Posted by : Unknown junho 06, 2014

Capítulo 11


Harry acordou no domingo de manhã e deparou com o dormitório iluminado pela luz do sol de inverno e seu braço curado, embora ainda muito duro. Sentou-se depressa e olhou para a cama de Colin, mas tinham-na escondido com a cortina alta por trás da qual Harry trocara de roupa no dia anterior. Ao ver que o paciente acordara, Madame Pomfrey entrou apressada, trazendo uma bandeja com o café da manhã e então começou a dobrar e a esticar o braço e os dedos dele.
— Tudo em ordem — disse enquanto ele comia mingau, desajeitado, com a mão esquerda. — Quando terminar de comer pode ir.
Harry se vestiu o mais rápido que pôde e correu a torre da Grifinória, doido para contar a Rony e Hermione o que acontecera com Colin e Dobby, mas não os encontrou lá. Saiu de novo a procurá-los, imaginando aonde poderiam ter precisado ir, e se sentindo um pouco magoado que os amigos não estivessem interessados se ele recuperara ou não os ossos.
Quando passou pela porta da biblioteca, Percy Weasley ia saindo, com a cara muito mais animada do que na última vez que tinham se encontrado.
— Ah, alô, Harry. Vôo excelente ontem, realmente excelente. Grifinória acabou de assumir a liderança na disputa da Taça das Casas, você marcou cinqüenta pontos!
— Você não viu o Rony ou a Mione, viu? — perguntou Harry.
— Não — respondeu Percy, o sorriso desaparecendo do rosto.
— Espero que Rony não esteja metido em outro banheiro de meninas...
Harry forçou uma risada, esperou Percy desaparecer de vista e em seguida rumou direto para o banheiro de Murta Que Geme. Não conseguindo entender por que Rony e Hermione estariam lá de novo e, depois de se certificar que nem Filch nem outros monitores andavam por ali, abriu a porta e ouviu vozes que vinham de um boxe trancado.
— Sou eu — disse, fechando a porta. Ouviu um estrépito, água se espalhando e uma exclamação no interior de um boxe e vislumbrou os olhos de Mione espiando pelo buraco da fechadura.
— Harry você nos deu um baita susto, entre, como está o seu braço?
— Ótimo — respondeu Harry espremendo-se dentro do boxe. Havia um velho caldeirão encarrapitado em cima do vaso e uma série de estalos informaram a Harry que os amigos tinham acendido um fogo embaixo. Conjurar fogos portáteis, à prova de água, era uma especialidade de Hermione.
— Pretendíamos ir ao seu encontro, mas decidimos começar a Poção Polissuco — explicou Rony enquanto Harry, com dificuldade, tornava a trancar o boxe.
— Decidimos que este era o lugar mais seguro para escondê-la.
Harry começou a contar aos dois o que acontecera com Colin, mas Hermione o interrompeu.
— Já sabemos, ouvimos a Profª. McGonagall contar ao Profº. Flitwick hoje de manhã. Foi por isso que decidimos começar...
— Quanto mais cedo a gente obtiver uma confissão de Draco, melhor — rosnou Rony. — Sabem o que é que eu penso? Ele estava tão furioso depois do jogo de Quadribol, que descontou no Colin.
— Mas há outra coisa — disse Harry, observando Hermione picar feixes de sanguinárias e jogá-los na poção. — Dobby veio me visitar no meio da noite.
Rony e Hermione ergueram a cabeça, espantados. Harry contou tudo que Dobby dissera — ou deixara de contar a ele.
Os dois escutaram boquiabertos.
— A Câmara Secreta já foi aberta antes? — exclamou Hermione.
— Isso esclarece tudo — disse Rony em tom triunfante. — Lúcio Malfoy deve ter aberto a Câmara quando esteve aqui na escola e agora ensinou ao nosso querido Draco como fazer o mesmo. É óbvio. Mas eu bem gostaria que Dobby tivesse lhe dito que tipo de monstro tem lá dentro. Quero saber como é que ninguém reparou nele rondando a escola.
— Talvez ele consiga ficar invisível — disse Hermione, empurrando as sanguessugas para o fundo do caldeirão. — Ou talvez possa se disfarçar, fingir que é uma armadura ou uma coisa qualquer, já li a respeito de vampiros-camaleôes...
— Você lê demais, Hermione — disse Rony, despejando os hemeróbios mortos por cima das sanguessugas.
Amassou o saco vazio e olhou para Harry.
— Então o Dobby impediu a gente de pegar o trem e quebrou o seu braço... — Ele abanou a cabeça. — Sabe de uma coisa, Harry? Se ele não parar de tentar salvar a sua vida vai acabar matando você.
A noticia de que Colin Creevey fora atacado e agora se achava deitado como morto na ala hospitalar espalhou-se pela escola inteira até a manhã de domingo. A atmosfera carregou-se de boatos e suspeitas. Os alunos do primeiro ano agora andavam pelo castelo em grupos unidos, como se tivessem medo de ser atacados, caso se aventurassem a andar sozinhos.
