. Elas foram se aproximando...
— Ele deve ter desaparatado, Severo. Devíamos ter deixado alguém na sala vigiando. Quando isto vazar...
— ELE NÃO DESAPARATOU! — vociferou Snape, agora muito próximo. — NÃO SE PODE APARATAR NEM DESAPARATAR DENTRO DESTE CASTELO! ISTO... TEM... DEDO... DO... POTTER!
— Severo... Seja razoável... Harry está trancado...
PAM.
A porta da ala hospitalar se escancarou.
Fudge, Snape e Dumbledore entraram na enfermaria. Somente o diretor parecia calmo. De fato, parecia que estava se divertindo. Fudge tinha uma expressão zangada. Mas Snape estava fora de si.
— DESEMBUCHE, POTTER! — berrou ele. — QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?
— Professor Snape! — protestou esganiçada Madame Pomfrey. — Controle-se!
— Olhe aqui, Snape, seja razoável — ponderou Fudge. — A porta esteve trancada, acabamos de constatar...
— ELES AJUDARAM BLACK A ESCAPAR EU SEI! — berrou Snape, apontando para Harry e Hermione. Seu rosto estava contorcido; voava cuspe de sua boca.
— Acalme-se, homem! — ordenou Fudge. — Você está falando disparates!
— O SENHOR NÃO CONHECE POTTER! — berrou Snape em falsete. — FOI ELE, EU SEI QUE FOI ELE QUE FEZ ISSO...
— Chega, Severo — disse Dumbledore em voz baixa. — Pense no que está dizendo. A porta esteve trancada desde que deixei a enfermaria dez minutos atrás. Madame Pomfrey, esses garotos saíram da cama?
— Claro que não! — respondeu Madame Pomfrey com eficiência. — Eu os teria ouvido!
— Aí está, Severo — disse Dumbledore calmamente. — A não ser que você esteja sugerindo que Harry e Hermione sejam capazes de estar em dois lugares ao mesmo tempo, receio que não haja sentido em continuar a perturbá-los.
Snape ficou parado ali, procurando, olhando de Fudge, que parecia extremamente chocado com o procedimento do professor, para Dumbledore cujos olhos cintilavam por trás dos óculos. Snape deu meia-volta, as vestes rodopiando para trás, e saiu enfurecido da enfermaria.
— O homem parece que é bem desequilibrado — disse Fudge, acompanhando-o com o olhar. — Eu me precaveria se fosse você, Dumbledore.
— Ah, ele não é desequilibrado — disse Dumbledore em voz baixa. — Apenas sofreu um grave desapontamento.
— Ele não é o único! — bufou Fudge. — O Profeta Diário vai ter um grande dia! Tivemos Black encurralado e ele nos escapa entre os dedos outra vez! Só falta agora a história da fuga do hipogrifo vazar, para eu virar motivo de pilhérias! Bom... É melhor eu ir notificar o Ministério...
— E os dementadores? — disse Dumbledore. — Serão retirados da escola, eu espero.
— Ah, claro, eles terão que se retirar — disse Fudge, passando os dedos, distraidamente, pelos cabelos. — Nunca sonhei que tentariam executar o beijo em um garoto inocente... Completamente descontrolado... Não, mandarei despachá-los de volta a Azkaban ainda hoje à noite... Talvez devêssemos estudar a colocação de dragões à entrada da escola...
— Hagrid iria gostar — disse Dumbledore, sorrindo para Harry e Hermione.
Quando o diretor e Fudge iam saindo do quarto, Madame Pomfrey correu até a porta e tornou a trancá-la. E resmungando, aborrecida, voltou à sua salinha.
Ouviu-se um gemido baixo na outra ponta da enfermaria. Rony acordara. Eles o viram sentar-se, esfregar a cabeça e olhar para todos os lados.
— Que... Que aconteceu? — gemeu ele. — Harry? Por que estamos aqui? Onde é que foi o Sirius? Onde é que foi o Lupin? Que está acontecendo?
Harry e Hermione se entreolharam.
