Posted by : Unknown junho 04, 2014

Capítulo 31


A euforia de Rony por ter ajudado a Grifinória a ganhar a taça de quadribol era tal que ele não conseguiu se concentrar em nada no dia seguinte. Só queria comentar o jogo, por isso Harry e Hermione acharam muito difícil encontrar uma vaga para mencionar Grope. Não que eles tivessem se empenhado muito; nenhum dos dois queria ser responsável por trazer Rony de volta à realidade de maneira tão brutal. Como fazia outro belo dia de calor, eles o convenceram a acompanhá-los na revisão de matérias embaixo da faia à beira do lago, onde teriam menor chance de ser escutados do que na sala comunal. A princípio Rony não gostou muito da idéia — estava adorando levar palmadinhas nas costas de todo aluno da Grifinória que passava por sua poltrona, para não mencionar os coros repentinos de "Weasley é nosso rei" —, mas, passado algum tempo, ele concordou que um pouco de ar fresco lhe faria bem.
Os garotos espalharam os livros à sombra da faia e se sentaram, enquanto Rony contava sua primeira defesa na partida, ele próprio percebeu que pela décima segunda vez.
— Bom, quero dizer, eu já tinha deixado entrar um gol do Davies, então não estava me sentindo nada confiante, mas, não sei, quando Bradley veio na minha direção, sem eu nem saber de onde tinha saído, pensei: Você é capaz de fazer essa defesa! E tive um segundo para decidir para que lado voar, sabe, porque pelo jeito ele estava visando ao aro da direita, minha direita, obviamente a esquerda dele, mas eu tive a estranha sensação de que estava fingindo, então arrisquei e voei para a esquerda, a direita dele... quero dizer... e... bom... vocês viram o que aconteceu — concluiu ele modestamente, jogando os cabelos para trás à toa, fazendo-os parecer curiosamente despenteados pelo vento, e olhando para os lados para ver se as pessoas mais próximas, um grupo de terceiranistas da Lufa-Lufa, tinham-no ouvido. — Então, quando Chambers avançou para mim uns cinco minutos depois... Quê? — perguntou Rony, parando no meio da frase ao ver a expressão no rosto de Harry. – Por que é que você está sorrindo?
— Não estou – disse Harry depressa, e baixou os olhos para suas notas de Transfiguração, tentando ficar sério. A verdade é que o amigo acabara de lhe recordar claramente outro jogador de quadribol da Grifinória que um dia se sentara despenteando os cabelos embaixo dessa mesmíssima árvore. — Estou feliz porque ganhamos, é só.
— É — disse Rony, saboreando a palavra ganhamos. — Você viu a cara da Chang quando Gina capturou o pomo bem debaixo do nariz dela?
— Imagino que tenha chorado, não? — comentou Harry amargurado.
— Bom, é... mais de raiva do que de outra coisa... — Rony enrugou ligeiramente a testa. — Mas você viu quando ela aterrissou e jogou a vassoura no chão, não viu?
— Ah... — começou Harry.
— Bom, na verdade... não, Rony — disse Hermione com um pesado suspiro, baixando o livro e encarando o amigo com ar de quem se desculpa. — De fato, a única parte do jogo a que eu e Harry assistimos foi o primeiro gol de Davies.
Os cabelos de Rony cuidadosamente despenteados pareceram murchar de desapontamento.
— Vocês não assistiram? — disse ele com a voz fraca, olhando de um para outro. — Vocês não me viram fazer nenhuma dessas defesas?
— Bom... não — disse Hermione, conciliadora, estendendo a mão para ele. — Mas, Rony, nós não queríamos sair: tivemos de sair!
— Ah é? — exclamou Rony cujo rosto começou a ficar vermelho.
— E por quê?
— Foi o Hagrid — disse Harry. – Ele resolveu nos contar por que está todo machucado desde que voltou da terra dos gigantes. Queria que a gente o acompanhasse à Floresta, não tivemos opção, você sabe como ele fica. De qualquer jeito...
A história foi contada em cinco minutos, ao final dos quais a indignação de Rony deu lugar a uma expressão de total incredulidade.
— Ele trouxe um gigante e o escondeu na Floresta?
— Foi — confirmou Harry, carrancudo.
— Não — disse Rony, como se ao dizer isso pudesse mudar a realidade em irrealidade. — Não, ele não pode ter feito isso.
— Mas fez — confirmou Hermione. — Grope tem quase cinco metros, se diverte arrancando pinheiros de seis metros, e me conhece — ela deu uma risadinha desgostosa — como "Hermi".
Rony riu, nervoso.
— E Hagrid quer que a gente...?
— Ensine inglês a ele, é — completou Harry.
— Ficou maluco — protestou Rony num tom próximo ao assombro.
— É — falou Hermione, irritada, virando uma página de Transfiguração para o curso médio e examinando uma série de diagramas que ilustravam a transformação de uma coruja em um binóculo de teatro.
— É, estou começando a pensar que ficou. Mas, infelizmente, ele fez a gente, Harry e eu, prometer.
— Bom, então o jeito é vocês quebrarem a promessa – disse Rony com firmeza. — Quero dizer, vamos... temos exames e estamos assim — ele ergueu a mão mostrando o polegar e o indicador quase juntos – de sermos expulsos sem fazer mais nada. Além disso... vocês se lembram do Norberto? Lembram a Aragogue? Algum dia lucramos alguma coisa por nos meter com os monstros do Hagrid?
— Eu sei, é só que... prometemos — disse Hermione com a voz fraquinha.
Rony tornou a alisar os cabelos, parecendo preocupado.
— Bom — suspirou —, Hagrid ainda não foi despedido, não é? Se agüentou até aqui, quem sabe agüenta até o final do trimestre e a gente nem tem que chegar perto do tal Grope?
Os jardins e terras do castelo refulgiam ao sol como se tivessem sido recémpintados; o céu sem nuvens sorria para o seu reflexo no lago liso e cintilante; o verde acetinado dos gramados ondeava ocasionalmente à brisa mansa. Junho chegara, mas para os quintanistas isto significava apenas uma coisa: estavam às vésperas dos N.O.M.s.