Gina Weasley, que se sentava ao lado de Colin Creevey na aula de Feitiços, parecia atormentada, mas Harry achou que era porque Fred e Jorge estavam tentando animá-la do jeito errado. Revezavam-se para assaltá-la pelas costas, cheios de pêlos e pústulas. Só pararam quando Percy, apoplético, ameaçou escrever a Sra. Weasley e contar que Gina estava tendo pesadelos.
Nesse meio tempo, escondido dos professores, assolava a escola um próspero comércio de talismãs, amuletos e outras mandingas protetoras. Neville Longbottom já comprara um cebolão verde e malcheiroso, um cristal pontiagudo e púrpura e um rabo podre de lagarto, quando os outros alunos da Grifinória lhe lembraram que ele não corria perigo; era puro sangue e, portanto, uma vítima pouco provável.
— Eles foram atrás de Filch primeiro — disse Neville, seu rosto redondo cheio de medo. — E todo mundo sabe que sou quase uma aberração.
Na segunda semana de dezembro a Profª. McGonagall veio, como sempre fazia, anotar os nomes dos alunos que continuariam na escola durante as festas de Natal. Harry, Rony e Hermione assinaram a lista; ouviram dizer que Draco ia ficar também, o que acharam muito suspeito. As festas seriam o momento perfeito para usar a Poção Polissuco e tentar extrair do garoto uma confissão.
Infelizmente a poção ainda estava na metade. Precisavam do chifre de bicórnio e da pele de ararambóia, e o único lugar onde poderiam obtê-los era no estoque particular de Snape. Pessoalmente Harry achava que era preferível encarar o monstro lendário da Sonserina a deixar Snape apanhá-lo assaltando sua sala.
— O que precisamos — disse Hermione, eficiente, quando se aproximava a aula dupla de Poções na quinta-feira à tarde — é de uma distração. Então um de nós pode entrar escondido na sala de Snape e tirar o que for preciso.
Harry e Rony olharam para ela, nervosos.
— Acho que é melhor eu fazer o roubo propriamente dito — continuou Hermione num tom trivial. — Vocês dois vão ser expulsos caso se metam em mais uma encrenca, mas eu tenho a ficha limpa. Então só o que têm a fazer é causar bastante confusão para distrair Snape por uns cinco minutos.
Harry deu um leve sorriso. Provocar confusão na aula de Poções de Snape era quase tão seguro quando espetar o olho de um dragão adormecido.
A aula de Poções era dada em uma das masmorras maiores. A de quinta-feira à tarde transcorreu como sempre. Vinte caldeirões fumegavam entre as carteiras de madeira, sobre as quais havia balanças e frascos de ingredientes. Snape andava por entre os vapores, fazendo comentários mordazes sobre o trabalho dos alunos da Grifinória, enquanto os da Sonserina davam risadinhas de aprovação. Draco Malfoy, que era o aluno favorito de Snape, não parava de mostrar olhos de peixe baiacu para Rony e Harry, que sabiam que se revidassem receberiam uma detenção mais rápido do que conseguiriam dizer "injustiça".
A Solução para Fazer Inchar que Harry preparou ficou muito rala, mas ele tinha coisas mais importantes em que pensar. Estava à espera do sinal de Hermione, e mal ouviu quando Snape parou para caçoar do ponto de sua poção. Quando Snape deu as costas para implicar com Neville, Hermione olhou para Harry e fez um aceno com a cabeça.
Harry se abaixou depressa por trás do próprio caldeirão, tirou do bolso um dos fogos Filibusteiro de Fred e deu-lhe um leve toque com a varinha. O fogo começou a borbulhar e a queimar. Sabendo que só dispunha de segundos, Harry se levantou, mirou e atirou o fogo no ar; ele caiu dentro do caldeirão de Goyle.
A poção de Goyle explodiu, chovendo sobre a classe inteira. Os alunos gritaram quando os borrifos da Solução para Fazer Inchar caiu neles. Draco ficou com a cara coberta de poção e seu nariz começou a inchar como um balão; Goyle saiu esbarrando nas coisas, as mãos cobrindo os olhos, que tinham inchado até atingir o tamanho de um prato. Snape tentava restaurar a calma e descobrir o que estava acontecendo. Na confusão, Harry viu Hermione entrar discretamente na sala do professor.
— Silêncio! SILÊNCIO! — rugiu Snape. — Os que receberam borrifos, venham aqui tomar uma Poção para Fazer Desinchar, quando eu descobrir quem foi o autor disso...
Harry procurou não rir ao ver Draco correr para frente da sala, a cabeça pendurada por causa do peso de um nariz do tamanho de um melão. Enquanto metade da classe se arrastava até a mesa de Snape, alguns sobrecarregados com braços grossos como bastões, outros com os lábios tão inchados que não conseguiam falar, Harry viu Hermione tornar a entrar, sorrateiramente, na masmorra, com a frente das vestes estufada.
Depois que todos tomaram uma dose do antídoto e seus inchaços murcharam, Snape foi até o caldeirão de Goyle e pescou os restos retorcidos e negros do fogo de artifício. Fez-se um silêncio repentino.