— Você explica — pediu Harry, servindo-se de mais um pedaço de chocolate.
Quando Harry, Rony e Hermione deixaram a ala hospitalar ao meio-dia do dia seguinte, foi para encontrar um castelo quase deserto. O calor sufocante e o fim dos exames sinalizavam que todos estavam aproveitando ao máximo mais uma visita a Hogsmeade. Nem Rony nem Hermione, porém, tiveram vontade de ir, assim, os dois e Harry perambularam pelos jardins, ainda discutindo os acontecimentos extraordinários da noite anterior e se perguntando onde estariam Sirius e Bicuço naquela hora. Sentados perto do lago, observando a lula gigante agitar preguiçosamente seus tentáculos à superfície das águas, Harry perdeu o fio da conversa contemplando a margem oposta do lago. O cervo galopara em sua direção ali, ainda na noite anterior...
Uma sombra caiu sobre eles e, ao olharem, depararam com um Hagrid de olhos muito vermelhos, enxugando o rosto úmido de suor com um lenço do tamanho de uma toalha de mesa, e sorrindo para os três.
— Sei que não devia me sentir feliz depois do que aconteceu ontem à noite — disse ele. — Quero dizer, a nova fuga de Black e tudo o mais, mas sabem de uma coisa?
— O quê? — perguntaram os garotos em coro, fingindo curiosidade.
— Bicuço! Ele fugiu! Está livre! Passei a noite toda festejando!
— Que fantástico! — exclamou Hermione lançando a Rony um olhar de censura porque ele parecia prestes a cair na risada.
— É... Não devo ter amarrado ele direito — concluiu Hagrid, apreciando os jardins. — Estive preocupado hoje de manhã, vejam bem... Achei que ele podia ter topado com o Profº. Lupin por aí, mas o professor disse que não comeu nada ontem à noite...
— Quê? — perguntou Harry depressa.
— Caramba, vocês não souberam? — disse Hagrid, o sorriso se desfazendo. Em seguida, baixou a voz, ainda que não houvesse ninguém à vista. — Hum... Snape anunciou para os alunos da Sonserina hoje de manhã... Achei que, a essa altura, todo mundo já soubesse... O Profº. Lupin é Lobisomem, entendem. E esteve solto na propriedade ontem à noite. Ele está fazendo as malas agora, é claro.
— Ele está fazendo as malas? — repetiu Harry alarmado. — Por quê?
— Vai embora, não é? — disse Hagrid, parecendo surpreso que Harry tivesse feito uma pergunta daquela. — Pediu demissão logo de manhã. Diz que não pode arriscar que isto aconteça de novo.
Harry levantou-se depressa.
— Vou ver o professor — avisou a Rony e Hermione.
— Mas se ele se demitiu...
— ... Parece que não há nada que a gente possa fazer...
— Não faz diferença. Continuo querendo ver o professor. Encontro vocês aqui depois.
A porta da sala de Lupin estava aberta. O professor já guardara a maior parte dos seus pertences. O tanque vazio do grindylow estava ao lado de sua mala surrada, aberta e quase cheia. Lupin curvava-se sobre alguma coisa em sua escrivaninha e ergueu a cabeça quando Harry bateu na porta.
— Vi-o chegando — disse Lupin com um sorriso. E apontou para o pergaminho que estivera examinando. Era o Mapa do Maroto.
— Acabei de encontrar Hagrid — disse Harry. — E soube dele que o senhor pediu demissão. Não é verdade, é?
— Receio que seja. — Lupin começou a abrir as gavetas da escrivaninha e a esvaziá-las.
— Por quê? — perguntou Harry. — O Ministério da Magia não está achando que o senhor ajudou Sirius, está?
Lupin foi até a porta e fechou-a.
— Não. O Profº. Dumbledore conseguiu convencer Fudge que eu estava tentando salvar as vidas de vocês. — Ele suspirou. — Isso foi a gota d"água para Severo. Acho que a perda da Ordem de Merlim o deixou muito abalado. Então ele... Hum... Acidentalmente deixou escapar hoje, no café da manhã, que eu era Lobisomem.