Seus professores não passavam mais deveres de casa; as aulas eram dedicadas a revisar os tópicos que eles achavam que mais provavelmente cairiam nos exames. A atmosfera premeditada e febril varreu quase tudo da cabeça de Harry, exceto os N.O.M.S., embora ele se perguntasse ocasionalmente, durante as aulas de Poções, se Lupin chegara a dizer a Snape que ele devia continuar a lhe dar aulas particulares de Oclumência. Se dissera, então Snape ignorara Lupin completamente como agora o ignorava. Isto convinha a Harry; estava bastante ocupado e tenso sem aulas extras com Snape, e, para seu alívio, Hermione andava ultimamente preocupada demais para aborrecê-lo com a Oclumência; passava muito tempo falando sozinha, e fazia dias que não deixava roupas para elfos.
Ela não era a única pessoa a se comportar estranhamente à medida que se aproximavam dos exames. Ernesto Macmillan adquirira o irritante hábito de interrogar as pessoas sobre a maneira de fazerem revisões.
— Quantas horas vocês acham que estão gastando por dia? — perguntou a Harry e Rony na fila à porta da aula de Herbologia, com um brilho obsessivo nos olhos.
— Não sei — respondeu Rony. — Algumas.
— Mais ou menos de oito?
— Suponho que menos — disse Rony, parecendo ligeiramente alarmado.
— Estou gastando oito — informou ele estufando o peito. — Oito ou nove. E estou encaixando mais uma hora antes do café da manhã todos os dias. Oito tem sido a minha média. Posso chegar a dez em um bom dia no fim de semana. Fiz nove e meia na segunda-feira. Não fui tão bem na terça: só sete e quinze. Depois, na quarta-feira...
Harry se sentiu profundamente grato que neste momento a Profª Sprout os tivesse mandado entrar na estufa número três, obrigando Ernesto a abandonar sua enumeração.
Entrementes, Draco Malfoy encontrava um modo novo de induzir o pânico.
— Naturalmente, não é o que você sabe — ouviram-no comentar com Crabbe e Goyle à porta de Poções poucos dias antes dos exames começarem –, mas quem você conhece. Agora, meu pai é amigo da chefe da Autoridade de Exames Bruxos há anos, a velha Griselda Marchbanks, ela já foi jantar lá em casa e tudo...
— Vocês acham que isso é verdade? — sussurrou Hermione alarmada para Harry e Rony.
— Se for não há nada que se possa fazer – comentou Rony triste mente.
— Acho que não é verdade — disse Neville calmamente às costas deles. – Porque a Griselda Marchbanks é amiga da minha avó, e ela jamais mencionou os Malfoy.
— Como é que ela é, Neville? – perguntou Hermione na mesma hora. — É rigorosa?
— Na verdade lembra um pouco a minha avó — disse Neville em voz baixa.
— Mas o fato de conhecê-la não vai prejudicar você, vai? – perguntou Rony animando-o.
— Não acho que vá fazer diferença – retrucou ele, ainda mais infeliz. — Vovó está sempre dizendo à Profª Marchbanks que não sou tão bom quanto o meu pai... bom... vocês viram como ela é lá no St. Mungus...
Neville ficou olhando fixamente para o chão. Harry, Rony e Hermione se entreolharam, mas não souberam o que dizer. Era a primeira vez que Neville mencionava que haviam se encontrado no hospital dos bruxos.
Nesse meio-tempo, nascera entre os alunos de quinto e sétimo ano um florescente mercado negro de produtos para aumentar a concentração, a agilidade mental e a atenção. Harry e Rony se sentiram muito tentados a comprar a garrafa de Elixir Baruffio para o Cérebro oferecida pelo sextanista da Corvinal, Edu Carmichael, que jurou que o elixir fora o único responsável pelos seus nove "Excepcionais" nos N.O.M.s do verão anterior, e do qual estava vendendo meio litro por apenas doze galeões. Rony garantiu a Harry que lhe pagaria a sua metade assim que terminasse Hogwarts e arranjasse um emprego, mas, antes que pudesse fechar o negócio, Hermione confiscou a garrafa de Carmichael e despejou o conteúdo num vaso sanitário.
— Hermione, nós queríamos comprar o elixir! – gritou Rony.
— Não seja burro – rosnou ela. – Você poderá tomar o pó de garra de dragão de Harold Dingle que faria o mesmo efeito.
— Dingle tem pó de garra de dragão? – indagou Rony ansioso.
— Não tem mais. Confisquei o pó também. Nenhuma dessas coisas faz realmente efeito, entende.
— Garra de dragão faz! – exclamou Rony. – Dizem que é incrível, realmente dá uma injeção de reforço no cérebro, a pessoa fica superperspicaz durante algumas horas... Hermione, me dá uma pitada, vai, não pode fazer mal...
— Essa droga faz – disse Hermione sombriamente. – Dei uma examinada, e descobri que na realidade é excremento de Fada Mordente...
A informação tirou a vontade dos garotos de comprar estimulantes para o cérebro.
Eles receberam os horários dos exames e os detalhes de como proceder na aula de Transfiguração seguinte.
— Como vocês podem ver – disse a Profª McGonagall à classe enquanto os alunos copiavam as datas e os horários dos exames do quadro-negro –, os seus N.O.M.s estão distribuídos por duas semanas sucessivas. Vocês farão os exames de teoria pela manhã e os de prática à tarde. O exame prático de Astronomia, naturalmente, será realizado à noite.
— Agora, devo prevenir a vocês que os seus exames receberam os feitiços anticola mais fortes que existem. Não são permitidos na sala de exame Penas de Resposta Automática, nem tampouco Lembrols, Punhos-de-Cola Destacáveis nem Tinta Autocorretora. Todo ano, é preciso dizer, aparece no mínimo um estudante que acha que pode contornar o regulamento da Autoridade de Exames Bruxos. Minha esperança é que não seja ninguém da Grifinória. Nossa nova... diretora... – a Profª McGonagall pronunciou o nome com a mesma expressão no rosto com que tia Petúnia sempre encarava um sujinho particularmente renitente — pediu às diretoras das Casas para avisar aos estudantes que a cola será punida com o máximo rigor, porque, naturalmente, os resultados dos seus exames refletirão o novo regime implantado pela diretora na escola...
A professora deu um pequeno suspiro. Harry viu as narinas do seu nariz de linhas fortes se dilatarem.
—... contudo, não há razão para vocês não se esforçarem ao máximo. Têm que pensar no seu futuro.
— Professora, por favor – disse Hermione erguendo a mão —, quando vamos saber os resultados dos nossos exames?
— Vocês receberão uma coruja em julho.
— Excelente — comentou Dino Thomas, em um sussurro audível —, então não teremos de nos preocupar com isso até as férias.