— Se eu um dia descobrir quem jogou isso — sussurrou Snape — vou garantir que esse aluno seja expulso.
Harry tomou o cuidado de fazer cara de espanto. Snape olhava diretamente para ele, e a sineta que tocou dez minutos depois não poderia ter sido mais bem-vinda.
— Ele sabia que fui eu — disse Harry a Rony e a Hermione enquanto corriam para o banheiro da Murta Que Geme. — Eu senti.
Hermione jogou os novos ingredientes no caldeirão e começou a misturá-los febrilmente.
— Vai ficar pronto daqui a duas semanas — anunciou alegremente.
— Snape não pode provar que foi você — disse Rony tranqüilizando Harry. — Que é que ele pode fazer?
— Conhecendo Snape, uma maldade — disse Harry, enquanto a poção espumava e borbulhava.
Uma semana mais tarde, Harry, Rony e Hermione iam atravessando o saguão de entrada quando viram uma pequena aglomeração em torno do quadro de avisos, os alunos liam um pergaminho que acabara de ser afixado. Simas Finnigan e Dino Thomas fizeram sinal para eles se aproximarem, com ar excitado.
— Vão reabrir o Clube dos Duelos! — disse Simas. — A primeira reunião é hoje à noite! Eu não me importaria de tomar aulas de duelo; poderiam vir a calhar um dia desses...
— Quê, você acha que o monstro da Sonserina sabe duelar? — perguntou Rony, mas também leu o aviso com interesse.
— Poderia vir a calhar — disse ele a Harry e Hermione quando entraram para jantar. — Vamos?
Harry e Hermione foram a favor do clube. Assim, às oito horas daquela noite os três voltaram correndo para o Salão Principal. As longas mesas de jantar tinham desaparecido e surgira um palco dourado encostado a uma parede, cuja iluminação era produzida por milhares de velas que flutuavam no alto. O teto voltara a ser um veludo negro, e a maior parte da escola parecia estar reunida sob ele, as varinhas na mão e as caras animadas.
— Quem será que vai ser o professor? — disse Hermione enquanto se reuniam aos alunos que tagarelavam sem parar. — Alguém me disse que Flitwick foi campeão de duelos quando era moço, talvez seja ele.
— Desde que não seja... — Harry começou, mas terminou com um gemido:
Gilderoy Lockhart vinha entrando no palco, resplandecente em suas vestes ameixa-escuras, acompanhado por ninguém mais do que Snape, em sua roupa preta habitual. Lockhart acenou um braço pedindo silêncio e disse em voz alta:
— Aproximem-se, aproximem-se! Todos estão me vendo? Todos estão me ouvindo? Excelente! O Profº. Dumbledore me deu permissão para começar um pequeno clube de duelos, para treiná-los, caso um dia precisem se defender, como eu próprio já precisei fazer em inúmeras ocasiões, quem quiser conhecer os detalhes, leia os livros que publiquei.
— Deixem-me apresentar a vocês o meu assistente, Profº. Snape —, disse Lockhart, dando um largo sorriso. — Ele me conta que sabe alguma coisa de duelos e desportivamente concordou em me ajudar a fazer uma breve demonstração antes de começarmos. Agora, não quero que nenhum de vocês se preocupe, continuarão a ter o seu professor de Poções mesmo depois de eu o derrotar, não precisam ter medo!”
— Não seria bom se os dois acabassem um com o outro? — cochichou Rony ao ouvido de Harry.
O lábio superior de Snape crispou-se. Harry ficou imaginando por que Lockhart continuava a sorrir; se Snape estivesse olhando para ele daquele jeito, Harry já estaria correndo o mais depressa que pudesse na direção oposta.
Lockhart e Snape se viraram um para o outro e se cumprimentaram com uma reverência; pelo menos, Lockhart cumprimentou com muitos meneios, enquanto Snape curvou a cabeça, irritado. Em seguida, os dois ergueram as varinhas como se empunhassem espadas.
— Como vocês vêem, estamos segurando nossas varinhas na posição de combate normalmente adotada — disse Lockhart aos alunos em silêncio — Quando contarmos três, lançaremos os primeiros feitiços. Nenhum de nós está pretendendo matar, é claro.
— Eu não teria certeza disso — murmurou Harry, observando Snape arreganhar os dentes.
— Um... Dois... Três...
Os dois ergueram as varinhas acima da cabeça e as apontaram para o oponente; Snape exclamou:
— Expelliarmus! — Viram um lampejo vermelho ofuscante e Lockhart foi lançado para o alto: voou para os fundos do palco, colidiu com a parede, foi escorregando e acabou estatelado no chão.
Draco e outros alunos da Sonserina deram vivas. Hermione dançava nas pontas dos dedos para ver melhor.
— Vocês acham que ele está bem? — guinchou tampando a boca com a mão.
— Quem se importa? — responderam Harry e Rony juntos.
Lockhart foi-se levantando tonto. Seu chapéu caíra e os cabelos ondulados estavam em pé.