— O senhor não está indo embora só por causa disso! — espantou-se Harry.
Lupin sorriu enviesado.
— Amanhã a essa hora, vão começar a chegar as corujas dos pais... Eles não vão querer um Lobisomem ensinando a seus filhos, Harry. E depois de ontem à noite, eu entendo. Eu poderia ter mordido um de vocês... Isto não pode voltar a acontecer nunca mais.
— O senhor é o melhor professor de Defesa contra as Artes das Trevas que já tivemos! — disse Harry. — Não vá embora!
Lupin sacudiu a cabeça e ficou calado. Continuou a esvaziar as gavetas. Então, enquanto Harry tentava pensar em um bom argumento para convencê-lo a ficar, Lupin falou:
— Pelo que o diretor me contou hoje de manhã, vocês salvaram muitas vidas ontem à noite, Harry. Se eu tenho orgulho de alguma coisa que fiz este ano, foi o muito que você aprendeu comigo... Me conte sobre o seu Patrono.
— Como é que o senhor soube? — perguntou Harry espantado.
— Que mais poderia ter afugentado os dementadores?
Harry contou a Lupin o que acontecera. Quando terminou, o professor voltara a sorrir.
— É, seu pai se transformava sempre em cervo. Você acertou... É por isso que o chamávamos de Pontas.
Lupin jogou seus últimos livros em uma caixa, fechou as gavetas da escrivaninha e virou-se para fitar Harry.
— Tome, trouxe isto da Casa dos Gritos ontem à noite — disse, devolvendo a Harry a Capa da Invisibilidade. — E... — ele hesitou e em seguida devolveu o Mapa do Maroto também. — Não sou mais seu professor, por isso não me sinto culpado por lhe devolver isso também. Não serve para mim, e me arrisco a dizer que você, Rony e Hermione vão encontrar utilidade para o mapa.
Harry recebeu o mapa e sorriu.
— O senhor me disse que Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas tinham querido me atrair para fora da escola... O senhor disse que eles teriam achado graça.
— E teríamos — respondeu Lupin, abaixando-se para fechar a mala. — Não tenho dúvida em afirmar que Tiago teria ficado muitíssimo desapontado se o filho dele jamais descobrisse as passagens secretas para fora do castelo.
Ouviu-se uma batida na porta. Harry guardou apressadamente o Mapa do Maroto e a Capa da Invisibilidade no bolso.
Era o Profº. Dumbledore. Ele não pareceu surpreso de encontrar Harry ali.
— O seu coche já está no portão, Remo — anunciou ele.
— Obrigado, diretor.
Lupin apanhou sua velha mala e o tanque vazio do grindylow.
— Bom... Adeus, Harry — disse sorrindo. — Foi realmente um prazer ser seu professor. Tenho certeza de que voltaremos a nos encontrar. Diretor, não precisa me acompanhar até o portão, posso me arranjar...
Harry teve a impressão de que Lupin queria sair o mais rápido possível.
— Adeus, então, Remo — disse Dumbledore sério. Lupin empurrou ligeiramente o tanque do grindylow para poder apertar a mão de Dumbledore. Então, com um último aceno para Harry e um breve sorriso, Lupin saiu da sala.
Harry se sentou na cadeira desocupada, olhando tristemente para o chão. Ouviu a porta se fechar e ergueu a cabeça. Dumbledore continuava na sala.
— Por que tão infeliz, Harry? — perguntou em voz baixa. — Você deveria estar se sentindo muito orgulhoso depois do que fez à noite passada.
— Não fez nenhuma diferença — disse Harry com amargura. — Pettigrew conseguiu fugir.
— Não fez nenhuma diferença? — repetiu Dumbledore baixinho. — Fez toda a diferença do mundo, Harry você ajudou a desvendar a verdade. Salvou um homem inocente de um destino terrível.
Terrível. A palavra despertou uma lembrança na cabeça de Harry. Maior e mais terrível que nunca... A predição da Profª. Trelawney!
