Posted by : Unknown junho 05, 2014

Capítulo 13


O temporal já se esgotara quando o dia seguinte amanheceu, embora o teto no Salão Principal continuasse ameaçador; pesadas nuvens cinza-chumbo se espiralavam no alto quando Harry, Rony e Hermione examinaram seus novos horários ao café da manhã. A poucas cadeiras de distância, Fred, Jorge e Lino Jordan discutiam métodos mágicos de se tornarem velhos e, com esse truque, participar do Torneio Tribruxo.
— Hoje não é ruim... Lá fora a manhã inteira — disse Rony, que corria o dedo pela coluna intitulada segunda-feira no seu horário —, Herbologia com a Lufa-Lufa e Trato das Criaturas Mágicas... Droga, continuamos com a Sonserina...
— Dois tempos de Adivinhação hoje à tarde — gemeu Harry, baixando os olhos.
Adivinhação era a matéria de que ele menos gostava, depois de Poções. A Professora Sibila Trelawney não parava de predizer a morte de Harry, coisa que ele achava muitíssimo aborrecida.
— Você devia ter desistido como eu fiz, não é? — disse Hermione decidida, passando manteiga na torrada. — Então poderia fazer alguma coisa sensata como Aritmancia.
— Você voltou a comer, pelo que estou vendo — comentou Rony, observando Hermione acrescentar generosas quantidades de geléia à torrada amanteigada.
— Já resolvi que há maneiras melhores de marcar posição no caso dos direitos dos elfos — disse Hermione com altivez.
— E... E pelo visto está com fome — disse Rony, sorrindo.
Houve um repentino rumorejo acima deles e cem corujas entraram pelas janelas abertas, trazendo o correio da manhã. Instintivamente, Harry olhou para o alto, mas não viu nada branco na mancha compacta de castanhos e cinza. As corujas circularam sobre as mesas, procurando as pessoas a quem as cartas e pacotes eram endereçados. Uma corujona âmbar desceu até Neville Longbottom e depositou um embrulho em seu colo, o garoto quase sempre se esquecia de guardar na mala alguma coisa. Do outro lado do salão, a coruja de Draco Malfoy pousara no ombro dele trazendo sua habitual remessa de doces e bolos de casa.
Tentando ignorar a profunda sensação de desapontamento no meio do estômago, Harry voltou sua atenção para o mingau de aveia. Será que alguma coisa tinha acontecido a Edwiges e que Sirius sequer recebera sua carta?
Sua preocupação se prolongou por todo o caminho pela horta enlameada até chegarem à estufa número três, mas ali ele se distraiu com a Professora Sprout que mostrava à turma as plantas mais feias que Harry já vira. De fato, elas se pareciam mais com enormes lesmas gordas e pretas que brotavam verticalmente do solo do que com plantas. Cada uma delas se contorcia ligeiramente e tinha vários inchaços brilhantes no corpo que pareciam cheios de líquido.
— Bubotúberas — disse a Professora Sprout brevemente. — Precisam ser espremidas. Recolhe-se o pus...
— O quê? — exclamou Simas Finnigan, expressando sua repugnância.
— Pus, Finnigan — respondeu a professora —, e é extremamente precioso, por isso não o desperdice. Recolhe-se o pus, como eu ia dizendo, nessas garrafas. Usem as luvas de couro de dragão, podem acontecer reações engraçadas na pele quando o pus dasbubotúberas não está diluído.
Espremer as bubotúberas era nojento, mas dava um estranho prazer. À medida que estouravam cada tumor, saía dele uma grande quantidade de líquido verde-amarelado, que cheirava fortemente a gasolina. Os alunos o recolheram em garrafas, conforme a professora orientara e, no fim da aula, haviam obtido vários litros.
— Isto vai deixar Madame Pomfrey feliz — disse a Professora Sprout arrolhando a última garrafa. — Um remédio excelente para as formas mais renitentes de acne. Pode fazer os alunos pararem de recorrer a medidas desesperadas para se livrarem das espinhas.
— Como a coitada da Heloisa Midgen — disse Ana Abbott, aluna da Lufa-Lufa, em voz baixa. — Ela tentou acabar com as dela lançando um feitiço.
— Que menina tola! — disse a professora, balançando a cabeça.
— Mas, no fim, Madame Pomfrey fez o nariz dela voltar à forma anterior.