Harry se imaginou sentado em seu quarto na rua dos Alfeneiros dali a seis semanas, esperando os resultados dos N.O.M.s. Bom, pensou, pelo menos era certo receber uma carta naquele verão.
O primeiro exame, Teoria dos Feitiços, estava programado para a segunda-feira pela manhã. Harry concordou em testar Hermione depois do almoço de domingo, mas arrependeu-se quase imediatamente: a amiga muito agitada não parava de puxar o livro das mãos dele para verificar se respondera totalmente certo, e acabou lhe dando uma pancada no nariz com a borda afiada de Sucesso em feitiços.
— Por que é que você não se testa sozinha? — disse ele com firmeza, devolvendo-lhe o livro com lágrimas nos olhos.
Enquanto isso, Rony seguia lendo dois anos de anotações sobre Feitiços com os dedos nos ouvidos, movendo os lábios silenciosamente; Simas Finnigan deitara-se de costas no chão, e repetia a definição de Feitiço Substantivo enquanto Dino verificava a resposta no Livro padrão de feitiços, 5ª série; e Parvati e Lilá praticavam Feitiços de Locomoção apostando corrida entre seus estojos de lápis em volta de uma mesa.
O jantar foi uma refeição calma àquela noite. Harry e Rony não falaram muito, mas comeram com apetite depois de tanto estudo a tarde inteira. Por sua vez, Hermione não parava de descansar o garfo e a faca e mergulhar embaixo da mesa para apanhar a mochila, na qual pegava um livro para verificar algum fato ou número. Rony acabara de dizer que ela devia fazer uma refeição decente ou não conseguiria dormir àquela noite, quando o garfo escorregou de seus dedos dormentes e caiu com estrépito no prato.
— Ah, minha nossa — disse ela com a voz fraca, arregalando os olhos para o Saguão de Entrada. — São eles? São os examinadores?
Harry e Rony viraram-se imediatamente. Pelas portas que se abriam para o Saguão de Entrada, eles viram Umbridge com um pequeno grupo de bruxos e bruxas de aparência idosa. Umbridge, Harry se alegrou de ver, parecia muito nervosa.
— Vamos olhar mais de perto? – convidou Rony.
Harry e Hermione assentiram e correram para a porta, abrandando a marcha ao cruzar o portal e continuando mais calmamente para passar pelos examinadores. Harry achou que a Profª Marchbanks devia ser a bruxa miúda e curvada com o rosto tão enrugado que parecia coberto de teias de aranha; Umbridge se dirigia a ela com deferência. A examinadora parecia um pouco surda; respondia à Profª Umbridge em voz muito alta, considerando que estavam a menos de meio metro de distância.
— A viagem foi ótima, a viagem foi ótima, já a fizemos muitas vezes antes! – respondeu com impaciência. – Agora, não tenho tido notícias de Dumbledore ultimamente! – acrescentou, correndo o olhar pelo saguão como se esperasse ver o bruxo sair de repente de um armário de vassouras. – Suponho que não tenha idéia de onde ele esteja?
— Nenhuma – respondeu a diretora, lançando um olhar malévolo a Harry, Rony e Hermione, que agora se demoravam ao pé da escadaria enquanto Rony fingia amarrar os sapatos. – Mas ouso afirmar que em breve o ministro da Magia descobrirá seu paradeiro.
— Duvido – gritou a Profª Marchbanks –, não se Dumbledore não quiser ser encontrado! Eu sei... examinei-o pessoalmente em Transfiguração e Feitiços quando ele prestou os N.I.E.M.s... fez coisas com uma varinha que eu nunca tinha visto antes.
— É... bom... – disse a diretora quando Harry, Rony e Hermione subiram a escadaria de mármore arrastando os pés, o mais lentamente que se atreviam –, deixe-me levá-la à sala dos professores. Imagino que queira uma xícara de chá depois dessa viagem.
Foi uma noite meio tensa. Todos tentavam fazer alguma revisão de última hora, mas ninguém parecia estar conseguindo. Harry foi se deitar cedo, e teve a impressão de continuar acordado durante horas. Lembrou-se da orientação vocacional e da declaração furiosa de McGonagall de que o ajudaria a se tornar auror nem que fosse a última coisa que fizesse. Ele gostaria de ter manifestado uma ambição mais realizável agora que chegara a hora dos exames. Sabia que não era o único acordado, mas nenhum dos colegas de dormitório falou e, finalmente, um a um, todos adormeceram.
Nenhum dos quintanistas conversou muito durante o café na manhã seguinte, tampouco: Parvati praticava encantamentos em voz baixa, fazendo o saleiro à sua frente se mexer; Hermione relia Sucesso em feitiços tão rápido que seus olhos pareciam se turvar; e Neville não parava de deixar cair os talheres e derrubar a geléia.
Quando terminaram, os alunos de quinto e sétimo anos se deixaram ficar pelo Saguão de Entrada enquanto os outros estudantes foram para as aulas; então, às nove e meia, eles foram chamados, turma por turma, a reentrar no Salão Principal, que tinha sido rearrumado exatamente como Harry o vira na Penseira, quando seu pai, Sirius e Snape estavam prestando os N.O.M.s; as mesas das quatro Casas tinham sido retiradas e substituídas por muitas mesas individuais, de frente para a mesa dos professores no fundo do salão, à qual estava a Profª McGonagall, por sua vez, de frente para as mesas dos alunos.
Depois que todos se sentaram e sossegaram, ela disse:
— Podem começar – e virou uma enorme ampulheta na mesa ao lado, sobre a qual havia ainda penas, tinteiros e rolos de pergaminho de reserva. Harry virou a folha do exame, o coração batendo forte – três fileiras à sua direita e quatro cadeiras à frente, Hermione já estava escrevendo –, e ele baixou os olhos para ler a primeira pergunta: a) cite o encantamento e b) descreva o movimento da varinha exigido para fazer os objetos voarem.
Harry teve uma lembrança fugaz de uma maça voando no ar e aterrissando com estrondo na cabeça dura de um trasgo... com um ligeiro sorriso, ele se curvou para o exame e começou a escrever.
— Bom, não foi muito ruim, foi? – perguntou Hermione ansiosa no Saguão de Entrada duas horas mais tarde, ainda segurando as perguntas do exame. – Acho que não fiz justiça ao que sei com Feitiços para Animar, esgotou-se o tempo. Vocês puseram o contrafeitiço para soluços? Não tive certeza se precisava, achei informação demais... e na pergunta vinte e três...