— Profº. Dumbledore, ontem, quando eu estava fazendo o exame de Adivinhação, a Profª. Trelawney ficou muito... Muito estranha.
— Verdade? — disse o diretor. — Hum... Mais estranha do que de costume, você quer dizer?
— É... A voz dela engrossou e os olhos giraram e ela falou... que o servo de Voldemort ia se juntar a ele antes da meia-noite... Disse que o servo ia ajudá-lo a voltar ao poder. — Harry ergueu os olhos para Dumbledore. — E então ela meio que voltou ao normal, mas não conseguiu se lembrar de nada que tinha falado. Ela... Ela estava fazendo uma predição de verdade?
Dumbledore pareceu levemente impressionado.
— Sabe, Harry, acho que talvez estivesse — disse pensativo. — Quem teria imaginado? Isso eleva para duas o total de predições verdadeiras que ela já fez. Eu devia dar à professora um aumento de salário...
— Mas... — Harry olhou, perplexo, para o diretor. Como é que Dumbledore podia ouvir uma notícia dessas com tanta calma? — Mas... Eu impedi Sirius e o Profº. Lupin de matarem Pettigrew! Assim vai ser minha culpa se Voldemort voltar!
— Não vai, não — disse Dumbledore em voz baixa. — A sua experiência com o Vira-Tempo não lhe ensinou nada, Harry? As conseqüências de nossos atos são sempre tão complexas, tão diversas, que predizer o futuro é uma tarefa realmente difícil... A Profª. Trelawney, abençoada seja, é a prova viva disso... Você teve um gesto muito nobre salvando a vida de Pettigrew...
— Mas se ele ajudar Voldemort a voltar ao poder...
— Pettigrew lhe deve a vida. Você mandou a Voldemort um emissário que está em dívida com você... Quando um bruxo salva a vida de outro, forma-se um certo vínculo entre os dois... E estarei muito enganado se Voldemort aceitar um servo em dívida com Harry Potter.
— Eu não quero ter nenhum vínculo com Pettigrew! — exclamou Harry. — Ele traiu os meus pais!
— Assim é a magia no que ela tem de mais profundo e impenetrável, Harry. Mas confie em mim... Quem sabe um dia você se alegrará por ter salvado a vida de Pettigrew.
Harry não conseguiu imaginar quando seria isso. Dumbledore parecia ter adivinhado o que o garoto estava pensando.
— Conheci seu pai muito bem, tanto em Hogwarts quanto depois, Harry — disse o diretor com carinho. — Tiago teria salvado Pettigrew também, tenho certeza.
Harry olhou para o diretor. Dumbledore não riria, podia lhe contar...
— Ontem à noite, eu pensei que tinha sido o meu pai que tinha conjurado o meu Patrono. Quero dizer, pensei que estava vendo ele quando me vi atravessando o lago...
— Um engano normal — disse Dumbledore gentilmente. — Imagino que já esteja cansado de ouvir dizer, mas você é extraordinariamente parecido com Tiago. Exceto nos olhos... Você tem os olhos de sua mãe.
Harry sacudiu a cabeça.
— Foi burrice minha pensar que era ele — murmurou o garoto. — Quero dizer, eu sei que ele está morto.
— Você acha que os mortos que amamos realmente nos deixam? Você acha que não nos lembramos deles ainda mais claramente em momentos de grandes dificuldades? O seu pai vive em você, Harry, e se revela mais claramente quando você precisa dele. De que outra forma você poderia produzir aquele Patrono? Pontas reapareceu ontem à noite.
Levou um momento para Harry compreender o que Dumbledore acabara de dizer.
— Ontem à noite Sirius me contou como eles se tornaram Animagos — disse o diretor sorrindo. — Uma realização fantástica, e não é menos fantástico que tenham ocultado isso de mim. Então me lembrei da forma muito incomum que o seu Patrono assumiu, quando investiu contra o Sr. Malfoy na partida de Quadribol contra Corvinal. Sabe, Harry, de certa forma você realmente viu o seu pai ontem à noite... Você o encontrou dentro de si mesmo.