— Muito bem! — disse, cambaleando de volta ao palco. — Isto foi um Feitiço de Desarmamento, como viram, perdi minha varinha, ah, muito obrigado, Srta. Brown... Sim, foi uma excelente demonstração, Profº. Snape, mas se não se importa que eu diga, ficou muito óbvio o que o senhor ia fazer, se eu tivesse querido detê-lo teria sido muito fácil, mas achei mais instrutivo deixá-los ver...
Snape tinha uma expressão assassina no rosto. Lockhart possivelmente notou porque acrescentou:
— Chega de demonstrações! Vou me reunir a vocês agora e separá-los aos pares. Prof. Snape, se o senhor quiser me ajudar...
Os dois caminharam entre os alunos, formando os pares.
Lockhart juntou Neville com Justino Finch-Fletchley, mas Snape chegou até Harry e Rony primeiro.
— Acho que está na hora de separar a equipe dos sonhos — caçoou. — Weasley você luta com Finnigan. Potter...
Harry virou-se automaticamente para Hermione.
— Acho que não — disse Snape, sorrindo estranhamente. — Sr. Malfoy, venha cá. Vamos ver o que o senhor faz com o famoso Potter. E a senhorita, pode fazer par com a Srta. Bulstrode.
Draco se aproximou com arrogância, sorrindo. Atrás dele caminhava uma garota da Sonserina, que lembrava a Harry uma foto que vira em Férias com Bruxas Malvadas. Era grande e atarracada, e seu queixo pesado se projetava para a frente, agressivamente.
Hermione lhe deu um breve sorriso que ela não retribuiu.
— De frente para os seus parceiros! — mandou Lockhart, de volta ao tablado. — E façam uma reverência!
Harry e Draco mal inclinaram as cabeças, e não tiraram os olhos um do outro.
— Preparar as varinhas! — gritou Lockhart. — Quando eu contar três, lancem seus feitiços para desarmar os oponentes, apenas para desarmá-los, não queremos acidentes, um... Dois... Três...
Harry ergueu a varinha bem alto, mas Draco começara no "dois" e seu feitiço atingiu Harry com tanta força que parecia que ele levara uma frigideirada na cabeça. Ele cambaleou, mas tudo parecia estar em ordem, e, sem perder mais tempo, Harry apontou a varinha direto para Draco e gritou:
— Rictusempra!
Um jorro de luz prateada atingiu Draco no estômago e ele se dobrou, com dificuldade de respirar.
— Eu disse desarmar apenas! — gritou Lockhart assustado por cima das cabeças dos combatentes, quando Draco caiu de joelhos; Harry o golpeara com o Feitiço das Cócegas, e ele mal conseguia se mexer de tanto rir. Harry recuou, com a vaga impressão de que seria pouco esportivo enfeitiçar Draco ainda no chão, mas isso foi um erro; tomando fôlego, Draco apontou a varinha para os joelhos de Harry, e disse engasgado:
— Tarantallegra! —, e no segundo seguinte as pernas de Harry começaram a sacudir descontroladas numa espécie de marcha rápida.
— Parem! Parem! — berrou Lockhart, mas Snape assumiu o controle.
— Finite Incantatem! — gritou ele; os pés de Harry pararam de dançar. Draco parou de rir e eles puderam erguer a cabeça.
Uma névoa de fumaça verde pairava sobre a cena. Neville e Justino estavam caídos no chão, ofegantes; Rony estava segurando um Simas branco feito papel, pedindo desculpas pelo que sua varinha quebrada pudesse ter feito; mas Hermione e Emília Bulstrode ainda lutavam; Emilia dera uma chave de cabeça em Hermione, que choramingava de dor; as varinhas das duas jaziam esquecidas no chão.
Harry deu um salto à frente e fez Emilia soltar Hermione. Foi difícil: a garota era muito maior do que ele.
— Ai, ai-ai, ai-ai — exclamou Lockhart, passando por entre os duelistas, para ver o resultado das lutas. — Levante, Macmillan... Cuidado, Miss Fawcett...
Aperte com força, vai parar de sangrar em um segundo, Boot...
— Acho que é melhor ensinar aos senhores como se bloqueia feitiços hostis — disse Lockhart, parando no meio salão. Ele olhou para Snape, cujos olhos negros brilhavam, e desviou rápido o seu olhar. — Vamos arranjar um par voluntário, Longbottom e Finch-Fletchley, que tal vocês...
— Uma má idéia, Profº. Lockhart — disse Snape, deslizando até ele como um enorme morcego malévolo. — Longbottom causa devastação até com o feitiço mais simples. Vamos ter que mandar o que sobrar de Finch-Fletchley para a ala hospitalar em uma caixa de fósforos. — O rosto redondo e rosado de Neviile ficou ainda mais rosado. — Que tal Malfoy e Potter? — sugeriu Snape com um sorriso enviesado.
— Ótima idéia! — disse Lockhart, fazendo um gesto para Harry e Draco irem para o meio do salão, enquanto os demais alunos se afastavam para lhes dar espaço.