— Hermione – disse Rony com severidade –, já passamos por isso... não vamos repassar cada exame ao terminar, já é bastante ruim fazer uma vez.
Os quintanistas almoçaram com o restante da escola (as mesas das quatro Casas reapareceram na hora do almoço), depois marcharam para uma pequena sala ao lado do Salão Principal, onde deviam esperar a chamada para o exame prático. À medida que pequenos grupos de alunos eram chamados, os que ficavam murmuravam encantamentos e praticavam movimentos com a varinha, ocasionalmente espetando o colega nas costas ou no olho, por engano.
Chamaram Hermione. Tremendo, ela deixou a sala com Antônio Goldstein, Gregório Goyle e Dafne Greengrass. Os estudantes que eram testados não voltavam à sala, por isso Harry e Rony não sabiam como Hermione se saíra.
— Ela se saiu bem, lembra que tirou cento e doze por cento em um dos testes de Feitiços? — perguntou Rony.
Dez minutos depois, o Prof. Flitwick chamou: Parkinson, Pansy — Patil, Padma — Patil, Parvati — Potter, Harry.
— Boa sorte — desejou Rony em voz baixa. Harry entrou no Salão Principal, segurando a varinha com tanta força que sua mão tremia.
— O Prof. Tofty está livre, Potter — esganiçou-se o Prof. Flitwick, que estava em pé à porta. E orientou Harry para um bruxo que parecia o examinador mais velho e mais careca, sentado a uma mesinha no canto mais distante, a uma pequena distância da Profª Marchbanks, que, por sua vez, já estava na metade do exame de Draco Malfoy.
— Potter, não é? — perguntou o Prof. Tofty, consultando suas anotações e espiando por cima do pincenê à aproximação de Harry. — O famoso Potter?
Pelo canto do olho, Harry viu claramente Malfoy lhe lançar um olhar fulminante; a taça de vinho que ele estava fazendo levitar caiu ao chão e se espatifou. Harry não pôde conter um sorriso; o Prof. Tofty retribuiu-lhe o sorriso, encorajando-o.
— Isso — disse com a voz trêmula de velho —, não precisa ficar nervoso. Agora, gostaria de pedir que você pegasse esse porta-ovo e o fizesse dar saltos mortais para mim.
No todo, Harry achou que o exame correu muito bem. Seu Feitiço de Levitação foi muito melhor que o de Malfoy, embora ele desejasse não ter confundido os Feitiços de Mudança de Cor e o de Crescimento, fazendo o rato que devia estar colorindo de laranja inchar de maneira chocante e ficar do tamanho de um texugo antes que pudesse corrigir o seu engano. Ficou feliz que Hermione não estivesse no Salão Principal na hora e se esqueceu depois de mencionar o ocorrido para a amiga. Mas pôde contar a Rony; ele fizera um prato se transformar em um grande cogumelo e não tinha a mínima idéia de como isso acontecera.
Não houve tempo para relaxar naquela noite; os garotos foram diretamente para a sala comunal depois do jantar e mergulharam na revisão de Transfiguração para o dia seguinte; Harry foi se deitar sentindo a cabeça zunir com os complexos modelos e teorias de feitiços.
E esqueceu a definição de um Feitiço de Substituição durante o exame teórico na manhã seguinte, mas achou que no prático poderia ter sido bem pior. Pelo menos ele conseguiu fazer desaparecer por inteiro a sua iguana, enquanto Ana Abbott na mesa ao lado perdeu a cabeça e conseguiu, inexplicavelmente, multiplicar seu furão em um bando de flamingos, obrigando os professores a interromper o exame durante dez minutos enquanto as aves eram capturadas e retiradas do salão.
Os alunos fizeram o exame de Herbologia na quarta-feira (e, a não ser por uma pequena mordida de um gerânio dentado, Harry achou que se saiu razoavelmente bem); depois, na quinta-feira, tiveram Defesa Contra as Artes das Trevas. Ali, pela primeira vez, Harry teve certeza de que passara. Não teve problema com nenhuma questão escrita, e teve especial prazer, durante o exame prático, de realizar todas as contra-azarações e feitiços defensivos bem diante da Umbridge, que observava calmamente, próxima às portas para o Saguão de Entrada.
— Bravo! — exclamou o Prof. Tofty, que estava mais uma vez examinando Harry, quando o garoto demonstrou com perfeição um feitiço para fazer desaparecer bichos-papões. – Realmente, muito bem! Bom, acho que já chega, Potter... a não ser...
Ele se curvou um pouco para a frente.
— Meu querido amigo Tibério Ogden me contou que você é capaz de produzir um Patrono? Para ganhar mais um ponto...?
Harry ergueu a varinha, olhou diretamente para Umbridge e imaginou-a sendo expulsa.
— Expecto patronum!
Seu Patrono prateado irrompeu da ponta da varinha e saiu a meio galope pelo salão. Todos os examinadores se viraram para observar a demonstração, e quando ele se dissolveu em uma névoa prateada o Prof. Tofty ergueu as mãos, com juntas e veias grossas, e aplaudiu entusiasmado.
— Excelente! Muito bem, Potter, pode ir.
Quando Harry passou por Umbridge junto à porta, seus olhares se encontraram. Um sorriso desagradável brincava em torno da boca enorme e frouxa da diretora, mas ele não se importou. A não ser que estivesse muito enganado (e ele não pretendia contar a ninguém, caso estivesse), ele acabara de receber um "Excepcional" no exame.
Na sexta-feira, Harry e Rony tiveram um dia livre enquanto Hermione prestava seu exame de Runas Antigas, e com o fim de semana à frente, eles se permitiram tirar uma folga das revisões. Enquanto jogavam xadrez de bruxo se espreguiçaram e bocejaram sentados ao lado da janela aberta, pela qual entrava um ar cálido de verão. Harry viu Hagrid a distância, dando aula a uma turma na orla da Floresta. Tentou adivinhar que bichos estariam estudando — achou que deviam ser unicórnios, porque os alunos pareciam estar um pouco recuados —, quando o buraco do retrato se abriu e Hermione entrou parecendo muitíssimo mal-humorada.
— Como foram as Runas? — perguntou Rony, bocejando e se espreguiçando.
— Traduzi ehwaz errado — disse a garota furiosa. — A palavra quer dizer parceria e não defesa. Confundi com eihwaz.