E Dumbledore saiu da sala deixando Harry com seus pensamentos muito confusos.
Ninguém em Hogwarts sabia a verdade do que acontecera na noite em que Sirius, Bicuço e Pettigrew desapareceram, exceto Harry, Rony, Hermione e o Profº. Dumbledore.
À medida que o trimestre foi chegando ao fim, Harry ouviu muitas teorias diferentes sobre o que realmente acontecera, mas nenhuma delas sequer se aproximava da verdadeira.
Malfoy estava enfurecido com a fuga de Bicuço. Acreditava que Hagrid encontrara um jeito de contrabandear o hipogrifo para um lugar seguro, e parecia indignado que ele e o pai tivessem sido enganados por um guarda-caça. Entrementes, Percy Weasley tinha muito a dizer sobre a fuga de Sirius.
— Se eu conseguir entrar para o ministério, apresentarei várias propostas sobre a execução das leis da magia! — disse ele à única pessoa que queria escutá-lo, sua namoradinha Penélope.
Embora o tempo estivesse perfeito, embora a atmosfera estivesse tão animada, embora ele soubesse que tinham realizado quase o impossível ao ajudar Sirius a continuar livre, Harry jamais chegara tão desanimado a um final de ano letivo.
Com certeza não era o único aluno que lamentava a partida do Profº. Lupin. A turma inteira de Defesa contra as Artes das Trevas amargara a demissão do professor.
— Quem será que vão nos dar o ano que vem? — perguntou Simas Finnigan deprimido.
— Quem sabe um vampiro — sugeriu Dino Thomas esperançoso.
Não era apenas a partida do Profº. Lupin que estava pesando na cabeça de Harry. Ele não podia deixar de pensar, e muito, na predição da Profª. Sibila Trelawney.
Ficava imaginando onde estaria Pettigrew, se já teria procurado guarida com Voldemort. Mas o que mais deprimia o ânimo de Harry era a perspectiva de regressar à casa dos Dursley. Durante talvez meia hora, uma gloriosa meia hora, acreditara que iria passar a morar com Sirius... O melhor amigo dos seus pais... Seria a segunda melhor coisa do mundo depois de ter o seu pai de volta. E ainda que não ter notícias de Sirius Black fosse decididamente uma boa notícia, pois significava que ele conseguira se esconder com sucesso, Harry não podia deixar de se entristecer quando pensava no lar que poderia ter tido e na circunstância de isso ter se tornado impossível.
Os resultados dos exames foram divulgados no último dia do ano letivo. Harry, Rony e Hermione tinham passado em todas as matérias. Harry se admirou de ter se dado bem em Poções. Suspeitava, muito perspicazmente, que Dumbledore talvez tivesse interferido para impedir Snape de reprová-lo de propósito.
O comportamento de Snape com relação a Harry na última semana tinha sido alarmante. O garoto não teria achado possível que a aversão do professor por ele pudesse aumentar, mas sem dúvida isto acontecera. Um músculo tremia incomodamente no canto da boca fina de Snape toda vez que ele olhava para Harry, e o bruxo flexionava os dedos todo o tempo, como se eles comichassem para apertar o pescoço de Harry.
Percy conseguira excelentes notas nos exames de N.I.E.M.’s (Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia); Fred e Jorge passaram raspando nos exames para obter seus N.O.M.s (Níveis Ordinários em Magia). Entrementes, a casa de Grifinória, em grande parte graças ao seu espetacular desempenho na conquista da Taça de Quadribol, ganhara o Campeonato das Casas, pelo terceiro ano consecutivo.
Isto significou que a festa de encerramento do ano letivo se realizou em meio a decorações vermelhas e douradas, e que, na comemoração geral, a mesa da Grifinória foi a mais barulhenta do Salão. Até Harry enquanto comia, bebia, conversava e ria com todos, conseguira esquecer a viagem de regresso à casa dos Dursley no dia seguinte.
Quando o Expresso de Hogwarts deixou a estação na manhã seguinte, Hermione comunicou a Harry e a Rony uma notícia surpreendente.