Uma sineta ressonante sinalizou o fim da aula e a turma se separou; os da Lufa-Lufa subiram a escada de pedra rumo à aula de Transformação e os da Grifinória tomaram outro rumo, descendo o jardim em direção à pequena cabana de madeira de Hagrid, que ficava na orla da Floresta Proibida.
Hagrid estava parado à frente da cabana, uma das mãos na coleira do seu enorme cão de caçar javalis, Canino. Havia vários caixotes abertos no chão a seus pés, e Canino choramingava e retesava a coleira, aparentemente tentando investigar o conteúdo dos caixotes mais de perto. Quando os garotos se aproximaram, um estranho som de chocalho chegou aos seus ouvidos pontuado, aparentemente, por pequenas explosões.
— Bom Dia! — cumprimentou Hagrid, sorrindo para Harry, Rony e Hermione. –Melhor esperar pelos alunos da Sonserina, eles não vão querer perder isso... Explosivins!
— Como é? — perguntou Rony.
Hagrid apontou para os caixotes.
— Arrrrrre! — exclamou Lilá Brown num gritinho agudo, saltando para trás.
"Arrrrrre" resumia o que eram os explosívíns, na opinião de Harry. Pareciam lagostas sem casca, deformadas, terrivelmente pálidas e de aspecto pegajoso, as pernas saindo dos lugares mais estranhos e sem cabeça visível. Havia uns cem deles em cada caixote, cada um com uns quinze centímetros de comprimento, rastejando uns sobre os outros, batendo às cegas contra as paredes das caixas. Desprendiam um cheiro forte de peixe podre. De vez em quando, soltavam faíscas da cauda e, com um leve pum, se deslocavam alguns centímetros à frente.
— Acabaram de sair da casca — informou Hagrid orgulhoso —, por isso vocês vão poder criar os bichinhos pessoalmente! Achei que podíamos fazer uma pesquisa sobre eles!
— E por que nós íamos querer criar esses bichos? — perguntou uma voz fria.
Os alunos da Sonserina haviam chegado. Quem falava era Draco Malfoy. Crabbe e Goyle davam risadinhas de prazer ao ouvir suas palavras. Hagrid pareceu embatucar com a pergunta.
— Quero dizer, o que é que eles fazem? — perguntou Malfoy. — Para que servem?
Hagrid abriu a boca, aparentemente fazendo um esforço para responder, houve uma pausa de alguns segundos, depois ele disse com aspereza:
— Isto é na próxima aula, Malfoy. Hoje você só vai alimentar os bichos. Agora vamos ter que experimentar diferentes alimentos... Nunca os criei antes, não tenho certeza do que gostariam... Tenho ovos de formiga, fígados de sapo e um pedaço de cobra, experimentem um pedacinho de cada.
— Primeiro pus e agora isso — resmungou Simas.
Nada, exceto a profunda afeição que tinham por Hagrid, poderia ter feito Harry, Rony e Hermione apanhar mãos cheias de fígados de sapo melados e baixá-las aos caixotes para tentar os explosivins. Harry não conseguiu refrear a suspeita de que aquilo tudo não tinha finalidade alguma, porque os bichos não pareciam ter bocas.
— Ai!— gritou Dino Thomas, passados uns dez minutos. — Ele me pegou!
Hagrid correu para o garoto, com uma expressão ansiosa no rosto.
— A cauda dele explodiu! — disse Dino zangado, mostrando a Hagrid uma queimadura na mão.
— Ah, é, isso pode acontecer quando eles disparam — disse Hagrid, confirmando o que dizia com a cabeça.
— Arre! — exclamou Lilá Brown outra vez. — Arre, Hagrid, que é essa coisinha pontuda neles?
— Ah, alguns têm espinhos — disse Hagrid entusiasmado (Lilá retirou depressa a mão da caixa). — Acho que são os machos... As fêmeas têm uma espécie de sugador na barriga... Acho que talvez seja para sugar sangue.
— Bom, sem a menor dúvida eu entendo por que estamos tentando manter esses bichos vivos — disse Malfoy sarcasticamente. — Quem não iria querer animaizinhos de estimação que podem queimar, picar e morder, tudo ao mesmo tempo?
— Só porque eles não são muito bonitos, não significa que não sejam úteis –retorquiu Hermione. — Sangue de dragão é uma coisa assombrosamente mágica, mas você não iria querer um dragão como bicho de estimação, não é mesmo?