— Ah, bom — disse Rony cheio de preguiça —, foi só um errinho, não foi, você ainda vai tirar...
— Ah, cala a boca! – replicou a garota com raiva. — Pode ser o errinho que fará a diferença entre ser aprovada e reprovada. E tem mais, alguém pôs outro pelúcio na sala da Umbridge. Não sei como conseguiram enfiá-lo por aquela porta nova, mas acabei de passar por lá e a Umbridge está aos berros, pelo jeito, parece que o bicho tentou arrancar um pedaço da perna dela...
— Que bom – exclamaram Harry e Rony juntos.
— Não é nada bom! – retrucou Hermione indignada. — Ela acha que é o Hagrid que está fazendo isso, lembram? E não queremos que ele seja despedido!
— Hagrid está dando aulas neste momento; ela não pode culpá-lo — disse Harry, apontando pela janela.
— Ah, às vezes você é tão ingênuo, Harry. Você acha realmente que a Umbridge vai esperar ter alguma prova? — perguntou Hermione, que parecia decidida a ficar de mau humor, e saiu rodando as vestes para o dormitório das meninas, batendo a porta ao passar.
— Que garota adorável e meiga! — disse Rony, baixinho, avançando com sua rainha para comer um dos cavalos de Harry.
O mau humor de Hermione durou a maior parte do fim de semana, embora Harry e Rony achassem fácil ignorá-lo, pois passaram a maior parte de sábado e domingo revisando Poções para segunda-feira, o exame que Harry aguardava com menos ansiedade — e que tinha certeza de que seria a ruína de sua ambição de se tornar Auror. De fato, considerou o exame escrito difícil, embora achasse possível ter ganho os pontos da pergunta sobre a Poção Polissuco; foi capaz de descrever seus efeitos com precisão, pois a tomara ilegalmente em seu segundo ano de escola.
O exame prático à tarde não foi tão horrível quanto esperava. Com Snape ausente do exame, ele percebeu que estava muito mais relaxado do que costumava ficar ao preparar poções. Neville, sentado muito próximo dele, também parecia mais feliz do que Harry já o vira em uma aula de Poções.
Quando a Profª Marchbanks disse: "Afastem-se dos seus caldeirões, por favor, o exame terminou", Harry arrolhou sua amostra com a sensação de que talvez não tivesse tirado uma boa nota, mas conseguira, com sorte, evitar uma reprovação.
— Só faltam quatro exames – comentou Parvati Patil, preocupada, ao voltarem à sala comunal da Grifinória.
— Só! — retorquiu logo Hermione. — Eu tenho Aritmancia, e provavelmente é a disciplina mais difícil que existe!
Ninguém foi tolo de contestar, de modo que ela não pôde extravasar sua irritação em nenhum deles, e ficou reduzida a ralhar com uns alunos de primeiro ano por rirem muito alto na sala comunal.
Harry estava decidido a fazer um bom exame de Trato das Criaturas Mágicas para não deixar Hagrid mal. O exame prático foi realizado à tarde no gramado em frente à Floresta Proibida, onde os examinadores pediram aos estudantes para identificar corretamente o ouriço escondido no meio de uma dúzia de porcos-espinhos (o truque era oferecer leite a cada um individualmente; os ouriços, bichos extremamente desconfiados, cujas cerdas têm propriedades mágicas, geralmente ficavam furiosos diante do que imaginavam ser uma tentativa de envenená-los); depois pediram para demonstrar como manusear corretamente um tronquilho; alimentar e limpar um caranguejo-de-fogo sem sofrer queimaduras graves; e escolher, em uma ampla variedade de alimentos, a dieta apropriada para um unicórnio doente.
Harry podia ver Hagrid observando ansioso da janela de sua cabana. Quando sua examinadora, desta vez uma bruxinha gorducha, sorriu para ele e disse que podia ir embora, o garoto ergueu rapidamente o polegar para Hagrid antes de voltar ao castelo.
O exame teórico de Astronomia na quarta-feira de manhã correu bastante bem. Harry não estava convencido de que tivesse acertado os nomes de todas as luas de Júpiter, mas pelo menos estava confiante de que nenhuma delas era habitada por ratinhos. Tiveram de esperar até a noite para fazer o exame prático de Astronomia; a tarde foi então dedicada à Adivinhação.
Mesmo pelos padrões baixos de Harry em Adivinhação, o exame foi bem ruim. Teria feito melhor se tentasse ver imagens em movimento no tampo da mesa do que numa bola de cristal que teimava em nada mostrar; perdeu a cabeça durante a leitura de folhas de chá, dizendo que lhe parecia que a Profª Marchbanks iria encontrar em breve um estranho moreno gorducho e pegajoso, e completou o fracasso total confundindo as linhas da vida e da cabeça na palma da mão da professora e afirmando que ela deveria ter morrido na terça-feira anterior.
— Bom, sempre achamos que íamos ser reprovados nesse — comentou Rony sombriamente ao subirem a escadaria de mármore. Ele acabara de fazer Harry se sentir bem melhor contando em detalhe que dissera ao seu examinador estar vendo um homem feio com uma verruga no nariz em sua bola de cristal, e quando ergueu os olhos percebeu que estava apenas descrevendo o reflexo do examinador.
— Não devíamos ter nos matriculado nessa disciplina idiota, para começar — disse Harry.
— Mas pelo menos podemos desistir dela agora.
— É — apoiou Harry. — Não precisamos mais fingir que nos interessa o que acontece quando Júpiter e Urano ficam muito próximos.
— E de agora em diante não vou me incomodar se as minhas folhas de chá soletrarem morra, Rony, vou simplesmente jogá-las na lata do lixo, que é o lugar delas.
Harry estava rindo na hora em que Hermione veio correndo atrás deles. Parou de rir instantaneamente, para não aborrecê-la.
— Bom, acho que me dei bem em Aritmancia — anunciou, e Harry e Rony suspiraram de alívio. — Ainda temos tempo para uma olhada rápida nas nossas cartas estelares antes do jantar, então...
Quando chegaram ao alto da Torre de Astronomia, às onze horas, encontraram uma noite perfeita para ver estrelas, calma e sem nuvens. Os jardins e terrenos da escola estavam banhados de luar prateado e o ar, mais para frio. Cada aluno montou o próprio telescópio e, quando a Profª Marchbanks deu a ordem, começaram a preencher as cartas estelares em branco que haviam recebido.