— Fui ver a Profª. McGonagall hoje de manhã, pouco antes do café. Resolvi abandonar Estudos dos Trouxas.
— Mas você passou na prova com trezentos e vinte por cento! — exclamou Rony.
— Eu sei — suspirou Hermione —, mas não vou poder viver outro ano igual a este. Aquele Vira-Tempo estava me levando à loucura. Eu o devolvi. Sem Estudos dos Trouxas e Adivinhação, vou poder ter um horário normal outra vez.
— Ainda não consigo acreditar que você não tenha nos contado. Pensávamos que éramos seus amigos.
— Prometi que não contaria a ninguém — disse Hermione com severidade.
Ela se virou para olhar para Harry, que observava Hogwarts desaparecer de vista por trás de um morro. Dois meses inteiros até poder revê-la...
— Ah, se anima, Harry! — disse Hermione triste.
— Eu estou bem — se apressou o garoto a dizer. — Estou só pensando nas férias.
— É, eu também tenho pensado nelas — disse Rony. — Harry você tem que vir ficar conosco. Vou combinar com mamãe e papai, depois te ligo. Agora já sei usar umfeletone...
— Um telefone, Rony — corrigiu-o Hermione. — Sinceramente, você é quem devia fazer Estudos dos Trouxas no ano que vem...
Rony fingiu que não tinha ouvido o comentário.
— Vai haver a Copa Mundial de Quadribol agora no verão! Que é que você acha, Harry? Vem ficar com a gente e aí podemos assistir aos jogos! Papai geralmente arranja entradas no ministério.
Esta proposta teve o efeito de animar Harry bastante.
— É... Aposto que os Dursley iriam gostar que eu fosse, principalmente depois do que fiz com a tia Guida...
Sentindo-se bem mais alegre, Harry jogou várias partidas de Snap Explosivo com Rony e Hermione e, quando a bruxa com a carrocinha de lanches chegou, ele comprou uma enorme refeição, mas nada que tivesse chocolate.
Mas a tarde já ia avançada quando aconteceu a coisa que o deixou realmente feliz...
— Harry — chamou-o Hermione de repente, espiando por cima do seu ombro. — Que é essa coisa do lado de fora da sua janela?
Harry se virou para olhar. Havia uma coisa muito pequena e cinzenta que aparecia e desaparecia de vista do lado de fora da janela.
Ele se levantou para ver melhor e concluiu que era uma coruja minúscula, carregando uma carta demasiado grande para o seu tamanho. A coruja era tão pequena, na realidade, que não parava de dar cambalhotas no ar, impelida para cá e para lá pelo deslocamento de ar do trem. Harry baixou depressa a janela, esticou o braço e recolheu-a.
Ao tato, ela lembrava um pomo de ouro muito fofo. O garoto recolheu a coruja cuidadosamente pra dentro. A ave deixou cair a carta no banco e começou a voar pela cabine dos garotos, aparentemente muito satisfeita consigo mesma por ter se desincumbido de sua tarefa. Edwiges deu um estalo com o bico numa espécie de digna censura. Bichento se aprumou no assento, acompanhando a coruja com os seus enormes olhos amarelos.
Rony, reparando nisso, segurou a coruja para protegê-la do perigo iminente.
Harry apanhou a carta. Vinha endereçada a ele. O garoto abriu a carta e gritou:
— É do Sirius!
— Quê? — exclamaram Rony e Hermione excitados. — Leia em voz alta!

Caro Harry,
Espero que esta o encontre antes de você chegar à casa dos seus tios. Não sei se eles estão acostumados com correios-coruja.
Bicuço e eu estamos escondidos. Não vou lhe dizer onde, caso esta coruja caia em mãos indesejáveis. Tenho minhas dúvidas se ela é confiável, mas foi a melhor que consegui encontrar e me pareceu ansiosa para se encarregar da entrega.
Acredito que os dementadores ainda estejam me procurando, mas eles não têm a menor esperança de me encontrar aqui. Estou planejando deixar os trouxas me verem em breve, muito longe de Hogwarts, de modo que a segurança sobre o castelo seja relaxada.