Harry e Rony sorriram para Hagrid, que retribuiu com um sorriso furtivo por trás da barba espessa. Nada o teria agradado mais do que um filhote de dragão, como Harry, Rony e Hermione sabiam mais do que bem — ele criara um, por um breve período, durante o primeiro ano deles na escola, um agressivo dragão norueguês que recebera o nome de Norberto. Hagrid simplesmente amava monstros — quanto mais letal, melhor.
— Bom, pelo menos os explosivins são pequenos — disse Rony, quando voltavam uma hora depois ao castelo para almoçar.
— São agora — disse Hermione, com uma voz exasperada —, mas depois que o Hagrid descobrir o que eles comem, imagino que vão atingir um metro e meio de comprimento.
— Bom, isso não vai fazer diferença se descobrirem que eles curam enjôo ou outra coisa qualquer, não é? — disse Rony, sorrindo sonsamente para a amiga.
— Você sabe perfeitamente bem que eu só disse aquilo para calar a boca de Malfoy — retrucou Hermione. — Aliás acho que ele tem razão. O melhor que podíamos fazer era acabar com os bichos antes que eles comecem a nos atacar.
Os garotos se sentaram à mesa da Grifinória e se serviram de costeletas de cordeiro com batatas. Hermione começou a comer tão rápido que Harry e Rony ficaram olhando para ela.
— Hum, essa é a sua nova posição em favor dos direitos dos elfos? — perguntou Rony. — Em vez de não comer, comer depressa para vomitar?
— Não — respondeu Hermione com toda a dignidade que conseguiu reunir tendo a boca cheia de couves-de-bruxelas. — Só quero chegar à biblioteca.
— Quê?— exclamou Rony incrédulo. — Mione, é o primeiro dia de aulas! Ainda nem passaram dever de casa pra gente!
Hermione sacudiu os ombros e continuou a devorar a comida como se não comesse há dias. Em seguida se levantou e disse:
— Vejo vocês no jantar! — e saiu apressadissima.
Quando a sineta tocou para anunciar o inicio das aulas da tarde, Harry e Rony se dirigiram à Torre Norte, onde, no alto de uma estreita escada em caracol, uma escada de mão prateada levava a um alçapão no teto e à sala em que morava a Professora Sibila Trelawney.
O já conhecido perfume doce que saía da lareira veio ao encontro das narinas dos garotos quando eles chegaram ao topo da escada. Como sempre, as cortinas estavam fechadas; e a sala circular, banhada por uma fraca luz avermelhada projetada por várias lâmpadas cobertas por lenços e xales. Harry e Rony caminharam entre as cadeiras e pufes forrados de chintz, já ocupados, e se sentaram a mesma mesinha redonda.
— Bom-dia! — disse a etérea voz da professora às costas de Harry, causando-lhe um sobressalto.
Uma mulher magra com enormes óculos que faziam seus olhos parecerem demasiado grandes para o rosto, a professora mirava Harry com a expressão trágica que fazia sempre que o via. Os numerosos colares e pulseiras habituais faiscavam em seu corpo às chamas da lareira.
— Você está preocupado, meu querido — disse ela tristemente a Harry. — Minha Visão Interior transpõe o seu rosto corajoso e chega dentro de sua alma perturbada. E lamento dizer que suas preocupações têm fundamento. Vejo tempos difíceis em seu futuro, ai de você... Dificílimos... Receio que a coisa que você teme realmente venha a acontecer... E talvez mais cedo do que pensa...
Sua voz foi baixando até virar quase um sussurro. Rony revirou os olhos para Harry, que lhe retribuiu com um olhar impassível. A Professora Sibila deixou os garotos, com um movimento ondulante, e se sentou na grande bergere diante da lareira, de frente para a turma. Lilá Brown e Parvati Patil, que a admiravam profundamente, estavam sentadas em pufes muito próximos à professora.
— Meus queridos, está na hora de estudarmos as estrelas — disse ela. — Os movimentos dos planetas e os misteriosos portentos que eles revelam somente àqueles que compreendem os passos da coreografia celestial. O destino humano pode ser decifrado pelos raios planetários que se fundem...
Mas os pensamentos de Harry tinham se afastado. As chamas perfumadas sempre o deixavam sonolento e embotado, e os discursos desconexos da professora sobre adivinhação nunca conseguiam mantê-lo exatamente fascinado — embora não pudesse deixar de refletir sobre o que ela acabara de dizer: "Receio que a coisa que você teme realmente venha a acontecer...”
Mas Hermione tinha razão, pensou Harry irritado, Sibila era realmente uma velha charlatã. Ele não estava com medo de absolutamente nada naquele momento... Bom, a não ser talvez o medo de que Sirius tivesse sido apanhado... Mas o que sabia a professora?