Os professores Marchbanks e Tofty caminharam entre eles, observando-os marcarem as posições exatas das estrelas e planetas que viam. Tudo estava silencioso exceto pelo farfalhar dos pergaminhos, o rangido ocasional de um telescópio ao ser ajustado no suporte, e o ruído de muitas penas escrevendo.
Passou-se meia hora, depois uma hora; os quadradinhos de luz dourada refletida que lampejavam no solo abaixo começaram a desaparecer à medida que as luzes das janelas do castelo foram se apagando.
Quando Harry completou a constelação Órion em sua carta, porém, as portas do castelo se abriram sob o parapeito em que estava, fazendo com que a luz jorrasse pelos degraus de pedra e um pouco além. Harry olhou para baixo ao fazer um pequeno ajuste na posição do telescópio, e viu cinco ou seis sombras alongadas se deslocarem pelo gramado bem iluminado antes das portas se fecharem e o jardim voltar a ser um mar de escuridão.
Harry voltou a encostar o olho ao telescópio e reajustou-o agora para examinar Vênus. Baixou os olhos para a carta para registrar ali o planeta, mas alguma coisa o distraiu; ele parou com a pena suspensa sobre o pergaminho, apertou os olhos para ver melhor o terreno na sombra e distinguiu cinco vultos andando. Se não estivessem se movendo, e o luar não estivesse refletindo em suas cabeças, eles teriam sido indistinguíveis do chão escuro em que caminhavam. Mesmo a esta distância, Harry teve a sensação engraçada de que reconhecera o modo de andar do mais atarracado, que parecia liderar o grupo.
Ele não conseguia imaginar por que Umbridge estaria dando um passeio depois da meia-noite, e menos ainda acompanhada por outros. Então alguém tossiu às suas costas, e ele se lembrou de que estava no meio de um exame.
Esquecera completamente a posição de Vênus. Comprimindo o olho no telescópio, reencontrou o planeta e mais uma vez ia registrá-lo na carta quando, atento a ruídos estranhos, ouviu uma batida distante que ecoou pelos terrenos desertos, seguida imediatamente pelos latidos abafados de um cão de grande porte.
Ele ergueu a cabeça, o coração batendo forte. Havia luzes nas janelas de Hagrid, e as pessoas que ele observara atravessando o gramado estavam agora recortadas na claridade. A porta abriu e ele viu nitidamente cinco figuras bem definidas cruzarem o portal. A porta tornou a fechar e fez-se silêncio.
Harry se sentiu inquieto. Olhou ao redor para ver se Rony ou Hermione haviam notado a movimentação, mas a Profª Marchbanks veio andando às suas costas naquele momento e, não querendo parecer que estivesse espiando o trabalho dos colegas, Harry rapidamente se curvou para o seu mapa estelar e fingiu estar acrescentando informações enquanto realmente espiava por cima do parapeito para a cabana de Hagrid. Os vultos agora passavam diante das janelas, bloqueando temporariamente a claridade.
Harry sentiu os olhos da Profª Marchbanks em sua nuca e tornou a apertar o olho contra o telescópio, olhando para a lua, embora já tivesse marcado sua posição há uma hora, mas quando a professora recomeçou a andar ele ouviu um rugido na cabana distante que ecoou pela noite até o alto da Torre de Astronomia. Várias pessoas em volta de Harry saíram de trás dos telescópios e foram espiar em direção à cabana de Hagrid.
O Prof. Tofty deu uma tossidinha seca.
— Tentem se concentrar, vamos, garotos — disse ele suavemente. A maioria voltou aos telescópios. Harry olhou para a esquerda.
Hermione contemplava petrificada a cabana de Hagrid.
— Hã-hã... faltam apenas vinte minutos — lembrou o professor.
Hermione se assustou e voltou imediatamente para sua carta estelar; Harry olhou para a dele, e reparou que legendara Vênus como Marte. Curvou-se para corrigir o engano.
Ouviu-se um estampido forte vindo dos jardins. Várias pessoas gritaram "Ai!", ao espetarem o rosto nas pontas dos telescópios, no afã de ver o que estava acontecendo lá embaixo.
A porta de Hagrid se escancarou com violência e, à luz que saía da cabana, eles o viram claramente, uma figura maciça urrando e brandindo os punhos, cercado por cinco pessoas, todas, a julgar pelos finos fios de luz vermelha lançados em sua direção, aparentemente tentando estuporá-lo.
— Não! — exclamou Hermione.
— Minha nossa! – disse o Prof. Tofty em tom escandalizado. – Estamos em um exame!
Mas ninguém estava mais prestando a menor atenção às cartas estelares. Jatos de luz vermelha continuavam a voar pelo ar junto à cabana de Hagrid, mas, por alguma razão, pareciam ricochetear em seu corpo; ele continuava ereto e imóvel, e, pelo que Harry conseguia ver, resistindo. Gritos e berros ecoavam pelos gramados; um homem bradou:
— Seja razoável, Hagrid!
Hagrid urrou:
— Razoável uma ova, vocês não vão me levar assim, Dawlish! Harry via a pequena silhueta de Canino procurando proteger o dono, saltando repetidamente contra os bruxos que o cercavam até que um Feitiço Estuporante o atingiu, fazendo-o tombar no chão. Hagrid deu um uivo de fúria, ergueu o responsável do chão e atirou-o longe; o homem voou uns três metros e não tornou a se levantar. Hermione prendeu a respiração, as duas mãos na boca; Harry se virou para Rony e viu que o amigo, também, estava apavorado. Nenhum deles jamais vira Hagrid realmente enfurecido.
— Olhem! — esganiçou-se Parvati, que estava debruçada no para-peito e apontava para o castelo embaixo, onde as portas de entrada haviam tornado a se abrir; novamente a luz se derramou pelo jardim escuro e uma sombra preta e solitária ondeava agora pelos gramados.
— Francamente! – exclamou o Prof. Tofty, ansioso. – Sabem, restam dezesseis minutos!
Mas ninguém lhe prestou a menor atenção; todos observavam a pessoa que corria em direção à batalha ao lado da cabana de Hagrid.
— Como é que você se atreve! – gritava a figura enquanto corria. — Como se atreve!
— É McGonagall! — sussurrou Hermione.
— Deixem-no em paz! Em paz, estou dizendo – ouviu-se a voz da Profª McGonagall no escuro. – Por que razão vocês o estão atacando? Ele não fez nada, nada que justifique essa...