Há uma coisa que não cheguei a lhe dizer durante o nosso breve encontro. Fui eu que lhe mandei a Firebolt...

— Ah! — exclamou Hermione triunfante. — Estão vendo! Eu disse a vocês que tinha sido ele!
É, mas ele não tinha enfeitiçado a vassoura, tinha? — retrucou Rony. — Ai! — A corujinha, agora piando feliz em sua mão, bicava-lhe um dedo, no que parecia ser uma demonstração de carinho.

...Bichento levou a ordem de compra à Agência-Coruja para mim.
Usei o seu nome, mas mandei sacarem o ouro do meu cofre em Gringotes. Por favor, considere a vassoura o equivalente a treze anos de presentes do seu padrinho.
Gostaria também de me desculpar pelo susto que lhe dei àquela noite, no ano passado, quando você abandonou a casa do seu tio. Minha esperança era apenas dar uma olhada em você antes de iniciar viagem para o norte, mas acho que a minha aparição o assustou.
Estou anexando outro presente para você, e acho que ele tornará o seu próximo ano em Hogwarts mais prazeroso.
Se algum dia precisar de mim, mande me dizer. Sua coruja me encontrará.
Escreverei novamente em breve.
Sirius.

Harry espiou ansioso dentro do envelope. Havia outro pedaço de pergaminho. Examinou-o depressa e se sentiu inesperadamente aquecido e satisfeito como se tivesse bebido uma garrafa de cerveja amanteigada quente, de um gole só.

“Pela presente, eu, Sirius Black, padrinho de Harry Potter, dou-lhe permissão para visitar Hogsmeade nos fins de semana”.

— Dumbledore vai aceitar esta autorização! — exclamou Harry alegremente. O garoto tornou a olhar para a carta de Sirius.
Espera aí, tem um P.S.

“Achei que o seu amigo Rony talvez quisesse ficar com a coruja, pois é minha culpa que ele não tenha mais um rato”.

Os olhos de Rony se arregalaram. A corujinha continuava a piar agitada.
— Ficar com a coruja? — perguntou o garoto hesitante. Ele mirou a ave um momento; depois, para grande surpresa de Harry e Hermione, ofereceu-a para Bichento cheirar.
— Qual é a sua avaliação? — perguntou Rony ao gato. — Isto é decididamente uma coruja?
Bichento ronronou.
— Para mim é o suficiente — disse Rony feliz. — É minha.
Harry leu e releu a carta de Sirius até a estação de King's Cross. E continuava a apertá-la na mão quando ele, Rony e Hermione passaram a barreira da plataforma 9 e ½. Harry localizou o tio Válter imediatamente. Estava parado a uma boa distância do Sr. e da Sra. Weasley, espiando-os desconfiado, e, quando a Sra. Weasley abraçou Harry, as piores suspeitas do tio a respeito do casal pareceram se confirmar.
— Eu ligo para falar da Copa Mundial! — gritou Rony para Harry quando o amigo acenou um adeus para ele e Hermione, e saiu empurrando o carrinho com sua mala e a gaiola de Edwiges em direção ao tio, que o cumprimentou da maneira habitual.
— Que é isso? — rosnou, olhando para o envelope que Harry ainda segurava na mão. — Se é outro formulário para eu assinar, pode tirar o cavalinho...
— Não é, não — respondeu Harry alegremente. — É uma carta do meu padrinho.
— Padrinho? — engasgou o tio Válter. — Você não tem padrinho!
— Tenho, sim — respondeu Harry animado. — Era o melhor amigo da minha mãe e do meu pai. E é um assassino condenado, mas fugiu da prisão dos bruxos e está foragido. Mas ele gosta de manter contato comigo... Saber das minhas notícias... Verificar se estou feliz...
E, abrindo um largo sorriso ao ver a cara de horror do tio Válter, Harry rumou para a saída da estação, Edwiges chocalhando à frente, para o que prometia ser um verão muito melhor do que o anterior.

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