Harry já chegara à conclusão, havia muito tempo, de que a adivinhação dela não passava de palpites ocasionalmente certos e um jeito misterioso de apresentá-los. Exceto, naturalmente, aquela vez no fim do último trimestre, quando predissera o retorno de Voldemort ao poder... E o próprio Dumbledore era de opinião que o transe de Sibila fora genuíno, quando Harry lhe contara...
— Harry! — murmurou Rony.
— Quê?
Harry olhou para os lados, a turma inteira o observava. Ele se sentou direito, estivera quase cochilando, perdido em meio ao calor e aos seus pensamentos.
— Eu estava dizendo, meu querido, que você sem dúvida nasceu sob a influência nefasta de Saturno — disse a Professora Sibila, com um leve quê de mágoa na voz pelo fato de que o garoto obviamente não estivera pendurado em suas palavras.
— Nasci sob o quê... Perdão? — disse Harry.
— Saturno, querido, o planeta Saturno! — disse a professora, parecendo irritada que ele não tivesse prestado atenção à informação. — Eu estava dizendo que Saturno com certeza estava numa posição dominante no céu na hora em que você nasceu... Seus cabelos escuros... Sua baixa estatura... Suas perdas trágicas na infância... Acho que estou certa ao afirmar, meu querido, que você nasceu em pleno inverno?
— Não — respondeu Harry. — Nasci no verão.
Rony se apressou em transformar uma risada em um forte acesso de tosse.
Meia hora depois, cada um dos alunos recebeu um mapa circular e tentou desenhar a posição dos planetas na hora do seu nascimento. Era um trabalho enjoado, que exigia muitas consultas a tabelas horárias e cálculos de ângulos.
— Eu tenho dois Netunos aqui — disse Harry, depois de algum tempo, olhando insatisfeito o seu pergaminho —, isso não pode estar certo, pode?
— Aaaaah — exclamou Rony, imitando o sussurro místico da professora — quando dois Netunos aparecem no céu é um sinal seguro de que um anão de óculos está nascendo, Harry...
Simas e Dino, que estavam sentados próximos, riram alto, embora não tão alto a ponto de abafar os gritinhos excitados de Lilá Brown:
— Ah, Professora Sibila, olhe! Acho que tenho um planeta oculto! Aaaah, qual é esse, professora?
— É Urano, minha querida — disse a professora examinando o mapa.
— Posso dar uma olhada no seu Urano, também, Lilá? — perguntou Rony.
Por infelicidade, a professora o ouviu e talvez tenha sido por isso que no fim da aula passou para a turma tanto dever de casa.
— Quero uma análise detalhada do modo com que os movimentos dos planetas vão afetá-los no próximo mês, tendo em vista o seu mapa pessoal — disse ela secamente, parecendo mais a Professora Minerva do que a fada etérea de sempre. — Para entregar na próxima segunda-feira, e não aceito desculpas!
— Diabo de morcega velha — exclamou Rony com amargura, quando eles se reuniram aos alunos que desciam as escadas para jantar no Salão Principal. — Isso vai nos tomar todo o fim de semana, ah vai...
— Muito dever de casa? — indagou Hermione animada, alcançando-os. — A Professora Vector não passou nada para nós.
— Palmas para a Professora Vector — retrucou Rony mal-humorado.
Os três chegaram ao saguão de entrada, que estava lotado de gente fazendo fila para o jantar. Tinham acabado de entrar no fim da fila, quando uma voz alta soou às costas deles.
— Weasley! Ei, Weasley!
Harry, Rony e Hermione se viraram. Malfoy, Crabbe e Goyle estavam parados ali, cada qual parecendo mais satisfeito.
— Que é? — perguntou Rony rispidamente.
— Seu pai está no jornal, Weasley! — disse Malfoy brandindo um exemplar do Profeta Diário, e isso bem alto para que todas as pessoas aglomeradas no saguão pudessem ouvir. — Escuta só isso!

NOVOS ERROS NO MINISTÉRIO DA MAGIA
Pelo visto os problemas no Ministério da Magia ainda não chegaram ao fim, informa nossa correspondente especial Rita Skeeter. Recentemente censurado por sua incapacidade de controlar multidões durante a Copa Mundial de Quadribol, e ainda devendo à opinião pública uma explicação para o desaparecimento de uma de suas bruxas, ontem o Ministério enfrentou novo constrangimento com as extravagâncias de Arnold Weasley, da Seção de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas.