Hermione, Parvati e Lilá gritaram ao mesmo tempo. Os vultos junto à cabana haviam lançado nada menos de quatro raios Estuporantes contra a professora.
A meio caminho entre a cabana e o castelo, os feixes de luz vermelha a atingiram; por um momento ela pareceu emitir uma luz vermelha e fantasmagórica, então subiu no ar, caiu pesadamente de costas e não se mexeu mais.
— Gárgulas galopantes! – gritou o Prof. Tofty, que parecia ter esquecido totalmente o exame. – Não deram nem aviso! Que comportamento chocante!
— COVARDES! – berrou Hagrid; sua voz se propagou limpidamente até o alto da torre, e várias luzes se acenderam no castelo. – COVARDÕES! TOMEM ISSO... E MAIS ISSO.
— Nossa! — exclamou Hermione.
Hagrid deu dois golpes pesados em seus atacantes mais próximos; a julgar por sua queda imediata, foram nocauteados. Harry viu Hagrid se dobrar e pensou que finalmente ele fora dominado por um feitiço. Mas, muito ao contrário, no momento seguinte ele estava de pé com uma espécie de saco nas costas – então o garoto percebeu que o amigo havia passado o corpo inerte de Canino por cima dos ombros.
— Peguem-no, peguem-no! – berrou Umbridge, mas o auxiliar que restara parecia extremamente relutante em se aproximar dos punhos de Hagrid; de fato, recuou com tanta pressa que tropeçou em um dos colegas desacordados e caiu por cima deles. Hagrid se virara e começara a correr com Canino ainda pendurado em volta do pescoço. Umbridge lançou um último Feitiço Estuporante nas costas dele, mas não acertou; e Hagrid, numa corrida desabalada em direção aos portões distantes, desapareceu na escuridão.
Seguiu-se um longo minuto palpitante enquanto todos contemplavam boquiabertos os jardins. Então o Prof. Tufty disse com a voz fraca:
— Hum... faltam cinco minutos, garotos.
Embora tivesse preenchido apenas dois terços de sua carta estelar, Harry estava louco para o exame terminar. Quando isso finalmente aconteceu, ele, Rony e Hermione encaixaram os telescópios de qualquer jeito nos suportes e desceram correndo a escada circular. Nenhum dos estudantes ia se deitar; todos falavam excitados, em altas vozes, ao pé da escada, sobre o que tinham acabado de presenciar.
— Aquela mulher maligna! – exclamou Hermione, que tinha dificuldade em falar de tanta raiva. – Tentando surpreender Hagrid na calada da noite!
— Ela quis claramente evitar outra cena como a da Trelawney – disse Ernesto Macmillan sensatamente, comprimindo-se para se reunir aos colegas.
— Hagrid se defendeu bem, não foi? – comentou Rony, que parecia mais assustado do que impressionado. – Por que é que todos os feitiços ricocheteavam nele?
— Deve ser o sangue de gigante – disse Hermione trêmula. – É muito difícil estuporar um gigante, eles são como os trasgos, muito resistentes... mas a coitada da Profª McGonagall... quatro ataques diretos no peito, e ela não é mais jovem, não é?
— Pavoroso, pavoroso – disse Ernesto, balançando a cabeça pomposamente. – Bom, eu vou dormir. Boa-noite a todos.
As pessoas em volta começaram a dispersar, ainda comentando excitadamente o que tinham acabado de ver.
— Pelo menos não conseguiram levar Hagrid para Azkaban — disse Rony. – Espero que ele tenha ido se juntar a Dumbledore, será?
— Suponho que sim – disse Hermione, que parecia lacrimosa. – Ah, isto é horrível, pensei realmente que Dumbledore não demoraria a voltar, mas agora perdemos Hagrid também.
Voltaram sem pressa para a sala comunal da Grifinória, e a encontraram cheia. A confusão nos jardins acordara várias pessoas, que correram a acordar os amigos. Simas e Dino, que haviam chegado antes de Harry, Rony e Hermione, agora contavam a todos o que tinham visto e ouvido do alto da Torre de Astronomia.
— Mas por que demitir Hagrid agora? – perguntou Angelina Johnson, balançando a cabeça. – Não é como a Trelawney; ele tem ensinado muito melhor do que o normal este ano!
— Umbridge detesta gente que é parte-humana – disse Hermione amargurada, largando-se em uma poltrona. – Sempre ia tentar expulsar Hagrid.
— E ela achou que Hagrid estava pondo pelúcios na sala dela – disse a vozinha fina de Katie Bell.
— Caracas! – exclamou Lino Jordan, tampando a boca. – Fui eu que andei pondo pelúcios na sala dela. Fred e Jorge me deixaram uns dois; e eu os fiz levitar e entrar pela janela.
— Ela o teria despedido de qualquer jeito – falou Dino. – Hagrid é muito chegado a Dumbledore.
— Isso é verdade – concordou Harry, afundando em uma poltrona ao lado de Hermione.
— Só espero que a Profª McGonagall esteja bem – disse Lilá, lacrimosa.
— Eles a carregaram para o castelo, assistimos da janela do dormitório – disse Cólin Creevey – Não parecia muito bem.
— Madame Pomfrey dará um jeito — comentou Alicia Spinnet com firmeza. – Ela até hoje nunca falhou.
Eram quase quatro horas da manhã quando a sala comunal se esvaziou. Harry se sentia completamente acordado; a imagem de Hagrid fugindo no escuro o atormentava; estava com tanta raiva da Umbridge que não conseguia pensar num castigo suficientemente ruim para ela, embora a sugestão de Rony de servi-la de comer a explosivins famintos tivesse seu mérito. Ele adormeceu imaginando vinganças medonhas e se levantou três horas depois sentindo nitidamente que não descansara.
O exame final de História da Magia não deveria se realizar até a tarde. Harry teria gostado muito de voltar para a cama depois do café da manhã, mas contara em fazer uma revisãozinha de última hora pela manhã, então sentou-se com a cabeça apoiada nas mãos ao lado da janela da sala comunal, fazendo um grande esforço para não cochilar enquanto relia algumas anotações da pilha de quase meio metro de altura que Hermione lhe emprestara.
Os quintanistas entraram no Salão Principal às duas horas e se sentaram em seus lugares diante do exame virado para baixo. Harry se sentia exausto. Só queria que aquilo terminasse para poder dormir; então amanhã, ele e Rony iam descer ao campo de quadribol – ele ia dar uma voltinha na vassoura de Rony e saborear o término das revisões.