— Agora, Harry — disse Lockhart. — Quando Draco apontar a varinha para você, você faz isto.
Ele ergueu a própria varinha, tentou um complicado floreio e deixou-a cair. Snape abriu um sorriso quando Lockhart a apanhou depressa, dizendo:
— Epa, minha varinha está um tanto excitada demais...
Snape aproximou-se de Draco, curvou-se e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. O garoto riu também. Harry ergueu os olhos, nervoso, para Lockhart e disse:
— Professor, podia me mostrar outra vez como se bloqueia?
— Apavorado? — murmurou Draco, falando baixo para Lockhart não poder ouvi-lo.
— Querias! — respondeu Harry pelo canto da boca.
Lockhart deu uma palmada bem-humorada no ombro de Harry.
— Faça exatamente como fiz, Harry!
— O quê, deixar cair a varinha?
Mas Lockhart não estava mais escutando.
— Três... Dois... Um... Agora! — gritou ele.
Draco ergueu a varinha depressa e berrou:
— Serpensortia!
A ponta de sua varinha explodiu. Harry observou, perplexo, uma comprida cobra preta se materializar, cair pesadamente no chão entre os dois e se erguer, pronta para atacar. Os alunos gritaram recuando rapidamente, abrindo espaço.
— Não se mexa, Potter — disse Snape tranquilamente, sentindo visível prazer de ver Harry parado imóvel, cara a cara com a cobra irritada. — Vou dar um fim nela...
— Permita-me! — gritou Lockhart. E brandiu a varinha para a cobra, ao que se ouviu um grande baque; a cobra, em lugar de desaparecer, voou três metros no ar e tornou a cair no chão com um estrondo. Enraivecida, sibilando furiosamente, ela deslizou direto para Justino Finch-Fletchley e se levantou de novo, as presas expostas, armada para o bote.
Harry não teve certeza do que o fez agir assim. Nem ao menos teve consciência de decidir fazer o que fez. A única coisa que soube foi que suas pernas o impeliram para frente como se ele estivesse sobre rodinhas e que gritou tolamente para a cobra "Deixe-o em paz!" E milagrosamente — inexplicavelmente — a cobra desabou no chão, dócil como uma mangueira grossa e preta de jardim, seus olhos agora em Harry. Ele sentiu o medo dissolver-se. Sabia que a cobra não atacaria ninguém agora, embora não pudesse explicar como o sabia.
Harry olhou para Justino, sorrindo, esperando o colega parecer aliviado, intrigado ou até grato — mas certamente não zangado nem apavorado.
— De que é que você acha que está brincando? — gritou, e antes que Harry pudesse responder alguma coisa, Justino virou-lhe as costas e saiu do salão enfurecido.
Snape se adiantou, acenou a varinha e a cobra desapareceu com uma pequena baforada de fumaça preta. Snape, também, olhou Harry de modo inesperado: era um olhar astuto e calculista e Harry não gostou. Teve também uma vaga consciência dos cochichos sinistros que percorriam o salão. Então sentiu alguém puxá-lo pelas vestes.
— Vamos — disse a voz de Rony ao seu ouvido. — Mexa-se, vamos...
Rony guiou-o para fora do salão, Hermione corria para acompanhá-los. Quando atravessaram o portal, as pessoas de cada lado recuaram como se tivessem medo de apanhar uma doença. Harry não tinha a menor idéia do que estava acontecendo, e nem Rony nem Hermione explicaram nada até terem arrastado o amigo até a sala comunal da Grifinória, naquele momento vazia. Então Rony empurrou Harry para uma poltrona e disse:
— Você é um ofidioglota. Por que não nos contou?
— Eu sou o quê? — perguntou Harry.
— Um ofidioglota! — disse Rony. — Você é capaz de falar com as cobras!
— Eu sei. Quero dizer, é a segunda vez que faço isso. Uma vez no zoológico açulei, por acaso, uma jibóia contra o meu primo Duda, uma longa história... Ela estava me contando que nunca tinha estado no Brasil e eu meio que a soltei sem querer, isso foi antes de saber que era bruxo.
— Uma jibóia contou a você que nunca tinha ido ao Brasil? — repetiu Rony baixinho.
— E daí? Aposto que um monte de gente aqui pode fazer isso.
— Ah, não. De jeito nenhum. Isto não é um dom muito comum. Harry, isto não é legal.
— O que não é legal? — disse Harry começando a ficar com muita raiva. — Qual é o problema com todo mundo? Escuta aqui, se eu não tivesse dito àquela cobra para não atacar Justino...
— Ah, então foi isso que você disse?
— Que quer dizer com isso? Vocês estavam lá, vocês me ouviram...
— Ouvi você falar esquisito — disse Rony. — Língua de cobra. Você podia ter dito qualquer coisa, não admira que o Justino tenha entrado em pânico, parecia que você estava convencendo a cobra a fazer alguma coisa, deu arrepios, sabe...
Harry ficou de boca aberta.
— Eu falei uma língua diferente? Mas, eu não percebi, como posso falar uma língua sem saber que posso falá-la?