Malfoy ergueu os olhos.
— Imagina, nem escreveram direito o nome dele, Weasley, é quase como se ele não existisse, não é?
Todos no saguão agora prestavam atenção. Malfoy esticou o jornal com um gesto largo e continuou a ler:

Arnold Weasley acusado de possuir um carro voador há dois anos, envolveu-se ontem numa briga com guardiões trouxas da lei (policiais) por causa de latas de lixo extremamente agressivas. O Sr. Weasley parece ter ido socorrer "Olho-Tonto" Moody, um ex-auror idoso, que se aposentou do Ministério ao se tornar incapaz de distinguir um aperto de mão de uma tentativa de homicídio. Ao chegar à casa do ex-auror, fortemente guardada por um funcionário verificou, sem surpresa, que, mais uma vez, o Sr. Moody dera um alarme falso. Em conseqüência, o Sr. Weasley foi obrigado a alterar muitas memórias para poder escapar dos policiais, mas se recusou a responder às perguntas do Profeta Diário sobre as razões que o levaram a envolver o Ministério nesse episódio pouco digno e potencialmente embaraçoso.

— E tem uma foto, Weasley! — acrescentou Malfoy, virando o jornal e mostrando-a. — Uma foto de seus pais à porta de casa, se é que se pode chamar isso de casa! Sua mãe bem que podia perder uns quilinhos, não acha?
Rony tremia de fúria. Todos o encaravam.
— Se manda, Malfoy — disse Harry. — Vamos Rony...
— Ah, você esteve visitando a família no verão, não foi, Potter? — caçoou Malfoy. — Então me conta, a mãe dele parece uma barrica ou é efeito da foto?
— Você já olhou bem para sua mãe, Malfoy? — respondeu Harry, ele e Hermione seguravam Rony pelas costas das vestes para impedi-lo de partir para cima do outro. — Aquela expressão na cara dela, de quem tem bosta debaixo do nariz? Ela sempre teve aquela cara ou foi só porque você estava perto dela?
O rosto pálido de Malfoy corou levemente.
— Não se atreva a ofender minha mãe, Potter.
— Então vê se cala essa boca — disse Harry dando as costas ao colega.
BANGUE!
Várias pessoas gritaram — Harry sentiu uma coisa branca e quente arranhar o lado do rosto — mergulhou a mão nas vestes para apanhar a varinha, mas antes que chegasse sequer a tocá-la, ouviu um segundo estampido e um berro que ecoou pelo saguão de entrada.
— AH, NÃO VAI NÃO, GAROTO!
Harry se virou. O Professor Moody descia mancando a escadaria de mármore. Tinha a varinha na mão e apontava diretamente para uma doninha muito alva, que tremia no piso de lajotas, exatamente no lugar em que Malfoy estivera. Fez-se um silêncio aterrorizado no saguão. Ninguém exceto Moody mexia um só músculo.
Ele se virou para olhar Harry — pelo menos, o olho normal estava olhando para Harry; o outro estava apontando para dentro da cabeça.
— Ele o mordeu? — rosnou o professor. Sua voz era baixa e áspera.
— Não — respondeu Harry —, por pouco.
— DEIXE-O! — berrou Moody.
— Deixe... O quê? — perguntou Harry espantado.
— Não você, ele! — vociferou Moody, apontando o polegar por cima do ombro para Crabbe, que acabara de congelar em meio a um gesto para recolher a doninha branca. Parecia que o olho giratório de Moody era mágico e enxergava através da nuca do professor.
Moody começou a mancar em direção a Crabbe, Goyle e a doninha, que soltou um guincho aterrorizado e fugiu em direção às masmorras.
— Acho que não! — rugiu Moody, tornando a apontar a varinha para a doninha, ela subiu uns três metros no ar, caiu com um baque úmido no chão e quicou de novo para cima.
— Não gosto de gente que ataca um adversário pelas costas — rosnou Moody, enquanto a doninha quicava cada vez mais alto, guinchando de dor. — Um ato nojento, covarde, reles...
A doninha voava pelo ar, as pernas e a cauda sacudiam descontroladas.
— Nunca... Mais... Torne... A... Fazer... Isso — continuou o professor, destacando cada palavra para a doninha que batia no piso de pedra e tornava a subir.
— Professor Moody! — chamou uma voz chocada.
A Professora Minerva vinha descendo a escadaria com os braços carregados de livros.