— Desvirem o exame — disse a Profª Marchbanks à frente do salão, invertendo a gigantesca ampulheta. — Podem começar.
Harry olhou fixamente para a primeira pergunta. Passaram-se vários segundos até lhe ocorrer que não entendera nem uma palavra do enunciado; havia uma vespa perturbativa zumbindo de encontro a uma das altas janelas.
Lenta, tortuosamente, ele começou, por fim, a escrever uma resposta. Estava achando muito difícil lembrar os nomes, e toda a hora confundia as datas. Saltou simplesmente a pergunta quatro (Em sua opinião, a legislação sobre varinhas contribuiu para um melhor controle das revoltas dos duendes no século XVIII ou levou a esse controle?), pensando em voltar no fim, se houvesse tempo. Tentou responder à pergunta cinco (Como foi violado o Estatuto de Sigilo em 1749 e que medidas foram introduzidas para impedir que o fato se repetisse?), mas sentiu uma suspeita insistente de que omitira vários pontos importantes; teve a impressão de que os vampiros haviam participado em algum momento do episódio.
Harry leu mais adiante procurando uma pergunta a que decididamente pudesse responder, e seus olhos bateram na décima: Descreva as circunstâncias que levaram à formação da Confederação Internacional de Bruxos e explique por que os bruxos de Liechtenstein se recusaram a aderir.
Eu sei essa, pensou Harry, embora sentisse o cérebro entorpecido e sem energia. Visualizava um título, na caligrafia de Hermione: A formação da Confederação Internacional de Bruxos... lera as anotações ainda esta manhã.
E começou a escrever, erguendo os olhos de vez em quando para verificar a grande ampulheta ao lado da Profª Marchbanks. Estava sentado logo atrás de Parvati Patil, cujos longos cabelos negros caíam abaixo do espaldar da cadeira. Uma ou duas vezes ele se surpreendeu contemplando as luzes douradas que brilhavam nos cabelos quando ela mexia levemente a cabeça e teve de sacudir a própria cabeça para clareá-la.
... o primeiro chefe supremo da Confederação Internacional de Bruxos foi Pierre Bonaccord, mas sua nomeação foi contestada pela comunidade bruxa de Liechtenstein, porque...
Ao redor de Harry as penas arranhavam os pergaminhos como ratinhos que corressem para se esconder. O sol estava muito quente em sua nuca. Que fizera Bonaccord para ofender os bruxos de Liechtenstein? Harry teve uma sensação de que fora alguma coisa ligada aos trasgos... e tornou a fixar o olhar vazio na cabeça de Parvati. Se ao menos pudesse usar a Legilimência e abrir uma janela na nuca da colega para ver que ligação tinham os trasgos com o rompimento entre Pierre Bonaccord e Liechtenstein...
Harry fechou os olhos e enterrou o rosto nas mãos, fazendo com que o fulgor avermelhado de suas pálpebras se tornasse escuro e fresco. Bonaccord tinha querido impedir a caça aos trasgos e conceder-lhes direitos... mas Liechtenstein estava enfrentando problemas com uma tribo particularmente violenta de trasgos montanheses... era isso.
Ele abriu os olhos; sentiu-os arderem e lacrimejarem à vista do pergaminho demasiado branco. Devagar, escreveu duas linhas sobre os trasgos, e leu o que já fizera até ali. Não lhe pareceu muito informativo nem detalhado, no entanto tinha certeza de que as anotações de Hermione sobre a Confederação tinham ocupado páginas.
Ele tornou a fechar os olhos, tentando vê-las, tentando se lembrar... a Confederação se reunira pela primeira vez na França, sim, já escrevera isso... Os duendes tinham tentado participar, mas foram expulsos... já escrevera isso
também...
E ninguém de Liechtenstein tinha querido ir...
Pense, disse a si mesmo, com o rosto nas mãos, enquanto ao seu redor as penas arranhavam os pergaminhos em respostas intermináveis, e a areia se escoava na ampulheta lá na frente...
Ele estava novamente andando pelo corredor fresco e escuro em direção ao Departamento de Mistérios, com passos firmes e deliberados, por vezes correndo, decidido a alcançar finalmente o seu destino... a porta preta se escancarou como sempre, e ele se viu na sala circular com suas muitas portas...
Atravessou direto o piso de pedra e passou pela segunda porta... nesgas de luz dançavam nas paredes e no chão, e ele ouvia aquela estranha crepitação mecânica, mas não tinha tempo para investigar, precisava se apressar...
Correu a pequena distância que faltava para a terceira porta, que se abriu tal como as outras...
Mais uma vez chegou à sala do tamanho de uma catedral, cheia de prateleiras e esferas de vidro... seu coração batia muito rápido agora... ia chegar lá desta vez... quando alcançou o número noventa e sete, virou à esquerda e continuou apressado pelo corredor entre as estantes...
Mas havia uma forma bem no finzinho, uma forma escura que se movia pelo chão como um animal ferido... o estômago de Harry se contraiu de medo... de excitação...
Uma voz saiu de sua própria boca, uma voz aguda, fria, sem nenhum calor humano...
— Apanhe-a para mim... erga-a, agora... não posso tocá-la... mas você pode...
A forma escura no chão moveu-se um pouco. Harry viu uma mão branca de longos dedos empunhando uma varinha erguer-se na ponta do seu braço... ouviu a voz aguda e fria dizer: "Crucio!"
O homem no chão soltou um berro de dor, tentou se levantar, mas caiu em contorções. Harry ria. Ergueu a varinha, a maldição foi retirada, e a figura gemeu e se imobilizou.
— Lord Voldemort está esperando...
Muito lentamente, com os braços tremendo, o homem no chão ergueu os ombros alguns centímetros e em seguida o rosto. Estava manchado de sangue e magro, contorcido de dor, contudo, rígido de rebeldia...
— Você terá de me matar — sussurrou Sirius.
— Sem dúvida é o que farei quando terminar — disse a voz fria. – Mas primeiro você a apanhará para mim, Black... você acha que sentiu dor até agora? Pense outra vez... temos horas à nossa frente e ninguém para ouvir os seus gritos...
Mas alguém gritou quando Voldemort tornou a baixar a varinha; alguém berrou e escorregou pelo lado de uma mesa quente para o chão de pedra frio; Harry acordou ao bater no chão, ainda berrando, sua cicatriz em fogo, enquanto o Salão Principal explodia a seu redor.

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