Rony sacudiu a cabeça. Tanto ele quanto Hermione faziam cara de enterro. Harry não conseguia entender o que havia de tão horrível.
— Querem me dizer o que há de errado em impedir uma enorme cobra de arrancar a cabeça do Justino? Que diferença faz como foi que eu fiz isso, desde que o Justino não precise se associar ao clube dos Caçadores Sem Cabeça?
— Faz diferença, sim — disse Hermione, falando, afinal, num tom abafado —, porque a capacidade de falar com cobras foi o dom que tornou Salazar Slytherin famoso. É por isso que o símbolo da Sonserina é uma serpente.
O queixo de Harry caiu.
— Exatamente — confirmou Rony. — E agora a escola inteira vai pensar que você é o tetra-tetra-tetra-tetra-neto ou coisa parecida...
— Mas eu não sou — disse Harry, sentindo um pânico que não conseguia explicar.
— Você vai achar difícil provar isso — falou Hermione. — Ele viveu há mil anos; pelo que se sabe, você podia muito bem ser descendente dele.
Harry ficou horas acordado àquela noite. Por uma fresta no cortinado em volta da cama de colunas ele observou a neve começar a cair em floquinhos diante da janela da torre e ficou imaginando...
Imaginando...
Será que podia ser descendente de Salazar Slytherin? Afinal não sabia nada sobre a família do seu pai. Os Dursley sempre o proibiram de fazer perguntas sobre parentes bruxos. Silenciosamente, Harry tentou dizer alguma coisa na língua das cobras. As palavras não saíram. Parecia que tinha de estar cara a cara com uma cobra para isso.
Mas eu estou na Grifinória, pensou Harry. O Chapéu Seletor não teria me posto aqui se eu tivesse sangue de Slytherin...
Ah, disse uma vozinha perversa em seu cérebro, mas o Chapéu Seletor queria pôr você na Sonserina, não se lembra?
Harry se virou na cama. Encontraria Justino no dia seguinte na aula de Herbologia, e explicaria que detivera a cobra e não a instigara, o que (pensou com raiva, socando o travesseiro) qualquer idiota teria percebido.
Mas na manhã seguinte, a neve que começara a cair de noite se transformara numa nevasca tão densa que a última aula de Herbología do período letivo foi cancelada.
A Profª. Sprout queria pôr meias e echarpes nas mandrágoras, uma operação melindrosa que ela não confiaria a mais ninguém, agora que era tão importante as mandrágoras crescerem depressa para ressuscitar Madame Nor-r-ra e Colin Creevey.
Harry preocupava-se com isso sentado junto à lareira na sala comunal da Grifinória, enquanto Rony e Hermione aproveitavam o tempo para jogar uma partida de xadrez de bruxo.
— Pelo amor de Deus, Harry — disse Hermione exasperada, quando um bispo de Rony desmontou um cavalo dela e o arrastou para fora do tabuleiro. — Vá procurar o Justino se isso é tão importante para você.
Então Harry se levantou e saiu pelo buraco do retrato, imaginando onde Justino poderia estar.
O castelo estava mais escuro do que normalmente era durante o dia, por causa da neve grossa e cinzenta que descia rodopiando pelo lado de fora das janelas. Transido de frio, Harry passou por salas onde havia aulas, captando vislumbres do que acontecia lá dentro. A Profª. McGonagall gritava com alguém que, pelo que parecia, tinha transformado o colega em um texugo. Harry passou adiante, resistindo ao impulso de espiar para dentro e, lembrando que Justino talvez estivesse usando o tempo livre para tirar o atraso em alguma matéria, decidiu verificar primeiro na biblioteca.
Vários alunos da Lufa-Lufa que deviam estar na aula de Herbologia se achavam de fato sentados no fundo da biblioteca, mas não pareciam estar trabalhando.
Entre as longas fileiras de estantes, Harry podia ver que suas cabeças estavam muito juntas e que aparentemente mantinham uma conversa absorvente. Não conseguia ver se Justino estava no grupo. Foi andando em direção a eles e, quando começou a ouvir alguma coisa do que diziam, parou para escutar melhor, escondido na seção da Invisibilidade.
— Então, em todo o caso — falava um menino forte —, eu disse ao Justino para se esconder no nosso dormitório. Quero dizer, se Potter o escolheu para sua próxima vítima, é melhor ele ficar pouco visível por uns tempos.
— É claro que o Justino estava esperando uma coisa dessas acontecer desde que deixou escapar para o Potter que vinha de família trouxa. Justino chegou até a contar que os pais tinham feito reserva para ele em Eton. Isto não é o tipo de coisa que se fale assim, com o herdeiro de Slytherin à solta, não é mesmo?
— Então decididamente você acha que é o Potter, Ernie? — perguntou, ansiosa, uma menina loura de marias-chiquinhas.
— Ana — disse o garoto forte, solenemente —, ele é um ofidioglota. Todo mundo sabe que isso é a marca do bruxo das trevas. Você já ouviu falar de um bruxo decente que soubesse falar com cobras? Chamavam o próprio Slytherin de língua de serpente.