— Olá, Professora McGonagall — cumprimentou Moody calmamente, fazendo a doninha quicar ainda mais alto.
— Que... Que é que o senhor está fazendo? — perguntou a professora seguindo com o olhar a subida da doninha no ar.
— Ensinando — respondeu ele.
— Ensinan... Moody, isso é um aluno? — gritou a professora, os livros despencando dos seus braços.
— É.
— Não! — exclamou ela, descendo a escada correndo e puxando a própria varinha, um momento depois, com um estampido, Draco Malfoy reapareceu, caído embolado no chão, os cabelos lisos e louros sobre o rosto agora muito vermelho.
Ele se levantou, fazendo uma careta.
— Moody, nunca usamos transformação em castigos! — disse a professora com a voz fraca. — Certamente o Professor Dumbledore deve ter lhe dito isso?
— É, talvez ele tenha mencionado — respondeu Moody, coçando o queixo displicentemente —, mas achei que um bom choque...
— Damos detenções, Moody! Ou falamos com o diretor da casa do faltoso!
— Vou fazer isso, então — disse Moody, encarando Malfoy com intenso desagrado.
O garoto, cujos olhos claros ainda lacrimejavam de dor e humilhação, ergueu o rosto maldosamente para Moody e murmurou alguma coisa em que se distinguiam as palavras "meu pai”
— Ah, é? — disse Moody em voz baixa, aproximando-se alguns passos, a pancada surda de sua perna de pau ecoando pelo saguão.
— Bom, conheço seu pai de outras eras, moleque... Diga a ele que Moody está de olho no filho dele... Diga-lhe isso por mim... Agora imagino que o diretor de sua casa seja o Snape, não?
— É — respondeu Malfoy cheio de rancor.
— Outro velho amigo — rosnou Moody. — Estou querendo mesmo conversar com o velho Snape... Vamos, seu... — E segurando o garoto pelo antebraço saiu com ele em direção às masmorras.
A Professora Minerva acompanhou-os com um olhar ansioso por alguns momentos, depois apontou a varinha para os livros fazendo-os subir no ar e voltar aos seus braços.
— Não falem comigo — disse Rony em voz baixa para Harry e Hermione, quando se sentaram à mesa da Grifinória alguns minutos mais tarde, cercados por alunos excitados por todos os lados que comentavam o que acabara de acontecer.
— Por que não? — perguntou Hermione surpresa.
— Porque quero gravar isso na memória para sempre — disse Rony, com os olhos fechados e uma expressão de enlevo no rosto.
— Draco Malfoy, a fantástica doninha quicante...
Harry e Hermione riram, e a garota começou a servir bife de caçarola no prato dos dois.
— Ele poderia ter realmente machucado Malfoy — comentou ela. — Foi bom a Professora Minerva ter feito ele parar...
— Mione! — exclamou Rony furioso, os olhos se abrindo repentinamente. — Você está estragando o melhor momento da minha vida!
Hermione soltou uma exclamação de impaciência e começou a comer outra vez em alta velocidade.
— Não me diga que vai voltar à biblioteca hoje à noite? — perguntou Harry, observando-a.
— Preciso — respondeu Mione indistintamente. — Muito que fazer.
— Mas você nos disse que a Professora Vector...
— Não é dever de escola. — Em cinco minutos ela limpara o prato e fora embora.
Nem bem a garota tinha saído e sua cadeira foi ocupada por Fred Weasley.
— Moody! — disse ele. — Ele é legal?
— Pra lá de legal — disse Jorge, sentando-se defronte a Fred.
— Superlegal — disse o melhor amigo dos gêmeos, Lino Jordan, escorregando para o lugar ao lado de Jorge. — Tivemos ele hoje à tarde — disse Lino a Harry e Rony.
— Como foi a aula? — perguntou Harry ansioso.
Fred, Jorge e Lino trocaram olhares cheios de significação.
— Nunca tive uma aula igual — disse Fred.
— Ele sabe das coisas, cara — disse Lino.
— Do quê? — perguntou Rony, curvando-se para frente.
— Sabe o que é estar lá fora fazendo as coisas — disse Jorge cheio de importância.
— Que coisas? — perguntou Harry.
— Combatendo as Artes das Trevas — disse Fred.
— Ele já viu de tudo — disse Jorge.
— Fantástico — exclamou Lino.
Rony enfiara a cabeça na mochila à procura do seu horário.
— Não vamos ter aula com ele até quinta-feira! — disse desapontado.

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