Seguiram-se muitos murmúrios depois disso e Ernie continuou:
— Lembram o que estava escrito na parede? Inimigos do herdeiro, cuidado. Potter teve um problema com o Filch. Logo em seguida a gata de Filch é atacada.Aquele aluno do primeiro ano, o Creevey, estava aborrecendo Potter no jogo de Quadribol, tirando fotos dele estirado na lama. Logo em seguida, Creevey foi atacado.
— Mas ele sempre pareceu tão gentil — disse Ana em dúvida — e foi quem fez Você-Sabe-Quem desaparecer. Ele não pode ser tão ruim assim, pode?
Ernie baixou a voz, misterioso, os alunos da Lufa-Lufa se curvaram mais para frente, e Harry se aproximou mais para poder captar as palavras de Ernie.
— Ninguém sabe como foi que ele sobreviveu àquele ataque do Você-Sabe-Quem, quero dizer, ele era só um bebê quando a coisa toda aconteceu. Devia ter explodido em pedacinhos. Só um mago das trevas realmente poderoso poderia ter sobrevivido a um ataque daqueles. — E baixando a voz até quase um sussurro, continuou: — Vai ver é por isso que Você-Sabe-Quem queria matá-lo para começar. Não queria outro bruxo das trevas concorrendo com ele. Que outros poderes será que o Potter anda escondendo?
Harry não conseguiu agüentar mais. Pigarreando alto, saiu de trás das estantes. Se não estivesse tão zangado, teria achado engraçada a cena que o aguardava: cada aluno da Lufa-Lufa parecia ter se petrificado só devê-lo, e a cor foi se esvaindo do rosto de Ernie.
— Olá — disse Harry. — Estou procurando o Justino Finch-Fletchley.
Os receios dos garotos da Lufa-Lufa claramente se confirmaram. Todos olharam cheios de medo para Ernie.
— Que é que você quer com ele? — perguntou Ernie com a voz trêmula.
— Eu queria dizer a ele o que realmente aconteceu com aquela cobra no Clube dos Duelos.
Ernie mordeu os lábios brancos, tomou fôlego e disse:
— Nós estávamos todos lá. Vimos o que aconteceu.
— Então vocês repararam que depois que falei com a cobra ela recuou? — perguntou Harry.
— Só o que eu vi — disse Ernie, insistente, embora tremesse enquanto falava — foi você falando em língua de cobra e açulando o bicho para cima de Justino.
— Eu não açulei a cobra para cima dele! — protestou Harry a voz trêmula de raiva. — A cobra nem encostou nele!
— Por pouco. E caso você esteja tendo novas idéias — acrescentou depressa — é melhor eu informá-lo que pode investigar minha família por nove gerações de bruxos, e que o meu sangue é tão puro quanto o de qualquer outro, portanto...
— Não ligo a mínima para o tipo de sangue que você tem! — tornou Harry furioso. — Por que eu iria querer atacar pessoas que nasceram trouxas?
— Ouvi falar que você detesta os trouxas com quem mora — disse Ernie na mesma hora.
— É impossível morar com os Dursley e não detestá-los. Eu gostaria de ver você no meu lugar.
E dando meia-volta, saiu furioso da biblioteca, ganhando um olhar de reprovação de Madame Pince, que estava lustrando a capa dourada de um grande livro de feitiços.
Harry saiu pelo corredor às tontas, mal reparando aonde ia, tal era a sua fúria. O resultado foi que bateu em alguma coisa muito grande e sólida, que o derrubou no chão.
— Ah, olá, Hagrid — disse erguendo a cabeça.
O rosto de Hagrid estava inteiramente oculto pelo gorro de lã esbranquiçado de neve, mas não podia ser mais ninguém, pois ele praticamente ocupava o corredor com aquele seu casacão de pele de toupeira. Um galo morto pendia de suas enormes mãos enluvadas.
— Tudo bem, Harry? — perguntou ele, empurrando o gorro para trás para poder falar. — Você não está em aula?
— Cancelada — disse Harry, levantando-se. — Que é que você está fazendo aqui?
Hagrid ergueu o galo inerte.
— É o segundo que matam neste período letivo — explicou. — Ou é raposa ou bicho-papão e preciso permissão do diretor para lançar um feitiço em volta do galinheiro.
Por debaixo das sobrancelhas grossas e salpicadas de neve, ele examinou Harry com mais atenção.
— Você tem certeza de que está bem? Está cheio de calor e zanga...
Harry não conseguiu se forçar a repetir o que Ernie e o resto dos garotos da Lufa-Lufa tinham andado dizendo.
— Não é nada. É melhor eu ir andando, Hagrid, a próxima aula é Transfiguração e tenho que apanhar meus livros.
Ele se afastou, a cabeça inchada com o que Ernie dissera a seu respeito.
Harry subiu a escada batendo os pés e entrou em outro corredor que estava particularmente escuro; os archotes tinham sido apagados por uma corrente de ar forte e gelada que entrava por uma vidraça solta. Estava na metade do corredor quando caiu estendido em cima de uma coisa que havia no chão.
Virou-se para ver melhor em cima do que caíra e sentiu o estômago derreter.
Justino Finch-Fletchley jazia no chão, duro e frio, uma expressão de choque fixa no rosto, os olhos, sem visão, voltados para o teto. E não era tudo. Ao lado dele outro vulto, a visão mais estranha que Harry já encontrara.
Era Nick Quase Sem Cabeça, que agora deixara de ser branco-pérola e transparente e se tornara preto e fumegante, e que estava imóvel na horizontal, a mais de um metro e meio do chão. Sua cabeça estava quase inteiramente solta, e seu rosto tinha uma expressão de choque idêntica à de Justino.
Harry ficou em pé, a respiração rápida e superficial, o coração produzindo uma espécie de rufo de tambor em suas costelas. Fora de si, olhou para um lado do corredor deserto e para o outro e viu uma fila de aranhas que se afastava o mais depressa possível dos corpos. Os únicos sons que ouvia eram as vozes abafadas dos professores nas salas de aula de cada lado.
Poderia correr e ninguém saberia que estivera ali. Mas não podia simplesmente deixá-los caídos... Tinha que procurar ajuda.
Alguém acreditaria que ele não tivera nada a ver com aquilo?
Enquanto estava parado, cheio de pânico, uma porta se abriu com uma batida. Pirraça o poltergeist saiu em disparada.
— Ora, é o Potter Pirado! — zombou ele, entortando os óculos de Harry ao passar por ele. — Que é que o Potter está aprontando? Por que é que o Potter está rondando...
Pirraça parou no meio de uma cambalhota no ar de cabeça para baixo, deparou com Justino e Nick Quase Sem Cabeça. Desvirou-se na mesma hora, encheu os pulmões de ar e, antes que Harry pudesse impedi-lo, gritou:
— ATAQUE! ATAQUE! MAIS UM ATAQUE! NEM MORTAL NEM FANTASMA ESTÃO SEGUROS! SALVEM SUAS VIDAS! ATAAAAAQUE!
Bam — bam — bam — porta atrás de porta se escancarou ao longo do corredor que foi invadido por um mundão de gente. Durante vários minutos, a cena era de tal confusão que Justino correu o risco de ser esmagado, e as pessoas não paravam de passar através de Nick Quase Sem Cabeça. Harry se viu imprensado contra a parede enquanto os professores gritavam pedindo calma. A Profª. McGonagall veio correndo, seguida por seus alunos em sua cola, um dos quais ainda tinha os cabelos listrados de preto e branco. Ela usou a varinha para produzir um alto estampido e restaurar o silêncio, e mandou todos de volta para as salas de aula. Nem bem o corredor se esvaziara um pouco quando Ernie, o garoto da Lufa-Lufa chegou, ofegante, à cena.
— Apanhado na cena do crime! — berrou Ernie, o rosto lívido, apontando dramaticamente para Harry.
— Agora já chega, Macmillan! — disse a professora ríspida. Pirraça subia e descia no ar, e agora sorria malvadamente observando a cena; adorava o caos. Enquanto os professores se curvavam sobre Justino e Nick Quase Sem Cabeça, examinando-os, Pirraça começou a cantar:
— Ah, Potter, podre, veja o que você fez. Matar alunos não é nada cortês...
— Já chega, Pirraça! — vociferou a Profª. McGonagall e Pirraça saiu voando de costas e estirando a língua para Harry.
Justino foi levado para a ala hospitalar pelo Profº. Flitwick e pela Profª. Sinistra, do departamento de astronomia, mas ninguém sabia o que fazer com Nick Quase Sem Cabeça. Por fim, a Profª. McGonagall conjurou um grande leque de ar, e entregou-o a Ernie com instruções para abanar Nick Quase Sem Cabeça até o andar de cima.
Ernie obedeceu e abanou Nick como se fosse um aerofólio silencioso. Assim Harry e a professora ficaram a sós.
— Por aqui, Potter — falou ela.
— Professora — disse Harry depressa —, eu juro que não...
— Isto não está mais em minhas mãos, Potter — interrompeu ela secamente.
Os dois caminharam em silêncio, viraram um canto e ela parou diante de uma gárgula de pedra feíssima.
— Gota de limão! — disse. Era evidentemente uma senha, porque a gárgula logo ganhou vida e afastou-se para o lado, ao mesmo tempo que a parede atrás dela se abria em dois. Mesmo temendo o que o aguardava, Harry não pôde deixar de se admirar. Atrás da parede havia uma escada em caracol que subia suavemente, como uma escada rolante. Nem bem ele e a Profª. McGonagall pisaram nela, Harry ouviu a parede fazer um barulho seco e se fechar às costas dos dois. Subiram em círculos, cada vez mais altos, até que por fim, ligeiramente tonto, Harry viu uma porta de carvalho reluzindo à sua frente, com uma aldrava em forma de grifo.
Soube então aonde tinha sido levado. Ali devia ser a residência de Dumbledore.

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